As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 12
O bom filho a casa torna


Notas iniciais do capítulo

Após nove anos desaparecido, Shiryu retorna à sua casa nos cinco picos antigos de Rozan, pois um homem misterioso ceia com sua família.



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China. Cinco picos antigos de Rozan. Entre as montanhas, próximo a grande cachoeira, está uma das casas mais isoladas do mundo, que resiste em meio a uma tormenta. Na chuva forte, o lendário Shiryu regressa, após 9 anos, à casa que abandonou. Ao abrir a porta do lar, sem aviso prévio, surpreende a todos, que já nem esperavam que um dia retornaria.

Na mesa da sala, estão sentados um jovem estranho e os três filhos de Shiryu. Chang, um garoto de 14 anos de idade, Chun, uma menina de 11, e Yun, um menino de 9. O estranho, que ceava junto deles, parecia ter em torno de 20 anos de idade. Era um homem de etnia peculiar para aquela região. Tinha traços finos, um longo cabelo loiro bastante claro, quase prateado, e olhos de cor violeta, algo que Shiryu nunca havia visto antes.

Ao entrar, todos olharam para Shiryu com estranheza. Pelos anos que havia passado fora, somente o filho mais velho o reconheceu. O garoto levantou-se da mesa e chamou por sua mãe. Quando Shunrei veio da cozinha, trazendo uma bandeja com chás, o choque foi tanto que acabou derrubando tudo no chão.

— Mamãe! — gritou a filha, correndo para ajudá-la a juntar as xícaras.

— Shiryu... — disse o nome do esposo para si mesma, como se tentasse acordar de um sonho.

— Olá, Shunrei — cumprimentou-a Shiryu, com um dos mais genuínos sorrisos.

Shunrei correu e o abraçou, soluçando, sendo acolhida pelos braços do antigo cavaleiro de Dragão. As crianças mais novas ficaram sem entender a princípio, mas logo concluíram que se tratava do pai delas, e aproximaram-se para conhecê-lo. Shunrei o apresentou para os filhos, e Shiryu logo os reconheceu, até mesmo o pequeno Yun, que quando Shiryu saiu de casa era apenas um recém-nascido. Após acalmarem os ânimos com o retorno repentino do cavaleiro, todos sentaram-se a mesa novamente para conversar, agora com novas xícaras de chá. O filho mais velho, Chang, parecia estar evitando o pai, mas cumprimentou-o com respeito. E, então, Shiryu finalmente pode conhecer a visita da casa, que, segundo Shunrei, era um andarilho que buscava abrigo da chuva.

— Meu nome é Zadiel¹ — disse o homem com uma voz serena e um sorriso amigável — sinto muito por estar interrompendo esse belo reencontro.

— Não se preocupe, Zadiel. A minha estadia é temporária de qualquer forma — explicou Shiryu, já se desculpando com um olhar triste para Shunrei.

No entanto, a sua esposa não demonstrou rancor. No fundo, ela já esperava que a missão de Shiryu ainda não estivesse cumprida.

— Shunrei, na verdade, o Zadiel não quis me dedurar, mas eu e ele já nos conhecemos. Se você não se importar, eu gostaria de conversar por um momento a sós com ele — explicou, com um tom mais sério.

Ainda que surpresa que estivesse hospedando um amigo de Shiryu, Shunrei prontamente atendeu o pedido do marido, e começou a tirar a mesa para levar as louças à cozinha, enquanto pedia que os filhos fossem estudar em seus quartos. Os mais novos resistiram de início, enquanto o mais velho pareceu fazer questão de não ver mais o pai. Quando finalmente ficaram a sós, Shiryu se dirigiu a Zadiel.

— O que está fazendo aqui? — questionou, agora com um olhar totalmente diferente de antes. Shiryu o encarava como quem condena os inimigos no campo de batalha.

— Eu estou aqui para protegê-los — explicou Zadiel, com a mesma e impassível expressão serena de antes. O homem não parecia estar nem um pouco tenso com a situação.

— Protegê-los? Por que eu deveria acreditar nisso... Vindo de um inimigo que está massacrando cidades inteiras?

Zadiel, que seguia despreocupado, deu mais um gole de chá antes de responder.

— Foi terrível o que o mestre Epimeteu fez com a família de Ikki, não foi? A forma trágica como a esposa dele morreu naquele incêndio... Deixando a filha do casal órfã.

— A filha de Ikki não ficou órfã. Ela também morreu no incêndio — replicou Shiryu.

— A filha de Ikki está muito viva — rebateu Zadiel, arregalando os olhos de forma excêntrica. — É a garota que quer subir as 12 casas para reencontrá-lo... Itsuki, não é?

— O quê? — questionou confuso. — Se você fala na nova amazona de Fênix, nós investigamos o passado dela, obviamente. Ela foi parar no orfanato após o pai a abandonar e a mãe morrer de câncer.

— Isso é o que ela diz... Mas a verdade.... A verdade pode ser muito mais dolorosa do que aquilo que conseguimos nos lembrar. Chegando ao ponto de criarmos novas memórias...

— O que você está insinuando? — perguntou Shiryu, que começava a ficar impaciente.

— Você não acha estranho como tudo isso parece orquestrado? O encontro dessas duas amazonas... A busca por Ikki... A ressonância entre seus cosmos... A abertura da dimensão selada de Nibiru... Não existem coincidências Shiryu. O meu criador esteve puxando os fios para chegarmos até aqui.

— Ainda assim, a filha de Ikki morreu há nove anos. Não tem como ser a mesma garota... Se ela tivesse sobrevivido, nós teríamos cuidado dela.

— Isso foi o que Epimeteu quis que vocês pensassem... — respondeu, com o sorriso de quem iluminava a mente de uma criança confusa. — E foi por isso que o resto de vocês abandonaram a vida que Atena queria que vocês levassem... Pelo medo que a mesma retaliação viesse a acontecer às suas famílias. Por causa disso, você abandonou a sua vida de camponês aqui e voltou a servir Atena e o Santuário. Embora o tenha feito ao mesmo tempo em que se exilou no mundo, para que nem a sua família conseguisse o reencontrar. Para não expô-los ao perigo.

— E para nos dedicarmos em nossa busca por Epimeteu — lembrou Shiryu.

Zadiel levantou-se e caminhou até a janela, ficando a fitar a chuva.

— Epimeteu não sabia onde encontrar sua família, Shiryu. Mas Ikki sabia. É claro que ele não disse nada. Mas nesses nove anos em que ele ficou em estado vegetativo no meu mundo... Nós extraímos muitas informações dele.

Shiryu também levantou-se, com ódio no olhar. O antigo cavaleiro de Dragão fazia de tudo para se segurar e não atacar Zadiel ali mesmo.

— E quando viemos ao seu mundo... — continuou Zadiel. — Houveram aqueles que queriam usar a sua família como distração. Mas eu não permiti.

— O quê? — questionou, sem acreditar.

— Eu não vim aqui para machucá-los. Eu vim aqui para protegê-los. Para garantir que meus irmãos não quebrariam o acordo que fizeram comigo... Sabe, Shiryu. Apesar dessa guerra ser necessária, a forma como ela é realizada importa para mim. Para mim, os fins não justificam os meios. Acredito que um homem como você consegue entender isso. Infelizmente, eu não consegui impedir os ataques às suas cidades, mas ao menos garanti que sua família não fosse machucada.

Shiryu colocou a excalibur no pescoço de Zadiel, que ainda olhava pela janela e, portanto, estava de costas para o cavaleiro.

— Você mataria um homem pelas costas, Shiryu?

— Vire-se — ordenou.

Zadiel virou-se calmamente, ainda com a sua expressão serena inabalada, o que deixava o dragão ainda mais enfurecido.

— Está brincando comigo? — questionou Shiryu, apertando os olhos. — Você não precisaria entrar na minha casa se fosse só por isso.

— Você tem razão — disse sorrindo, e quase rindo. — Me desculpe, Shiryu. Eu acabei entrando pois também tinha curiosidade em conhecer a sua família. De todas as memórias de Ikki de Fênix, aquelas ao seu respeito foram as que eu mais admirei, embora elas tivessem uma predileção por Shun de Andrômeda... Eu queria conhecer a família por detrás de Shiryu de Dragão.

Shiryu não sentia nenhuma inverdade ou má-intenção naquele homem. E apesar de ser seu inimigo, Zadiel não demonstrava reação alguma ao ter a excalibur ameaçando o seu pescoço. Se Shiryu o cortasse agora, estaria matando um homem a sangue frio, algo que o cavaleiro não seria capaz nem em circunstâncias de guerra. Então, o antigo cavaleiro de dragão acabou por abaixar o braço.

— Obrigado por proteger a minha família — disse Shiryu, finalmente.

— Se ganharmos essa guerra, ela será poupada — prometeu Zadiel.

Era difícil para Shiryu ler esse homem. A posição dele no exército inimigo não estava clara, assim como muitas outras coisas a respeito dessa Guerra Santa também continuavam obscuras.

— Eu gostaria de poder conversar mais com você, Zadiel. Ainda tenho muitas perguntas que precisam de respostas. Mas sinto que uma grande cidade, não muito longe daqui, está sendo massacrada pelos seus aliados. E eu já deveria ter ido direto para lá...

— Foi uma honra conhecê-lo, Shiryu — disse, já se despedindo.

— Se esse momento chegar — entendeu, já com a mão na maçaneta. — Será uma honra enfrentá-lo no campo de batalha.

Shiryu abriu a porta e se retirou. Quase que no mesmo instante, Zadiel pode ouvir alguém começando a soluçar na cozinha. Sentada no chão, contra a parede, como se estivesse ouvindo a conversa, Shunrei se esforçava para segurar o choro. Após algum tempo, comovido com a dor e a saudade que podia sentir vindo dela, Zadiel apagou a memória de todos na casa a respeito dos últimos minutos.


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Notas finais do capítulo

1. Segundo algumas denominações, Zadiel é um dos sete arcanjos da angeologia de matriz judaica, sendo o arcanjo da liberdade, benevolência e misericórdia. Seu nome significa "justiça de Deus".



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