Capítulo 52 -Aposta

Primeira rodada do último duelo, Mini Poker. Era o momento de cada jogador virar suas cartas e ver o que tirou. Max virou suas cartas, mas não falou nada. Alípio quase mordia os lábios para evitar dar um sorriso. Pelo que parecia, suas expectativas foram alcançadas.

"Perfeito!", ele pensou, "Exatamente como pensei!"

— Muito bem - disse Helene, a moderadora - Senhor Alípio...temos 120 créditos em jogo. Sua aposta, Sr. Alípio.

— Minha aposta? Claro....aumento em mais 20 créditos! - ele disse.

— Aumento em mais 20 também - disse Max, dessa vez mais cauteloso.

— Com isso, temos 160 créditos em jogo - disse Helene.

"Hehehe! Não acredito que descobri o segredo desse jogo tão rápido!", pensava Alípio, se esforçando para não começar a rir, de tanta confiança. "O segredo está em ter o coringa na mão, ou seja, ter uma Joker Hand, a segunda mão mais forte do jogo! E as chances de ter um coringa são grandes...e é melhor ainda quando se sabe onde ele vai estar! Hehehe!"

Max apenas coçava a cabeça olhando para suas cartas. Alípio tentava disfarçar o máximo que podia.

"O truque é mais sutil do que eu pensei", ele continuava saboreando sua descoberta, "O verso das cartas tem um desenho abstrato e detalhado...é como se fosse um monte de ramos e plantas entrelaçadas, de difícil visualização...mas já vi uma vez que esse é um truque usual em mágicas. O desenho do verso da carta, por mais detalhado e emaranhado que esteja, pode ajudar o ilusionista a saber qual é a carta...porque no meio da bagunça do desenho tem um sinal que diz o naipe e o número da carta. No entanto...esse baralho não tem os sinais, mas ele indica qual carta é o coringa e qual não é!"

Alípio olhava novamente para sua mão: um coringa, uma dama de paus e um rei de paus.

"Quando recebi as cartas, vi que, embora o desenho do verso seja parecido nas três, tem um pequeno detalhe que muda. Essa pequena espiral no canto superior direito e esquerdo das cartas...uma delas, tinha uma espiral girada para dentro em sentido horário, enquanto as outras duas tinha a espiral girada em sentido oposto. Talvez fosse só um detalhe, mas assim que virei as cartas, vi que a única carta com a espiral diferente era o coringa...em resumo, o segredo desse jogo é olhar o verso das cartas. Sabendo desse detalhe, é possível saber com quem está o coringa...e, para azar dele, está comigo!"

— Senhor Alípio...o senhor mostra as cartas ou desiste da rodada?

— Mostro...com todo o prazer - ele disse - Aqui está!

Alípio revelou sua Joker Hand. Helene perguntou o mesmo para Max, mas ele desistiu.

— Nem preciso mostrar as cartas...não tem como vencer - disse ele, com uma expressão séria.

— Sendo assim, Sr. Alípio leva os 160 créditos da mesa. Fim da primeira rodada.

Parciais

Alípio: 200

Max: 116

— Droga! - reclamei, ao ver os resultados no telão - Os créditos já viraram assim, logo na primeira rodada?

— Hmm...esse Demian se acha mesmo - comentou Eva - Aposto que está só fazendo cena para humilhar mais ainda o pobre do Alípio no final.

— Espero que você esteja certa...se as coisas continuarem assim, não vai ser nada bom para nós...

— Pois é, né? Comece a rezar mais - ela disse, cinicamente.

— Próxima rodada - disse Helene - Suas apostas...Senhor Demian, sua vez.

— Aposto 10 créditos.

— Senhor Alípio?

— Também 10. É melhor não arriscar muito.

— Certo - ela embaralhou as cartas e distribuiu, mais uma vez, três para cada um, viradas para baixo - Não virem ainda. Senhor Demian, pode aumentar sua aposta ou desistir.

— Tudo bem. Aposto mais 10 créditos.

"Heh! Podia até ter apostado mais, Demian", ele pensou, "Posso ver claramente...uma espiral diferente no meio das suas cartas...você tem um coringa. Heh. Esse método não é bom apenas para o ataque, mas também para defesa. Nesse jogo, você precisa saber apostar direito. Como as chances de eu tirar uma Royal Straight FLush são mínimas, é melhor parar por aqui"

— Eu saio.

— Tem certeza? - perguntou Helene.

— Absoluta. Estou sentindo que não vou ter sorte agora...

— Sendo assim...Senhor Max Demian leva todos os créditos da mesa.

Parciais:

Alípio:190

Max: 126

— Que bom, o Max ganhou! - Natália comentou do outro lado

— Não é grande coisa - disse Yumi - Ele ganhou uma mixaria...nesse jogo, não basta ter a melhor mão, você também precisa fazer seu oponente apostar mais.

— Mesmo assim...tenho fé nele - retrucou Natália.

— Próxima rodada - disse Helene - Senhor Alípio...sua aposta.

— Aposto 10 de novo.

— Senhor Demian?

— Também 10.

— 20 créditos na mesa - ela embaralhou e distribuiu as cartas viradas para baixo - Não virem ainda. Senhor Alípio...aumenta ou sai?

"Heh! Agora sim...mais uma vez saí com o coringa...como é bom ter o controle do jogo pelo menos uma vez...", ele pensava, "Dessa vez nem mesmo você pode ganhar Max Demian!"

— Aumento em 20 créditos - ele respondeu.

— Senhor Demian?

— Coloco mais 20 - anunciou ele.

— Podem virar.

"Perfeito!", pensou Sr. Alípio, "É exatamente isso...o coringa é a carta naturalmente marcada. Você não tem chance, Max!"

— Senhor Alípio..aumenta ou sai?

— Aumento em mais 20! - ele disse - Essa mão é mesmo boa!

— Mais 20 - disse Max - Vamos ver o que você tem...

— 100 créditos em jogo - disse Helene - Senhor Alípio...mostra a mão ou sai?

— Mostro - ele disse - Eu disse que tinha uma mão boa.

E ele revelou seu coringa, um valete de copas e um rei de paus.

— Senhor Alípio leva todos os créditos da mesa.

Max apenas olhou para a mesa com uma leve cara de desapontamento. Ele passou a mão pelos longos cabelos e suspirou, mas não falou mais nada.

Parciais:

Alípio:240

Max:: 76

— Nãããooo!!! - não consegui segurar minha exclamação e muito menos o suor frio na minha nuca - Ele...perdeu de novo...se continuar assim

— Parece que ele ainda não descobriu o segredo do jogo - comentou Eva - Que pena.

— Qual é o segredo desse jogo? - perguntei, aflito - Você sabe de alguma coisa?

— Não tenho a menor ideia - é tudo que ela respondeu, de braços cruzados e olhar distante - Mas seja o que for...é melhor ele descobrir rápido...afinal, ou o Senhor Alípio está com muita sorte ou foi ele que descobriu o segredo.

— Não pode ser! O Max não pode ser derrotado assim tão fácil!

— Como eu disse...continue rezando - disse Eva.

Desnecessário dizer que meu coração estava a mil. Próxima rodada.

— 10 créditos - disse Max

— Também 10! - disse Alípio

Helene distribui as cartas viradas para baixo. Mas, de novo, tinha um coringa na jogada.

"Que pena, Max Demian...você não vai levar muita coisa pra casa hoje", pensava Alípio, "Dessa vez é você que está com o coringa, mas eu não vou ser idiota de apostar até o fim. Mesmo assim, é melhor fingir que não sei de nada e apostar mais um pouquinho..."

— Aposto mais 20 - apostou Max.

— Aposto mais 10 - apostou Alípio.

Quando os dois viraram as cartas, Max viu o coringa, mas Alípio já sabia o que ele havia tirado. E é claro que ele não ia continuar a aposta.

— Senhor Demian...aumenta ou sai?

— Aumento em mais 30! - disse Max confiante.

— Senhor Alípio?

— É claro que eu saio - disse Alípio - Se está apostando tanto...só pode ter uma mão muito boa mesmo...

— Então...Senhor Demian leva todos os créditos da mesa.

Parciais:

Alípio:220

Max::96

— É...parece que você teve mais sorte dessa vez, rapaz - disse Alípio - Mas nesse jogo, mesmo que você tenha uma mão boa, precisa fazer seu oponente apostar mais. Hehe!

— É. Eu sei. Mas tenho certeza de que você vai apostar bastante na próxima rodada.

— Será? - disse Alípio - Duvido muito...

— Próxima rodada - avisou Helene - Suas apostas

— Coloco 10 créditos.

— Senhor Demian?

— Aposto... - ele fez uma pausa - ...94 créditos!

Todos fazem uma expressão de surpresa. Alípio começa a suar num misto de alegria e ansiedade.

— Ele fez o que? - exclamei - Max! O que está fazendo? Vai desperdiçar tudo assim?

— Heh! Parece que a pressão deixou seu amigo maluco - comentou Eva - Se Alípio descobriu mesmo o segredo desse jogo...ele está ferrado.

— O que disse? - Alípio não acreditou no que ouviu - Você enlouqueceu? Apostou tudo isso sem ao menos receber as cartas?

— Pode ser, mas acontece que...tenho certeza de que tenho chances de vencer!

"Tsc. Se ele tirar o coringa, basta continuar apostando pouco..mas se eu tirar...hehe...é a minha chance! Ele economizou dois últimos créditos para o caso de perder...se eu tirar o coringa, preciso fazer ele apostar tudo!"

— Distribuindo as cartas - disse Helene - Não virem ainda.

Ela entrega três cartas viradas para baixo para cada um. Alípio se segura para não sorrir.

— Sua aposta, Sr. Alípio?

"Não acredito...o coringa...eu tirei o coringa de novo! Hehe..hehehehe! Eu venci! A menos que ele tire a mão mais forte, mas as chances disso são mínimas...mínimas!", ele pensava, se contendo para não rir sozinho.

— Senhor Alípio?

— Você está mesmo confiante para apostar tanto...mas reparei que não apostou dois créditos.

— Heh! Estou confiante, mas como vou saber se você vai apostar tudo ou não?

— Como?

— Estou disposto a apostar meus dois créditos...se o senhor apostar tudo de uma vez! O que acha de decidir esse jogo nessa rodada?

"Idiota!", Alípio pensou, dessa vez quase deixando escapar o sorriso mesmo, "As chances de você ganhar são mínimas...ah, se você soubesse que eu já tenho um coringa. Já era. Você está acabado!"

— Heh....você fala muito...mas será que vai mesmo ter coragem de apostar tudo? Tudo bem...aposto mais 50 créditos.

— Senhor Demian?

— Aposto mais um - ele respondeu, colocando mais uma ficha de um crédito na mesa.

— Muito bem...virem suas cartas.

Alípio virou e viu seu coringa ali, ao lado de uma dama de paus e um valete de paus. Mais uma Joker Hand. Já Max faz uma expressão desapontada ao olhar para sua mão.

"Pela cara e olhar dele, parece que não tem nada de bom mesmo", pensou Alípio, "Perfeito! Para ficar perfeito ele precisa apostar o último crédito...é tudo que me separa da vitória!"

— Senhor Alípio, sua aposta - cobrou Helene.

— Diga, Max Demian...está mesmo disposto a terminar esse jogo em uma rodada?

— Totalmente - ele respondeu - Se o senhor apostar tudo, eu também apostarei meu último crédito.

— Sério? Você não parece ter tirado uma mão boa...deve estar só blefando...

— Talvez...mas o senhor também não deve ter tirado grande coisa...afinal...nas duas últimas rodadas você saiu com o coringa. Não pode ganhar um de novo. E é fácil de perceber que ter o coringa , dá o controle do jogo.

— Do jeito que fala...posso deduzir que não tem o coringa, não é?

— É o senhor que está dizendo...

"Não precisava nem perguntar isso!", pensou Alípio, "Quem tem o coringa sou eu! E o jeito que você está falando, não chega nem perto daquele Demian confiante que humilhou a todos nessa casa. Você só está blefando inutilmente, afinal, quem está no controle do jogo sou eu! Mas vamos ver se você é corajoso o bastante para apostar mesmo seu último crédito!"

— Heh! Então que seja...aposto TODOS os meus créditos!

— 305 créditos na mesa - informou Helene - Senhor Demian? Aumenta ou desiste?

— Eu...

"Max...você só tem um crédito...espero que saiba o que está fazendo", pensei.

— Max - balbuciou Natália, com lágrimas nos olhos

— Hmm...ele está confiante mesmo - comentou Yumi.

Era uma pena que não podíamos ver as mãos de cada um deles. A tensão era a mesma para todos que estavam assistindo. Ele iria mesmo jogar tudo?

— Eu...aposto o meu último crédito! - ele respondeu - O senhor não pode ter tirado o coringa três vezes..

— Certo...então temos todos os 316 créditos em jogo. O vencedor dessa rodada vence o duelo.

— Por favor, que seja empate, que seja empate - eu rezava, com o coração quase saindo pela garganta. Apesar de ser indiferente para Eva, ela também parecia tensa. Tudo estava em jogo. Meu destino, o destino da nossa aliança, o destino do meu pai...tudo dependia do resultado daquela rodada.

"Não acredito que foi tão fácil", Alípio mal podia conter o sabor da vitória, "Eu venci...eu venci. Morra, Demian!"

— Sendo assim...Senhor Alípio, o senhor mostra a sua mão ou desiste?

— Hah..hahaha! Mostro! Mostro com todo o prazer! - ele também parecia meio louco.

Alípio joga sua trinca com toda a força na mesa. Um coringa, uma dama de paus e um valete de paus. Joker Hand. Segunda mão mais forte.

— E você? O que você tem, Max?!

Max estava com as mãos tremendo. Agora...era a hora da verdade!