After the storm escrita por Dyanna Pereira


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é pesado mas necessário. Não me odeiem! (E não odeiem o Harry também, ele é um cara legal). Boa leitura!



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Depois que Amy sai de minha sala, começo a checar meu celular de minuto em minuto, sem saber direito o que esperar. Tento focar em meu trabalho, o que funciona. Ser chefe exige muito de você. Organizo minha mesa, como todos os dias. Está escurecendo quando saio de minha sala, visto meu sobretudo e caminho até meu carro. O frio do fim de tarde faz meus olhos arderem. Entro em meu carro e dirijo devagar, sem saber direito o que sentir. Harry não havia me mandado nenhuma mensagem durante todo o dia e seu silêncio fazia meu estômago embrulhar. Para compensar a ausência das mensagens e ligações de meu marido, minha mãe havia ligado umas quarenta vezes e Rony, meu irmão, também. Não atendi nenhum deles. Me resolveria com esse pessoal depois. No momento, só quem me importava (e preocupava) era Harry. Entro no condomínio e o primeiro mau sinal que encontro é a ferrari de Harry estacionada em nossa garagem. Pego minha bolsa no banco do carona, a chave de casa entre meus dedos. Solto um suspiro antes de abrir a porta e entro.

A sala está iluminada mas em silêncio. Passo os olhos pelo cômodo encontrando Harry sentado em nosso sofá. Fecho a porta e caminho até uma poltrona, colocando minha bolsa na mesma e tirando meu casaco. Harry segura um copo praticamente vazio de uísque entre seus dedos. Esse era o segundo mau sinal, já que ele só bebia quando estava muito estressado. A gravata está frouxa em seu pescoço, sua blusa social completamente amarrotada. Encaro seu rosto no mesmo momento em que seus olhos verdes encontram os meus. Seu rosto está cansado e ligeiramente corado, por conta da bebida, imagino. Ele vira o copo de vidro, bebendo todo o líquido de uma só vez.
— Pensei que fosse chegar tarde hoje. O que houve com a coletiva de impressa? - tento parecer firme, como se nada tivesse acontecido.
— A coletiva foi cancelada, já que o assunto seria as grandes negociações que fechamos nesta semana, não sobre a traição de minha esposa.- sua voz é carregada de sarcasmo. Ele se levanta em direção ao pequeno bar que temos em nossa sala, enchendo o copo com uísque mais uma vez.
— Harry, eu...
— Eu posso explicar? É isso que você vai dizer, Ginevra? - ele me interrompe e ainda fala meu nome inteiro, o que me deixa irritada.
— Você sabe que Neville e eu somos apenas amigos.- ele da longos goles em seu copo, parece não me ouvir.
— Você sabe o quão burocrático foi para minha equipe tirar aquela matéria do ar? Não, você não deve nem imaginar.
— Caso você tenha esquecido, eu sou jornalista. Só para refrescar sua memória, mesmo.- cruzo os braços, meu rosto queima.
— Ótimo, então senhora jornalista, você pode imaginar como é ruim para a minha imagem esse tipo de comportamento. Como é ruim para minha empresa. Nossa, empresa! Se vai sair por aí trocando carícias com um cara que não seja eu, preste atenção ao redor, para ver se ninguém está olhando.- lágrimas brotam em meus olhos ao escutar aquelas palavras, mas me mantenho firme.
— Então esse é o problema? Sua imagem? - ele me encara como se eu fosse louca, sentando novamente no sofá e apoiando o queixo em suas mãos.
— E teria outro, Ginevra? Imagem é tudo. Especialmente para alguém como eu, que comanda uma empresa tão grande como a Potter Company. Já conversamos tantas vezes sobre isso.- aquelas palavras me atingem como um soco e dentro de minha cabeça uma luzinha parece se acender.
— Desculpe, deixe-me ver se entendi. Uma fofoqueira de plantão publica uma matéria de sua esposa com outro cara, e você está preocupado com a sua imagem? - dou ênfase na palavra sua, e ele solta uma risada.
— Por favor, Ginevra. Eu bebo e é você quem fica bêbada? Não estou preocupado com seu almocinho com o idiota do seu amigo. Estou preocupado com a nossa imagem. Você sabe o quanto é importante nos preservarmos.- encaro aquele homem na minha frente sem conseguir enxergá-lo de fato.
 

Eu não entendia o motivo de me sentir tão triste de repente. Imaginei que o silêncio de Harry durante todo o dia significava que ele estava com ciúmes daquela matéria estúpida, mas na verdade sua fúria era porque eu não tinha tomado cuidado com a possibilidade de ter um paparazzi por perto. Era desgastante o modo como Harry discutia comigo por conta de coisas tão bobas quanto aquela. É claro que a situação de hoje era séria, mas essa não era a primeira vez que discutíamos por conta de algo desse tipo. A alguns meses atrás, Tiago, o pai de Harry, veio nos visitar com sua esposa Lílian. Eles haviam comprado uma casa de campo no interior de Londres e haviam decidido se aposentar. Harry já trabalhava com os pais, mas daquele dia em diante seria responsável por comandar a empresa. O pai ajudaria, mas agora era sua responsabilidade tocar o negócio da família. A questão é que não era um simples negócio. A Potter Company é uma das empresas mais famosas do mundo, envolvida em diversos projetos ambientais. Os Potter são uma família tradicional e sempre foram muito discretos. Harry cresceu nos holofotes, embora a família fosse muito reservada.

Nosso casamento sempre atraiu muitos olhares, em grande parte por minha culpa. Nós nos conhecemos enquanto estávamos na faculdade. Eu era a menina do interior que havia se mudado para a cidade grande para cursar a faculdade. Harry é melhor amigo de meu irmão mais velho, Rony, que nos apresentou em uma festa. Nunca acreditei naquelas histórias de amor a primeira vista, mas não tenho outra palavra para descrever o que senti quando nos conhecemos. Eu sabia que tinha sido feita para ele, assim como ele havia sido feito para mim. As pessoas sempre comentaram sobre nosso relacionamento, mas Harry nunca se incomodou com isso, até assumir o cargo de chefia. Foi aí que as discussões começaram a acontecer. Jornalistas (se é que podemos chamar assim, já que só inventam fofocas ao meu respeito) sempre publicavam algo maldoso sobre mim. Como na vez em que meu salto quebrou e tive que andar descalça até o escritório, voltando de um almoço (ok, nem tudo é mentira). A manchete que fizeram dizia que "a Sra. Potter não consegue ser fina como o resto da família".  Algo do tipo. Harry ficava muito irritado com os comentários, mas também ficava chateado comigo. Por que não ligou para que alguém te encontrasse para levar sapatos novos? Por que eu tinha que ser tão teimosa? Eu sempre ouvia e muitas vezes ficava calada, pois não adiantava discutir. Diante disso, eu não dava entrevistas para nenhum jornal ou revista, o que causava mais revolta em certos fofoqueiros de plantão. Somado ao fato de quase não nos vermos mais, me sentia esgotada a cada briga. Eu sabia que uma hora me cansaria, só não sabia o quanto aquilo iria me doer.

— Quer saber, Harry? Para mim já chega.- dou as costas para ele e subo as escadas com passos largos e firmes. Entro em meu closet e pego uma mala média, que uso quando faço viagens mais curtas. Tiro minhas roupas dos cabines com pressa, sem prestar muita atenção no que estava pegando. Jogo tudo em minha mala com força, formando um pilha no centro. Ouço passos no corredor e continuo focada em minha atividade.
— Gina? O que você está fazendo? - Harry para na porta de meu closet no momento em que fecho a mala. Pego uma mochila e passo por ele, que saí do meu caminho.
— Estou indo embora.- entro em nosso banheiro e jogo todos os meus produtos de higiene em minha mochila.
— Como assim? Você não pode ir embora.- paro no meio do quarto e encaro Harry.
— Deixe-me adivinhar, vai ser ruim pra sua imagem? - coloco as mãos em meu queixo, fingindo estar pensativa.
— Por favor, Gina. Você sabe que as coisas precisam ser assim.
— Não, Harry, as coisas não precisam ser assim. Mas você está tão focado em ser igual ao seu pai, que não consegue enxergar fora da sua bolha de filho perfeito.- seus olhos verdes me encaram, magoados.
— Eu não sabia que você pensava dessa forma.- solto uma risada sarcástica, liberando tudo o que guardei por tantos meses.
— Deve ser porque você nunca me perguntou. Você não fala mais comigo, Harry. Nós não nos vemos mais. Você trabalha umas dezoito horas por dia e dorme nas outras seis que sobram. Eu não lembro mais qual foi a última vez que jantamos juntos ou saímos para ir ao cinema. Só nos vemos nos finais de semana, e não são todos, já que você resolveu trabalhar neles também. Você só sabe se preocupar com a sua empresa e com coisas que diz respeito a ela, como a sua imagem. Ou a minha. E me desculpe, eu vou ser sempre essa Gina. E não me incomodo com o que pensam ao meu respeito.
— Eu me preocupo com você, Gina. Não quero que fiquem manchando sua imagem.
— Que se dane a minha imagem, Harry! Eu estou pouco me lixando para o que dizem de mim. As pessoas vão falar o que elas quiserem o tempo todo. Não é você, nem todo o dinheiro que a sua família tem que vai mudar isso.- ele coloca as mãos nos bolsos da calça, olhando para o chão.
— Você sabe que isso importa, sim.
— Importa para quem, Harry? Para você ou para a imagem que sua família construiu durante todos esses anos? Você não é o seu pai e eu não sou a sua mãe. Sinto muito, eu nunca vou ser igual a sua mãe.- coloco a mochila em minhas costas e seguro a mala com as duas mãos, descendo as escadas com certa pressa, antes que a adrenalina acabe e eu mude de ideia. Ouço passos atrás de mim, mas ignoro. Pego minha bolsa e meu casaco, indo até a garagem.
— Gina, por favor, não vá.- abro o porta-malas e jogo tudo ali, tentando afastar as lágrimas que começam a se acumular. Coloco a mão na maçaneta do carro mas Harry me segura.
— Eu não tenho mais nada para conversar com você, Harry. Por favor, se você ainda sente alguma coisa por mim, me deixe em paz.
— Como pode não ter nada para conversar comigo? Eu sou seu marido.- solto uma risada e eu sei que o que vou dizer vai magoá-lo, mas só quero ir embora dali.
— Meu marido? Você nem toca mais em mim, Harry. Sua esposa é aquela maldita empresa que seus pais jogaram nas suas costas. E quer saber? Estou feliz em me livrar de você e desse peso que é viver ao lado de uma pessoa tão egoísta quanto você.- ele afasta suas mãos de meu braço como se de repente tivesse levado um choque. Não ouso lhe encarar, apenas entro no carro e saio da garagem com pressa.

Dirijo com calma pela cidade, sem saber direito para onde estou indo. As lágrimas agora escorrem pelas minhas bochechas e eu tento me convencer de que fiz o que precisava ser feito. Casei com um homem divertido, que gostava de ouvir o que eu tinha pra falar e que gostava de mim do jeito que eu era. Ele não existia mais e eu não podia continuar vivendo infeliz, fingindo que aquelas coisas não me incomodavam. Eu não queria ir para a casa de nenhum familiar nem de meus amigos. Não podia lidar com a enxurrada de perguntas que me seriam feitas, então decido passar a noite em um hotel de beira de estrada. Alguns curiosos me encaram, mas sei que é apenas por conta de minha cara inchada e pela maquiagem que tenho certeza, está escorrendo por meus olhos. A senhora da recepção não fala muito. Eu peço um quarto de prefência com banheiro e ela me entrega as chaves.

O quarto não é grande, mas é limpo e espaçoso. Olho para a cama no meio do quarto e largo minhas malas de qualquer jeito pelo chão. Me sinto enjoada e meu peito dói. Cubro minha boca com as mãos para reprimir a vontade que sinto de gritar. Agora que estou sozinha, me permito pensar sobre tudo o que aconteceu. É incrível como em uma hora tudo pode mudar, e nem sempre é para melhor. Pisco os olhos, liberando mais lágrimas grossas e pesadas, que molham minha blusa. Tiro finalmente meus saltos e engatinho pela cama, sem forças para ir até o banheiro e tomar um banho ou até mesmo para trocar de roupa. Abraço o travesseiro frio e me permito soluçar. Choro até meu nariz escorrer, molhando o lençol. Choro ao lembrar dos momentos felizes que vivemos juntos, das risadas, dos beijos. Choro ainda mais ao lembrar de todas as brigas, especificamente daquela que me fez estar aqui agora. Choro porque nos perdemos um do outro e por ter desistido do homem que eu sabia, era minha alma gêmea. Choro por todas as promessas, todos os sonhos que fizemos juntos e não foram cumpridos. Choro até minha cabeça doer tanto, que mal consigo ver o quarto desconhecido ao meu redor. Choro até me sentir tão cansada que adormeço, a blusa molhada de lágrimas.


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Notas finais do capítulo

Quem já teve a experiência de passar por um término sabe o quanto dói. Foi difícil escrever esse capítulo, principalmente porque separar um casal que todo mundo ama é complicado. Mas calma, pessoal! Muita coisa boa vem por aí! Beijinhos.



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