Dipper atravessou o corredor afobado e, como uma bala, entrou no quarto. Retirou seu blazer e o atirou sobre a cama. Abriu o armário e vasculhou por entre os cabides enquanto arrancava grosseiramente a fita de cetim em seu pescoço e soltava os primeiros dois botões de sua camisa. Pacifica chegou logo em seguida, ofegante. Não conseguiu acompanhar os passos do garoto por culpa do salto alto. Seu lindo vestido também se mostrou muito inconveniente em situações de emergência e pressa. "Arg, nunca mais quero olhar para esse sapato" reclamou a loira enquanto entrava no quarto descabelada e aos tropeços.

— Preciso ajudar a Mabel. Sei que ela tá bem por enquanto, sabe, telepatia de gêmeos. Mas não sei por quanto tempo.

— Você ainda tem os diários, não é? Eles ficaram aqui na cabana, não foi? Você pode ver se lá diz alguma coisa sobre os... err... Lobisomens.

O rapaz desabotoou o restante da camisa tão rápido que provavelmente batera um recorde mundial. Estava tão preocupado com sua irmã que se quer lembrou que havia outra pessoa no quarto e arrancou a camisa às pressas, vestindo uma camiseta branca simples logo em seguida. Pacifica ficou ligeiramente sem ar quando vira as costas desnudas do jovem. As maçãs de seu rosto ganharam um leve tom coral e ela rapidamente desviou o olhar.

— Bill destruiu os diários no dia do Estranhagedom. Por sorte eu os li tantas vezes que consigo me lembrar a respeito dos lobisomens, mesmo após cinco anos - Ele vestiu um casaco de algodão preto com capuz e fechou o zíper. Fez uma pausa - Que estranho lembrar de algo que li há tantos anos, não é? Mas isso não importa. A parte ruim é que o tivô Ford não escreveu muito a respeito deles. O diário dizia que os lobisomens não atacavam humanos. Acho que o tivô Ford só não presenciou nenhum ataque por que, pelo o que percebemos hoje, essa informação tá meio errada.

— M-mas então... Como poderemos ajudar a Mabel?

— DIPPER! Dipper! - Wendy apareceu subitamente, acompanhada por Melody - Eles levaram a Mabel!

— E o meu Soos - Melody aparentava estar muito atormentada. Ela já tinha presenciado uma situação bem estranha com a Giffany, a namorada virtual do jogo de namoros de Soos, mas estar longe do marido provavelmente a afetava muito mais. A incerteza de onde ele estava e, principalmente, como estava era um fardo bem grade.

— Não sei como derrotar os lobisomens, mas sei onde eles estão. No diário tivô Ford descreveu onde os encontrou a primeira vez. Provavelmente é onde fica a ... Err... Toca deles? Será que é toca? Ah não importa.

— Eu vou com você, Dipper - Disse Wendy decidida.

— Eu também! - Respondeu Pacifica.

— Ah não, não MESMO! Ninguém vai comigo, não posso colocar vocês em risco.

— Como se eu nunca tivesse sobrevivido ao fim do mundo, não é? Vamos lá Dipper, você sabe que precisa de ajuda e que levo jeito - Retrucou a ruiva. Pacifica sentia que não tinha nenhum argumento tão bom quanto aquele, apesar de também ter passado pelo Estranhagedom se lembra de não ter sido de grande ajuda na época. Dipper esfregou os olhos com o indicador e o polegar da mão direita. Sabia que sem a Wendy provavelmente teria sido derrotado por Bill no passado. Também precisou dela no dia que enfrentara o amorfo no bunker do tivô Ford.

— Tudo bem Wendy, você pode vir comigo - Ele retirou mais duas peças de roupa do armário e fechou a porta. Se aproximou de Pacifica e estendeu as peças à ela. Era uma camiseta branca com o símbolo da Nasa estampada e uma calça de moletom azul escura - Mas você deve ficar aqui com a Melody, tudo bem? Vista essas roupas, são minhas, vão ficar mais confortáveis do que as suas. Você pode... Me esperar aqui? Pode deitar na minha cama e dormir durante esse tempo.

Pacifica, irritada, arrancou as roupas da mão dele.

— Você realmente acha que vou conseguir dormir enquanto você estará lá fora arriscando seu pescoço com aquelas coisas horríveis?! Eu vou junto!!

— Por favor...

A garota deu as costas e cruzou os braços sem dizer uma palavra se quer. Dipper interpretou como uma adesão à sua proposta e desceu as escadas acompanhado por Wendy.

***

Wendy foi até seu carro e trocou as fantasia curta, apertada e provocante por suas roupas convencionais do dia a dia: uma camiseta regata branca, uma calça jeans de lavagem azul escura surrada, botas pretas e, claro, sua camisa de flanela verde. Parecia até que ela tinha parado no tempo: estava exatamente igual à Wendy de 15 anos. Ela voltou para dentro e se reencontrou com Dipper. Os dois vasculhavam cada cômodo da Cabana do Mistério atrás de qualquer coisa que pudesse ser útil.

— Todos os filmes de lobisomens usam prata pura como meio para derrotá-los. Vale a pena tentar, eu acho. Mas... Que objeto de prata podemos usar nessa situação? E onde encontrar algo assim?!

— Que tal isso aqui? - Wendy apontava para uma besta de caça antiga que jazia pendurada na parede do antigo quarto de Ford, aquele descoberto acidentalmente por Soos cinco anos atrás. A arma estava estranhamente carregada com várias flechas de prata polida.

— Mas... O QUE? Sinceramente um dos maiores mistérios de Gavity Falls é por que as pessoas guardam objetos tão estranhos em lugares tão comuns e acessíveis. E por que eles sempre aparecem nos momentos mais convenientes.

— Isso sempre vai ser um mistério. Mas parece ser uma boa saída, não é? - Ela esticou a mão porém hesitou quando Dipper se manifestou.

— Espera Wendy! Eu não sei se consigo disparar contra um lobisomen. Sabe, mesmo sendo um lobisomen ainda é uma e vida...

A ruiva o encarou por alguns segundos e, antes que ele terminasse a frase, ela agarrou a besta da parede e a colocou em suas costas, presa por uma grossa tira de couro.

— Mas eu consigo, vambora.

Dipper se sentia inseguro, mas não conseguia pensar em nada melhor. Retornaram até a loja de presentes. Em uma das prateleiras ele viu alguns bonés à venda. Eram os mesmos bonés brancos com um pinheiro central azul que eram vendidos lá em 2012. Ele riu, pegou um e colocou na cabeça.

— Só pela nostalgia, já que estou indo resolver um mistério novamente.

Wendy riu e fezendo um sinal de positivo com o polegar. Melody e Pacifica desceram as escadas. Pacifica agora vestia as roupas dele que, por sinal, ficaram bem largas. Ainda estava brava e com os braços cruzados, mas seu rosto demonstrava uma sincera preocupação. Dipper segurou a aba do boné e puxou-a para baixo, escondendo seu rosto. "Ela ficou tão linda com as minhas roupas. ARG NÃO É HORA PRA ISSO, DIPPER!" - pensou.

— Vamos voltar o mais rápido possível com a Mabel e o Soos, eu prometo.