Março 2013

 Já fazia um mês que as aulas haviam começado. Eu, Igor e Sabrina andávamos juntos a maior parte do tempo juntos. O professor de história havia passado um trabalho em grupo para a semana seguinte e nós três estávamos na biblioteca depois da aula para organizarmos tudo para a entrega:

 –Então é isso. Eu apresento o desfecho da Segunda Guerra Mundial e a Sabrina apresenta o contexto da Guerra Fria. - Disse para os dois.

Alguém abaixou ao lado da nossa mesa e levantou com um lápis na mão. Era o menino do primeiro dia de aula. Ele sorriu pra mim:

 –Acho que deixou cair isso aqui. - Disse ele entregando o lápis pra mim. Eu neguei com a cabeça.

 –Não é meu. - Olhei para os meus amigos e eles também negaram - Talvez esteja enganado.

 –Que pena. Mas talvez pudesse usá-lo para me passar seu telefone. - Eu gargalhei.

 –Que golpe baixo. É assim que você chama a atenção de uma garota? - Ele continuava me encarando e sorrindo. - Eu não vou facilitar pra você. - Meus amigos encaravam a cena em silencio.

—Seu nome então. - Ele retrucou. - Eu mereço pelo menos isso. - Seus olhos verdes estavam me deixando sem graça pela profundidade com que me encaravam.

—A gente nunca conversou. Você não merece nada. - Ele fechou o sorriso por um segundo. -Entretanto, eu sou uma pessoa muito gentil. - Disse rasgando um pedaço da última folha do meu caderno, escrevendo meu nome e sobrenome e entregando para ele.

—Isso vale ouro. - Me respondeu balançando o papel. - Vou te deixar estudar agora. - E saiu

—Você é louca. Um cara gato desse e você se faz de difícil. Eu teria dado meu nome, telefone, endereço e o que mais ele quisesse. - Disse Sabrina incrédula. Ela era uma pessoa tímida no quando conhecia, mas quando se soltava…

—Exatamente. Ele é gato até demais. E tem cara de canalha. Eu prefiro tomar cuidado com esse tipo. - Respondi enquanto organizava a mesa. - Agora vamos terminar logo esse trabalho.

***

Assim que cheguei em casa e liguei o computador eu vi. Uma nova solicitação de amizade no facebook e um novo seguidor no Instagram. Renan Alvarez. Confesso que passei alguns minutos olhando as fotos do perfil dele antes de aceitar a solicitação. A última coisa que queria era deixar alguém se aproximar para que essa pessoa fosse embora, como aconteceram muitas vezes.

Eu aceitei tranquilamente as duas primeiras namoradas do meu pai e os três primeiros namorados da minha mãe, mas depois de uma certa idade, cansei de criar memórias com pessoas que sabia que iriam embora. Minha irmã mais nova, Fernanda, não entendia na maioria das vezes o porque as pessoas que começavam a fazer parte tão intensivamente das nossas vidas iam embora em algum momento. Ela sempre perguntava varias vezes porque eles não iriam mais se ver ou se ela tinha feito algo de errado para que fossem embora. Aquilo me partia mais o coração do que quando eles iam de fato.

Respirei fundo e aceitei as solicitações. Começar num novo colégio recusando contato humano não seria um bom indicativo do que viria pelos próximos três anos. O mais bizarro é que não tive nem tempo de repensar o que tinha feito, e uma caixa de diálogo subiu na tela.

Renan: Não tinha certeza se você iria aceitar a minha solicitação. Fiz algo errado.

Lorena: Acho que não estou acostumada como as pessoas me cantando daquela forma

Renan: Alguém linda como você? Acho difícil acreditar.

Confesso que corei com aquela mensagem.

 Lorena: Acredite se quiser, mas diríamos que não tenho uma fila de caras me aguardando.

 Renan: Acredite se quiser, de certa forma fico feliz em ouvir isso.