Sabrina teve que ir embora naquele mesmo dia a noite, pois precisava voltar para Belo Horizonte, já que ela não tinha conseguido todos os dias do feriado de folga do trabalho. Eu implorei que ela ficasse, disse que não seria nada sem ela e que sofreria horrores naquela viagem se ela não ficasse comigo, mas ela foi irredutível e partiu.

 Assim que a deixei na rodoviária, voltei para casa, subi as escadas, tomei um banho e deitei na cama para ler e descansar um pouco o corpo antes de me juntar a todos novamente. Ouvi uma batida na porta:

 –Pode entrar.

 –Morena, -Ele começou. Aquele apelido mexeu um pouco comigo, ainda mais que, pela forma como continuou a falar, pareceu espontâneo demais. - você sabe como abrir a porta do quarto Caíque? - Eu estranhei a pergunta e ele se explicou. - Lara e ele estão no nosso quarto há algumas horas, mas a porta do quarto dele está trancada e preciso tomar um banho. Todos os outros estão dentro dos quartos fazendo o mesmo. -Ri pelo nariz.

 –Os meninos sempre se juntam para pregar uma peça no Caíque, por ser o alvo mais fácil na visão deles. Tem alguns anos que ele tranca a porta do quarto que fica nas viagens por precaução. -Ponderei por alguns instantes. - Pode tomar banho no meu banheiro, se quiser.

 –Obrigado. - Respondeu ele abrindo um sorriso. Ainda bem que estava sentada, se não estivesse, precisaria. - Não vou demorar.

 Quinze minutos depois ele saiu do chuveiro apenas de bermuda, e a toalha sobre os ombros um pouco constrangido. Meus olhos escaparam do meu celular para analisar seu corpo. Todos os músculos bem definidos, passando pelo abdome, peitoril, seus lábios, que estavam sorrindo e por fim seus olhos, que me olhavam de forma brincalhona, com um pouco de malícia. Voltei a olhar para o celular:

 –Se eu tivesse te encarado dessa forma, me chamaria de tarado e ficaria brava comigo. -Disse ele. Sorri, ele ainda me conhecia… Era exatamente aquilo que faria. Voltei a olhar para ele.

 –Desculpe, eu… - Fiquei sem saber o que falar. -Foi indelicado da minha parte. - Ele assentiu sorrindo e foi em direção a porta. - Posso te fazer uma pergunta? - Soltei antes que alcançasse a maçaneta.

 –Quantas quiser. - Ele respondeu se sentando na ponta da cama aos meus pés.

 Eu sabia exatamente o que queria perguntar, mas não tinha coragem de fazê-lo naquele momento. Queria perguntar porque não respondeu minha mensagem sete anos atrás, porque fingiu que não me conhecia quando me viu, se nossos beijos tiveram o mesmo efeito sobre ele do que sobre mim, e muitas outras duvidas que passavam pela minha cabeça naquele momento, mas não conseguia:

 – Na verdade é só um comentário. - Disse depois de muitos segundos refletindo. - Achei muito adulto da sua parte não ter ido embora hoje quando viu a Lara na piscina com Caíque. Eu não sei se aguentaria.

 –Eu não tenho a tendência a fugir quando as coisas apertam. Deixo isso pra você. - Sua voz era calma, mas senti o tom acusatório em suas palavras, e aquilo apertou meu coração. - Além disso, não acho que fazer o birrento ajudaria na situação que eu e você estamos passando. -Eu assenti.

 –Entendo. Obrigada pela sinceridade. - Disse apenas, sem saber como reagir as duas indiretas que ele tinha me passado na mesma frase.

 –Minha vez de te perguntar algo. - Assenti e ele continuou. Ele olhava profundamente em meus olhos, como se não conseguisse formular a pergunta certa. Por alguns segundos, éramos apenas nós dois ali, vivenciando profundamente o olhar um do outro. Então, ele enfim se pronunciou.- Você estava tão bêbada ontem que não lembra mesmo o que aconteceu?- Assenti, mentindo mais uma vez. Ele riu pelo nariz, como se soubesse que eu estava mentindo. - É uma pena, foi uma noite memorável, pelo menos para mim. - Respondeu e saiu do quarto.

 O que aquele homem queria fazer comigo? Por que ele me balançava tanto assim?