O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II
Notas iniciais do capítulo
Pensam que as surpresas acabaram? KKKKKKKK
Espero que gostem! ^^
Quando Aldo parou de chorar, resolvemos ir ao quintal do asilo para conversamos mais um pouco.
— Então... Todas aquelas armas que você tem são do tempo do cangaço? – perguntei.
— Todas elas. São um reflexo do passado. Um passado horrível.
— Oh, Aldo, por que ficar se lamentando assim?
— Será que você não entende, garota? Eu matei um amigo.
— Lampião foi um homem horrível.
— Mas foi meu amigo. E eu matei. E pior, fugi daquele confronto! Quase todos os outros cangaceiros ficaram lá e lutaram bravamente, mesmo tendo sido decapitados. Eu fui um covarde, minha cabeça devia ter sido exposta junto com a dos outros.
— Eles expuseram as cabeças?
— Sim. Foram expostas como prêmio em diversas cidades. Dadá, a cangaceira mais brava do bando, e uma das únicas sobreviventes, foi quem pediu que elas fossem enterradas. Mas isso só aconteceu em 1969.
— Aí está! Você não foi o único sobrevivente. Então, por que se incomoda?
— Você não entende. Mesmo os que sobreviveram, lutaram. Eu, por outro lado, fugi como um covarde.
— E que importância isso tem agora, homem? Faz mais de 70 anos e você ainda remói isso na cabeça?
— E o que você tem a ver com isso?
— Nada! Só acho uma idiotice você se sentir mal por uma coisa tola assim! E daí se você fugiu, cara? Você está vivo agora! Isso é o que importa! Vai viver a sua vida!
— Viver a minha vida? Ah, Evelyn, quando você vai perceber que para mim esse negócio de viver a vida não vale mais nada?
— Aldo, não diga uma coisa dessas! Você é importante!
— Importante para quem? Meus pais estão em baixo da terra. Meus tios, eu os abandonei para fugir com o bando. E esse mesmo bando, eu abandonei para deixá-los morrer. Me diga, garota, para quem eu sou importante?
— Ah, Aldo! Por favor, deve ter alguém!
— Bom, na verdade... – Aldo tomou fôlego para falar alguma coisa, mas desistiu antes que falasse. – Deixa pra lá.
— O quê? O que foi?
— É só mais uma história boba de velho.
— A última história não foi nada boba.
— Esqueça, menina.
— Aldo, por favor. – segurei no braço dele e ele olhou para mim. – Me conte.
Aldo deu um longo suspiro e começou a falar.
— Quando eu escapei do ataque de Lampião, decidi vir até essa cidade para tentar começar uma vida nova. Imediatamente, arrumei um emprego num supermercado que havia aberto fazia pouco tempo. O dono do estabelecimento se chamava Aroldo Lima Barbosa e era um cara rico, vivia se exibindo, andando por aí no Chevrolet Corvette dele. Um dia, o motor do carro dele parou a poucos quilômetros de uma padaria que eu sempre ia para comprar o pão do café da manhã. Eu me ofereci para consertar o carro, meu tio tinha me ensinado tudo sobre o funcionamento de motores de carros, principalmente dos americanos. Quando eu consertei o carro, ele ficou tão grato que me ofereceu um emprego no supermercado dele. Eu não entendia nada de supermercados, mas precisava ganhar dinheiro para me manter na cidade. Com o tempo, fui ganhando e experiência, e me tornando um bom funcionário. Acho que eu era o funcionário favorito de Aroldo, levando em conta a forma como ele me tratava com relação aos outros.
— E o que aconteceu com ele?
— Morreu em março de 1999. Infarto fulminante. Mas não é dele que eu estou falando.
— Então, de quem?
— A confiança que Aroldo tinha em mim era tão grande que certo dia ele me convidou para um churrasco na casa dele. E eu fui. Quando cheguei lá, ele me apresentou a filha dele. E... Uau! Até hoje não sei como descrever a beleza que estava diante de meus olhos. Era uma mulher mais ou menos da minha idade. Era albina, então o pai não a deixava sair muito para que não se machucasse no sol. Os olhos e pele claros, e os cabelos loiros quase brancos me deixavam instigado. Eu me apaixonei por ela no instante que a vi. Mas, eu sabia que Aroldo não aprovaria nosso romance. Por mais que confiasse em mim, na família dele havia uma regra que gente rica só se casa com gente rica.
— E aí?
— Eu não liguei. Naquele momento eu não me importei com o churrasco, muito menos se iria perder o emprego, eu não iria descansar enquanto não conseguisse conquistá-la. Num primeiro instante, ela até me evitou. Mas, aos poucos, conforme Aroldo ia fazendo mais churrascos e me convidando, fui conversando mais com ela e ela foi confiando mais em mim, e no final de um dos churrascos, já éramos muito amigos. Escondido do pai dela, a convidei para que fosse me encontrar naquela noite. Eu achava que ela não iria aceitar, mas para minha surpresa, ela disse sim, e nos encontramos naquela mesma praça onde eu e você comemos os sanduíches.
— Que romântico!
— Pois é, mas quem não gostou disso foi o pai dela, que a tinha visto sair de casa escondida e a seguiu. Quando ele me viu beijando a filha dele, ordenou imediatamente que nos separássemos daquele beijo. Uma semana depois, ele pagou para ela uma viagem para a Argentina, onde ela iria cursar uma faculdade. Horas antes do voo, eu fui escondido até a janela do quarto dela, onde nós conversamos por alguns minutos. Eu disse a ela que a esperaria o tempo que fosse, e que um dia nos reencontraríamos para viver nosso amor sem a interferência de ninguém.
— E onde ela está agora?
— Eu não sei. Ouvi boatos de que após a morte do pai dela, ela voltou para a cidade. Porém, eu nunca mais a vi.
Após ele acabar a história, ficamos calados por um bom tempo, até que ele decidiu voltar ao quarto. Antes que ele entrasse no asilo, eu o chamei...
— Aldo!
— O que você quer agora, Evelyn?
— Vamos sair por aí. Sei lá, comprar uns sanduíches...
Aldo parou um tempo e olhou para o chão.
— Vá embora, Evelyn.
— O quê?
— Vá embora. Você já fez muito por hoje.
— Mas eu ainda tenho umas duas horas para ficar por aqui.
— Considere-se dispensada por hoje.
— Qual é, Aldo? Por que isso agora?
— Garota, você mesmo disse que só fica comigo por obrigação da lei. Mas se você for embora, ninguém vai saber. Só se eu delatar. E eu não vou fazer isso.
— Aldo...
— Boa noite, Evelyn. E tome cuidado com o lobisomem.
Ele deu um sorrisinho de canto de boca e entrou no asilo. Lá dentro, a supervisora deu um “boa noite” sorridente para ele, mas Aldo não respondeu. Aquilo chamou a atenção da supervisora. Aldo nunca respondia as boas noites que ela dava. Mas agora, havia algo de diferente no seu semblante. Não era raiva, era tristeza.
Eu acabei o obedecendo, e peguei o caminho de volta para casa. Mas, tinha algo que me incomodava. Era como se uma força estivesse me fazendo querer voltar para onde Aldo estava. Quando eu estava a poucos quarteirões da minha casa, decidi voltar correndo para o asilo.
Entrei apressada pela sala principal, assustando os velhinhos, as enfermeiras e a supervisora. Corri o mais rápido que pude em direção ao quarto de Aldo, e quando eu abri, senti um choque ao ver aquela cena.
Aldo estava com um de seus rifles apontados para sua cabeça, e com o dedo já no gatilho.
— NÃO! – gritei e corri em direção a ele, usando a minha mão para empurrar o braço dele, o fazendo derrubar o rifle. - VOCÊ FICOU MALUCO? – eu gritava e chorava. – O QUE DEU EM VOCÊ AGORA? QUAL O SEU PROBLEMA?
Aos poucos, os gritos que dividiam o espaço com meu choro foram desaparecendo, e aos poucos, comecei apenas a chorar. Abracei Aldo com força, enquanto minhas lágrimas escorriam incessantemente do meu rosto. Senti ele me abraçar de volta.
— Por favor. – eu disse. – Não faça isso.
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Ainda tem alguns segredinhos para o Aldo revelar... KKKKKKKK
Espero que tenham gostado! ^^