After the storm escrita por Dyanna Pereira


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores! Ficou decidido assim: vou postar dois capítulos por semana, sempre na segunda e na quinta. Boa leitura.



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Uma boa noite de sono sempre resolve tudo. Todo mundo diz isso e eu até concordo, parcialmente. Eles esquecem de dizer que o bem estar dura só um pouquinho, até seu cérebro te trair, trazendo memórias daquela pessoa, ou daquela situação que você está tentando não pensar. É óbvio que quatorze anos juntos não dava para ser apagado com uma noite de sono, mas eu estava com esperanças. Quando pensava em mim, não conseguia me enxergar como uma pessoa. Sempre remetia minha imagem a de Harry. Era como se fôssemos um só. De repente, meu erro havia sido esse. Me anulado e esquecido de minhas necessidades. Eu não saía mais com minhas amigas, não visitava minha família com frequência, embora isso sempre me trouxesse grande alegria. Ficava em casa, muitas vezes sozinha já que Harry sempre estava ocupado com o trabalho. Eu era tão comunicativa, não escolhi o jornalismo apenas porque pagava bem. Por que eu nunca falei como me sentia para ele? De repente podíamos ter consertado a situação antes que fosse tarde demais. Eram tantos e se, tantos erros que agora apareciam em minha cabeça. Olho para o relógio na cabeceira da cama. P assa um pouco das oito horas. Sempre acordo muito cedo por conta do trabalho, então era comum acordar cedo nos finais de semana também. Porém naquele dia resolvo não levantar, apenas fico deitada na cama, refletindo. Um tempo depois, ouço o toque de meu celular. Levanto rápido demais e minha cabeça gira, preciso me apoiar na parede para não cair. O visor me diz que é Luna e com uma pontada de desapontamento, atendo a ligação.
— Oi, Luna. Bom dia.- me arrasto pelo quarto, vestindo um roupão e calçando minha sandália.
— Ginevra Molly Wesley, agradeça a tecnologia que não avançou o suficente, porque se ela tivesse, eu estaria apertando o seu pescoço pela tela do meu aparelho! - afasto o celular de minha orelha, seus gritos podiam ser ouvidos perfeitamente assim.
— Me desculpe, eu sei que deveria ter ligado antes.
— É claro que devia! Ficamos preocupados com você. Está em todos os jornais, Gin.- caminho até a sala, pegando do chão as roupas que deixei para trás no dia anterior.
— Não, a equipe do Harry tirou as matérias do ar.- encho um copo de água na cozinha e bebo um longo gole.
— Gina, não sei como dizer isso, mas está em todos os jornais que você saiu de casa.- cuspo minha água, me engasgando um pouco. Minha amiga espera eu terminar de tossir.- Sinto muito.
— Não acredito nisso. Luna, como podem fazer isso? - volto para a sala, ligando o notebook.
— Eu sei, amiga. É muito injusto fazerem isso. Mas o que aconteceu? Não me diz que vocês se separaram por causa daquela fofoca rídicula sobre você e o Neville.- me sento no sofá enquanto espero impaciente o computador ligar e já abro a página principal da internet. Não preciso pesquisar muito para encontrar a matéria.
— Luna, podemos nos falar depois?
— Claro, Gina. Me liga se precisar de algo.
— Ok.

É a única coisa que consigo dizer já que minha boca fica seca, um nó se formando em minha garganta. Era muito triste cada vez que eu me via numa foto borrada, feita as pressas por um paparazzi qualquer. Me sentia exposta, invadida. Por que gostavam tanto de expor minha vida assim? E por que eu me importava tanto com aquilo? Eu podia sentir a maldade naquelas palavras toscas. Era uma matéria curta, com uma foto minha na noite em que saí de casa. Não tinha muitas informações, só falava que estávamos passando por uma crise devido a minha traição e que eu havia sido vista pela última vez entrando em um hotel simples. Fecho com certa força meu notebook, afastando o aparelho de mim. Me sinto enjoada e prestes a vomitar. Corro até o banheiro, me ajoelhando em frente ao vaso sanitário. Apoio minhas mãos no chão quando sinto um líquido amargo escorrer para fora de minha boca, minha garganta arde. Fico sentada perto do vaso, mas meu estômago está vazio. Encosto minha testa contra o mármore frio do chão do banheiro e fecho meus olhos com certa força, tentando afastar aquele desconforto. Meu celular toca mais uma vez e eu solto um gemido, me levantando devagar. Caminho até a sala e encaro o visor de meu celular. Sinto um arrepio percorrer meu corpo quando atendo a ligação.
— Gina? É você? - reviro os olhos ao ouvir a pergunta de minha mãe. Quem mais seria se aquele era meu celular?
— Oi, mamãe. Sou eu, sim.
— Ah, graças a Deus! Você acha que sua mãe é uma tola, Ginevra? Eu sabia muito bem que aquela história de que estava tudo bem era uma grande mentira. Claro que você não estava bem, mas isso já é um absurdo! Me explica essas histórias, minha filha, porque está díficil acompanhar.- passo uma mão pela minha testa e percebo que estou suando, então me sento novamente no sofá.
— Mãe, eu não estou me sentindo muito bem no momento. Podemos ter essa conversa depois?
— É claro que não! Chega de me enrolar, Gina! Você estava traindo o Harry com o Neville, mas ele está noivo, minha filha. E você é casada, mocinha. Ou era até a última vez que nos falamos.- solto um suspiro, encostando as costas no encosto do sofá.
— Ninguém traiu ninguém, mamãe.
— Então o que eram aquelas fotos, Ginevra? Não me diga que estou caducando! - reprimo a vontade de rir, encarando meus pés.
— Se a senhora viu direitinho aquelas fotos, percebeu que ninguém estava beijando ninguém, então eu não estou mentindo.
— Então que matéria é aquela que está dizendo que você saiu de casa? - subitamente, sinto uma vontade absurda de chorar. Respiro fundo algumas vezes antes de responder.
— Aquela matéria é verdade, mamãe. Mas não saí de casa porque traí o Harry. Nosso casamento não estava dando certo.- a linha fica muda e preciso encarar a tela de meu celular para me certificar de que a ligação não caiu. Ouço a respiração pesada de minha mãe no telefone e ela fala depois do que parece ser longos minutos.
— Você tem certeza disso, Gina? - ela pergunta pausadamente e sinto meus olhos arderem. Minha voz sai embargada quando respondo.
— Sim, mamãe. Do jeito que estávamos não me fazia mais feliz.
— Então estaremos ao seu lado. Por que não vem passar uns dias aqui em casa?
— Não posso largar meu emprego por causa disso, mamãe. Mas eu prometo que irei visita-lós em breve.
— Vamos esperar. E escute, minha filha, não se incomode com o que dizem ao seu respeito. Você sabe a verdade e somente você sabe o que é melhor para você.- concordo com a cabeça, embora ela não possa me ver.
— Obrigada, mamãe.

Quando a ligação é encerrada, permito que algumas lágrimas sejam derramadas. Dessa vez não choro porque estou com saudades ou algo do tipo. Choro porque minha ficha cai, finalmente. Era tudo real, não era uma piada sem graça da minha cabeça. Eu saí de casa, me separei do homem que eu sabia, era minha alma gêmea. Uma vez, li em um livro que a verdadeira alma gêmea é um espelho, a pessoa que mostra tudo que está prendendo você, a pessoa que chama a sua atenção para você mesmo para que você possa mudar a sua vida. Mas só entram na sua vida para revelar a você uma outra camada de você mesmo, e depois vão embora. Choro porque era verdade, afinal de contas. Elas sempre vão embora.

Não sei quanto tempo passo sentada ali naquele sofá, mas decido levantar e tomar um banho. Lavo meu cabelo, faço uma hidratação no mesmo e resolvo colocar uma roupa alegre, decidida a não pensar mais sobre aquele assunto. Ontem, depois do banho, coloquei um pijama confortável e revirei os armários atrás de algo para comer. Como eu imaginava, não havia nada ali, já que Luna tinha se mudado havia meses. Estava cansada demais para ir ao mercado, então pedi comida por telefone mais uma vez e deixei para ir as compras hoje. Passo em uma padaria para comer algo, achando impossível me concentrar em minhas atividades com tanta fome. Deixo o carro na garagem, já que não pretendo comprar muitas coisas. O mercadinho do bairro está vazio, então não demoro muito para fazer minhas compras e voltar para casa.

Preparo uma sopa para o almoço já que ainda me sinto um pouco enjoada. Depois de comer, pego novamente meu notebook, dessa vez para responder alguns e-mails do trabalho. Por curiosidade, pesquiso o nome de Harry no google e posso notar que as reportagens que li mais cedo sumiram. É claro que ele ia mover seus pauzinhos, sempre tão egocêntrico. Reviro os olhos mas por dentro sinto gratidão. Passo o resto do dia dividida entre alguns trabalhos e filmes que passam na tv. A noite, decido comer o que sobrou do almoço e fico na sala, assistindo televisão. Vou até o quarto e pego a colcha que usei na noite anterior e meu travesseiro. Volto para o sofá e adormeço ali.

Acordo cedo no dia seguinte me sentindo tão enjoada quanto no dia anterior, mas dessa vez não vomito. Meu pescoço dói e me condeno por ter inventado de dormir ali. Caminho até a janela e fecho meus olhos ao sentir o quentinho do sol em minha pele. Eu amava dias ensolarados, o que era raro acontecer em Londres. Tomo um banho demorado e visto um macacão colorido com uma blusa de mangas por baixo. Preparo um café da manhã caprichado, com direito a ovos mexidos e torrada com café. Envio uma mensagem para Hermione informando que irei almoçar com eles. Ela responde com uma carinha. Ontem, quando fui ao mercado comprei os ingredientes para fazer a torta que minha cunhada havia pedido. Uma hora depois, estou em meu carro equilibrando a torta em meu colo enquanto dirijo até a casa de meu irmão. Eles moravam em uma casa grande um pouco afastada da cidade, mas como é domingo a cidade está sem trânsito. Quando chego e buzino, Rony abre o portão da garagem e eu entro com meu carro. Ele abre a porta para mim e pega a torta de minha mão, depositanto um beijo em minha bochecha.
— Oi, Gin. Tudo bem? - ele me guia até a entrada e sou recebida por Marley, o labrador que Rony deu para Hermione de natal. Faço carinho em seu pelo.
— Tudo bem, irmãozinho. Olá, Mione.- paramos na porta da cozinha e sorrio ao ver minha cunhada com os cabelos cheios presos em um coque no alto da cabeça, o avental sujo de molho. Ela caminha em minha direção e me envolve em um abraço.
— Você trouxe a torta! - ela pega o tabuleiro da mão de Rony e coloca na geladeira, voltando para o balcão da pia.
— Claro, seria muito feio vir almoçar de mãos vazias.- me sento na mesa da cozinha, observando Hermione cozinhar.
— Ainda bem que você sabe.- Rony senta na minha frente com duas cervejas abertas.
— Rony! Que coisa feia de falar pra sua irmã.- Hermione repreende meu irmão, o que me faz rir.
— Desculpa, amor.- ele da um gole em sua cerveja e me oferece a outra.
— Não, obrigada. Estou dirigindo.
— Como estão as coisas no trabalho? - Hermione enfia um tabuleiro no forno e vem se sentar conosco, pegando a segunda garrafa de cerveja e dando um gole.
— Cansativas, mas está tudo bem. E no seu?
— Consegui um caso novo na sexta-feira. O cara foi embora e largou a mulher com dois filhos. Não ajuda nas despesas das crianças. Já é caso ganho.
— Um cara babaca e uma advogada de respeito. Sim, já é caso ganho.- ela ri e Rony levanta, voltando para a mesa com uma lata de coca-cola sem açúcar. Ele estende para mim e eu pego, agradecendo. Dou um gole em minha bebida.
— Ninguém me perguntou como estão as coisas no meu trabalho.- Hermione revira os olhos, fazendo carinho na mão do marido.
— Desculpa, maninho. E então, como estão as coisas no seu trabalho? - pergunto para Rony, que é economista.
— Você sabe, o mesmo de sempre. É sempre uma aventura lidar com as oscilações de humor que a bolsa tem.
— Ele é muito irritante falando sobre a bolsa de valores.- Hermione sussurra em minha direção, me fazendo rir.
— O que você disse? - Rony pergunta para a esposa, mas o barulho do forno elétrico faz com que ela se levante, anunciando que o almoço está pronto.
Ajudo Hermione a colocar os pratos na mesa. O cheiro de frango assado faz meu estômago embrulhar, então me sirvo de um pedaço pequeno e mastigo devagar, com medo de me sentir enjoada mais uma vez.
— Só vai comer isso, Gina? - Hermione me encara e sinto minhas bochechas corarem.
— Sim, Mione. Tenho me sentido enjoada nesses últimos dias. Meu estômago deve estar sensível ou algo do tipo.- ela junta as sobrancelhas e baixa o olhar para o prato, a testa franzida. Um tempo depois ela tosse e bebe um gole de suco.
— Devia ir ao médico, Gin.
— Ah, isso é bobagem. Vai passar logo, logo.

Depois do almoço, comemos a sobremesa e passamos a tarde sentados no jardim. Eles, pelo menos. Passo a maior parte do tempo deitada, pois me sinto muito cansada. Eu adorava passar um tempo com eles dois, pois era divertido ver o quanto eram diferentes e ainda assim, tão apaixonados. Rony e Hermione se casaram em uma praia, em uma cerimônia só para a família e amigos, a alguns anos atrás. Eles também se conheceram na faculdade, mas no ínicio pareciam cão e gato. Brigavam o tempo todo. Demorou para eles perceberem que aquele ódio na verdade era amor. Nossa amizade surgiu com muita facilidade, pois era fácil gostar de Hermione. Ela era muito simpática, pés no chão. O oposto de mim. O que eu mais gostava nela é que ela sempre sabia o que dizer para te fazer sentir melhor, mas não era o tipo de pessoa que passava a mão na sua cabeça. Meu irmão não era assim e o fato dele não falar nada sobre Harry me faz acreditar que ela teve uma longa conversa com ele. Agradeço mentalmente.

Quando escurece, me despeço dos dois, que me fazem prometer se cuidar e Hermione pede mais uma vez para que eu procure um médico. Dirijo devagar para minha casa, me sentindo tranquila e pela primeira vez nesses últimos dias, me sinto feliz. O silêncio de meu apartamento não me parece mais ofensivo e sim acolhedor. Troco de roupa e escovo meus dentes, me deitando para dormir. Eu não havia pensado em Harry naquele dia, mas naquela noite sonho com um par de olhos verdes.


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Notas finais do capítulo

Eu adoro o relacionamento de Rony e Hermione, e vocês? E esses repórteres que não deixam nossa Gina em paz? Ninguém merece ter cada passo da vida exposto desse jeito, né? E por que será que Harry mandou tirar a matéria do ar? Ansiosa pelos comentários de vocês!



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