MeliZoe e os Olimpianos escrita por Zoe


Capítulo 26
Breve visita ao Hell Hole e monstros modernos


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ♥



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Hadassa, Gavin e eu saímos logo após o café da manha. Abracei a todos e disse que voltava logo. Levei minha mochila com as mesmas coisas que na última missão. Dionísio disse que nos levaria de carro até Nova York e nós precisaríamos pegar um avião até Los Angeles, onde a menina estava.
Ele parecia um pouco mais nervoso que o normal quando nos deixou e quase se despediu como uma pessoa normal, mas apenas disse “não se matem.” e foi embora.
Nosso voo foi calmo.
Tivemos algumas turbulências e percebemos que era um ventai tentando nos derrubar então Hadassa programou um de seus autômatos para o distrair enquanto eu atirava pequenos raios nele. A foice, sem a ajuda de Zeus, ainda era muito poderosa, mas não podia controlar os céus como ele. Os raios, depois de um tempo, mataram o monstro frito.
Dormi o resto do tempo. Gavin insistiu em ficar de vigia. Quando sobrevoamos Las Vegas Gavin contou sobre um suposto Hotel Lotus e nos falou para nunca entrar lá. Hadassa brincou sobre sempre levar Vanessa nas missões e ficar no Empire.
Quando chegamos em Los Angeles fomos atacados por um shitzu que era, na verdade, um cão infernal dentro de nosso taxi. Acabei com o rosto completamente arranhado, mas Hadassa o matou cortando sua barriga com sua adaga. Queimou suas mãos, mas fingiu que nada tinha acontecido.
Gavin tratava de nossos ferimentos e nos guiou, somente ele sabia onde estávamos indo. Passamos uma placa que dizia que estávamos em Downtown. Já era de noite e o bairro era cheio de boates e clubs.
Andamos por um tempo até Gavin nos apontar uma boate que se chamava Hell Hole. Literalmente, o buraco do inferno. Em Los Angeles.
Eu vestia calça jeans e uma blusa e Hadassa tinha shorts e um moletom enorme. Estávamos nos destacando no meio de tantos jovens de vestidos justos e salto.
“Quer saber? Precisamos trocar de roupa.” Gavin deu a ideia de irmãos para uma brechó vintage, onde as roupas seriam mais baratas e provavelmente nos serviria. Entramos no primeiro que encontramos e vestimos a primeira roupa que vimos.
Los Angeles não é um lugar acolhedor e eu tinha medo das palavras de Quiron na noite anterior. Graças a enorme quantidade de humanos naquela rua não fomos reconhecidos, mas eu conseguia ver varias empousai nas filas para entrar na boate.
Acabei vestindo um vestido curto e solto amarelo com bordados em dourado. Não combinava muito com a cor do meu cabelo, mas pelo menos não chamaria a atenção. Não consegui colocar saltos, coloquei uma sapatilha branca que achei ali.
Hadassa vestiu um vestido longo e justo com uma fenda enorme. Era preto e tinha listas douradas de paetê. Parecia uma garota que acabara de sair de um concurso de miss, mas ainda tinha graxa na mão.
Gavin não trocou de roupas e Hadassa deu um soco no braço dele gritando sobre as injustiças de que nós tínhamos que trocar de roupa e ele não. Tentei rir, mas estava desconfortável com a situação.
Entramos na fila da boate e senti falta de Silvia, pois sei que com ela nós poderíamos entrar com apenas um olhar. Mas ficamos na fila por pouco tempo e entramos sem problemas, mesmo eu tendo 14 anos e 1,60, ninguém nos pediu nossa identidade. Parece que era mesmo o buraco do inferno.
O lugar era no subsolo e iluminado com luzes vermelhas. Não consegui identificar nenhum monstro ali. Gavin nos disse para dançar como se pertencêssemos ali e procurar pela garota.
Descobri durante o mês no acampamento que um dos dons que eu poderia desenvolver era perceber o cheiro dos semideuses e estava treinando com meus amigos — um treino estranho que envolvia cheirar o pescoço deles vendada e descobrir quem eram.
Fechei meus olhos e respirei fundo, mas só conseguia sentir cheiro de álcool e suor. Queria dizer que cheirava um pouco a desespero, mas pareceria muito preconceituoso de minha parte.
Hadassa dançava desajeitadamente enquanto girava para todos os lados procurando uma menina em apuros. A verdade é que havia varias. Mas não eram o que estávamos procurando.
Gavin apareceu do nosso lado e disse que não encontrou ninguém na fila do banheiro.
“ELA É FILHA DE QUEM?” Eu grito para Gavin, com poucas esperanças de que ele vai conseguir me ouvir.
“O QUE?” Gavin me responde, sem ouvir nenhuma palavra do que eu falei devido a musica estourada.
“QUE DEUS?” Eu grito novamente.
“O QUE?” Gaviin grita de volta, sem entender nada.
“SANTA DEMÉTER GAVIN, QUEM ESTAMOS PROCURANDO?” Gritei para Gavin. Precisava saber o cheiro da garota.
“DIONÍSIO! DIONÍSIO! É UMA FILHA DELE.” Ele finalmente me ouve e eu fico surpresa com a resposta. 
O nervosismo e reação de Quiron pareciam mais apropriadas agora. Seria muito difícil encontrar uma filha de Dionísio no meio de um lugar daqueles. Ele normalmente cheirava a morangos e vinho. Ali, todos cheiravam a vinho.
Bom, todos cheiravam a álcool.
Segurei as mãos de Gavin para não me perder e fechei os olhos. Tentei me concentrar em vinho, uvas, morangos, frutos florescendo, fermentação, Dionísio tentando beber vinho, cheiro de uvas maduras... Morangos... Vinho.... Uvas... Fermentação...
Meu instinto me dizia que o que estávamos procurando estava à nossa esquerda. Ali estavam casais se beijando e fazendo outras coisas que eu não me sentira confortável descrevendo aqui.
Todos ficamos desconfortáveis, mas andamos para mais perto deles. Alguns nos olhavam com caretas como se nós os incomodássemos por olhar o que estavam fazendo.
“Disfarça. Segura na nossa cintura e finge que somos um casal.” Hadassa fala para nós dois e coloca seu braço em meus ombros, o que me incomoda um pouco. Não gosto que coloquem os braços tão perto de minha garganta e minhas cordas vocais ainda estavam machucadas do meu breve encontro com Lincoln.
“Os três?” Gavin pergunta com a expressão de estar desconfortavel tambem. 
“Alguém quer ir esperar la fora?” Ela diz e nós dois fazemos com a cabeça que não. Quando sai de casa nunca achei que essa seria a situação de perigo que eu me encontraria. Prefiria lutar com as empousai.
Hadassa colocou a mão na minha cintura e eu segurei a mão de Gavin, conseguimos nos encostar na parede e eu fechava os olhos tentando me guiar para onde estava o cheiro de vinho no meio de tanta vodka.
Parecia que estava bem do meu lado.
Mas no meu lado só havia uma garota desacordada jogada em uma mesa.
Gavin notou que alguém tentava roubar os sapatos da menina e soltou minha mão para espantar a pessoa.
Andamos mais um pouco e eu ouvi uma garota dizendo repetidamente que não queria algo. Não precisei imaginar muito para entender o que estava acontecendo. Hadassa, que também ouvia, me acompanhou.
Achamos um homem que pressionava uma garota que poderia ter minha idade contra a parede. Ela estava quase desacordada e suas palavras de arrastavam.
“Santo Dionísio! Nunca te ensinaram que não significa não?” Gavin grita para o homem e começa a ir em sua direção. Eu e Hadassa nos olhamos e concordamos em o seguir. A garota obviamente precisava de ajuda e nós não poderíamos ficar paradas vendo isso acontecer do nosso lado.
“Calma docinho, tenho pra todo mundo.” O homem responde para Gavin e o olha de baixo para cima com um olhar nojento.
“Solte a garota se quiser manter sua mão” Hadassa segue para a frente de Gavin e ameaça o homem.
“Olha só, ela veio comigo, ok? Ela entrou aqui comigo.” Ele diz, sua voz aumentando agora e ele demonstra que esta começando a ficar irritado conosco.
“E se ela não quiser ficar com você, você deveria ter a deixado em paz.” Eu digo a ele, chegando mais perto de meus amigos.
“Não trago garotas aqui de graça.” Ele responde e ri um pouco. Deve parecer ridículo para ele ser ameaçado por duas garotas de 14 anos e um menino deficiente. 
“Quer me falar mais perto que você tem um esquema de prostituição?” Hadassa fala para ele e pega um celular que eu não sabia que ela estava carregando, apontando para o homem.
O homem saiu correndo e gritando que a polícia estava ali. As poucas pessoas que o ouviram saíram correndo também e isso causou um caos.
Quando chegamos perto da menina quase desacordada pude sentir o cheiro de vinho forte nela e soube o que Quiron quis dizer com ela estava pior que eu. Novamente, nosso problema não eram monstros e sim humanos agindo como monstros. 
Aproveitamos a confusão para sair pela saída de emergência. Levamos a menina desacordada e tentamos não parecer muito suspeito, mas aparentemente uma cena daquelas era normal naquele lugar.
Odiei Los Angeles.
Voltamos na loja vintage onde tínhamos deixado nossas mochilas e trocamos de roupa. Deixamos os vestidos ridículos ali mesmo. A menina não acordava.
Ela era baixinha e tinha a maçã do rosto alta, o que a fazia parecer bochechuda. Os cabelos eram longos e castanho e parecia que ninguém havia o penteado a meses. Assim que trocamos de roupa procuramos um lugar com menos pessoas para nos sentar e conversar. Isso foi um McDonalds.
“Eu prefiro Birguer King...” Começo a protestar, mas Hadassa me interrompe.
“Todos preferimos, mas não é a hora.” Ela me diz, parece que se sente mal por ser um pouco rude então sorri para mim e sussurra desculpas.
“Tenho uma coisa na mochila que vai fazer ela vomitar, pode a acordar.” Digo a eles, pensando nas ervas que tinha colhido imaginando que eu encontraria minotauros e ciclopes. 
“Talvez seja melhor ela ficar desacordada para explicarmos tudo dentro do acampamento.” Gavin dá sua opinião enquanto escolhemos uma mesa para sentar.
“Ela está desmaiada, não sabemos o que tomou...” Hadassa começa, parecendo muito preocupada, analisando a situação. 
“Podemos levar ela a um hospital.” Digo a eles, mas os dois negam com a cabeça.
“Não acho que seja seguro.” Hadassa me responde e brinca com guardanapos, fazendo pequenos cisnes.
“Faz ela vomitar e vamos orar pra que ela durma de novo.” Gavin me diz e eu começo a procurar as ervas necessárias na mochila. Os atendentes do lugar olham para nós com cara feia.
“Vamos voltar de avião?” Pergunto a eles, imaginando como passaria pela segurança com a menina desacordada.
“Estou chamando um pequeno autômato, vai ser mais rápido.” Hadassa me diz e pega o celular que ela tinha usado na boate.
“Voltar de carro?” Eu pergunto a ela. Seria uma viagem de dias, considerando que estávamos do outro lado do país.
“Não, de helicóptero, bobinha.” Ela me diz e ri um pouco, digitando um código enorme no telefone.
“Não sei se quero entrar num helicóptero que se dirige sozinho.” Eu digo a ela. Já não gosto de viajar pelo ar, ainda mais pelo ar quando não tem ninguém dirigindo.
“Deixe de ser boba, eu vou estar no comando. Não confia em mim?” Ela me diz com uma voz animada, sem tirar o olhar do celular.
“Nunca pensei que ia sentir falta de atravessar o país a pé.” Digo baixinho, mas a habilidosa filha de Hefesto ouve.
“Deixa isso pra Into The Wild. Vamos voltar com estilo.” Ela diz sorrindo, parecia muito feliz de estar mexendo com aquela programação estranha. Tinha um brilho nos olhos maior do que eu ja havia visto em seu rosto em todo meu tempo no Acampamento. Me perguntei se era assim viajar com O Leo Valdez, criador desses autômatos. 
“Vamos tentar focar em voltar com ela viva.” Gavin diz, muito preocupado.
Pedi um copo de água da torneira e a garçonete me fuzilou dos olhos quando voltou. Misturei um pouco de algumas ervas que eu tinha na mochila e levei a filha de Dionísio para o banheiro. Fui sozinha. Forcei a menina a engolir o remédio e ela começou a vomitar. Aparentemente ela não comia nada, pois todo o vomito parecia álcool e bile. Depois de um tempo ela parou e me encarou, mas não disse nada, apenas sorriu e fechou os olhos.
Ela poderia ter a minha idade e eu não consigo imaginar como pode ter sobrevivido tanto tempo dessa forma.
Eu nunca nem experimentei nenhuma bebida alcoólica.
Ela vomitou mais um pouco (na minha blusa) e balbuciou o que parecia ser um “obrigada” e “você é linda”. Imaginei que o álcool no sangue dela deveria estar muito elevado.
Sai a carregando do banheiro e expliquei o que aconteceu para meus companheiros.
“Acho que consigo fazer ela beber um pouco de coca-cola. Precisa do açúcar no sangue.” Eu digo a eles, usando o conhecimento de medicina que tinha aprendido com Matheus no ultimo mês. 
Coloquei o copo na frente da menina e o canudo em sua boca. Ela abria e fechava os olhos em um ritmo estranho, mas sugou um pouco do refrigerante.
Hadassa disse que precisávamos ir para o topo do prédio se quiséssemos a carona e nós despistamos a garçonete avisando do vomito no banheiro para subir a escadaria.
No terraço, tentei forçar mais coca cola na menina que mal conseguia ficar em pé.
Não demorou muito para o autômato chegar. Gavin carregou a menina em suas costas subindo a escada perigosa do helicóptero e todos nos sentamos espremidos ali. Assim que colocamos os cintos, o autômato subiu o voo.
Hadassa e Gavin sentaram na frente enquanto eu e a garota sentamos atrás.
A viagem foi longa, mas tranquila e sem monstros. O maior monstro que encontramos nessa missão não tinha nada de infernal, era completamente mortal.
A menina dormiu e acordou algumas vezes para agradecer e dizer que eu era linda.
Quando chegamos no acampamento já era tarde, um pouco depois do almoço. Estacionamos no meio da arena e todos os campistas vinham correndo para ver quem precisara ser transportada por helicóptero.
A menina ainda dormia e Gavin a carregou no colo. Hadassa programou o autômato e, enquanto levávamos a garota para a tenda hospitalar, a última coisa que ouvi foi:
“Ótimo Luna, então você é responsável por ela.” A voz de Quiron era mais alta do que todas as conversas paralelas dos campistas. Tentei dizer que não estava pronta, mas ele simplesmente foi embora. De longe, Laura parecia muito triste.
Se ela quisesse ficar com a adolescente bêbada tudo bem por mim. Eu só queria meu mês perfeito de volta. Parecia egoísmo, mas eu não queria que nada mudasse e aqueles olhos violetas pareciam que iam trazer muitos problemas.
Decidi dormir na tenda hospitalar para estar com a menina quando acordasse. Dormi em uma das macas e Matheus ficou comigo até de madrugada, quando voltou para seu chalé.
Sonhei com uma escuridão imensa. Não conseguia ver nem ouvir nada, mas me sentia com muito medo. Alguma coisa aterrorizante estava ali e eu conseguia apenas sentir sua presença. Meu coração batia mais forte e eu tinha muito medo. Nada além disso.
Não gritei nem tentei fugir. Só conseguia ficar parada sentindo o desespero me encher.
The end


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Notas finais do capítulo

É isso pessoal... Acabou.
Interessados em uma continuação, em ler com a visão de outros personagens? Comentem!
Amo vcs ♥
E adeus! Até a próxima!
A jornada até aqui foi INCRÍVEL.
Espero que vocês tenham gostado também.



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