O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II
Notas iniciais do capítulo
Espero que gostem! ^^
Perto da fronteira da nossa cidade com o município vizinho, havia uma área florestal protegida pelo governo do estado. Quando amanheceu, Aldo me levou até lá, dizendo que iria me ensinar a atirar com rifles. Ele levava um, e eu levava outro. Aldo também levava uma mochila nas suas costas, mas eu nem fazia ideia do que tinha ali.
— O que tem na mochila?
— Não é da sua conta.
Um pouco irritada com a resposta de Aldo, tentei mudar de assunto.
— Não é ilegal atirar em uma área florestal protegida?
— É ilegal atirar em animais e cortar as árvores. Acho que atirar nas pedras não dá problema nenhum.
— Como é que nessa idade você ainda tem tanto vigor e ainda sabe atirar com um rifle? Só de segurar essa coisa já é pesada.
— Eu atiro com essas coisas desde a minha juventude, garota. Agora, me responda você uma coisa... Tá tudo bem mesmo em perder um dia de aula para vir até aqui?
— Eu não estou nem aí se vou perder aula ou não. Não tenho o menor interesse naquela droga.
— Que revolta é essa, garota?
— Não é revolta... Só é... Indisposição.
— Indisposição? Qual é, você nem sabe o que isso significa.
— Só não te mando calar a boca porque você está segurando uma arma agora.
— Por que não está interessada na escola?
— Porque não tem nada de interessante lá.
— Nem amigos?
— Bom, amigos tem alguns.
— E eles não vão sentir a sua falta?
— Talvez sintam, não sei.
— Talvez sintam? Que amigos são esses que você não tem certeza que eles sentirão sua falta?
— Na verdade, são os melhores amigos que eu poderia ter...
— Então diga com certeza que eles sentem a sua falta. Você tem a sorte de ter seus amigos por perto, Evelyn. Eu não tenho.
— Não tem?
— Não, não tenho.
— E quanto a mim?
— O que quer dizer?
— Eu sou sua amiga, não sou?
Aldo permaneceu calado.
— Não sou?
— Cala a boca, garota.
Dei um risinho e continuei a acompanhá-lo.
Quando chegamos numa área no meio da floresta, próxima a um rio, Aldo escolheu uma árvore aleatória. Tirou de sua mochila alguns ingredientes estranhos: uma lata de colorau, duas garrafas pet de 1 litro vazias, 2 tubos de cola branca, 2 garrafas de álcool 70, uma peneira, sementes de urucum e um pouco de carvão.
— Por que você trouxe isso tudo?
Aldo não respondeu a minha pergunta. Em vez disso, me entregou as garrafas pet.
— Vá encher essas garrafas de água lá no rio.
Sem entender o que ele queria com aquilo, fui até o rio e enchi as garrafas, como Aldo havia pedido. Enquanto isso, Aldo retirou da mochila dele quatro recipientes de barro, depois foi até uma mangueira que estava ali perto e tirou dela uma de suas folhas, em seguida retornou. Voltei com as garrafas cheias de água e entreguei para ele.
— Obrigado. – ele disse.
— De nada.
Pegando um dos recipientes, Aldo misturou um pouco da água com um pouco da cola, e aos poucos foi acrescentando o colorau, até formar uma tinta vermelha.
Depois, pegou outro dos recipientes e misturou as sementes de urucum com álcool, e deixou de lado, esperando.
Enquanto esperava o resultado da mistura de sementes de urucum com álcool, ele pegou a folha de mangueira que tinha ido buscar e nela, colocou o carvão. Então, pegou uma pedra e começou a bater no carvão até que ficasse apenas um pó preto na folha de mangueira. Pegou o terceiro recipiente e nele fez outra mistura de água e cola. Depois, foi acrescentando o pó de carvão nessa mistura até que a cor e a textura formassem uma tinta preta.
Ele então viu que o álcool da mistura anterior já tinha absorvida toda a cor amarela das sementes de urucum, então pegou o último recipiente que tinha sobrado e jogou o álcool amarelo nele, peneirando, para que as sementes ficassem de fora. Então, acrescentou cola para tornar a textura mais grossa, e assim fez uma tinta amarela, e a deixou reservada juntamente com as outras.
Pegou de novo sua mochila e dela tirou um pincel.
— Me dê a tinta vermelha, por favor, Evelyn.
Eu entreguei o recipiente com a tinta vermelha a ele. Aldo desenhou numa pedra enorme ali perto um círculo com a tinta vermelha. Entregou-me de volta a tinta vermelha, e eu a coloquei no chão junto das outras.
— Agora, a amarela.
Entreguei a tinta amarela a ele e ele desenhou outro círculo menor, dentro do vermelho. Me entregou de volta a tinta amarela.
— A preta.
Entreguei para ele o recipiente com a tinta preta, e ele pintou um pequeno círculo no meio do amarelo, que estava no meio do vermelho.
— Esse é o alvo – disse, me entregando de volta o recipiente de tinta preta. - Quero que você mire bem e atinja o mais perto do centro que conseguir.
Através da mira do rifle, eu mirei no círculo preto do centro, atirei, e o projétil passou bem longe da pedra.
— Você está nervosa demais.
— Como assim?
— Você treme muito, parece que é você que está na mira do rifle.
— É a primeira vez que eu estou segurando uma arma! Como você quer que eu saia daqui atirando igual a você naquela noite?
— Você precisa começar de algum jeito, e um bom jeito de começar é não ficando nervosa.
Olhei para o rifle na minha mão e mais uma vez coloquei sua mira em direção ao alvo. Aldo percebeu que mais uma vez meus braços estavam tremendo, e desta vez eu percebi também.
— Por que esse nervosismo todo?
— Eu não sei, cara! Mas o que você quer que eu faça?
Aldo ficou calado por um tempo...
— Atire!
Mais uma vez apertei o gatilho, e a bala pegou na extremidade de cima do grande círculo vermelho.
— Pelo menos acertou dentro da área do alvo desta vez.
— É... Mas não foi exatamente no centro.
— Preste atenção, quando sentir seus braços balançando, respire fundo e inspire.
De novo posicionei a mira no alvo, senti novamente meus braços balançando e o dedo no gatilho tremendo de nervosismo. Segui o conselho de Aldo, inspirei fundo e soltei o ar. Atirei. No momento em que ouvi o disparo, fechei os olhos e fiquei um bom tempo com os olhos fechados.
— Abra os olhos. – disse Aldo.
Quando eu abri, vi a marca do projétil no círculo preto que estava no meio do alvo. Não estava exatamente no meio do alvo, mas tinha atingido o círculo do meio.
Sorri para Aldo e ele sorriu de volta.
— Hoje à noite será interessante. – disse ele.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Gostaram do tutorial de Aldo para fazer tinta natural? kkkkkkkkk
Espero que tenham gostado! ^^