A verdade era estarrecedora para o mestre Jedi: Com o tempo, todos aqueles que estavam ao seu lado, um dia o deixariam e ele ficaria sozinho. No final das contas, não se apegar era uma dadiva que ele não possuía.

Com os braços cruzados, olhava com melancolia para o entardecer de Coruscant. A coloração alaranjada, misturada com o cinza esfumaçado causado pela fumaça que saia dos motores das naves, combinava com o estado de espirito do Jedi. A sacada onde estava lhe servia muito bem para reflexão. Foi ali que teve uma de suas ultimas conversas com seu mestre, Qui-Gon.

Fechou os olhos e contraiu os ombros ao sentir um arrepio pelo corpo. Não devia sequer permitir que esses sentimentos deprimidos abrissem brechas em sua mente. Poderiam se fixar e se alastrar tão rápido quanto uma gripe. Um Jedi, embora vivesse em comunidade,  junto com outros sensitivos da força, antes de tudo devia ser autossuficiente para que fosse capaz de conviver sozinho caso necessário.

Antes da morte de seu Mestre, Obi Wan acreditava estar cem por cento preparado para lidar com as perdas inevitáveis, afinal os Jedi não eram imortais e poderiam morrer facilmente, como qualquer ser mortal. Mas descobriu da pior forma possível que fora presunçoso demais ao achar isso. Ao ver a vida de Qui-Gon se esvaindo em seus braços, percebeu o quanto era ingênuo em acreditar que estaria pronto para a morte daquele a quem dedicou boa parte de sua vida. Foi nessa ocasião em que percebeu pela primeira vez a verdade que tanto lhe assombrava: A solidão por vezes chega sem avisar. Não pede permissão, apenas entra em sua vida e gruda em seu coração como um parasita.

Obi Wan nunca superou totalmente a perda de seu mestre, apenas aprendeu a conviver com ela. Procurou se concentrar em seus deveres com a Ordem e principalmente, com Anakin, seu padawan. Não demoraria para ele perceber que graças ao pequeno Skywalker, aquela sensação de solidão desabitaria seu coração, mas não permanentemente. Apesar de a sensação não estar mais lá, havia um lugar reservado especialmente para ela e Obi Wan sabia que mais cedo ou mais tarde ela voltaria a atormentar seu coração, mas dessa vez ele estaria preparado. Pelo menos era o que ele pensava.

Um ruído estranho chamou sua atenção e ele procurou por entre as milhares de naves que sobrevoavam a cidade, a origem do som. Viu ao longe, uma nave velha voando em zigue zague, tentando manter-se em linha reta, mas sem sucesso.

Se o motor falhasse em pleno voo, as chances de sobrevivência eram quase zero. Se não morresse na explosão, a queda o mataria.

Balançando a cabeça e sentindo pena do sujeito, uma lembrança dolorida surgiu em sua mente e o fez lembrar da segunda perda que marcou significativamente sua vida e deixou um buraco em seu coração que jamais poderia ser preenchido novamente.

Satine era uma sonhadora. Sonhava com uma galáxia justa e pacifica e por mais que desejasse poder tornar realidade esse sonho para ela, Kenobi sentia que seria difícil alcançar esse estado de paz. Guerras sempre existiram e sempre existiriam, não importa o quanto lutassem. A Paz universal era uma coisa utópica. Mas a Duquesa não se deixaria abalar e lutaria até o fim pela paz que tanto almejava. Infelizmente – ou felizmente pois o mal parecia estar vencendo– Satine não estava mais presente para ver o desenrolar de sua luta pela justiça.

Mais uma vez, diante dos olhos do Jedi, ele perdeu aquela que lhe fez sentir o mais belo e perigoso dos sentimentos: O amor.

Obi Wan não teve forças para evitar que a solidão voltasse a lhe assombrar. Durante um bom tempo, conviveu com a sensação de perda, culpa e incapacidade. Se não fosse pelo apoio de Anakin, não mais seu Padawan, mas agora um grande amigo, talvez não tivesse conseguido se reerguer.

O céu alaranjado deu lugar à noite escura e estrelada e Kenobi sequer notou que já estava ali a  um bom tempo. Deviam estar a sua procura, depois do dia turbulento que tiveram no templo. Atitudes tinham que ser tomadas, decisões revisadas. Mas ele queria apenas fazer uma coisa naquele momento: Voltar no tempo e evitar que Ahsoka deixasse a ordem.

Sabia que voltar no tempo era impossível. O que estava feito, estava e nada poderia reparar o erro cometido contra a Togruta. Ele fora um dos que votou contra a expulsão de Ahsoka e gostaria de poder ter tido mais influencia na decisão. Havia se apegado a ela tanto quanto Anakin e observar a decepção no olhar da jovem Padawan o destruiu por dentro, embora não tenha demonstrado para não chatear ainda mais seu ex-aprendiz, que estava completamente desolado após a partida dela.

Deveria lhe dar apoio, mas como poderia fazer isso se ele mesmo estava precisando? A sensação de solidão voltou com força em seu coração.

 Ahsoka tinha um grande futuro na ordem, mas talvez ela não estivesse errada ao decidir deixar os Jedi. Por mais que negassem, os Jedi realmente não estavam agindo da forma como deveriam e isso estava ficando cada vez mais evidente. Obi Wan no fundo sentia que algo grande estava para acontecer, mas era como se uma nevoa o impedisse de descobrir o que era.

Passo atrás de si o fizeram sobressaltar-se. Virou e se deparou com Anakin, que o fitava curioso.

— Estão procurando pelo senhor, mestre. — Ele disse, caminhando em direção a Kenobi. — Me pediram para avisa-lo.

Obi Wan encarou Anakin e desviou o olhar rapidamente.

— Eles podem esperar mais um pouco. — Ele pigarreou. — Anakin, quero que saiba que eu sinto muito por Ahsoka. Se eu pudesse de algum modo...

— Não se preocupe Obi Wan, sei que você fez tudo o que pode. —Anakin esboçou um sorriso. — A culpa foi minha. Eu a deixei sozinha quando ela mais precisava de mim e agora ela se foi e não vai mais voltar. — Ele inspirou fundo e expirou antes de completar. —Vai ser difícil se acostumar em não ter mais a abusada por perto.

— Com certeza, não vai ser fácil. — Obi Wan disse, encarando seu amigo parado ao seu lado. — Mas não quero que se culpe por algo que você não teve controle. Não podemos controlar tudo ao nosso redor, nem mesmo a força pode ser controlada totalmente. — Ele tentou soar solidário. — Acredite, eu já tentei.

— O que quer dizer? — Anakin perguntou, mas não precisou esperar que Obi Wan respondesse para ver nos olhos de seu ex-mestre que admitir aquilo o corroía por dentro.

— Não somos perfeitos Anakin, nenhum Jedi é. Mas durante um bom tempo nos fizeram acreditar que deveríamos ser. — Obi Wan desatou a falar, enquanto desviava sua atenção para o céu movimentado da Cidade Galáctica. — Nosso maior erro é acreditar que não cometemos falhas, mas eu mesmo já falhei varias vezes, inclusive com Ahsoka e com você também. Falhei com todos com quem eu me importo. — Ele completou, pensando especificamente em Satine e Qui-Gon.

Anakin colocou o braço sobre o ombro do Jedi mais velho e o puxou para perto.

— Não tanto quanto eu, mestre. — Ele disse, tentando soar divertido. — Não devia se cobrar tanto. Você tem razão, o que aconteceu, aconteceu. — Ele suspirou. — Vai ser difícil, mas pelo menos ainda temos um ao outro não é? Podemos lidar com isso junto. Sempre foi assim e vai continuar sendo. Só você e eu.

Obi Wan sorriu e encarou Anakin. Era verdade. Não importa o que acontecesse, teria Anakin ao seu lado, como sempre teve em todos os momentos, pois além de amigos, eles eram irmãos. Não de sangue, mas de coração e embora o código Jedi fosse extremamente contra a criação de laços afetivos, nada poderia quebrar a ligação que ambos possuíam e que foi fortalecida ao longo dos anos.

De repente, a visão de Coruscant já não era tão melancólica assim e Obi Wan decidiu que a partir daquele dia, a solidão não teria mais espaço em seu coração. Não havia motivos para permitir que ela voltasse, pois percebeu o que estava bem diante de seus olhos esse tempo todo: Nunca estaria sozinho, pelo menos não enquanto tivesse Anakin ao seu lado.