Redenção escrita por Boadicea


Capítulo 5
Parte I - Terceiro Dia (continuação): Sonhos e Desilusões


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, eu quero pedir desculpas pelo meu sumiço repentino.
De todo o meu coração, eu nunca quis demorar tanto para voltar a atualizar e muito menos pensei em desistir, abandonar.
Eu imagino que 2020 tenha sido um ano difícil para todo mundo, o que me inclui. Fora a pandemia e todos os problemas diretos e indiretos que ela trouxe, eu tive uma série de problemas pessoais que fizeram com que eu me afastasse daqui. Daqui e de muitas outras coisas que eu amo.
Eu realmente estive mal durante esses meses e não conseguia me sentir bem com as coisas que escrevia, parecia que nada estava minimamente bom o suficiente. E eu tinha receio de voltar a interagir com as pessoas, de voltar à ativa de coisas que me fazem ser quem eu sou.
Eu não diria que estou ótima porque, para começar, acho que isso não é possível.
Mas estou melhor agora e me sinto verdadeiramente bem por estar aqui novamente.
Então, por favor, me desculpem pela demora.
E, se alguém desistiu de acompanhar a fic por conta disso, eu entendo perfeitamente. Mas ficaria feliz se continuassem comigo nessa jornada.
Bom, eu também gostaria muito de agradecer a todos vocês.
Cada comentário, favorito... Tudo isso me inspira a seguir em frente, me ajudam a não desistir e me fazem muito feliz ♥
Então, muito obrigada por todo o apoio.
Agora, sem enrolar mais do que já enrolei... Vamos ao capítulo:



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Parte I: O Florescer da Primavera em meio a Escuridão

— Isto aqui é Konoha? – pergunto de forma atônita assim que chegamos perto do que supostamente é a vila em que nasci.

Sarada olha na minha direção e assente levemente, enquanto faz um gesto com a mão, indicando para eu subir o capuz do manto por sobre a cabeça. Ah, o que esta garota está pensando? Por acaso ela acha que sou um idiota? Tsc, é claro que eu não iria entrar neste lugar de cabeça erguida, como se minha presença aqui fosse a coisa mais normal do mundo.

— Imagino que esteja bem diferente da época que você e a mamãe tinham a minha idade, mas... Em essência, tenho certeza de que ainda é o mesmo lugar.

Mais uma vez, ela pega na minha mão, tão casualmente quanto se eu realmente fosse o pai dela – ou talvez um irmão mais velho -  e me puxa em direção a esse lugar esquisito, cheio de construções em formatos estranhos e com pessoas demais andando para lá e para cá, aleatoriamente.

Não importa o que essa garota que corre na minha frente diz, não tem como isso ser Konoha. Para começar, tem o dobro de tamanho. E, principalmente, está inteira. Não está reduzida a pedaços através de minhas mãos, como deveria estar.

Não consigo entender o que está acontecendo aqui e essa menina não para de me puxar e correr por aí, cumprimentando alegremente várias pessoas pelo caminho, mesmo que seja esperta o suficiente para não parar para conversar com nenhuma delas. Mesmo assim, é impossível não perceber o olhar de curiosidade que lançam em minha direção; uma figura negra pairando atrás de uma menina sorridente demais.

Paro bruscamente e puxo minha mão de volta, cansado dessa palhaçada toda, mais uma vez.

Mas que porra está acontecendo aqui? Onde diabos nós estamos, de verdade?

Consternado e prestes a gritar com ela, ergo meu olhar para analisar melhor os arredores da vila, procurando por uma característica tosca e inconfundível.

— O monumento dos Hokages – murmuro, enquanto encaro, estupefato, os rostos esculpidos nas rochas. Porque o fato dessa pedra existir confirma a teoria absurda de eu estar em Konoha, confirma que a vila virou esse lugar esquisito e que eu não a destruí. Eu, Sasuke Uchiha, não cumpri minha vingança e destruí a vila que forçou os sacrifícios de meu irmão. Eu falhei em vingar a morte da pessoa que mais me amou nessa vida, falhei em destruir o motivo de toda a desonra a que meu clã foi obrigado a se submeter.

Mas, como se já não bastasse um absurdo desses, em meio as rochas eu vejo um rosto conhecido até demais: Naruto Uzumaki.

Impossivelmente, logo após o rosto que acredito ser de Kakashi, é o sorriso daquele idiota que está esculpido à cima da vila.

— É mesmo impressionante, não? – ouça-a falar ao meu lado, a voz tão doce quanto a de uma certa criatura irritante de cabelos róseos – Todos esses ninjas incríveis pairando à cima de nós, como uma lembrança constante de que a vila sempre vai ter quem lute por ela. Como um incentivo para que cada um de nós continue sempre dando o melhor de si.

Desvio o olhar das rochas, finalmente olhando para ela. Agora, não é o doce tom de sua voz que me faz desviar o olhar, irritado com o quanto se parece com a Sakura. O que me faz olhá-la é o tom sonhador que permeia cada uma de suas palavras, como se este monte de rochas com rostos desprezíveis esculpidos fosse mesmo a coisa mais incrível do mundo.

Como essa garota pode ser minha filha?

De todo o tempo que passei aqui, de todas as coisas absurdas que eu ouvi, essa é a mais ultrajante de todas: uma Uchiha admirando os responsáveis pela vida miserável que tivemos.

— O que pensa que está dizendo? - Minha voz sai ríspida e raivosa, mais alta do que deveria. Alguns transeuntes param e olham em nossa direção por alguns segundos, mas não me importo. Quero que todos eles se fodam juntos com essa vila odiosa. Não, não. Eu quero foder com a vida de cada um deles, ouvir seus lamentos enquanto imploram por uma misericórdia que nunca virá.

Por acaso houve misericórdia para meu irmão, que teve que matar sua própria família?

Por acaso houve misericórdia para mim, quando me tiraram tudo?!

Cada uma dessas vivas almas que sorriram e continuam vivendo às custas do sofrimento do meu irmão... Eu irei fazê-las pagar!

Assustada, Sarada me olha confusa, sem parecer entender o que quero dizer. Mas quem não entende nada aqui é ela.

Agarro os seus ombros e a empurro contra a parede dos fundos de uma loja qualquer, determinado a sacudi-la até que ela entenda.

— O que foi que você disse? – repito, olhando-a amargamente. Por um momento, seus olhos se arregalam de medo e surpresa pela minha brutalidade. Oh, brutalidade. Ela acha que isso é violência? Bem, ela ainda não viu nada. Mas vou fazê-la ver, com certeza vou.

No entanto, o medo em seus olhos dura apenas alguns instantes, sendo logo substituído por um olhar determinado e que claramente está desafiando o perigo a um nível que ela não é capaz de lidar. O brilho de determinação em seus olhos e a forma como ela levanta o queixo em desafio, mesmo que seus lábios estejam tremendo levemente frente ao perigo que ela sabe que está correndo, mas finge não se importar... É como ter a Sakura em minha frente, e não essa garota. Se eu estreitar um pouco mais meus olhos, tenho certeza que verei cabelos excessivamente rosas e olhos verdes ao invés do negro profundo dos Uchihas.

Sakura. A menção à essa irritante me faz finalmente perceber o que há de errado com a garota em minhas mãos.

Sakura é o que há de errado com ela, absolutamente. Aquela irritante com certeza encheu-a de amor e carinho, como um criança normal deve receber. Mas ela não é uma criança normal, é uma Uchiha, um criança perdida de um clã que foi dizimado. Como pode haver amor para uma pessoa assim? Como poderia haver amor para mim quando eu era como essa menina?

Apesar de tudo, começo a rir. Solto uma leve risada que, quando me dou conta, já virou uma gargalhada. Porque, sim, isso é tão ridículo que é a cara da Sakura.

Não há como ter a menor dúvida de que ela criaria uma filha sua para ser o mais bondosa e amável possível, que ela ensinaria a criança a amar essa vila tanto quanto ela. Sim, ela com certeza criou Sarada para ser a melhor pessoa existente.

Se eu tivesse que apostar, eu diria que ninguém nesse lixo de Konoha teve uma educação tão doce e perfeita – embora rígida nos momentos certos – do que essa menina. Se eu tivesse que apostar, diria que nenhuma criança nesse lugar maldito foi mais amada do que a garota que seguro com tanta força.

Ingênua. Sakura continua tão ingênua quanto quando éramos genins, não aprendeu nada mesmo depois de se casar comigo. E como eu posso realmente ter me casado com ela? Como eu me casei com alguém que continua querendo amar desesperadamente as pessoas ao seu redor?

— Nunca mais repita um absurdo desses – sussurro, afrouxando um pouco o aperto em seus ombros. Mas sequer tenho a chance de continuar a falar alguma coisa porque Sarada aproveita a oportunidade para guiar suas mãos em direção ao meu corpo. Surpreso pela audácia dela, deixo que seus punhos acertem em cheio meu estômago e sou jogado alguns metros para longe. Tsc, quem essa garota pensa que é? Me levanto depressa, querendo evitar a proximidade com as pessoas da rua, mas ela não está mais lá: minha suposta filha saiu correndo para longe e me deixou sozinho. Até mesmo ela se foi.

Não importa.

Por mais diferente que este lugar esteja, eu sei de cor a direção do Distrito Uchiha.

Porque o caminho para casa é algo que nunca esqueci.

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Apesar de ainda sentir meu corpo levemente dolorido pelo toque daquela menina, posso comemorar a audácia dela: as correntes restritivas de chakra se partiram ao meio com o golpe.

Apesar disso, deixo um sorriso mínimo escapar por entre os meus lábios ao pensar no ataque dela: ao menos ela possui coragem, tenho que admitir. E também agradecer por ela estar com uma das algemas no pulso, ou ser atingido diretamente por um soco dela em toda sua potência poderia ter me deixado mesmo em uma má situação – se a Sakura é a mãe dela, a força bruta desta garota é algo que prefiro não testar de perto.

Com aquelas correntes malditas finalmente longe dos meus pulsos, posso sentir o meu chakra fluindo novamente pelo meu corpo. Mas assim que passo pela entrada do Distrito Uchiha sinto também um outro chakra, inacreditavelmente parecido com o meu, mas bem mais forte e carregado – se é que algo assim é mesmo possível.

Ouço o barulho familiar dos pássaros pouco antes de quase ser atingido pelo Chidori. Desvio para o lado bem a tempo, evitando o ataque por milésimos de segundos. Desperto o Sharingan em meus olhos, mas de repente minhas costas batem com força contra o tronco de uma árvore e sinto a pressão da lâmina de uma katana em minha garganta.

— O que diabos você pensou que estivesse fazendo andando pela Vila?

— O você pensa que está fazendo me atacando desse jeito, seu...

— Se você chegar perto da Sarada de novo, eu mato você. – ele pronuncia as palavras lentamente, os olhos negros fixos nos meus.

De todos os momentos que passei aqui, é neste que mais acredito que este homem pode ser alguma versão futura minha. Que realmente podemos ser a mesma pessoa, que há uma ligação entre a existência dele e a minha.

Porque o ódio queimando mortalmente em seus olhos é o mesmo que vejo nos meu rosto todos os dias.

— Não fale como se pudesse – cuspo as palavras e ergo uma das pernas, atingindo-o com um chute nas costelas, ao mesmo tempo que já flexiono a perna direita saltando para cima de um dos galhos da árvore. Levo minhas mãos às costas, procurando por minha katana, mas não encontro nada. Aquele ordinário está com ela e já avança novamente em minha direção, mas desta vez estou preparado.

Movimento rapidamente os dedos, fazendo os selos, e sopro uma bola de fogo assim que ele chega mais perto. Mas novamente ele reaparece atrás de mim e mal consigo desviar de outro golpe seu quando vejo seus punhos vindo de encontro ao meu rosto.

De repente, uma mão delicada se interpõem entre mim e os punhos deste homem. Tsc, como se eu precisasse que ela me protegesse.

— O que vocês dois pensam que estão fazendo? – Sakura diz enquanto encara o que supostamente sou eu no futuro, a irritação mais do que evidente em sua voz.

Apesar da sua interferência e da minha vontade de acabar com a raça desse cara, o que mais me irrita nisso é o fato de que os olhos dela permanecem concentrados nele, como se lhe desse uma bronca silenciosa.

Mesmo achando que ele merece mesmo ouvir um sermão dessa irritante, mesmo que apenas através de olhares, não posso aceitar a audácia da Sakura em virar as costas para mim. De preferir dar atenção primeiro a este homem que nem sequer deve ser mesmo real, do que a mim. Por acaso ela esqueceu quem eu sou?

— Qual dos dois destruiu meu jardim? – ela torna a falar, desta vez finalmente se virando para me olhar. Olho de relance para trás de mim e vejo alguns pontos de queimado entre a grama e as flores, algumas chamas ainda lutando contra o vento para se manterem acesas, mas nada que seja realmente notável. Exceto pelo fato dessas plantas existirem, isso sim é o absurdo aqui.

Mas, apesar disso, não me surpreendo com sua fala. Porque é mesmo a cara dela se preocupar com algo tão insignificante. Essa sim é a Sakura que conheço, de que me lembro.

— Eu deveria socar os dois por esta atitude irresponsável. Vocês poderiam ter destruído o lugar! Ou chamado a atenção de algum ninja das redondezas ou mesmo um ANBU... Mas não estamos com tempo para isso. Já está quase escurecendo e prometi a Sarada que teríamos um jantar em família.

Franzo as sobrancelhas, confuso. Por um segundo quase rio. Isso só pode ser uma piada certo?

— Você não pode estar falando sério – digo ao mesmo tempo que o meu suposto outro eu e trocamos um olhar enojado. Mas, jantar? A Haruno realmente enlouqueceu desta vez?

— Sakura, de todas as coisas...

— Pode parecer meio bobo, mas ela é apenas uma criança. Uma criança chateada com as atitudes de um pai superprotetor – ela diz olhando feio para aquele imbecil, então volta seu olhar irritado para mim, também – E assustada com as ações de uma versão mais jovem e revoltada do próprio pai. Talvez uma refeição pareça risível em um momento estranho desses, mas não sei como explicar essa situação à ela. Acho que seria inusitado e talvez uma aposta mais interessante se ela pudesse ter uma imagem minimamente civilizada de vocês. Sarada merece isso.

— Você perdeu mesmo a cabeça se acha que vou ficar parado em torno de uma mesa brincando de casinha com vocês... – começo a dizer, mas sou interrompido por aquele idiota carrancudo. Como esse cara pode mesmo ser eu?

— Tem razão. Vou arrastá-lo para um lugar onde seu ódio não possa mais ferir ninguém importante para mim – ele novamente aparece à minha frente, com a katana mais uma vez pressionando minha garganta. Sinto meus olhos rodopiarem e cerro os dentes, com raiva da ousadia deste infeliz, mas sinto o toque gentil de Sakura em meu ombro antes que eu possa ativar o Susanoo.

Ela mantém uma mão apoiada em um ombro de cada um de nós, gentil, porém firme: não parece mesmo disposta a presenciar uma briga entre nós.

Olho para a mão que repousa no ombro deste suposto eu do futuro e cerro os dentes com ainda mais raiva. Ela o toca com tanta naturalidade que meu estômago chega a se revirar, contrariado e enojado. Como ela ousa me tocar da mesa forma com que toca este homem? E se ele é mesmo eu, como ela ousa agir com tanta intimidade, como se um simples toque não fosse nada demais?

Além disso, ela acha mesmo que pode me parar? Acha que pode me impedir se eu decidir acabar com essa palhaçada toda aqui e agora, matando os dois?

— Sasuke-kun, já chega. Eu assumo daqui. Quero conversar um pouco com ele antes que algo problemático aconteça e você sabe que não é muito bom com as palavras. Me deixe cuidar disso.

— Sakura, você não entende... Isso não está aberto a discussões. Não posso arriscar que algo lhe aconteça.

Ela sorri gentilmente para ele e diz:

— E desde quando eu sou uma mulher fraca que pode ser facilmente atingida? Ficaremos bem, não se preocupe. E vamos subir em um instante, prometo.

Ele me encara mortalmente por alguns segundos, como se estivesse tentando me intimidar. Babaca. Não é possível que esse cara seja realmente eu. Então suspira e desaparece, lançado um último olhar preocupado em direção à rosada.

— Eu preferiria ter uma longa e sincera conversa com você, mas não acho que este seja o momento. Além do que, acredito que ainda possamos ter tempo para isso. Sasuke-kun, sei que você deve estar confuso com toda essa situação, mas preciso pedir que tenha calma. Até entendermos isso melhor e descobrirmos uma forma de mandar você de volta, você precisa tomar cuidado com suas ações; não quero ter de recorrer à uma atitude drástica, mas tenho minhas dúvidas sobre o quanto você deve ficar perambulando por aí. Seria melhor se ficasse apenas por aqui, no Distrito.

Por alguns segundos, apenas olho para ela, absorvendo suas palavras. Sei que é redundante, mas quantas vezes terei que me repetir?

— Atitudes drásticas? – permito que uma breve risada escape por meus lábios, o que só a faz estreitar os olhos ainda mais em minha direção – São vocês quem precisam tomar cuidado. O único motivo para eu não ter acabado de vez com isso é o fato de eu ainda estar tentando entender essa situação absurda.

— Com acabar com tudo você se refere a atacar a vila? Não seja idiota. Você é apenas um contra inúmeros ninjas. Além do que, anos se passaram desde essa sua versão que está aqui falando comigo. Todos que você conhece estão muito mais fortes.

— E você acha mesmo que isso faz diferença? É só uma questão de tempo até que eu faça tudo queimar eternamente!

Ela dá um passo para trás, o que me faz pensar que ela finamente está começando a cair em si e entender a situação. Mas então ela se aproxima de mim de novo, apoia as mão levemente em meu antebraço e diz na voz mais irritantemente doce possível:

— Você não precisa se fingir de forte o tempo todo. Além do que, Sasuke – kun, se você realmente acreditasse nas suas palavras, se realmente fosse capaz, já teria feito. Você estaria me atacando neste exato momento ao invés de tendo uma conversa amigável.

Ela solta meu braço e começa a caminhar lentamente em direção à minha casa, que agora ela ocupa tão despreocupadamente, enquanto tudo o que quero é terminar o que comecei na ponte, dias atrás, naquela realidade que ainda fazia sentido. Tudo o que quero é fazê-la provar de suas palavras, fazê-la entender de verdade.

Mas então ela para de repente e se vira para mim, abrindo um sorriso exagerado, e diz:

— Não se preocupe com nada esta noite, vou pedir para que a Sarada leve seu jantar no quarto e para o Sasuke-kun te deixar em paz. Mas é bom você estar de pé amanhã cedo para me ajudar com o jardim, já que eu sei que foi você que utilizou o jutsu bola de fogo.

Mais uma vez, tenho vontade de estrangulá-la, mas ela desaparece de minhas vistas antes que eu possa sequer me mexer.

Consternado com essa situação toda, ergo meus olhos para cima e o vejo escorado na varanda de uma casa aqui perto, os olhos acompanhando cada movimento meu.

Fervendo em ódio, rumo para casa, pois ela é minha e não desse homem metido a besta que supostamente sou eu. Porque ele não tem o direito de me expulsar de lá e porque é melhor mantê-lo sob minha vigilância do que distante.

E não porque eu esteja obedecendo aquela irritante. É claro que não, isso eu nunca faria.

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 Estou vasculhando os frascos em cima da bancada do quarto em que acordei, dias atrás, quando a porta se abre silenciosamente.

Sarada para por um breve instante, como se estivesse analisando minhas intenções, então passa para dentro e fecha a porta novamente.

— A mamãe sabe que você está mexendo nas coisas dela? – ela pergunta de forma levemente autoritária, arqueando uma das sobrancelhas.

— Esta é a minha casa.

— Talvez seja no seu tempo, mas neste momento ela é nossa – ela diz lentamente, os olhos brilhando em desafio, mas desvia o olhar quando vê a raiva atravessando meu rosto de novo.

—  Eu fiquei surpresa lá na vila. Normalmente você é sempre tão... indiferente, que nunca pensei que pudesse ter um acesso de raiva daqueles.

— E você é sempre tão falante quanto a Sakura? – digo, bufando de irritação. Apesar da aparência dela, sempre que essa menina abre a boca, é na Haruno que eu penso. Se ela é mesmo minha filha, como pode ter puxado tanto para aquela irritante?

Ela herdou muita coisa da Sakura, porém preciso admitir que não tudo. Porque essa menina não parece fantasiar sentimentos em mim, não parece ficar procurando por emoções que há muito tempo deixaram de existir. Indiferente. Ao menos há um pouco de realismo por detrás do ar sonhador dela.

Mesmo assim, não posso deixar de sentir um aperto no peito. Indiferente? Isso era o que eu pensava sobre o meu pai. Se eu tivesse uma filha, ela realmente me veria desta forma?

E que importância isso tem?

— Na verdade, não. Você é quem é calado demais. Tanto este você quanto o meu papai.

Abro um sorriso de canto, involuntariamente reagindo a esta garota. Ela sempre tem uma resposta na ponta da língua?

— Vá embora logo e me deixe em paz.

— Já disse, você me surpreendeu lá na vila. Eu não estava esperando por uma reação daquelas... – ela murmura, se escorando na porta atrás de si.

— Você também. Se é mesmo minha filha, se é mesmo uma Uchiha, não deveria falar daquele jeito sobre algo tão desprezível quanto os Hokages.

Ela franze as sobrancelhas, como se não conseguisse entender bem o que estou tentando dizer.

— Desprezíveis? Não fale desta maneira! Além do que, foi você mesmo quem disse que ficava feliz em saber que quero seguir os passos do Tio Naruto. Você disse que ficava aliviado porque isso significa que não vou cometer os mesmos erros que você.

Mais uma vez, deixo uma gargalhada escapar por meus lábios, reverberando por este cômodo.

Como eu posso ter uma filha que decide seguir os passos daquele idiota? E Tio Naruto? Uma merda dessas só pode ser coisa da Sakura, de novo. 

Mas mais do que isso.... Que porra de realidade é essa onde eu fico  feliz por ouvir uma coisa dessas?

Só pode ser uma piada de mal gosto. Muito mal gosto.

Mas a última frase dela ressoa por minha cabeça, como um lembrete sutil do meu fracasso. "Não vou cometer os mesmos erros que você."

Mesmos erros que eu.

Mas quais são esses erros?

Ter aceitado viver em Konoha por um tempo e feito parte do time 7? Ter desperdiçado tempo vivendo entre esses traidores?

Ou... Matar Itachi, a pessoa que mais me amou durante toda a minha vida?

Ou talvez o grande erro seja não dconseguir destruir Konoha.

Porque até agora, falhar é tudo que tenho feito, mesmo que admitir isso seja mais doloroso do que um golpe dreto do Susanoo.

Transformei meus sonhos e objetivos em meras desilusões e não sei se ainda posso concertar isso.

Ou se ela pode.

— Qual seu objetivo? – pergunto, prendendo a respiração ao esperar desesperado por uma resposta.

Será que eu fracassei tanto em minha vida que tive uma filha só para foder com a vida dela ao jogar tudo nas suas costas?

— O que tenho não é um objetivo, mas um sonho que vou transformar em realidade, custe o que custar - franzo as sobrancelhas, preocupado, porque este começo é parecido demais com um certo discurso meu. Ela para por um instante e me encara fixamente antes de continuar -  Eu serei Hokage. Dedicarei minha vida a proteger a vila, serei a ninja mais forte e uma das únicas mulheres a desempenhar este papel, como a Tsunade-sama. E, um dia, terei meu rosto escupido nas rochas também. Porque, não importa o que aconteça, um dia eu me tornarei Hogake!

 Sinto meu corpo todo endurecer mediante suas apalvras.

Hokage?

Uma filha minha dedicando sua vida a proteger Konoha? 

Qual é o problema dessa realidade ridícula?!

Mas, mesmo contra minha vontade, uma imagem se forma em minha mente.

Sarada com longos cabelos negros, já mais velha, com um sorriso confiante no rosto enquanto coloca o chapéu vermelho e branco de Hokage, com a versão mais feliz que já vi da Sakura ao seu lado, a abraçando orgulhosa.

Mas não há espaço para um vingador como eu em uma cena como essa. 

Ela me encara decidamente por mais alguns segundos, então vai embora de novo. Quero agarrá-la e dissuadi-la dessa ideia estúpida, quero gritar que ela é uma Uchiha e deve honrar o sangue em suas veias.

Mas tudo o que consigo fazer é continuar petrificado no mesmo lugar, com aquela imagem idiota se repetindo por detrás das pálpebras.

Quando finalmente me deito na cama e fecho os olhos, ainda é a mesma visão que assombra meus sonhos.

Algo assim é possível?

Hey, Pai, você e nosso clã teriam desistido de dar um golpe de Estado se pudesse ter uma neta Hokage?

É o suficiente para restaurar o nome Uchiha?

Hey, Nii-san, você pode vê-la? Eu gostaria que você pudesse estar aqui também quando o rosto dela for esculpido nas rochas. Como o seu deveria ter sido.


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Notas finais do capítulo

Nossa, essa cena da breve luta dos dois Sasuke's foi meio tensa, pois nunca escrevi cenas de ação, hahahah. Mas espero que tenham gostado ^-^
Próximo capítulo sairá logo, logo e será focado no Sasuke (Shippuden) e a Sakura.
Beijos e até ♥



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