Casa dos Jogos escrita por Metal_Will


Capítulo 3
Capítulo 03 - Boas-Vindas




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Capítulo 03 - Boas-Vindas

        "Max Demian?", olhava novamente o nome que aparecia na tela. "Mas esse é o mesmo nome do rapaz que salvei de um atropelamento anos atrás". Sim. Aquele nome ficou firme em minha memória por todos aqueles anos. Foi um episódio que marcou a minha vida, mas nunca imaginei que pudesse encontrá-lo de novo. O que era o destino?

         Demian chegou em silêncio, olhou para os lados e procurou um lugar para se sentar. Não conseguia tirar os olhos dele. Por mais que os anos tenham passado, dava para ver que era ele mesmo. O mesmo jeito, aquele cabelo ainda comprido, porém agora com uma barba rala, mas continuava do mesmo jeito misterioso que eu me lembrava daquele dia. Lembrava-me como se fosse hoje. O rapaz caminha até o sofá onde os outros participantes estavam. Mantinha firme meus olhos nele, até que nossos olhares se cruzam. Confirmado. Naquele momento tive certeza. Era o mesmo Max Demian que salvei naquele dia. O mesmo olhar penetrante. Aqueles mesmos olhos que entravam nos seus como se fosse uma flecha acertando o alvo na mosca. Ele dá um sorriso leve, mas se senta um pouco distante (mesmo porque não havia mais lugar perto de mim). Será que ele me reconheceu? Não tinha certeza. Mas eu iria competir com ele? Não sei que reação o leitor teria no meu lugar, mas, misteriosamente, naquele momento minha sensação de medo e nervosismo diminuiu um pouco. Será que tinha mesmo razões para estar tão calmo?

         Assim que Demian se acomodou, os empregados da casa fecham as portas e algumas luzes se acendem. Todos os empregados usavam as mesmas máscaras de Kiby e todos não pronunciavam uma única palavra, por mais que Aline quisesse importuná-los com perguntas de todos os tipos. No momento em que as luzes acenderam, os empregados assumiram uma posição de guarda e uma nova figura surge na parte de cima das luxuosas escadarias do salão.

          - Boa tarde a todos! Sejam bem-vindos à Casa dos Jogos!

          A figura era nada menos que um outro homem magro mascarado assim como os outros criados, com a diferença de que este usava uma roupa com várias estampas de naipes de baralho, colorida, e uma máscara de palhaço, com um ar sinistro. Não podíamos ver seu rosto, mas, pelo menos para mim, já era bem assustador. Nunca gostei de palhaços. Eles mais assustavam do que divertiam. E aquele palhaço, em especial, era mais assustador do que todos os que conheci na vida.

          - Meu nome é Pitre. Serei o anfitrião de vocês nessa divertida experiência! UHuhuhu! - ele ria, em um tom sinistro, com uma voz amplificada pelo microfone. Ninguém dizia uma única palavra, nem mesmo Aline. E parecia que uma música circense tocava ao fundo. Eram muitos mistérios de uma vez só.

           Parece que Alípio iria comentar alguma coisa, mas Pitre o corta imediatamente, iniciando um novo discurso.

          - Entendo que estejam com muitas dúvidas, mas, não se preocupem, irei tentar explicar todos os detalhes.

          Ele dá uma pausa e continua.

           - Primeiramente, gostaria de parabenizá-los pelo privilégio de poderem participar de nossa casa. O prêmio a que estão concorrendo é um valor relativamente alto. Milhões de pessoas gostariam de estar no lugar de vocês agora. Uhuhuh!

           "Relativamente?", pensei, "É um valor extremamente alto! Só estou aqui por causa disso!"

           - Mas, só estar aqui também não significa que será fácil conseguir o prêmio. É por isso que chamamos de Casa dos Jogos!

           - É exatamente isso que eu gostaria de perguntar! - disse Alípio, o senhor mais velho, que finalmente se pronuncia - Você chama isso de Casa dos Jogos, mas não vi nada que se pareça com jogos aqui. Isso parece mais uma casa mal-assombrada.

 Pitre dá mais uma gargalhada.

          - Acalme-se, por favor. O que não vai faltar por aqui serão jogos.

          Alípio fica em silêncio. Pitre continua sua explicação.

          - Na verdade, os jogos que estamos falando aqui talvez não sejam exatamente o que estão pensando, mas...vocês verão isso quando começarmos.
       
          Alguns dos participantes começam um murmurinho, mas Pitre continua.

          - Antes disso, seria mais conveniente começar com uma explicação sobre o que é exatamente nosso programa.
       
          - É verdade! Nós vamos aparecer na TV? - pergunta Taís, a loirinha mais bonita da casa (quiçá do mundo).

   Pitre riu da vaidade da moça e respondeu:


          - Desculpem. Infelizmente, as imagens de nosso programa só serão circuladas entre os envolvidos com nosso trabalho.

          - Aah - lamentou ela.

          - Espero que vocês não estejam confundindo isso com um reality-show. Esse programa é mais um investimento de pesquisa de nossa empresa do que uma promoção.

          - Investimento? - pergunta Giovani.

          - Sim. A Casa dos Jogos é um experimento real. Como vocês devem saber, nossa produção está ligada a uma empresa de publicidade interessada em entender o comportamento das pessoas.

          - Publicidade, é? Entendo...quando se trata de publicidade e propaganda podemos esperar qualquer coisa - comenta Valéria, a mulher mais madura que parecia empresária. De fato, ela parecia entender desse tipo de coisa.
   
          - No momento, vocês são agentes úteis para uma pesquisa inédita. Nosso objetivo principal é entender o comportamento humano quando se tem algo de interesse comum em jogo. Com esses dados, poderemos melhorar nossos projetos. No fundo, é isso.

  Por mais que ele tenha dito isso, ninguém parecia ter confiado totalmente naquelas palavras. Alípio, mais uma vez, tomou a palavra.

          - Achei que já tivesse material o suficiente para isso por aí. O que não falta são jogos e reality-shows! -resmungou Alípio.

          - Sem dúvida. Mas nenhum deles tem todos os parâmetros que consideramos aqui - respondeu Pitre.

          Todos ficam com cara de dúvida. Eu, principalmente. Aquilo já estava assustador e ficava cada vez pior.

          - Digamos que...a mente humana é um mistério tão grande quanto os segredos do Universo. E, com certeza, uma das coisas mais terríveis.

          - Hã? Como assim? - pergunta Edivaldo.

Pitre gargalhou mais uma vez.

       - Quando começarmos, vocês vão entender...o quanto a sua própria mente pode ser apavorante!

          O tom que ele fala isso aceleraria o coração de qualquer um. Já estava ficando nervoso de novo. Apesar disso, duas pessoas à minha volta pareciam bastante calmas. Uma delas era Demian, que ouvia tudo com atenção, parecendo ignorar tudo em volta. A outra era Eva, que ouvia a tudo com um sorrisinho. Ela parece ter gostado da última frase.

           - Mas...antes de começarmos nosso experimento, vamos a algumas recomendações.

           Pitre olha para baixo, dá vários cambalhotas pela escada e cai de pé, bem diante de nós. Era um excelente acrobata ou um excelente artista marcial. Não sei. Uma pessoa normal teria se esborrachado ao fazer isso por todos aqueles degraus.

            - A primeira regra é...não se machucar - disse ele.

            - Hã? Não se machucar? Como assim? - pergunta Edmilson, que, pela primeira vez naquele instante, abra a boca.

            "Ele fala isso depois de dar piruetas tão perigosas? Que jogo é esse?", pensei.

            - Vocês devem se lembrar que concordaram com um termo de compromisso ao se inscreverem para esse programa. Uma das regras mais claras é que o uso de violência é estritamente proibido. Quebrar essa regra implica em uma multa por quebra de contrato.
       
            - Ah, sim. Eu me lembro - diz Aline.

            - Outra regra é...abandonar a casa, significa desistir automaticamente do jogo. Muito embora, nossas portas estarão trancadas por todo o tempo. Mesmo assim, vocês são livres para pedirem para sair a qualquer momento. Mas é claro que isso será uma pena. Atrapalharia todos os nossos planos.

            - Ridículo - disse Edmilson novamente - Ninguém aqui deve querer desistir.

            - Espero que não - respondeu Pitre - Fora isso...o comportamento de todos vocês está sendo gravado todo o tempo. Como eu disse, as imagens são restritas aos envolvidos com o experimento e há regras rígidas contra divulgação não autorizada das imagens. Mesmo assim, espero que estejam todos cientes de que autorizaram o uso da imagem de vocês para fins promocionais.

            - Sim. A gente já sabe disso! - resmungou Alípio - Mas eu tenho mais uma pergunta: como podemos saber que ninguém aqui já tem um conhecimento do jogo? Por mais que o contrato dissesse que não autorizava pessoas ligadas à empresa de vocês participando, como podemos garantir que não há nenhuma fraude nesse jogo?

            - Hehehehe. Boa pergunta - responde Pitre - Nós, da Casa dos Jogos, damos nossa palavra de que as condições iniciais são iguais e justas para todos os participantes.

            Ninguém fala nada.

            - Mas... - continua o palhaço - Nada garante que, no decorrer do jogo, alguns participantes estejam em mais vantagem do que outros.

            Aquilo me deixou ainda mais angustiado. Afinal, que tipo de jogo eles iriam propor? Minha ansiedade aumentava cada vez mais.

            - Nesse jogo - continuou Pitre - Vocês devem considerar duas premissas básicas.
       
            Todos permanecem em silêncio.

            - A primeira é que esse jogo se inicia com todos os participantes em condições perfeitamente iguais...e a segunda...

            Todos no aguardo novamente.

            - É que tudo que não for proibido, é permitido.

            Era o mesmo que estava escrito na placa do corredor. Ninguém falou nada até que Edmilson entrou na conversa de novo.

            - Mas isso é óbvio, não é?

Pitre riu com um pouco mais de ênfase, mas depois retoma a palavra em um tom mais tenso.

      - Sim. Tem razão. É óbvio - ele dá uma pausa, uma pausa relativamente longa - De qualquer forma, essas são as regras básicas de nosso experimento. Esperamos que o melhor jogador consiga o prêmio de dez milhões.

             "Os dez milhões", pensei, "Queria tanto chegar até lá...mas...estou com muito medo."

             - O nosso primeiro jogo se iniciará em três horas. Até lá, por favor, acompanhem nossos criados. Eles os levarão ao quarto de vocês. Um chamado oficial será dado quando o primeiro jogo se iniciar.
   
              Nesse instante, os empregados dão algumas instruções. As sete mulheres são levadas para a escadaria da esquerda. Os sete homens para a da direita. Cada criado acompanha um participante até seu quarto. Não consegui falar com Demian nesse meio tempo. O criado que me "apadrinhou", Kiby, me conduz até o quarto de número 03.
   
              - Senhor Alan...este é seu quarto. Por favor, fique à vontade - disse ele.

              - O-Obrigado.

               Descrever o luxo do quarto, sem dúvida, me custaria várias páginas. Uma enorme cama, suíte com banheiro, uma geladeira com vários tipos de alimento, muitas toalhas e telefone para serviço de quarto. Não havia uma televisão ou computador. Ah, sim, acho que esqueci de comentar: ao entrar no carro que nos levaria à casa, a equipe do jogo confiscou celulares, laptops e qualquer equipamento eletrônico de comunicação. Parecia ser mais uma das regras da casa. Mesmo assim, o quarto era tão luxuoso que a ausência desses objetos era irrelevante. Ao me deitar na cama, quase afundei na maciez do colchão. Acho que nunca mais na minha vida teria a oportunidade de usufruir dessa qualidade.

                Queria falar com Demian, mas acho que ele não gostaria de ser incomodado naquele instante. Tudo bem. Tentaria falar com ele no meio do jogo. Será que ele se lembrou de mim? Parece ser meio estranho ficar se preocupando com um outro cara, com tantas meninas bonitas na casa, mas ele era a única pessoa que eu, tecnicamente, conhecia. Mas é aí que eu me toquei da realidade. Mesmo que eu o conhecesse, agora éramos adversários. Teria que jogar contra ele se quisesse vencer. "O destino...é tão estranho", pensei.

                Falando em destino, ele nunca dá trégua. Após descansar, tirando um cochilo por três horas, uma sirene extremamente alta, toca pela casa inteira. Um tipo de música circense começa a tocar e a voz de Pitre podia ser ouvida em bom tom.

                - Senhores, senhoras e senhoritas. Pedimos que se dirijam ao saguão principal. Como combinado, iniciaremos nosso primeiro jogo. Vocês tem dez minutos para se organizar e descer.
           
                 Já se passaram as três horas? Foi bem rápido. Desnecessário dizer que estava nervoso. Levantei, fui ao banheiro, fiz uma breve oração e abri a porta. Kiby já estava ali em frente.

                 - Por favor, senhor Alan. Dirija-se ao saguão principal por este caminho.

                 Não falei nada e andei calmamente. Ao descer, percebi que a maioria dos participantes já estava lá, inclusive Demian, que olhava fixo para o horizonte. Parecia inabalável. Não consegui me aproximar dele...parecia tão concentrado que algo em mim dizia para não incomodá-lo. Faltavam apenas Taís, Yumi e Giovani, mas, após alguns minutinhos, os três já estavam de volta.

                  - Tive que tomar um outro banho antes de descer. O banheiro daqui é simplesmente fabuloso! - Taís comenta com Aline.

                  - Nem me fale! Você viu os cremes que eles tem? - ela responde ao comentário.

                  Parecia que aquelas duas tinham entrado na mesma sintonia. Já eu, só conseguia me preocupar com o que viria a seguir. Meu coração batia rápido. Finalmente, Pitre dá as caras e surge novamente no topo da escadaria.

                  - Que bom. Todos estão pontualmente aqui - disse ele, claro, gargalhando assustadoramente - Isso é bom, muito bom.
       
                  - Corta essa - diz Edmilson - Fala logo qual é esse jogo!
   
                  Edmilson realmente parecia uma pessoa difícil de lidar. No começo não falou muito, nas primeiras explicações só reclamou e não sorriu em nenhum momento até agora. Parecia um cara nervoso e revoltado. Pitre tentou amenizar com seu humor de palhaço.

                   - Vocês são mesmo impacientes, não? - diz Pitre - Por favor, se acalmem. Por que tanta pressa?

                   O palhaço parecia sentir prazer em ver nossa ansiedade. Eu também só queria me ver livre daquilo tudo o quanto antes, mas o jogo só estava começando.

                   - Tudo bem. Já que estão tão impacientes...sem mais delongas. Que os jogos comecem!

                   Ele abre os braços e uma bomba de fumaça explode atrás dele. Enquanto ainda admirávamos aquele evento, Pitre surge imediatamente no saguão, diante de nós. Não me pergunte que mágica é essa.

                   - Muito bem - o clown continuava - O primeiro jogo de vocês chama-se....Jogo dos Chapéus!

                   "Jogo dos...Chapéus?", pensei, me perguntando que tipo de jogo seria esse. O que estaria me esperando?


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Notas finais do capítulo

O jogo começa de verdade no próximo capítulo. Até lá!



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