O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ^^



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Perto da fronteira da nossa cidade com o município vizinho, havia uma área florestal protegida pelo governo do estado. Quando amanheceu, Aldo me levou até lá, dizendo que iria me ensinar a atirar com rifles. Ele levava um, e eu levava outro. Aldo também levava uma mochila nas suas costas, mas eu nem fazia ideia do que tinha ali.

— O que tem na mochila?

— Não é da sua conta.

Um pouco irritada com a resposta de Aldo, tentei mudar de assunto.

— Não é ilegal atirar em uma área florestal protegida?

— É ilegal atirar em animais e cortar as árvores. Acho que atirar nas pedras não dá problema nenhum.

— Como é que nessa idade você ainda tem tanto vigor e ainda sabe atirar com um rifle? Só de segurar essa coisa já é pesada.

— Eu atiro com essas coisas desde a minha juventude, garota. Agora, me responda você uma coisa... Tá tudo bem mesmo em perder um dia de aula para vir até aqui?

— Eu não estou nem aí se vou perder aula ou não. Não tenho o menor interesse naquela droga.

— Que revolta é essa, garota?

— Não é revolta... Só é... Indisposição.

— Indisposição? Qual é, você nem sabe o que isso significa.

— Só não te mando calar a boca porque você está segurando uma arma agora.

— Por que não está interessada na escola?

— Porque não tem nada de interessante lá.

— Nem amigos?

— Bom, amigos tem alguns.

— E eles não vão sentir a sua falta?

— Talvez sintam, não sei.

— Talvez sintam? Que amigos são esses que você não tem certeza que eles sentirão sua falta?

— Na verdade, são os melhores amigos que eu poderia ter...

— Então diga com certeza que eles sentem a sua falta. Você tem a sorte de ter seus amigos por perto, Evelyn. Eu não tenho.

— Não tem?

— Não, não tenho.

— E quanto a mim?

— O que quer dizer?

— Eu sou sua amiga, não sou?

Aldo permaneceu calado.

— Não sou?

— Cala a boca, garota.

Dei um risinho e continuei a acompanhá-lo.

Quando chegamos numa área no meio da floresta, próxima a um rio, Aldo escolheu uma árvore aleatória. Tirou de sua mochila alguns ingredientes estranhos: uma lata de colorau, duas garrafas pet de 1 litro vazias, 2 tubos de cola branca, 2 garrafas de álcool 70, uma peneira, sementes de urucum e um pouco de carvão.

— Por que você trouxe isso tudo?

Aldo não respondeu a minha pergunta. Em vez disso, me entregou as garrafas pet.

— Vá encher essas garrafas de água lá no rio.

Sem entender o que ele queria com aquilo, fui até o rio e enchi as garrafas, como Aldo havia pedido. Enquanto isso, Aldo retirou da mochila dele quatro recipientes de barro, depois foi até uma mangueira que estava ali perto e tirou dela uma de suas folhas, em seguida retornou. Voltei com as garrafas cheias de água e entreguei para ele.

— Obrigado. – ele disse.

— De nada.

Pegando um dos recipientes, Aldo misturou um pouco da água com um pouco da cola, e aos poucos foi acrescentando o colorau, até formar uma tinta vermelha.

Depois, pegou outro dos recipientes e misturou as sementes de urucum com álcool, e deixou de lado, esperando.

Enquanto esperava o resultado da mistura de sementes de urucum com álcool, ele pegou a folha de mangueira que tinha ido buscar e nela, colocou o carvão. Então, pegou uma pedra e começou a bater no carvão até que ficasse apenas um pó preto na folha de mangueira. Pegou o terceiro recipiente e nele fez outra mistura de água e cola. Depois, foi acrescentando o pó de carvão nessa mistura até que a cor e a textura formassem uma tinta preta.

Ele então viu que o álcool da mistura anterior já tinha absorvida toda a cor amarela das sementes de urucum, então pegou o último recipiente que tinha sobrado e jogou o álcool amarelo nele, peneirando, para que as sementes ficassem de fora. Então, acrescentou cola para tornar a textura mais grossa, e assim fez uma tinta amarela, e a deixou reservada juntamente com as outras.

Pegou de novo sua mochila e dela tirou um pincel.

— Me dê a tinta vermelha, por favor, Evelyn.

Eu entreguei o recipiente com a tinta vermelha a ele. Aldo desenhou numa pedra enorme ali perto um círculo com a tinta vermelha. Entregou-me de volta a tinta vermelha, e eu a coloquei no chão junto das outras.

— Agora, a amarela.

Entreguei a tinta amarela a ele e ele desenhou outro círculo menor, dentro do vermelho. Me entregou de volta a tinta amarela.

— A preta.

Entreguei para ele o recipiente com a tinta preta, e ele pintou um pequeno círculo no meio do amarelo, que estava no meio do vermelho.

— Esse é o alvo – disse, me entregando de volta o recipiente de tinta preta. - Quero que você mire bem e atinja o mais perto do centro que conseguir.

Através da mira do rifle, eu mirei no círculo preto do centro, atirei, e o projétil passou bem longe da pedra.

— Você está nervosa demais.

— Como assim?

— Você treme muito, parece que é você que está na mira do rifle.

— É a primeira vez que eu estou segurando uma arma! Como você quer que eu saia daqui atirando igual a você naquela noite?

— Você precisa começar de algum jeito, e um bom jeito de começar é não ficando nervosa.

Olhei para o rifle na minha mão e mais uma vez coloquei sua mira em direção ao alvo. Aldo percebeu que mais uma vez meus braços estavam tremendo, e desta vez eu percebi também.

— Por que esse nervosismo todo?

— Eu não sei, cara! Mas o que você quer que eu faça?

Aldo ficou calado por um tempo...

— Atire!

Mais uma vez apertei o gatilho, e a bala pegou na extremidade de cima do grande círculo vermelho.

— Pelo menos acertou dentro da área do alvo desta vez.

— É... Mas não foi exatamente no centro.

— Preste atenção, quando sentir seus braços balançando, respire fundo e inspire.

De novo posicionei a mira no alvo, senti novamente meus braços balançando e o dedo no gatilho tremendo de nervosismo. Segui o conselho de Aldo, inspirei fundo e soltei o ar. Atirei. No momento em que ouvi o disparo, fechei os olhos e fiquei um bom tempo com os olhos fechados.

— Abra os olhos. – disse Aldo.

Quando eu abri, vi a marca do projétil no círculo preto que estava no meio do alvo. Não estava exatamente no meio do alvo, mas tinha atingido o círculo do meio.

Sorri para Aldo e ele sorriu de volta.

— Hoje à noite será interessante. – disse ele.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do tutorial de Aldo para fazer tinta natural? kkkkkkkkk

Espero que tenham gostado! ^^