Wolves escrita por black swan


Capítulo 1
01 ━━ scooby gang.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura a todos ♥



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LAVÍNIA PUXOU O ZÍPER DA MALA E SUSPIROU. Esse dia sempre vinha com uma mistura de emoções. Nostalgia, saudade, melancolia, medo. Aquele lugar era a sua segunda casa. Deixá-lo no final do verão significava falar adeus a seus meios-irmãos e amigos — e rezar aos deuses para eles estarem vivos no próximo verão. Sair dali e ir para Beacon Hills trazia euforia e medo. Por que sair do acampamento meio-sangue significava se jogar em um mundo cheio de monstros e talvez não sobreviver — estava cansada de descobrir todo verão que algum amigo não havia sobrevivido.

— Alguém viu minha adaga?

Liv estralou a língua e virou-se, sentando-se sobre a mala preta, deixando os pensamentos dramáticos para trás. James, que era a mais nova adição do chalé de Hécate, revira os cobertores de sua cama atrás de sua adaga. Pelo canto de olho Liv viu Rachel revirar os olhos. Balançando a cabeça, ela virou as costas e pegou sua mochila que estava ao lado da mala e foi até a penteadeira compartilhada.

— Você tem que amarrar um cordão nessa adaga, moleque. — reclamou Rachel, fechando a mala. — É a quinta vez que perde ela essa semana.

Com os dedos ágeis, Lavínia passou a recolher seus produtos de cabelo, assim como seu pente e seus prendedores e sabonetes. Após jogar tudo na mochila, ela deu um passo para trás e abriu a segunda gaveta da penteadeira, passando todos os itens para a abertura da frente — uma bolsinha com dracmas, alguns colares, brincos e anéis —, e a fechou, correndo os olhos pela superfície de madeira para ver se não esquecera nada como da última vez.

— ACHEI! — berrou James, triunfante, enquanto esticava o braço para baixo do colchão. Quando se levantou trazia entre os dedos uma adaga prateada empoeirada.

Liv sorriu.

— Vou sentir saudade disso. — comentou ela, puxando a mala de cima da cama. As rodinhas se estatelado no chão com um estrondo.

Rachel revirou os olhos e puxou de debaixo da cama uma mochila preta surrada.

— Você fala isso todo o verão desde que tinha dez anos, Lavínia. — zombou ela enquanto caminhava em direção a penteadeira, seu cabelo loiro areia sacudindo às suas costas. — Mas sempre que volta é a primeira a brigar com a Ellen.

Lavínia soltou um bufo dramático.

— Isso sou eu demonstrando... o meu amor fraterno pela minha irmã favorita. — desdenhou, sorrindo.

Rachel virou para encará-la com os olhos estreitos. James não se segurou e riu.

— Tu fica quieto, nanico. — resmungou a loira.

— Eu sou mais alto que você.

Rachel arqueou a sobrancelha e encarou James como se não estivesse acreditando na audácia. James ergueu o queixo e encarou a loira com cara de deboche e um sorriso de canto, os olhos azuis brilhando. Nem parecia o semideus tímido de doze anos que adentrou o chalé aquele mesmo verão, quase tremendo de medo ao ver todas aquelas garotas mais velhas.

Liv não se segurou e riu.

Jogando a mochila sobre o ombro, Lavínia deu uma última olhada ao redor do local — porquê, bem, poderia ser seu último verão ali. O chalé era em si um grande quadrado. As paredes de pedra eram lisas e escuras, lançando um certo brilho místico por todo quarto — principalmente a noite —, o chão de madeira era limpo e sem nenhum arranhão. A porta, que ficava a frente, era ladeada por grandes janelas que hoje estavam com as cortinas escancaradas, deixando o sol forte entrar. Dois feixes de luz adentravam o quarto, esquentando o chão e o iluminando. As quatro camas ficavam encostadas nas paredes, e era ao redor delas que as bagunças ficavam. Mas hoje, como era dia de partida, estava tudo arrumado — a não ser a cama de James.

Contendo um grande suspiro, Lavínia pegou a alça da mala e a arrastou até a porta.

— Bem, meu pai já deve ter chegado. — anunciou com certa dificuldade, vendo James se aproximar com os braços abertos. Apertando aquele garoto até o ponto dele reclamar, Liv sorriu ao soltá-lo. — Então é melhor eu ir. — finalizou enquanto bagunçava os cabelos loiros do meio irmão.

Rachel cruzou os braços, a mochila em uma mão e um pacote de absorvente na outra.

— Tudo bem. Espero ver você no próximo verão — falou ela. —, então já sabe... não morra.

Lavínia riu. O que era meio triste. Ela esperava um abraço, apesar de saber que Rachel não era de fazer contato físico — a não ser que fosse para agredir.

— Digo o mesmo. — falou, abrindo a porta e saindo. — Tentem não morrer. — proferiu assim que estava totalmente fora do chalé.

— Farei o meu melhor. — respondeu James com um sorrisinho de canto.

Liv sorriu e virou as costas.

— Quando foi que você ficou tão engraçadinho? — Lavínia ouviu Rachel dizer com certa indignação e rindo, a ruiva partiu colina acima.

Diversos semideuses se encontravam na mesma situação que Lavínia, de mochila nas costas e mala na mão. Uma garota saiu do chalé de Afrodite sorrindo enquanto um filho de Ares arrastava duas malas. A instrutora de esgrima, Alexis, acenou para ela quando passou.

— Até o próximo verão, Lavínia! — Liv se virou e corou ao ver Ray, irmão de Alexis, acenar para ela aos pés do chalé de Atena, a mochila militar pendurada nas costas. Sorrindo para ele, a garota voltou a puxar a mala.

Após uma bela caminhada, Lavínia chegou ao pinheiro de Thalia (uma semideusa filha de Zeus que havia sido transformada em árvore pelo pai após ficar a beira da morte para salvar os amigos. E anos mais tarde havia saído da árvore após ser salva pela lã mágica de uma ovelha — é, as coisas ali eram doidas naquele nível). Sempre que achava que sua vida era esquisita, Liv tratava de pensar na garota pinheiro. O velocino reluzia ao sol. E seu pai estava ao lado, de braços cruzados e expressão ansiosa.

Nick McGarrett era um homem obviamente bonito, os cabelos ruivos junto dos olhos claros e o físico atlético chamavam a atenção das mulheres — e até de alguns homens. Sorrindo, a garota soltou a mala e deixou que a mochila escorregasse pelo ombro, tudo caindo no chão com um baque macio. Nick abriu os braços e Liv correu em direção a ele.

E quando estava confortável e segura nos braços de seu pai, Lavínia lembrou o porquê voltava pra casa todo final de verão.

***

A noite de Beacon Hills estava escura e nublada, além de gelada e com o cheiro de chuva no ar. As estradas estavam úmidas e frias, e a névoa cobria o asfalto. Assim que botou o pé para fora do carro, Lavínia sentiu um arrepio lhe subir a espinha e automaticamente levou os dedos ao colar pendurado no pescoço. Aquilo havia sido tudo, menos um arrepio por conta do frio.

Encarando ao redor, Liv não viu nada além de uma rua vazia e molhada, as luzes das casas ao redor acessas e seu pai tirando suas coisas da porta-malas. Paranoia sua, Lavínia, paranoia sua, pensou a garota, largando o pingente.

— Liv?

A ruiva virou, encarando o pai. O poste de luz refletia no cabelo dele, deixando-o numa cor enferrujada.

— Sim?

— Está tudo bem? — indagou preocupado. — Tá com uma cara estranha.

Liv mordeu o lábio. Havia sido somente um arrepio, mas...

— Uma sensação estranha. — respondeu sinceramente, fechando a porta do carro e aproximando-se do pai. Ao ver a expressão alarmada dele, ela logo tratou de esclarecer: — Não monstro estranha, mas... só uma sensação estranha mesmo, sabe? Um arrepio.

Ao ver os ombros dele caírem de alivio, Liv não conseguiu segurar a sensação de mal-estar. O simples fato de estar fora do acampamento preocupava seu pai. Pensar que ele ficava em estado de alerta 99% do tempo a entristecia.

Puxando a mochila da mão dele, Liv virou em direção a casa, que era uma simples de dois andares e uma grande varanda, com mato para todo lado e ladeada por casas iguais, ouvindo atrás de si o som do porta-malas sendo fechado e o alarme sendo acionado.

Quando seu pai abriu a porta, Liv suspirou.

— Lar, doce lar. — proferiu ao entrar, largando a bolsa no canto da parede e respirando fundo aquele cheirinho de casa limpa.

Ela relaxou automaticamente, apesar de ainda ponderar sobre a estranha sensação ao sair do carro.

Nick fechou a porta e a trancou.

— Presumo que todas essas roupas estejam sujas? — indagou ele, sacudindo a mala.

Liv girou nos calcanhares.

— Presumiu certo, papai. — falou com um sorriso. — Tem umas queimadas também, só pra você saber.

A sobrancelha dele subiu.

— Queimadas? — Nick repetiu lentamente. — Eu falei pra você ficar longe da parede de escalada, Lavínia!

A garota riu.

— Foi um desafio e eu não iria perder. — esclareceu, dando de ombros. — Mas vamos ao que realmente importa: cadê a comida?

Nick a encarou.

— É por isso que você volta, não é? — perguntou seriamente. — Só pela comida que vai ganhar.

Liv anuiu.

— Precisamente, meu velho. Só venho pra casa pelo parmesão de frango e pelo bolo de cenoura com chocolate.

Um ar de riso surgiu ao redor da boca de Nick.

— Vai tomar banho — falou ele subitamente. —, você está começando a feder, pirralha.

Liv bufou.

— Seu amor por mim é admirável, meu velho.

Ao chegar no quarto, Liv jogou a mochila na cama e acendeu a luz. Fechando a porta atrás de si, ela foi em direção a cômoda, onde ela havia deixado seu celular antes de partir para o acampamento. Enquanto esperava o aparelho ligar, Liv foi até o banheiro e acendeu a luz, encarando seu reflexo no espelho.

A camisa laranja do acampamento não combinava muito bem com seu cabelo ruivo, sua pele estava pálida — mais que o normal — e uma nova cicatriz rosada se destacava logo acima do cotovelo — a marca de um agressivo filho de Apolo durante o capture a bandeira — e o pingente de ouro pendurado, chamando atenção contra o laranja da camiseta.

O celular começou a vibrar na comoda e tirou a atenção de Liv da sua imagem refletida. Enquanto esperava as notificações pararem, a garota puxou a blusa pela cabeça e arremessou-a no cesto vazio. Voltando para o quarto e pegando uma toalha, Liv desbloqueou o celular e foi direito para as mensagens.

[ liv → stilinski ] — Voltei, Stilinski.

[ liv → stilinski ] — Te vejo amanhã.

[ liv → scottty ❤❤ ] — Heyo, Scottie

[ liv → scottty ❤❤ ] — adivinha QUEM ESTÁ DE VOLTA???

[ liv → scottty ❤❤ ] — iSSO mesmo

[ liv → scottty ❤❤ ] — O AMOR DA SUA VIDA

[ liv → ❤ vivieeeeennn ] — CHEGAY MEU AMOR

Largando o celular na cama, ela partiu para o banheiro com nada além de um banho de meia hora em mente, tentando a todo custo não pensar no arrepio que teve. Não era nada, afinal. Beacon Hills era a cidade mais parada de todos os tempos, nada ruim ou estranho acontecia ali.

***

Quando Liv abriu os olhos, demorou alguns minutos para se orientar, ainda perdida na névoa grogue do sono. Os olhos estavam nublados e as pálpebras pesadas; assim como o resto de seu corpo. O cobertor quente e aconchegante a induzia a voltar á dormir.

Girando a cabeça, ela estreitou os olhos para o relógio na mesa de cabeceira. 22:09 diziam as letras vermelhas e brilhantes. Encarando o quarto escuro, a ruiva não identificou o motivo de ter acordado. A casa estava silenciosa, assim como o lado de fora. Ainda sentido aquela maravilhosa sensação de aconchego e sonolência. Liv girou e se acomodou no travesseiro, fechando os olhos novamente e deixando a letargia gostosa do sono possuí-la.

Tek.

Lavínia abriu os olhos. Tek. Erguendo-se com certa violência, a garota ficou de joelhos na cama, levando os dedos ao pingente do colar, pronta para puxá-lo. A sonolência já esquecida. Mas e se for um ladrão? Indagou-se, sentido o coração bater forte contra as costelas.

— Por que a gente não bate na porta? Sabe, como pessoas normais! Ou melhor, use a sua chave?!

Espera, o quê?

— Stiles, você tem que me falar que tipo de demência você tem, pois não é possível você ser normal! — outra voz sussurrou.

O barulho de arrasto se aproximou da janela, os galhos quebrando sobre os pés de alguém. Era só o que me faltava, pensou Lavínia. Mas mesmo assim soltou um suspiro de alívio e deixou a mão cair sobre a coxa, ainda sentido o coração martelar desconfortavelmente contra o peito.

Um corpo colidiu contra a janela bem acima da cama, e então dedos se infiltraram pela pequena fresta e a janela foi aberta. A cabeça de Stiles surgiu pela abertura do vidro e pelas frestas da cortina. Ele localizou Liv e sorriu.

— Oi.

Com toda a força que conseguiu reunir, Lavínia ergueu a mão e a desceu com tudo na parte de trás da cabeça do garoto.

— AI!

— Qual é o seu problema?! — exclamou ela. — Você quase me matou do coração, seu animal!

Ainda massageando a cabeça, Stiles inclinou o corpo para frente e com uma cambalhota, caiu de bunda na cama, ao lado de Lavínia.

A campainha soou no andar de baixo.

— Não me diga que achou que eu era um predador. — zombou ele, levantando-se. — Belo pijama, a proposito.

Ela abaixou o olhar. O short minusculo e a regata não faziam muita coisa para esconder seu corpo. Bufando, Liv saiu da cama e caminhou para fora do quarto, descendo as escadas com os pés batendo com força no chão.

— Posso saber o porquê de você invadir a minha casa há essa hora da noite? — indagou, abrindo a porta e se encolhendo ao ser acoitada pelo vento gelado.

Scott e Viviene estavam do outro lado, parecendo extremamente contrariados. O garoto estava encolhido em seu moletom vermelho, a franja quase tapando os olhos. V soltou um bufo descontente e passou o limiar, sua jaqueta de couro reluzia com as gotas de chuva.

— Meu pai recebeu uma chamada há meia hora — falou Stiles animadamente enquanto Scott entrava. — Tem um corpo na floresta!

Lavínia fechou a porta e encarou Stiles.

— Por que você diz isso como se fosse uma coisa boa? — indagou com lentidão.

— Porque ele não tem neurônios funcionais. — respondeu Viviene, se virando e indo para a cozinha.

— É a primeira coisa interessante que acontece nessa cidade há anos! — retrucou Stiles.

— Tá, mas por que você quer ir atrás do corpo? — indagou Liv, cruzando os braços. — A polícia já achou, certo?

Stiles sorriu.

— Essa é a melhor parte, eles só acharam a metade. — proferiu com animação. — Então, a gente e Satã ali — falou, gesticulando para ele, Scott e então para Vivienne, que voltava da cozinha com um pedaço de bolo na mão. Scott permanecia encostado na porta com uma cara que dizia claramente: "queria estar em qualquer lugar menos aqui". — vai, com ou sem você.

Lavínia o encarou. Desde que conhecera Stiles no hospital há oito anos, ela soube que o garoto era um tanto... excêntrico, então o fato dele querer ir para a floresta, à noite, para procurar a metade de um corpo, não era exatamente uma surpresa.

Ela se voltou para Viviene.

— Você tá metida nisso porque exatamente? — questionou. — Achei que tivesse mais neurônios que isso.

Viviene continuou mastigando seu bolo calmamente. Seu cabelo negro havia crescido no verão, caindo em ondas sobre os ombros. Ela parecia ter ficado mais bonita naquele meio tempo — e mais bronzeada.

— Pelo mesmo motivo que você vai ir com a gente. — ela respondeu.

Lavínia com certeza não iria deixar aqueles três idiotas saírem sozinhos para uma cena de crime — muito provavelmente ativa.

Stiles sorriu e Scott suspirou — resignado.

— Ok. Me deem cinco minutos.

***

RESERVA DE BEACON HILLS

NÃO ENTRE A NOITE

Era o que dizia as letras esculpidas na placa de madeira iluminada pelos faróis do Jipe. Limites, pensou Liv ao descer do veículo. Para que não é mesmo?

— Estamos mesmo fazendo isso? — indagou Scott, soando incrédulo, como se só agora estivesse percebendo o que estava acontecendo.

— Subitamente isso me parece tão estúpido. — concordou Viviene, fechando a porta do carro.

Lavínia os entendia. Agora que estava de cara com as correntes que separavam a estrada da floresta, o ar gélido da última noite de agosto ao seu redor, opressora e congelante, a perspectiva de se embrenhar na floresta para procurar a metade de um corpo com um assassino — possivelmente — a solta não era mais tão interessante.

As lanternas de Stiles e Viviene acenderam quase ao mesmo tempo, iluminando o caminho de cascalho que levava a mata. Lanterna! exasperou-se Lavínia. Sabia que estava esquecendo alguma coisa.

— Eu tenho que concordar. — pronunciou ela ao parar entre Scott e V, de frente para a placa sustentada por correntes enferrujadas. V mexeu o pulso e levou a luz até a escuridão da floresta, mas não deu para ver muita coisa além das folhas. — A gente vai mesmo fazer isso?

— São vocês que vivem reclamando que não tem nada para fazer nessa cidade — respondeu Stiles, batendo de leve no ombro de Scott e passando por eles, indo em direção a cerca.

Os três se entreolharam.

— A gente meio que quis dizer um cinema decente — falou Viviene com um suspiro forte —, um parque, até uma lanchonete nova. Não uma aventura atrás de corpos apodrecendo no meio da mata, Stiles!

Liv apoiou a mão na madeira redonda e impulsionou o corpo para cima, caindo do outro lado da cerca silenciosamente.

— Deveriam ter sido mais específicos! — retrucou Stiles, bufando.

O caminho que levava a floresta era cheio de cascalhos e folhas mortas. Elas quebravam ruidosamente abaixo da sola de Scott, V e Stiles. Lavínia pensou, distraidamente, se algum deles notaria que ela, ao andar, não fazia barulho algum. Quando entraram na floresta, o ar esfriou mais ainda. As árvores e as folhas ainda úmidas da chuva de mais cedo trazia ao ar um cheiro gostoso, mas o ar congelante fez Lavínia se encolher no moletom.

Viviene inalou o ar gelado.

— Isso foi a ideia mais estupida de todas as ideias estupidas. — ela falou.

Stiles bufou.

— Então deveria ter ficado em casa. — ele retorquiu.

— E viver com a culpa de que vocês, seres que partilham um único neurônio, morreram tragicamente sem eu ter, heroicamente devo acrescentar, os salvado? — ela falou, enfiando a luz na cara de Stiles, fazendo-o se encolher. — Nem pensar.

— Heroicamente — zombou Stiles.

— Eu poderia estar dormindo. — interrompeu Lavinia num resmungo, mal humorada. — Mas nãooo...

— E eu preciso dormir para o treino de amanhã — concordou Scott, tropeçando nos galhos.

— Certo, porque sentar no banco é um esforço extenuante. — falou Stiles sarcasticamente.

As botas de Lavínia sumiam enquanto ela pisava na folhagem que cobria o terreno. As lanternas iluminavam precariamente o caminho a frente.

— Não — negou Scott —, porque esse ano eu entro para jogar. Na verdade, serei titular.

— Continue assim que você vai conseguir. — falou V, sorrindo, parecendo sincera.

— Esse é o espírito! — zombou Stiles.

— Isso aí, Scottie — falou Liv, sorrindo. — A esperança é a última que morre.

— Todos tem que ter sonhos — falou Stiles. —, mesmo que sejam pateticamente irreais.

Scott balançou a cabeça e Lavínia riu.

— Só por curiosidade — falou Scott —, que metade do corpo estamos procurando?

Stiles parou de andar por um segundo e Lavínia sentiu uma vontade incontrolável de dar um tapa na cabeça dele — de novo.

— Para falar a verdade nem pensei nisso.

Lavínia bufou.

— Me deixe adivinhar, você também não pensou no fato que: se tem um corpo pela metade, o quem ou o que, que o mutilou e o cortou ao meio, ainda pode estar solto pela floresta? — indagou Viviene de olhos estreitos.

— Outra coisa que eu não pensei — falou Stiles.

— Por algum motivo isso não me choca — retrucou Liv secamente.

A frente deles um morrinho de terra se erguia, e frustrada, Lavínia o subiu, sentido a terra grudar nas unhas e nas roupas.

— É reconfortante saber que você planejou tudo. — resmungou Scott, já ofegando.

— Eu sei. — respondeu Stiles, a voz zombeteira.

Ao chegar no topo, Lavínia bateu as mãos na tentativa de tirar a terra que ficou grudada na palma. Ao encarar o horizonte, Liv viu pequenos pontos de luz e ouviu barulhos semelhante a latidos. Se eles nos pegarem aqui...

— Olha — a voz de Scott soou tão ofegante que Lavínia teve que virar. O garoto estava encostado no tronco de uma árvore e tirava do bolso do moletom a bombinha de asma. Viviene estava ao seu lado, as feições preocupadas obscurecidas pela falta de luz. —, talvez o asmático devesse segurar a lanterna?

Ao ver que ele estava relativamente bem, Lavínia tratou de se abaixar no chão, em frente a um galho de árvore que formava um arco no ar, vendo a polícia se aproximar. Os três se jogaram ao seu lado, espremidos uns contra os outros. V e Stiles rapidamente trataram de desligar as lanternas. Era uma situação tão ridícula que Lavínia por um segundo quis rir.

— Se eles pegarem a gente aqui... — Liv verbalizou seus pensamentos baixinho, vendo os pontos de luz começarem a se aproximar.

Os cachorros começaram a latir mais alto e Stiles se empertigou. Num pulo ele se levantou. Lavínia o seguiu no mesmo estante, pulando o galho e correndo atrás dele.

— Liv! — V ganiu. — Stiles!

Se esgueirar pela floresta a noite era relativamente fácil para Lavínia. Se ela abrisse a mente, poderia considerar aquela corrida um capture a bandeira onde o time inimigo eram os policias. Mas com Stiles correndo a frente, ela não poderia fazer muita coisa — considerando que ele tinha a graça e a sutileza de uma manada de elefantes. Lavínia nem sabia exatamente o motivo dele estar correndo, mas assim que ele parou, ela não conseguiu frear a tempo e trombou nele com força.

Inesperadamente um latido soou a sua esquerda e uma luz a cegou. Com o susto, Lavínia foi para trás, tropeçou em um galho e caiu, levando Stiles consigo.

— PARADO! — Lavínia piscou, desviando o olhar da lanterna que ainda a cegava. — Espera! Mais que m... esses delinquentes aqui são meus!

A lanterna apagou e Lavínia demorou alguns segundos para conseguir enxergar normalmente. Ao olhar para cima, ela se deparou com Xerife Stilinski de cabelos úmidos e uniforme. Os polícias ao redor se dispersavam lentamente, arrastando consigo os cachorros nervosos.

Lavínia abriu seu melhor sorriso. O que não fez muito efeito já que ela estava estabacada no chão com Stiles colado ao seu lado, atordoado.

— Olá, Xerife — falou Liv alegremente. — Como vai nesse belíssimo fim de dia?

Noah estreitou os olhos.

— MCGARRETT! — berrou ele. — Sua delinquente tá aqui!

Usando Stiles como alavanca, Lavínia se levantou, espanando as folhas da bunda e das coxas, segurando a careta ao sentir a umidade na parte de trás do moletom e da legging.

— Então você escuta todas as minhas ligações? — indagou Noah a Stiles.

Nick surgiu atrás do xerife de cenho franzido.

— Não — respondeu Stiles, conseguindo soar insultado, sacudindo a cabeça igual um cachorro. Lavínia fez uma careta ao sentir os respingos de água suja no rosto. Com o olhar fixo de Noah, Stiles suspirou. — Não as chatas. — confessou.

— Você não deveria estar dormindo? — indagou Nick, a sobrancelha subindo.

Lavínia encolheu os ombros.

— Sabe como é... — respondeu ela.

Nick olhou para cima, como se pedisse paciência aos céus — fora isso ele não parecia muito surpreso. Já Noah respirou fundo e encarou ao redor.

— Onde está o resto da gangue Scooby? — indagou ele, tentando espiar a noite escura pelo ombros de Liv.

— Quem? — retrucou Stiles, numa voz falsamente confusa. — Scott e V?

Entrando na onda, Lavínia sacudiu a cabeça.

— Scott com certeza deve estar em casa, dormindo.

Stiles anuiu.

— É, ele falou que queria ter uma boa noite de sono para o primeiro dia. — emendou Stiles.

— Ele quer ser titular no lacrosse esse ano, sabe. — completou Lavínia. — Tá esperançoso. Já a V eu não faço ideia.

Stiles colocou a mão na cintura e balançou a cabeça.

— Somos só nós. Na floresta. Sozinhos.

Lentamente, Lavínia virou o rosto para Stiles, encarando-o friamente. O garoto encolheu os ombros. Ao voltar o olhar para frente, Lavínia se deparou com a expressão cética de seu pai. Ela sabia que ele sabia que ela estava mentindo, mas ela também sabia que ele não daria com a língua nos dentes.

O xerife ligou a lanterna e apontou para a escuridão atrás deles.

— SCOTT! VIVIENE — gritou Noah. Lavínia queria desesperadamente olhar para trás para tentar localizar os dois, mas sabia que isso acabaria entregando a mentira, então segurou o seu desejo e encarou seu pai. A lanterna do xerife deslizou para o outro lado. — Viviene? Scott?

Quando nada aconteceu, Noah desligou a luz e deixou o braço cair ao lado do corpo com um suspiro resignado. Enquanto guardava a lanterna no cinto, ele falou:

— Você continua, McGarrett — Noah girou e se enfiou entre Liv e Stiles, colocando suas mãos geladas e úmidas no pescoço deles. — Eu acompanharei os jovenzinhos até o carro.

Incrível.  


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Notas finais do capítulo

O próximo capitulo sai em breve. ♥



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