Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 7
7 - Eu odeio futebol


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem? :3

Dessa vez não demorei tanto, não é? Fico bem feliz por ver que tem pessoas lendo a minha fic, espero que estejam gostando.

Desejo uma belíssima leitura.



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Capítulo sete
        Eu odeio futebol

“Eu não sou besta pra tirar onda de herói
Sou vacinado, eu sou cowboy
Cowboy fora da lei
Do Durango Kid só existe no gibi
E quem quiser que fique aqui
E entrar pra história é com vocês.”
(Cowboy fora-da-lei – Raul Seixas)

Não sei por quanto tempo eu fiquei digerindo tudo aquilo que ele me disse, desde ter dito que fez aquilo para me defender até a parte do jogo, mas foi o suficiente para a minha amiga estar me procurando e ter tentado ligar várias vezes. Parecia uma mãe.

“Onde você está, Elisa? Estou na sala do professor e nada de você.” — Alison.

Apenas respondi que era no campo de futebol e não deu nem cinco minutos para ela aparecer na minha frente, os cabelos revirados denunciavam que deveria ter andando em todo canto possível. Isso significava uma coisa, lá vinha sermão.

— O que foi fazer aqui? Deveria ter ficado de repouso e quietinha. — E já chega sem nem perguntar se estou melhor?

Ela sentou ao meu lado e percebi que olhava para o meu joelho enfaixado, talvez vendo se estava tão péssimo quanto imaginava. E pelo tanto que é dramática já deveria ter achado que teria de amputar minha perna.

— Falar com o Daniel. — Fui o mais seca que pude na resposta para não a fazer mal entender mais ainda. Desde o recreio na sua cabeça deveria estar passando cenas dignas de Oscar acontecendo entre nós dois naquele lugar minúsculo.

— Já estão amigos é? — Que foi essa cara maliciosa de agora pouco? — Ou foi conversar sobre a relação? — Só pode estar me zoando.

— Se com relacionamento você diz brigas e eu quase o matando, aí pode ter até razão. — Um segundo depois dessa frase tinha sacado que deveria completar. — Somente fui questionar se ele teve a cara de pau de espalhar que havíamos nos beijado. — Falei tão rápido que nem sei se me entendeu.

— E? — Claro que ia querer tudo nos mínimos detalhes.

— Disse que sim, que me amava, eu correspondi e nos agarramos ali mesmo na frente de todo mundo. — Para falar uma coisa dessas foi preciso muita coragem. — Quando nos afastamos ouvimos as palmas e começaram a subir os créditos enquanto dançávamos na chuva. — Nessa hora ela estava era passando gloss e olhando o celular, zero atenção na minha história de conto de fadas.

— Deixa eu ver se entendi isso direito. Pelos menos fizeram a questão de ser a mesma coreografia? — Isso não poderia faltar e apenas assenti com a cabeça, fazendo-a rir de toda a situação antes de verificar alguma mensagem e se voltar para mim. — Minha mãe já está chegando para nos levar, dá para me contar que aconteceu?

— Não conseguiu manter o papel por muito tempo, não é? Quase acreditei que você achava mesmo que tínhamos ficado. — Ainda tenho minhas dúvidas pelo nível de sonhadora que é. — Ele comentou que respondeu nem que sim e nem que não quando perguntaram, que só fez isso para me defender e convidou para assistir ao seu jogo de futebol. — Parecia bem surpresa com o que fofoquei.

— Para de graça, Elisa! — Ferrou, ela ficou irritada.

Ouvimos uma buzina e um carro parando no estacionamento próximo ao estádio, era a nossa carona e as duas me ajudaram a me levantar dali e entrar sem ficar com algum outro hematoma. Felizmente tudo ocorreu bem.

— Sei que parece mentira, nem eu estou conseguindo acreditar no que ouvi sair daquela maldita boca, mas é a verdade. Foram com essas palavras “não precisa me agradecer, mas se for me ver no fim de semana estaremos quites”. — Tentei em vão imitar a voz dele.

— Parece algo que ele falaria. — Mesmo que sempre ficasse surpresa do quanto que minha amiga o conhecia, estava aliviada de que finalmente tenha acreditado em mim.

— O que estão cochichando aí, meninas? — Só de escutar a sua voz eu já fiquei feliz, era como uma mãe para mim.

— Sobre o namorado que ela arranjou. — Que foi esse ataque?

Nesse momento até desligou o som que tocava na rádio, que talvez era um pop da moda, e ficou um tempo olhando para a frente sem nem dizer nada. Bem, se estivesse no seu lugar teria a mesma reação, até porque se havia alguém que ia demorar a ter algo amoroso seria eu.

— Seu pai sabe? — O meu medo era real de que fosse até minha casa para ter um café da tarde com ele sobre esse assunto.

— O assunto era Daniel. — Respondi de imediato, vendo-a voltar a deixar outra música ressoar no ambiente.

— Então tudo bem. — Deu uma risada constrangida por saber que tipo de fama esse cara tinha e que se fosse dele que estávamos conversando não precisava se preocupar. Nós dois e algo romântico na mesma frase jamais existiria.

Apenas cantávamos enquanto eu me imaginava em um clipe aleatório conforme o gênero da música, que vinha desde sertanejo universitário a funk. Em um dado instante, mesmo que mínimo, pude ouvir rock dos anos oitenta nessa rádio.

Ally, sobre o Gabriel, desista dessa ideia por favor. — Resolvi encará-la, mas pelo jeito não surtiu efeito. — Esse problema é apenas meu e dele.

— Que mal tem em te ajudar? — Perguntou como se fosse o maior pecado do mundo pedir que caísse fora dessa.

— Eu não quero que ele faça a mesma coisa contigo. — Mesmo que fosse dito em sussurros, tinha notado que não estava de brincadeira.

— Fala de espalhar por aí que sou lésbica? E eu ligo? — Esqueci que estava se tratando dela, a “Senhora não me importo para que os outros pensam de mim”.

— Me ajude aqui, sua filha está querendo se meter onde não deve. — Falei para sua mãe na tentativa de tentar fazê-la parar com essa maluquice.

Até parou de balançar o cabelo ao som de um metal, isso enquanto ainda dirigia, e olhou para a gente pelo espelho do carro. Apenas pela sua expressão e forma que a pessoa ao meu lado fechou a boca, era de certeza que estaria encrencada quando chegasse em casa.

“Eu sou sua melhor amiga.” — Alison.

Simplesmente tentei ignorar.

“Esse babaca merece ser expulso, Elisa!” — Alison.

Quase amoleci com essa nova mensagem. Eu disse quase.

“Eu não quero mais te ver chorando.” — Alison.

Essa foi a gota da água para mim, não aguentava mais ficar tão calada. Vi que estávamos perto de onde eu moro para enviar a resposta, pois se ficasse mais tempo do seu lado saberia que ia contar tudo o que flagrei naquele dia.

“É por ele ser o idiota que é que não vai só espalhar boatos sobre você, porque todos sabem que não liga para fofocas. Aquele ali sabe jogar sujo, é disso que tenho medo. Esquece isso!” — Elisa.

— Está pálida. — Comentou depois de alguns segundos de puro silêncio, talvez quebrando ao perceber o quanto eu me sentia mal. —  Que sabe dele para ficar assim? — Meus olhos se arregalaram ao lembrar daquelas cenas e tentei a todo custo manter a boca fechada, mesmo que já tivesse quase a cortando de tanto que a apertava e quisesse desabafar depois de meses de angustia.

Era como se o tempo estivesse parado pelo tanto que me olhava, mas sentir o carro parando em minha casa fez ele andar. Amanhã teria sim de a encarar, mas pelo menos estaria mais preparada que hoje para a sua chuva de perguntas.

— Até amanhã. — Soltei rapidamente enquanto acenava em despedida. Mesmo que andasse com dificuldade queria que não viesse atrás, felizmente não chegaram perto, mas vi que saíram depois que cheguei a porta.

Ao pisar os pés naquela cozinha pude ver um arroz e bife a milanesa para comer, coloquei tudo no meu prato e sentei a mesa enquanto esperava meu pai para o almoço, mas mesmo que olhasse para todo canto não estava.

— Deve ser porque já são mais de uma da tarde. — Eu e aquela mania de falar sozinha. — Posso ouvir o podcast! — Falei para que as paredes fossem minhas testemunhas de que estaria quebrando alguma regra de não ver o celular nesse horário.

Quando estava para entrar na página pela televisão da sala o meu telefone toca. Confesso que tremi toda pensando se era ela querendo dar o sermão de cada dia, mas quando olhei para a tela era o Daniel. Não sabia se ficava aliviada com isso ou não.

— Por que videochamada? — Perguntei sem nem sequer o cumprimentar ao vê-lo do outro lado da tela, justo por querer até vomitar por ter que ficar conversando com ele até estando em meu cantinho seguro. De novo.

A live já tinha começado há uns 10 minutos e estava mandando uns beijos para algumas pessoas aleatórias, coisas que não me interessavam, no entanto ao ser comparado com agora até parecia o melhor assunto de todos. 

Eu gosto de ver seu rosto, já disse.É um cara de pau! Apenas vim avisar que está tendo vídeo naquele canal de crimes reais. — Pelo som que saia bem no fundo dava de ver que estava o assistindo também.

— Eu já sei. Era isso? Então tchau. — Juro que ia desligar, mas a sua expressão de algum jeito me fez paralisar e quase deixar a comida cair. — Que foi? Não quero receber spoiler que nem da outra vez.

A mulher estava falando sobre a vítima da vez, como ela passou a infância, sua família, a época escolar e todo o detalhe que podia sobre seu histórico. Que eu curtia era justamente o tanto que valorizavam quem faleceu, não o assassino.

Então se eu não falar quem matou podemos continuar a conversar? — Nem consigo se foi a maneira que perguntou, mas confesso algo que jamais direi em voz alta, que isso me surpreendeu. — Disse da outra vez por sua causa. — Quer colocar a culpa em mim? Sério? — Duvidou que poderia gostar desse assunto. — Era tudo sussurrado e fiquei com vontade de saber que reação tinha ao dizer essas coisas ao ponto de querer o olhar, coisa que não estava fazendo para evitar passar raiva, mas uma mensagem roubou minha atenção.

“Está bem, não irei falar com o diretor, mas isso se me levar para ver o jogo do fim de semana contigo.” — Alison.

Sai da aba da nossa ligação para ler direito a mensagem e me arrependi de ter dito sobre o convite para o futebol. Claro que seria a desculpa perfeita para me obrigar a ir e ainda poder secar homens gostosos sem ser julgada.

— Por que foi solto? — Praticamente gritei ao escutar uma parte do podcast que não tinha entendido, já que o que menos queria agora era retornar a minha amiga.

Olá, agora não vejo só uma testa. —  Respondeu depois de soltar uma risada ao voltar a colocar na nossa chamada. — É que passou no teste do poligrafo. — Ele sorrir me deixou mais vermelha ainda por cair a ficha do quão ridícula deveria estar. Será que apareceu a minha espinha?

— Era doido o quanto confiavam nisso, não é? — Fez um sim com a cabeça. — Não suspeitaram nem por um segundo que conseguiria mentir bem fácil? Até parece alguém que conheço. — Queria tirar aquela maldita animação dele, que apesar de não ter sumido estar calado era um sinal.

Na TV passava algumas imagens e mapas do lugar que aconteceu o delito, era tudo tão detalhado que até as casas dos vizinhos eram mostradas e o nome de alguns deles. Era um dos meus momentos favoritos, conseguia me imaginar na época e local do fato.

Elisa, me desculpa. — Por acaso ouvi certo?

Apenas observei a tela por um instante para ter certeza que estaria tirando um sarro de mim, mas novamente me peguei desprevenida, via sinceridade em seus olhos. Não, não se engane, estamos falando do Daniel.

— Pelo quê? — Tentei ser o mais grosseira possível para esconder que havia ficado um pouco mexida.

Por não ter dito que nada aconteceu entre a gente e estar machucada agora por causa disso. — É uma miragem? Só pode. — Mas ainda quero que vá me ver jogar. — Até tinham barulhos vindo da televisão, porém eram como chiados bem ao longe para mim. Ele tinha capturado minha atenção.

— Odeio futebol. — Estava séria, mas parecia que tinha falado asneira pela sua expressão. Até parou por um momento e pude pegar quando explicaram que pegaram amostra de DNA de um suspeito.

Isso é mentira! — Quem é para falar isso? — Te via em todas as partidas que eu participava, como pode dizer que detesta futebol? — Agora vem querendo explicações? E como assim sabia disso?

— É passado. — E quem vive disso é museu, não eu.

Nunca vai entrar na minha cabeça que alguém que torcia tanto pela gente diga uma idiotice dessas. O que houve? — Você aconteceu! — Na verdade ama, não é?

— Quem é para ficar falando o que é amor e não? Você não gosta de nada e nem ninguém. — Esse clima combinava demais com palavras como “morte”, “desmembrou” e “abuso” soltas de fundo pelas pessoas do podcast. — Eu disse a verdade, odeio esse esporte. — Falei com toda a vontade e raiva que podia.

— Então vá ao jogo e me prove que estou errado. — É um desafio? Aceito.

— Se puder levar a Alison estarei lá. — Emendei tão rápido que nem deu tempo de me arrepender, mesmo que depois quisesse desligar e jurar até o fim jamais ter prometido isso.

A Ally é uma gata! — Escutei uma voz que não vinha dele. — Cala a boca, te falei para ficar quieto. — Agora era o Daniel e fiquei querendo me enterrar e ficar atoladinha.

— O Mateus está aí? — Perguntei e já ouvia um “espera”, mas não tinha a menor vontade de obedecer. — Não acredito que colocou um de seus amiguinhos para ficar ouvindo nossa conversa. É para depois fofocarem e tirarem sarro de mim? — Nem ligava se ele estava paralisado ou tinha caído a conexão, não ia ficar aqui nem mais um segundo. — Prefiro que não responda, vou fazer o favor de deixar os dois a sós para falarem mal a vontade.

Eu só faço merda uma atrás da outra, como vai me aceitar naquele trabalho desse jeito? — Ainda consegui escutar isso enquanto estava desligando.

É tudo por causa desse maldito projeto. O pior é que não consigo entender o porquê de ficar insistindo tanto que seja minha cobaia para entrar na faculdade, pelo que sei ele vai ganhar até bolsa para estudar no exterior como atleta. Será que é algum plano para me humilhar? Esse imbecil me paga!


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Notas finais do capítulo

O que acharam desse capítulo? Estou ansiosa para os próximos.

Apenas para dizer que a gif não é minha, sim da atriz Lily Collins. Se tiver algum erro de português podem me falar.

Quero agradecer demais desde já a todos que deram a chance de ler esse capítulo, caso queiram comentar sintam-se a vontade, irei amar saber o que está achando e também opiniões do que querem para as próximas.



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