Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 25
À prova de balas




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Capítulo 24

por N.C Earnshaw

 

A MATILHA AGUARDAVA ANSIOSAMENTE a chegada do Dr. Cullen. Billy Black tinha uma expressão angustiada no rosto, sofrendo a cada gemido de dor que seu filho mais novo dava. Era de cortar o coração de qualquer um ver o sofrimento estampado no rosto daquele pai. Paul ouvia o homem rezando baixinho, implorando aos ancestrais que salvassem a vida de seu filho, pois não aguentaria perdê-lo. Não o seu menino.

Quando mais novo, Paul gostava de imaginar que, se um dia ele ficasse doente ou se machucasse, seu pai reagiria como Billy Black. O rosto dele estaria transtornado de preocupação e ele o trataria com carinho e cuidaria dele até que melhorasse. Essas fantasias infantis acabaram depois de um tempo. Seu pai não se importava se ele ficava doente ou não. Não se importava agora, nem quando era apenas uma criança.

Ele tinha oito anos quando ficou doente pela primeira vez depois de ser abandonado pela sua mãe. Começou com uma simples tosse seca, mas logo se transformou em pneumonia. Ele sofreu por dias com falta de ar, escondendo seu estado na escola e sendo negligenciado em casa pelo pai. Um dia, ele desmaiou em plena classe e a professora quase teve uma síncope. Ela era uma boa mulher e, sabendo a situação que Paul vivia, o levou até a casa de Sue Clearwater, que o tratou com alguns chás de ervas e pomadas. Então, durante duas semanas, todos os dias após as aulas, sua professora o acompanhou até lá. Se seu pai soube, ele não tinha ideia. No entanto, depois desse dia, ele aprendeu que não deveria brincar sem camisa quando estivesse chovendo, assim não precisaria da piedade de ninguém.

Paul passou as mãos pelos cabelos, nervoso com a demora de Wendy. Ele tinha muitas perguntas para fazer, principalmente sobre quem eram aqueles Volturi e o que eles queriam, entretanto, também estava agitado. As expressões dos Cullens não eram nada amigáveis quando pediram para a matilha sair da clareira o mais rápido possível. 

O som de um motor potente foi ouvido na estrada de terra que levava até a casa vermelha dos Black. Uma mercedes S 55 AMG despontou numa velocidade assustadora e estacionou de qualquer jeito na entrada da casa, atraindo os olhares de todos que velavam Jacob. As portas se abriram com a mesma rapidez, e Paul sorriu ao ver Wendy saindo do carro pelo lado do passageiro. Ele não hesitou em ir ao encontro dela com passadas ágeis.  

— Oi, linda! — cumprimentou Paul, apertando-a em seus braços antes mesmo que ela conseguisse respondê-lo. O garoto sentiu parte do peso em seus ombros aliviando com a chegada dela, visto que finalmente tinha verificado com seus próprios olhos que ela estava segura.

Jared forçou um som de vômito atrás deles, mas foi prontamente repreendido por Emily. A mulher estava achando a cena adorável demais para ser atrapalhada. Era lindo poder presenciar o momento do casal, mesmo que naquela situação difícil. 

— Você demorou.

Wendy deu um sorriso amarelo. Os olhos brilhavam com melancolia, e Paul logo percebeu que ela não estava bem pela expressão miserável que tinha no rosto. 

Alguma coisa muito séria tinha acontecido após sua saída. Algo que tinha deixado seu imprinting desconsolado. Subitamente, uma onda de fúria tomou conta do seu corpo, e ele quis descobrir o que ou quem a fez ficar daquele jeito, para que pudesse tomar as devidas providências.   

— Tivemos algumas complicações. — Ele franziu o cenho, curioso, entretanto, reparou que não ia conseguir nada mais dela naquele momento. — Te explico depois.

— Querida, vou precisar da sua ajuda — chamou Carlisle. O lobo desviou sua atenção da garota para o médico, e observou-o já entrando na casa dos Black sendo acompanhado por Sam. 

Wendy olhou para o pai com confusão, sem compreender que tipo de ajuda poderia dar naquela situação. E, notando como ela encarava o vampiro com o mesmo semblante perdido, Paul se perguntou se ela tinha algum poder de cura escondido sob as mangas que ele não tinha conhecimento. 

— Vou precisar que mande ele ficar parado — explicou o doutor, lançando um olhar significativo para a filha. 

O rosto de Wendy se iluminou em entendimento e ela não pensou duas vezes, desvencilhou-se dos braços de Paul, que ainda estavam ao redor da sua cintura, e caminhou dois passos em direção ao pai. Entretanto, antes que pudesse alcançá-lo, foi parada pelo lobo, que segurou sua mão firmemente. 

— Vou com você — afirmou o Lahote, sem dar abertura para um não. Não confiava em Jacob perto de Wendy, mesmo que ele estivesse machucado. O garoto sentia um ódio exorbitante pelos Cullens. E depois de saber que Bella estava noiva do leitor de mentes, ele não tinha ideia como a mente do garoto ia funcionar a partir dali. 

Wendy assentiu e o puxou pela mão, ignorando as tosses fingidas de Quil e Embry — que apesar de estarem preocupados com Jacob, não conseguiam controlar a vontade de provocar o casal. 

Paul não se importou com as brincadeiras, um meio sorriso quase escapou dos seus lábios, no entanto, a careta de nojo no rosto de Leah destruiu toda a diversão e o fez querer quebrar seu pescocinho de galinha. 

Sam tentou adverti-lo com o olhar para que ele não entrasse, mas Paul fingiu que não estava vendo e entrou com Wendy mesmo assim. O Uley teria que amarrá-lo para que ele ficasse longe da sua vampira. 

Ele resolveu ficar na porta do quarto observando a cena, pois se recusava a ficar colado em alguém. O espaço era minúsculo e mal estavam cabendo Carlisle e Sam ali. A cama de solteiro com o lobo ferido estava encostada na parede, e um armário pequeno e desarrumado tomava boa parte da passagem. 

Wendy encostou as costas no peito do lobo, esperando receber as instruções sobre o que deveria fazer, e ele apoiou o queixo em seu ombro, sentindo o aroma aconchegante do seu cabelo. Automaticamente, ele mudou de ideia e se corrigiu. Recusava-se a ficar colado em alguém, se essa pessoa não fosse Wendy. 

Eles observaram Carlisle examinar Jacob com atenção. 

O médico apalpava suas costelas, colocava umas luzinhas esquisitas em seus olhos — que Paul não sabia muito bem para que servia, e finalmente usou o único instrumento que ele reconheceu durante todo o processo. O estetoscópio.

O lobo pensou em perguntar porquê o doutor usava algo para ouvir o coração de seus pacientes, se a sua audição era melhor que o objeto… Ele mudou de ideia ao ouvir os grunhidos de dor. 

Seus músculos se encolhiam a cada urro de agonia que saía de Jacob. Era quase como se ele pudesse sentir também, pois, apesar de brigar muito com o Black e quase sempre terminarem enfiando as garras um no outro, Jacob era seu irmão de matilha, e vê-lo naquela situação era angustiante. 

— Como vocês têm um ritmo de cura acelerado, as costelas se curaram de uma maneira errada, por isso ele está sentindo tanta dor — anunciou Carlisle ao terminar de investigar o grau dos ferimentos. 

— Então o que vai precisar ser feito? — indagou Sam sombriamente. 

— Vamos ter que colocar as costelas dele no lugar. — O doutor mantinha o semblante calmo, contudo, Paul percebeu o olhar de lástima. — Eu já tinha previsto que isso ia acontecer, por isso pedi para a Wendy vir conosco até o quarto. 

— Ele não vai nem poder se mexer enquanto você quebra suas costelas? — inquiriu Paul, incrédulo. 

— É o mais indicado. Ele tem que ficar parado o máximo que conseguir, ou vai haver a possibilidade de a costela não ser colocada no lugar e eu ter que quebrá-la de novo. Com os poderes da Wendy, ele não vai conseguir se mexer, facilitando mais o processo — esclareceu Carlisle, arrumando a maleta nos pés da cama, já que não seria necessário os curativos. — Mas você que decide. 

Sam parecia se debater com a escolha. Sabia que se Jacob não estivesse desmaiado, ele rejeitaria a ideia, mas se aquela era a melhor alternativa, então como alfa, ele aceitaria pelo bem dele. 

— Posso fazê-lo ficar desacordado — pronunciou-se Wendy. — Pode ser que ele não sinta tanto se estiver dormindo. 

— Acha isso seguro? — perguntou Sam à garota. 

— Ela usou os poderes no meu pai — intrometeu-se Paul ao ver a desconfiança que Sam a encarava. — E em mim também. Os poderes dela são confiáveis. 

Os dois lobos trocaram olhares intensos. E Sam acabou concordando. 

— Pode fazer isso agora? — pediu Carlisle para a filha. 

— Tudo bem. — Ela se afastou de Paul e se agachou na cama ao lado dele. Colocou a mão pálida no rosto bronzeado de Jacob, e aproximou os lábios do seu ouvido, sussurrando instruções como se fossem amantes trocando confidências. 

Ao menos era isso que Paul estava enxergando ali. 

Ele cerrou os punhos, tentando controlar a queimação em seu peito, mas o que queria mesmo fazer era arrancar Wendy dali e levá-la para bem longe do Black. 

Paul agradeceu ao ver ela se levantar rapidamente e voltar para perto da porta, onde ele estava. Marcando território, ele passou um dos braços ao redor da cintura dela e a puxou para si. Wendy encarou-o de maneira estranha ao ser agarrada, entretanto, não reclamou de ter o corpo dele colado ao seu. 

— Pai, precisa de mais alguma coisa? — Carlisle negou e a agradeceu. — Me chame se precisar, eu e o Paul vamos esperar lá fora com os outros.

Paul deu uma última olhada para Jacob e a seguiu pela casa. Seu corpo estremeceu ao ouvir o primeiro grito. Era ensurdecedor e ele sentiu cada pelo do seu corpo se erguendo. 

Os gritos pareceram durar horas e a matilha sofreu junto com Jacob. Os rostos formavam caretas a cada urro, e Paul agarrou-se à Wendy cada vez mais, procurando consolo. 

Ela acariciava os braços dele que estavam ao redor de sua cintura com as pontas dos dedos, dando-lhe o máximo de conforto que poderia naquela situação. 

Tempos depois, os gritos pararam e Carlisle saiu da casa, indo diretamente até Billy para explicar a situação de Jacob. Paul não prestou muita atenção no que ele falava, somente conseguiu aproveitar o alívio de tudo ter acabado, continuando a sentir o perfume que exalava do cabelo de Wendy, na tentativa de se acalmar. 

— Ele não devia ter entrado na frente, eu tinha tudo sob controle — reclamou Leah pela décima vez. 

Paul já estava no limite com ela. Se Leah não tivesse dado uma de She-Ra, nada teria acontecido. 

— Cala a boca, Leah — ordenou Quil, cansado das merdas dela. 

O Lahote agradeceu a ele mentalmente, sabendo que se fosse ele que tivesse mandado ela se calar, uma confusão grande seria armada, e ele não queria que Wendy presenciasse uma daquelas brigas idiotas.  

— Querida, já terminei tudo aqui. Vamos? — chamou Carlisle parando em frente ao casal. — Olá, Paul! Muito bom ver que vocês dois se resolveram. 

Paul limpou a garganta, constrangido, mas aceitou o aperto de mão do Cullen e assentiu com a cabeça, sem saber o que dizer. 

Wendy, percebendo o clima tenso que surgiu entre eles, riu baixinho e se pronunciou. 

— Eu esqueci de contar a vocês sobre isso, mas prometo que qualquer dia desses levo o Paul para uma apresentação oficial. — Ele arregalou os olhos para ela, entretanto, ao ver o olhar do líder do clã dos Cullen, disfarçou. — Vou só me despedir do Paul rapidinho e…

— Não vai — pediu o lobo. 

Wendy não pensou duas vezes e assentiu. Não rejeitaria passar mais um tempo de qualidade com Paul. E, se ele a queria por perto, a teria. 

— Bem, já que resolveu ficar, vou indo para casa. Esme deve estar ansiosa para receber notícias — declarou Carlisle ao ver a troca de olhares entre os dois. 

Ela o acompanhou até o carro, deixando Paul para trás, observando-os se despedir. 

— Então vocês finalmente estão juntos, não é? — indagou Jared parado ao lado dele. 

Paul deu um sorrisinho de lado, mas não disse nada, sabia que seu amigo o entenderia mesmo assim. 

— Você deu sorte. Ela é uma garota legal — admitiu ele dando um tapinha nas costas de Paul. 

O Lahote o lançou um olhar surpreso, sabia que era difícil para os outros aceitarem a presença de Wendy, até mesmo ele tinha a rechaçado no início, mas não conseguiu resistir muito tempo a ela. Surpreendia-o saber que Jared a aceitava sinceramente. 

— Você tem razão, eu dei muita sorte mesmo — gabou-se ele ao ver Wendy caminhando em sua direção. 

Jared riu da expressão boba que Paul tinha no rosto ao abraçar a garota. Era bom ver seu amigo tão leve depois de tanto tempo. E, aceitar a Cullen depois de tudo que ela fez por ele, não era mais que a sua obrigação de melhor amigo. 

— Olha só quem está chegando — debochou Embry, juntando-se ao grupo. Todos viraram as cabeças para observar a picape com um vermelho desbotado estacionar no lugar que estava o carro de Carlisle. 

De dentro da lata-velha, saiu Bella Swan com o semblante distorcido em aflição. Os passos que ela deu na direção da casa foram largos e, por muito pouco, ela não tropeçou. Wendy apostava que esse súbito equilíbrio vinha da sua determinação em conferir como Jacob estava. 

A vampira cogitou ir falar com ela para tentar consolá-la de alguma maneira, mas a garota passou por eles sem nem olhar em sua direção, e ela achou melhor não perturbar. 

— Acha que o Jacob vai ganhar mais algum beijinho? — provocou Jared empurrando Paul de lado. 

— O quê? — inquiriu Wendy, surpresa. — Do que está falando? 

Paul repreendeu os outros com o olhar, mas eles apenas deram de ombros, risonhos. Estavam adorando o fato de que tinham o metido em confusão. 

O Lahote xingou baixinho quando a vampira continuou insistindo. 

— O que você está escondendo, Paul? — perguntou ela novamente, cruzando os braços e se afastando dele. 

Ele fingiu um bocejo e passou um dos braços ao redor do pescoço dela, tentando tapeá-la.

— Eu tô caído de sono. Podemos conversar quando chegarmos na minha casa? — Ela o fitou desconfiada, entretanto, ao avaliar os olhos vermelhos e caídos, percebeu que Paul tinha falado a verdade. Ele estava mais que exausto, então Wendy acabou concordando. 

Eles se despediram dos outros e Wendy pediu que Billy desejasse melhoras a Jacob por ela. 

A garota não quis se prolongar muito, mas não conseguiu ser mal-educada e sair sem se despedir do anfitrião. A única coisa que a tirou mais rápido dali, foi a reclamação sem fim de Paul.

Os dois seguiram de mãos dadas até chegarem próximos à casa da família Lahote, apreciando o contato e observando em silêncio as poucas estrelas que apareciam no céu nublado. Estava um ótimo clima, e Wendy aproveitou para agradecer aos céus por ninguém ter morrido naquele dia. 

Paul parou de repente, surpreendendo-a com seu agarre em sua cintura. Ele não a deu muito tempo para processar suas intenções, trouxe o corpo dela para junto do dele num puxão forte e a beijou apaixonadamente sob a luz das estrelas, fazendo-a se derreter em seus braços. 

O quileute tentou ser romântico e delicado, investindo em um beijo lento e deslizando sua mão pelo corpo dela num carinho leve, pois queria que ela guardasse a lembrança daquela noite com carinho. Contudo, antes que reparasse, sua mão escorreu até um pouco abaixo do quadril dela e ele não conseguiu se conter. Apertou sua bunda com força e a puxou mais para perto, tentando senti-la melhor ao mesmo tempo que intensificava o beijo.

— Você é um exímio cavalheiro, Paul Lahote — zombou Wendy logo que se afastaram, observando o quanto o outro estava ofegante. 

— Eu faço o que eu posso — gabou-se ele, piscando um olho para ela e dando um beijo casto em sua mão. 

O momento foi quebrado quando a garota se virou em direção a casa e franziu o nariz, ouvindo barulhos de passos e uma respiração pesada. 

— Seu pai está acordado — avisou ela. 

Paul grunhiu insatisfeito. Odiava quando chegava em casa e ele estava acordado e, muito provavelmente, podre de bêbado.

— Vou deixar a janela aberta pra você — comunicou ele se virando, mas Wendy segurou seu braço, impedindo que ele fosse. 

— Não quero entrar pela janela dessa vez, vou com você. 

— Tem certeza? — assegurou-se ele. — Meu pai é meio imprevisível. 

Ela deu um sorrisinho. 

— Eu sou à prova de balas, querido. Seu pai não me machucaria nem se quisesse. 

Paul arqueou uma das sobrancelhas, divertido, e a puxou com ele até a porta enquanto ria baixinho. 

O riso cessou assim que o cheiro de bebida atingiu sua narina como um soco. Seu estômago embrulhou de vergonha ao ver a situação que a sala de estar e seu pai estavam. O cabelo do homem estava seboso e desgrenhado, uma mancha enorme de gordura manchava sua camisa e ele fedia como um gambá. A sala se encontrava um lixo, com garrafas espalhadas por todo lado, comida estragada no chão; que seu pai provavelmente tinha derrubado e não limpou, e a TV pequena no volume máximo. 

Paul se virou para Wendy e murmurou um pedido de desculpas. Ela já tinha visto uma cena pior do que aquela no dia em que encontrou seu pai sangrando e ele chorando feito um bebê, mas antes ele não estava apaixonado por ela ou consciente da situação. 

O lobo queria poder apresentar uma família normal para ela, com um pai e uma mãe, decentes. No entanto, ele só tinha seu pai bêbado e fedido. 

Wendy, ao perceber o olhar envergonhado de Paul, apertou sua mão para afirmar que estava ao lado dele e não se importava com nada daquilo. Ele apertou sua mão de volta, entretanto, o sentimento de demérito não passou. 

O corpo de Paul tencionou ao perceber que a atenção do seu pai se concentrava neles. E Wendy, tentando ser simpática, aproximou-se do homem cautelosamente e sorriu. 

— Olá, senhor Lahote, sou…

— É mais uma das suas vadias? — cortou Daniel, fuzilando Paul com os olhos. — Espero que não esteja pensando em dormir aqui, menina. Não quero prostitutas na minha casa. 

Paul rosnou, furioso. Wendy, ao perceber seu descontrole, segurou seu braço e o fitou com um olhar firme, pedindo baixinho para deixar aquilo pra lá. 

— Está pensando em dar o golpe do baú, moleque? — provocou o homem checando Wendy da cabeça aos pés. — Sei que essa aí é uma das filhas daquele doutorzinho.

— Cala essa maldita boca — rosnou Paul, tentando segurar sua transformação. Não queria que Wendy se machucasse com uma das suas explosões. Além disso, lembrava da confusão enorme que causou na última vez que perdeu o controle. Quase matou seu pai e, por pouco, não expôs os segredos da matilha. 

— Você sabe que ele só está interessado no seu dinheiro, não é? — continuou Daniel rindo sarcasticamente. — Nada de bom pode vir desse aí. 

— Acho melhor o senhor pensar bem antes de falar mal do seu filho na minha presença — ameaçou Wendy, colocando-se na frente de Paul como uma mãe protegendo seu filhote. Sua postura estava diferente, de uma forma parecida como quando ela estava atacando os recém criados, mas mais feroz. Um predador cercando sua presa. — Ele é incrível e é meu. Então se o senhor acha que pode continuar o humilhando… Não. Se o senhor sequer pensar em machucá-lo novamente, vou vir até você e teremos uma conversinha não muito agradável.

Paul estava atrás dela, então não conseguiu ver sua expressão enquanto ela colocava seu pai no lugar. No entanto, pelo semblante assustado que seu pai tinha no rosto e o medo explícito na sua linguagem corporal, o velho estava se mijando nas calças. 

— Está avisado. — Wendy o puxou em direção a cozinha, enquanto Paul a olhava abobalhado. Ninguém nunca o tinha defendido daquela maneira antes. Ele sentia que tinha que ter sido algo que sua mãe deveria ter feito por ele e nunca esteve presente para fazê-lo.

Além do mais, não precisava de alguém o protegendo do seu pai, mas tinha gostado muito de Wendy ter feito isso. E ela ainda tinha dito que ele era dela! Caralho!

— Paul — chamou Wendy baixinho, preparando alguns sanduíches numa velocidade assustadora, ele mal conseguia acompanhá-la. — Me desculpe se ultrapassei algum limite, só não consegui ver seu pai te tratando daquela maneira, se quiser, posso ir embora...

— Céus, você é tão gostosa! — Ele a surpreendeu, levantando-a pela cintura e a beijando por todo lugar que ele alcançava, colando-a no seu corpo e distribuindo beijos molhados pelo seu rosto, pescoço e cabelos. — Você não sabe o quanto me controlei para não te agarrar bem ali naquela sala. 

— Então não está chateado? — averiguou ela com a voz manhosa. 

Paul bufou alto e a virou, para que pudesse ver seus olhos. 

— Aquele velho estava mesmo merecendo uma dura. 

Wendy o abraçou, satisfeita, balançando seus corpos como se estivesse o ninando. 

— Sabe o que mais me deixou feliz? — indagou ele, encostando o queixo no topo da sua cabeça. Ela soltou um resmungo. — Você disse ao meu pai que eu era seu. 

O corpo de Wendy tencionou e ela arregalou os olhos. 

— Eu disse, foi? 

— Pode apostar que sim — afirmou ele com um sorriso presunçoso. 

A vampira não resistiu e sorriu de volta. 

Paul engoliu os sanduíches com avidez, apressando-se e deixando Wendy mais uma vez surpresa com o quanto ele comia. Limpando as mãos sujas nos shorts, ele pegou uma garrafa cheia de água na geladeira e puxou-a para seu quarto, ignorando completamente os olhares cautelosos de Daniel Lahote. 

Ele abriu a porta para que ela entrasse, com uma reverência malfeita que arrancou algumas risadinhas de Wendy.  

— Então, vai me contar sobre o que o Embry disse? — Paul admirou por alguns segundos o quanto a memória dela era incrível. 

— Claro, depois que você me contar o que aconteceu naquela clareira depois que eu saí — desviou-se ele, arrumando o corpo dela no seu, enquanto se deitavam. 

— Os Volturi souberam dos recém-criados e vieram fazer uma visita. E claro, verificar se a Bella continua humana — contou Wendy. Paul fez uma careta, confuso. E ela prontamente explicou. — Os Volturi são a realeza dos vampiros. Eles criaram as leis há séculos quando tomaram o poder, e se certificam que elas sejam cumpridas. 

— Então eles são tipo a polícia dos vampiros? 

Wendy riu e acariciou o rosto dele. 

— Acho que essa é uma boa descrição. Eles são os vampiros mais antigos e também os mais fortes, chamar a atenção deles não é uma boa ideia, eles colecionam vampiros com poderes para fazer parte de sua guarda. 

— Eles sabem sobre os seus poderes? — inquiriu Paul, preocupado. Sua mente já trabalhando de uma maneira estarrecedora.

Era assustador pensar em Wendy indo embora para se juntar a esses esquisitos. 

— De alguma forma, não. Mas eles sabem sobre Alice e Edward. Aro, um dos líderes, é especialmente interessado nos poderes da minha irmã.

— E o que a Swan tem a ver com isso tudo? — Os olhos de Paul brilharam em desgosto ao falar o sobrenome de Bella. Wendy vinha percebendo há algum tempo que ele cultivava certa antipatia pela humana. 

— Você lembra do ano passado, quando a Bella foi para a Itália salvar o meu irmão? — Ele assentiu. 

— O Jacob ficou insuportável durante esse tempo. 

— Quando Edward achou que Bella tinha morrido, ele procurou os Volturi e pediu que o matassem. Eles negaram, então meu irmão resolveu quebrar a lei mais importante dos vampiros, que é mostrar a nossa existência para os humanos. Aqueles que quebram essa lei, são condenados à morte, mas Bella chegou a tempo de impedi-lo de fazer uma bobagem — contou Wendy, resumindo o máximo possível. — Aro tem um poder, ele consegue ver as memórias mais importantes de uma pessoa através do toque, então ele sabia tudo sobre Bella e o relacionamento deles. 

— Puta merda — xingou Paul baixinho. Ele não imaginava que ficaria tão interessado numa história sobre vampiros, entretanto, estava louco para saber o desfecho, mesmo sabendo que todos tinham saído vivos. Infelizmente. 

— Aro ia matar os dois, mas Alice interferiu e mostrou para ele suas visões em que Bella se transforma em vampira. Os Volturi, interessados no poder dela depois da transformação e surpresos no amor que ela demonstrava por Edward, permitiram que eles voltassem para casa. Hoje, Esme e Carlisle acolheram uma recém-criada que se recusou a lutar contra nós, e íamos ajudá-la a se adaptar. O nome dela era Bree, e era só mais uma inocente forçada pelos joguinhos de Victoria. Os Volturi a mataram sem nem pensar duas vezes.

— Era por isso que você estava triste? — Paul acariciou sua cintura. 

— Sim, mas não importa mais — prometeu Wendy, depositando um beijo no pescoço dele. 

— A Bella vai ter que se transformar de qualquer jeito, não? — perguntou ele, pensativo. 

— É o que ela quer. 

— Então por que diabos ela continua dando esperanças ao Jacob?! — Paul tinha uma expressão furiosa no rosto. — Quer saber o que o Embry disse? Sua amiguinha Bella está noiva do seu irmão e, quando o Jacob descobriu e decidiu ir lutar, ela pediu que ele a beijasse! 

Wendy abriu a boca, em choque. 

— Se ela sabe que vai ter que se transformar, por qual motivo ela continua alimentando os sentimentos dele? O garoto está sofrendo feito um diabo, linda. É insuportável ficar na cabeça dele, e a Swan continua jogando sal na ferida! Ela é uma filha da mãe egoísta!

— Acho que ela não consegue escolher entre os dois — murmurou Wendy, pensando no quão doloroso estava sendo para Edward saber que o amor da sua vida tinha beijado outro. — E isso vai continuar machucando todos eles, até que ela tome de vez uma decisão. 

— Ou até que ele encontre seu imprinting — concluiu ele, encostando sua cabeça no ombro dela e fechando os olhos para dormir. 

Eles nunca conseguiriam compreender o que estava passando na cabeça e no coração de Bella. Ficar acordado se questionando não ia mudar o fato de que um deles iria sair machucado naquela história. E Paul sabia que seria Jacob.

 


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