Casa dos Jogos escrita por Metal_Will


Capítulo 12
Capítulo 12 - Cidade Adormecida




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Capítulo 12 - Cidade Adormecida

         Os três grupos não trocavam nenhuma palavra um com o outro. Todos estavam no aguardo do próximo desafio. O que poderia ser? Eis que Pitre finalmente dá algum sinal de vida.

          - Uhuhuhuh! Como sempre, espero que tenham dormido bem! - ele dizia, com uma voz claramente sarcástica. Não conseguíamos vê-lo, a voz vinha dos vários megafones da casa. Onde estava o palhaço.

          - Ei, onde você está? - reclamou Alípio.

 - Acalmem-se...é que o terceiro jogo de vocês...acontecerá do lado de fora.

          "Do lado de fora? Naquele jardim enorme que vi quando cheguei?", pensei comigo.

           Bem, sim e não. Uma passagem que sequer havíamos reparado ainda se abriu no meio da sala e levava a um jardim do outro lado da casa. Exatamente. Havia um outro jardim, tão grande quanto o da frente, na parte de trás da mansão.

          - Por favor, sigam por essa passagem - a voz de Pitre continuava a nos guiar.

          Os criados fazem um movimento com as mãos, como se indicassem para que passássemos. Era uma passagem secreta? Realmente era uma casa muito engraçada, já diria o poeta. O corredor era longo, mas logo conseguíamos ver uma luz. Ninguém fala nada durante o caminho. Ao chegarmos do outro lado, vemos um cenário peculiar. Parecia uma...cidade? Talvez uma cidade cenográfica, pelas imitações de prédios que estavam no local como decoração.

         - Sejam bem-vindos ao cenário do próximo jogo de vocês. Apesar de que a maior parte do tempo vocês não passarão aqui. Huhuhuh - ria o palhaço.

         - O que é isso? - perguntou Aline, já andando e olhando curiosa para todo o cenário - Um monte de casinhas com portas...o que tem dentro delas?

         - Calma, querida. Tudo a seu tempo. Esse cenário como eu disse, será o palco do próximo desafio de vocês - continuava Pitre.

         "Palco?", pensei, "Que tipo de jogo ele vai propor com esse cenário?"

       - O próximo jogo de vocês chama-se... - ele continuava a explicação, fazendo uma pequena pausa, mas dando todo o toque de suspense - ...Cidade Adormecida!

         "Cidade Adormecida?", pensei, "Como assim?"

     - Cidade Adormecida...porque a verdadeira ação desse jogo acontece durante a noite.

         - À noite? - estranhou Valéria - Mas ainda são dez da manhã.

      - Exatamente...estou explicando as regras agora, mas o jogo em si só começará à noite.

         - E quais são as regras? - indagou Alípio, em tom sério e pouco paciente.

       - Mais uma vez...vamos ouvir uma breve historinha - disse Pitre, voltando mais uma vez com sua voz de contador de histórias. Evidente que tudo era diversão para ele - Estamos mais uma vez em nossa linda cidade dos jogos com seus doze pacatos habitantes.

         - Esses habitantes somos nós, suponho? - interrompeu Valéria.

        - Exatamente. Você é muito observadora. Mas, se me permite continuar...
    
         Todos fazem silêncio e o clown continua.

         - Ou talvez não sejam tão pacatos assim...acontece que, no meio desses doze habitantes, há três assassinos.

         - Assassinos? - perguntou Aline com uma voz assustada.

        - Isso mesmo...toda noite, os três assassinos se reúnem e decidem matar um dos outros habitantes da cidade.

         - Que horror! - exclamou a tagarela Aline. Pitre fez outra pausa, mas continuou.

        - Mas é uma cidade justa...então, quando uma pessoa morre assassinada, todos os cidadãos se reúnem para investigar o assassinato.
    
          - Investigar? - perguntou Taís.
    
          - Exato. Mas a cidade tem um senso de justiça bem peculiar. Aquele que a maioria considera ser o assassino é considerado culpado e é executado.
        
         - Executado? - perguntou Alípio.

         - Sim. Dizem que a voz do povo é a voz de Deus, não é? É o que a justiça da cidade faz.

         - E essa maioria também inclui os assassinos? - questionou Erivaldo.

      - Exatamente...os assassinos em questão são criminosos muito habilidosos. Eles não deixam pistas e podem se passar por civis comuns.

         O palhaço dá uma pausa e continua.

         - Mas esse não é o único problema...

         - Não? - disse Aline

         - Além dos Assassinos...existe um Demônio no meio dos civis.

         - Demônio? - repetiu Eva - Que fantasioso...
    
         - Mas é a realidade - continuou Pitre - O Demônio também é alguém capaz de matar qualquer pessoa sem dificuldades, e isso inclui os próprios Assassinos.

          - Então também seria uma ameaça para os próprios assassinos - comentou Alípio

          - Exatamente - prosseguiu Pitre - O Demônio pode matar qualquer pessoa, inclusive Assassinos. Mas...não pode ser morto.

          - Não pode ser morto? - perguntou Taís.

      - Não por Assassinos. Mesmo assim, no julgamento, ele pode ser executado.

          - Que cidade mais horrível... - comentou Taís. "Espero que ela saiba que é só uma história de contextualização do jogo", pensei.

          - Mas nem tudo está perdido

          Todos fazem silêncio. Pitre faz mais uma pausa e continuou.

           - Entre os civis, também existem duas personagens bondosas.

           - Que seriam? - indagou Valéria.
    
           - Um deles seria um Anjo. O Anjo pode salvar qualquer pessoa que um Demônio ou Assassino queira matar. Inclusive a si mesmo. Mas...
    
           "Mas? Sempre tem um "Mas'...", pensei.

            - Se o Anjo não imunizar a si mesmo, pode ser morto pelos Assassinos.

            - Sabia que seria algo assim - comentou Alípio.

            - Mas tem uma boa notícia...o Anjo é naturalmente imune a ataques de um Demônio.

            - O Anjo é imune ao Demônio...entendi - disse Aline.

            - E tem mais uma pessoa.

            - Quem? - perguntou Taís.
        
           - O Detetive! - disse Pitre - Entre os civis também temos um Detetive que pode investigar os outros civis e saber se são pessoas boas ou más.

            - Como assim? - questionou seu Alípio.

            - Bem, talvez entendam melhor quando eu explicar a dinâmica do jogo em si. Vamos usar nossos prestativos criados como exemplo.
            
             Os criados mascarados do local se posicionam na cidade do cenário. O local tinha doze cabines disfarçadas externamente por uma aparência de prédio ou casinha, mas não deixavam de ser cabines.

            - Cada um dos criados representará um jogador, considerando que cada jogador terá um personagem diferente. Em resumo, teremos três Assassinos, um Demônio, um Detetive, um Anjo e seis Civis comuns.

            - Certo... - acompanhava Valéria.

       - Esses personagens podem ser diferenciados em dois lados. O lado branco, ou do bem, representado pelos Civis, Anjo e Detetive...ou o lado negro, ou do mal, representado pelos Assassinos e o Demônio.
            
            - Dois lados...acho que entendi - disse Aline.

          - A identidade de vocês permanecerá em segredo no começo do jogo. Mas, as coisas podem mudar quando o jogo realmente começar

            Todos ficam em silêncio, quando Pitre pediu para que o jogo comece.

         - Bem...vamos começar a simulação. Primeira etapa. Cidade Adormecida!

         Todos os criados entram em suas respectivas cabines e as portas se fecham automaticamente, de forma rápida e seca.

         - A primeira etapa é...Cidade Adormecida. Todas as portas estão fechadas e, aparentemente, a cidade está em silêncio.

           - C-Certo - acompanhava Taís.

           - Agora...segunda etapa. Despertar dos Assassinos!
        
           Três portas se abrem automaticamente. Eles deviam ser os Assassinos.

           - O sistema sabe quais jogadores são Assassinos e quais não são. Logo, as portas que se abrem sempre serão dos Assassinos.
    
           - Tá. E agora? - perguntou Alípio.

         - Os Assassinos devem escolher uma pessoa para morrer, no nosso caso, ser eliminada da cidade.

           - Hm? - gemeu Aline

           - Como são três Assassinos, o voto de dois deles contaria como maioria. De uma forma ou de outra, os Assassinos tem pelo menos uma hora para decidir quem matar por meio de voto comum.

            - Tudo isso? - perguntou Taís.

            - Vocês vão ver que não é uma decisão tão fácil assim..uhuhuhu. Mas, no nosso exemplo, eles já devem ter uma pessoa declarada, certo?

             Os criados fazem que sim e dizem o nome da pessoa. Eles concordam em eliminar um criado chamado Mongomery (lembre-se que todos tinham codinomes). Pitre confirmou o voto e pediu que os Assassinos voltem a seus lugares. As portas se fecham.

             - Certo...próxima etapa. Despertar do Demônio

        Uma única porta se abriu, revelando uma criada (criadas também usavam máscara e vestido social).

             - Por favor, indique uma pessoa para eliminar.

             Ela indicou o nome Mark e voltou para seu lugar.

             - Próxima etapa. Despertar do Anjo.

           Outro criado é liberado da cabine. Pitre pede que ele indique uma pessoa para salvar e ele indica o nome Mark também.

             - Certo...próximo despertar. Despertar do Detetive.

             Um outro criado é liberado da cabine.

             - Diga o nome da pessoa que quer investigar.

             - Mark - disse ele.

             - Certo.. - disse Pitre - Mark pertence ao Lado Negro.

             "Hã?", pensava, "Então...Mark é um daqueles Assassinos?"

              A porta se fecha. Pitre continua a explicação.

        - E isso encerra a noite. Mas...após esses eventos, temos o que chamamos de Despertar da Cidade!

             - Despertar da cidade? - indagou Alípio.
        
           Nisso, todas as portas se abrem, exceto a de Mongomery. Pitre fez o anúncio que todos estavam aguardando.

             - Infelizmente, Mongomery está morto

         E, quando ele abriu a porta, de fato, não havia ninguém ali. Como isso foi possível?

             - Uhuhuhuhu! Precisavam ver a cara de vocês! - disse ele, rindo - Dentro das cabines há uma passagem que leva o jogador morto para um salão no subsolo. Mongomery deve retornar logo, mas a cidade deve fazer seu julgamento. Quem vocês acham que foi responsável pela morte de Mongomery, cidadãos? Por favor, coloquem seus votos nessa urna eletrônica diante de mim.

             De fato, havia uma urna eletrônica, com os números de cada jogador do lado. Todos, um de cada vez, se dirigem até a mesa de Pitre e escolhem um número. Não me admira que Mark recebeu 8 votos. Provavelmente, Mark foi o bode expiatório que usaram nesse exemplo. Ele foi salvo da morte pelo Anjo, mas não da eliminação. O nome dele aparece num telão logo ali em cima (era um cenário muito bem elaborado).

            - Sendo assim...Mark também é executado e obrigado a abandonar a partida. E assim encerra uma rodada de nosso jogo.
 
            - É só isso? Mas quem vence esse jogo? - perguntou Sr. Alípio.

         - Sim. Basicamente é um jogo de eliminações. O jogo pode ter só duas opções: ou o lado branco vence ou o lado negro vence. O lado branco vence se todos os Assassinos e o Demônio forem eliminados. O lado negro vence se todos os Civis forem eliminados.

            - Não me parece ser um jogo justo! - reclamou Aline - É claro que o lado negro tem vantagem nesse jogo!

            - Será? Bem, só jogando para descobrir, não é? - disse Pitre - Quanto as eliminações finais do jogo...

            Esse era um ponto importante. Quem sai e quem fica na casa?

            - Apenas jogadores que pertençam ao lado perdedor irão para a sessão de votos. O valor mínimo de créditos necessários para comprar a imunidade é de sete créditos.

            - Valor mínimo? - pergunta Taís.
        
            - Sim. É verdade que vocês podem pagar por sua imunidade, mas se todos que estiverem na sessão de votos pagarem o mesmo número de créditos, entraremos em um empate e teremos que aumentar o valor para sair do empasse. Faz sentido, não?

De fato. Se todos conseguirem pagar a imunidade ninguém seria eliminado. Estava ficando cada vez mais competitivo.


             - Nesse jogo, a cada rodada que vocês "sobreviverem", ganham um crédito. Parece simples, não?
    
             - E você disse que todas as rodadas serão à noite? - perguntou Perla.
        
          - Sim - respondeu o palhaço - Faremos uma rodada por noite, exatamente às dez horas da noite.

             - Mas não vai demorar muitos dias? - perguntou Taís.

             - Será? Talvez sim, talvez não...tudo vai depender de como jogarem. UHuhuhuh. Mais alguma pergunta?

             Todos ficam em silêncio. Eram muitos mistérios. Só começando a jogar para entender como a coisa iria funcionar.

— Alguém tem mais alguma pergunta? - Pitre prosseguiu. Nessa hora, Demian levantou a mão.

—Sim? - disse o palhaço.

— O que acontece se dois moradores da cidade receberem o mesmo número de votos para serem executados? - perguntou ele.

— Achei que ninguém iria perguntar isso - falou o palhaço - Em caso de empate na votação da cidade, os dois jogadores serão executados. É uma democracia bem rigorosa!

— Entendo - foi tudo que Max disse. Será que ele já havia pensado em alguma coisa? De qualquer modo, o jogo já iria começar.
        
          - Sendo assim...vamos definir os papeis de cada um. Por favor, dirijam-se a alguma cabine - falou Pitre.

            Cada um de nós fica diante de uma cabine e, após as portas se abrirem, Pitre pronuncia mais alguma coisa.

       - A tecnologia é avançada o suficiente para identificar vocês pelos contadores que estão usando. Não sabemos apenas o número de créditos de cada um como também temos controle sobre outras variáveis em jogo. A personagem de vocês já foi definida aleatoriamente antes mesmo do jogo começar. Apenas entrem na cabine para saberem quem é.

               - E se trocarmos de cabine em outra rodada? - perguntou Perla.

        - O sistema reconhece quem é pelo contador de vocês. Não se preocupem. Odeio dizer isso, mas pensamos em tudo.
        
               Entro em minha cabine. Pelo que entendi das regras do jogo eram cinco personagens: Assassino (mata outros em voto comum com os outros Assassinos), Demônio (mata qualquer um sozinho, com exceção do Anjo), Anjo (salva alguém da morte, inclusive ele mesmo), Detetive (pode saber se alguém é do lado branco ou negro) e Civil (só pode votar). Dos cinco, o mais inútil é o Civil. E, adivinhe qual papel eu peguei?


               "Alan da Silva. Civil", era o que dizia a tela na parte de dentro da cabine. "Por que isso não me impressiona nem um pouco?"



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Notas finais do capítulo

Talvez alguns de vocês conheçam esse jogo como Cidade Dorme, Máfia ou Mafioso. É o mesmo esquema, mas as mesmas regras aplicadas no contexto dessa casa pode gerar algumas situações diferentes. Até a próxima! /



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