Demons escrita por shewasevans
— Ei, Fred, você viu o...? — George começou a perguntar, subindo de dois em dois os degraus da íngreme escada circular que dava acesso ao minúsculo escritório que dividia com o gêmeo sobre as instalações da Gemialidades Weasley. No entanto, quando notou o objeto sobre a qual o irmão estava reclinado, refreou-se. O pânico se instalando no olhar cor-de-céu, ao passo que o restante da pergunta desaparatava de sua cabeça.
— Vi o quê, Georgie? Vi muitas coisas interessantes ultimamente — o mais velho dos gêmeos, enfim, voltou-se para o outro com um gigantesco sorriso sardento em seus lábios. Quase parecendo sugerir que ele encontrara a solução para o fim da guerra. Ou, ainda melhor: enfim aperfeiçoara as orelhas extensíveis para serem à prova de Bichento.
— Que tipo de coisas interessantes?
A cautela na voz de George era quase palpável.
— Ora, todo o tipo de coisas interessantes, meu caro sócio. Estamos em uma guerra, afinal. As pessoas veem coisas. Ouvem coisas. E, principalmente, descobrem coisas — Fred enrolou, zombeteiro, a vermelhidão que se alastrava pelo pescoço do irmão lhe dando uma boa indicação de que – para o seu prazer – conseguira o deixar irritado.
O gêmeo mais novo suspirou em desistência, correndo desleixadamente as mãos pelos cabelos cor-de-cenoura.
— Você encontrou o anel, não foi?
E, com isso, o sorriso presente no rosto de Fred pareceu quadruplicar de tamanho. Quase como se ele fosse uma criança muito boazinha que acabara de ganhar o melhor dos brinquedos na manhã de Natal.
— Mas que tipo de esconderijo idiota é a maleta que nós dois usávamos para demonstrações? — ele exclamou, retirando do bolso de suas vestes a pequena caixa de veludo azul-escuro que escondera ali apenas porque pretendia provocar o irmão mais tarde.
O “mais tarde” chegara antes do esperado, afinal.
— Você sabia há quanto tempo nós não abríamos essa bugiganga velha? Ontem mesmo encontrei uma fada mordente tentando criar um ninho aí! — George tentou – embora falhasse miseravelmente – defender-se.
— E você sabe que um irmão decente deveria contar ao outro quando resolve pedir uma das suas melhores amigas em casamento? Por Merlin, nós dividimos a mesma barriga, seu babaca! — o outro acusou com o indicador apontando para o peito do gêmeo, um quê de mágoa quase que dramática substituindo a alegria anterior.
— Para você ir correndo contar para a Lynx com esse seu bocão enorme de berrador? Para a notícia chegar na Angelina antes mesmo que eu pense em me ajoelhar na frente dela? Vocês dois juntos com um segredo desses seriam piores que a Tia Muriel! — o mais novo esbravejou, por fim, lançando as mãos para o alto com as feições tingidas por um tom tão vermelho quanto àquele na bandeira da Grifinória.
— Pois eu estou ofendido.
E, arqueando as sobrancelhas alaranjadas de um jeito afetado, Fred depositou a caixinha, que ainda segurava, sobre o tampo da mesa bamba em que, usualmente, calculavam os lucros e despesas da loja. Então, contornando-a, envolveu o irmão gêmeo em um enorme abraço de urso.
— Você vai mesmo pedir a Angie em casamento!
— Você quer falar mais alto? Talvez não tenham ouvido você lá d’A Toca ainda — George retrucou ironicamente, mantendo a birra por cerca de cinco segundos a mais, antes de ceder e aceitar com igual entusiasmo o abraço que lhe era dado.
Os sorrisos em ambas as bocas pontilhadas de sardas eram praticamente réplicas um do outro.
— Tenho mesmo que te lembrar que estamos no meio de uma guerra e que o Beco Diagonal se encontra praticamente vazio? — e, por breves instantes, uma sombra entristecida perpassou o olhar azul-claro do mais velho. — Mas, talvez, você precise se preocupar com os mini-pufes lá embaixo — brincou, e lá estava a animação habitual de volta.
George, porém, voltou a passar os dedos pelos fios acobreados em um claro sinal de nervosismo quando ambos se desvencilharam do aperto.
— Fred, mas agora é sério: você não pode contar para ninguém até que eu decida como e quando fazer. Você sabe, a Angelina não é simplesmente alguém que você leva em um restaurante e esconde o anel na sobremesa.
— E espera que ela não o engula.
— Fred!
— Tudo bem, tudo bem — o ruivo ergueu ambas as mãos em sinal de rendição — De qualquer forma, estou feliz que não vou precisar pedir antes para que você possa tomar coragem, como no Baile de Inverno — e, dessa vez, gargalhou abertamente da careta ciumenta exibida pelo rosto do irmão.
— Se a Lynx não acabar te matando cada vez que você lembra disso, eu vou — George murmurou com um mero balançar desgostoso de cabeça.
Mas acabou por sorrir.
Afinal, ele, George Weasley, pediria Angelina Johnson, a garota dos seus sonhos, em casamento.
E, por pequenos momentos de felicidade como aquele, todos os sacrifícios pareciam valer à pena.
Porque, em algum momento, a guerra acabaria.
E, oficialmente, Angelina seria sua, assim como ele sempre fora dela.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Olá! Por muito tempo, o ódio que o casal George e Angelina recebe não me pareceu certo. Até que, dando o benefício da dúvida, atribui isso à falta de informações que nos foram fornecidas sobre os dois. Então, essa é a minha tentativa de contar a história de ambos, como eu a imagino. Espero que gostem!