— Rocket...  – Ben acariciou a cabeça sem pelos do pequeno eopie, que pulava alegremente ao seu redor. – Que tal Rocket?

O filhote havia nascido há cerca de um mês e do jeito que se alimentava do leite de sua mãe, logo seria tão grande quanto ela. Apesar de se alimentar feito um Wookie, ele ainda não tinha muita firmeza nas pernas, por isso de vez em quando se enroscava nas próprias patas e caia no solo arenoso. Chorava por alguns minutos e logo Rooh aparecia para ajuda-lo a levantar. Logo, voltava a trotar ao redor da cabana de Ben e a relinchar.

Ben adorava ter a companhia dos dois animais. Eles eram uma distração agradável em seus dias monótonos e sem graça. Tornaram-se sua nova família naquele planeta desértico e amaldiçoado.

Desértico, pois tratava-se de Tatooine, claro. Talvez o mais planeta mais quente e árido da galáxia, cujo clima era pouco favorável para a população. Tão desfavorável que para os povos conseguirem água, tinham que construir enormes estruturas tecnológicas chamadas de Vaporizadores de umidade, que capturavam a água através da atmosfera do planeta.

Amaldiçoado por causa das lembranças que insistiam em assombrar o homem durante o dia e a noite também. Ben, outrora conhecido como Obi Wan Kenobi, nunca se acostumaria com essas lembranças, mas não havia nada que pudesse fazer para impedi-las. Elas apareciam e sumiam na mesma velocidade. Nunca avisavam quando iriam surgir, simplesmente apareciam e desencadeavam no Jedi sentimentos como a angustia e o desespero.

Achou que quando conseguisse se comunicar com seu falecido mestre, Qui-Gon, elas iriam suavizar um pouco. Achou que quando começasse o treinamento, teria maior controle sobre seus pensamentos. Pura ilusão.

Qui-Gon sequer o respondia e isso estava deixando Obi Wan ainda pior. Acreditava estar fazendo tudo certo, do jeito que Mestre Yoda lhe ensinara. Mas não estava tendo resultado, pelo menos achava que não.

Em varias ocasiões chegou a questionar se valia a pena todo o esforço. Sua sanidade mental já estava fragilizada o bastante e ele não sabia por quanto tempo mais aguentaria viver naquele lugar sem qualquer tipo de contato com o mundo exterior. O que estaria acontecendo no restante da galáxia?

Tantas perguntas e nada nem ninguém para respondê-las.

E ainda tinha Luke, o filho de seu melhor amigo que havia se aliado ao lado negro da força e provavelmente, estava morto. Sua principal missão era proteger a criança, mas como faria isso morando a quilômetros de distancia? Mudar-se para mais perto da fazendo dos Lars estava fora de cogitação, pois segundo Owen, o meio irmão de Anakin, Ben era a personificação da confusão e não o queria por perto. Temia pela segurança de sua família.

E ele não estava totalmente errado. Ben concordava com ele. Mesmo que prezasse pela total discrição, os problemas o perseguiam aonde quer que fosse. Prova disso foi o que aconteceu com Annileen e sua família, que tiveram que se mudar da região por conta dele.

A única coisa que Kenobi queria desesperadamente naquele momento era uma companhia, alguém que o ouvisse e lhe desse conselhos. Alguém de carne e osso.

O pequeno filhote aproximou-se e fungou em seu pescoço. Kenobi estava sentado no chão, com as pernas cruzadas e sentiu um leve arrepio com o gesto carinhoso do animal. Seu desejo fora atendido, mais ou menos. Não era exatamente uma pessoa, mas era de carne e osso e o ouviria sem esperar nada em troca, quer dizer, talvez um pouco de ração e agua fresca, além de um lugar aconchegante para dormir e protegido do sol escaldante.

— Se eu pelo menos soubesse se você é macho ou femea, seria bem mais fácil escolher um nome para você. — Ele passou a mão pelo pescoço pelado do animal e este o lambeu com sua língua comprida e fina.

Rooh também se aproximou e lhe fez o mesmo agrado: Sua língua era mais larga e espessa e deixou os cabelos do homem pingando saliva.

— Muito obrigado Rooh. — Ben exclamou sorrindo e passando a mão pelo cabelo melecado — Eu estava mesmo precisando tomar um banho.

A baba escorrendo pela sua nuca e descendo pela suas costas não era uma sensação agradável. O ruivo então chacoalhou a mão molhada e se deitou de barriga para cima e olhou para o céu noturno estrelado, de forma contemplativa. Não se importou com a areia, teria que banhar-se mesmo antes de dormir.

O pequeno filhote relinchou e deitou ao seu lado, apoiando a cabeça em seu peito. Com a mão direita livre – Ben usava o braço esquerdo como apoio para sua cabeça – ele acariciou a pele lisa e macia do animal.

— Bonito não é? – perguntou Ben.

Inesperadamente, o pequeno eopie relinchou e o ruivo aceitou como uma resposta. O animal era um bom ouvinte no final das contas. Faltava apenas falar seu idioma.

— Eu costumava viajar por entre as estrelas. Voar pela galáxia... – Kenobi continuou, como se contasse uma historia de ninar para uma criança que se aninhara em seu colo. – O mais engraçado disso tudo é que eu nunca pensei que fosse sentir tanta falta de fazer isso. – Um sorriso triste surgiu em seu rosto. – Eu costumava gostar de voar, mas isso foi antes de conhecer Anakin. Digamos que voar tornou-se muito perigoso depois, pois ele adorava realizar manobras suicidas e eu conclui que era melhor deixar que os droides pilotassem. – Olhou para o animal em seu peito e concluiu que ele não entendia uma palavra do que dizia, mas o fato de poder desabafar já lhe era o suficiente.

Ben sobressaltou-se quando ouviu um barulho alto e quando virou a cabeça para sua direita, viu que Rooh havia deitado também e o olhava com bastante atenção. De repente, se deu conta de que os brilhantes olhos da mamãe coruja lhe deram o nome perfeito para o eopie.

— Acho que já encontrei um nome para você pequeno. — O filhote levantou a cabeça e lhe deu outra lambida. — Rigel, o que acha?

Rooh e o filhote relincharam e o homem soube que era o nome certo para o filhote.

— É a estrela mais brilhante da constelação de Órion. — Ele suspirou e voltou a encarar o céu brilhante. — Quando Anakin era apenas um padawan, eu fiz com que ele estudasse cada uma das constelações existentes em todo o universo. Ele levou semanas para terminar e depois que havia decorado todas, disse-me que a constelação de Órion era a sua favorita.

O filhote que agora se chamava Rigel aninhou-se ainda mais sobre o peito de Ben. Era como se quisesse mostrar que estava ali, lhe fazendo companhia.

— Eu não sei aonde ele está agora, mas espero que ele ainda consiga ver as estrelas que tanto amava.

O clima estava agradável e sem perceber, o ruivo adormecera, com Rigel e Rooh praticamente enrolados nele. Era quase certo de que teria pesadelos – tinha todas as noites desde que tudo acontecera – mas dessa vez, ele não acordaria sozinho.