A normal life escrita por Dark Angel


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Não, eu não morri e tampouco abandonei a história. Lamento que tenha demorado tanto para escrever, mas o fim de semestre me esgotou - para ser sincera, meu cérebro derreteu. Espero que a espera tenha valido a pena.
I hope you enjoy it!



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Observei o centro movimentado da cidade através da janela do carro caro onde eu estava. Admito que fiquei encantada no motor daquela belezinha, era de uma potência e elegância que deixaria qualquer um embasbacado. Mas agora eu não conseguia me prender a isso. Havia uma sensação de revolta em meu estômago e um crescente nervosismo. 

Esfreguei as mãos no tecido da saia de meu novo uniforme escolar no intuito de me livrar do suor causado pelo estado de meus ânimos. 

Droga, eu estava nervosa como o inferno. Mesmo com a Senhora Phasma me dizendo que não teria dificuldade em fazer amigos ou me adaptar ao ambiente. Ela era uma mulher misteriosa. Havia me dito que estava a minha disposição para me ajudar em qualquer coisa, mas eu nunca precisei de mais do que tive, então não sabia o ela queria dizer com isso. 

Agora eu estava em um carro caro com um motorista dirigindo para mim a caminho de uma escola renomada. 

Olhei para os prédios do outro lado de minha janela. O centro era agitado na capital, e embora o orfanato ficasse há apenas três horas de distância eu sentia que era outro mundo, outra realidade. 

Naboo era a cidade em que tudo poderia acontecer, era meu recomeço. 

—Chegamos, senhorita Palpatine – me informou o motorista, me tirando de meus pensamentos. 

Ele havia descido do carro e aberto a porta para mim e eu nem havia reparado! 

—Obrigado- agradeci, descendo do carro com minha mochila em mãos. 

Observei a fachada da Constance Billard School com certa curiosidade. Era uma escola apenas para meninas, e, aparentemente, frequentada pela elite social, segundo o que me disse pela senhora Phasma. 

Com passos não muito seguros de para onde ir, segui para dentro do prédio, andando por corredores bem iluminados. Quando finalmente adentrei o corredor dos armários, me deparei com um aglomerado de pessoas na forma de um círculo. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas na minha antiga escola, isso nunca era um bom sinal. 

Tentei contornar as pessoas, a fim de chegar à secretaria onde deveria pegar meu horário para as aulas em que fui matriculada, mas parecia impossível passar por tantas garotas. 

—Achei ter sido clara. Não quero ver seu rosto na minha frente, Tico – disse uma voz de dentro do círculo de pessoas, mas não consegui identificar a quem pertencia. 

—Então feche os olhos – respondeu outra voz. 

Algumas meninas soltaram uma pequena expressão de espanto, como se não esperassem por esta resposta. 

Houve um barulho alto seguido por um silêncio mortal, e antes mesmo que me desse conta, estava no meio do círculo, segurando a mão de uma garota loira para que ela não agredisse novamente a asiática que ainda estava escolhida pelo tapa que havia recebido. 

—Não é com violência que se resolve as coisas – disse a ela, tentando me manter calma. 

A garota, que eu ainda não sabia quem era, me olhou de cima a baixo e deu um sorriso prepotente. 

—Você obviamente é nova aqui – disse ela. - Mas se quer uma dica, não devia se meter nos assuntos de outras pessoas. 

E com essa “dica”, ela puxou seu braço de meu aperto e se foi pelo corredor. As pessoas simplesmente abriam caminho para ela como se fosse alguém importante, e, ao constatar isso eu percebi que talvez, mesmo sem intenção, já tivesse feito uma inimiga. 

As pessoas que antes estavam observando a situação sem fazer nada começaram a dispersar, liberando o caminho até onde eu precisava ir.  

—Você está bem? - Perguntei à menina que havia levado o tapa. Havia uma marca vermelha em seu rosto, mas não era muito grande, e, com sorte, não incharia. 

—Estou – disse ela. - Obrigado pelo fez. Eu realmente fiquei sem reação. 

A garota voltou seu olhar para o chão e eu pude ver a vergonha estampada em sua face tão claramente quanto via a marca vermelha. 

—Está tudo bem. Ela não tinha o direito de te agredir. Boa resposta a que você deu, à propósito. 

Um pequeno sorriso de abriu no rosto da menina. 

—Você achou mesmo? - perguntou ela, me olhando. Acenei positivamente com a cabeça e seu sorriso se alargou mais ainda. - Eu me chamo Rose Tico. 

Peguei a mão que ela estendeu a mim e me apresentei pela primeira vez na vida como Rey Palpatine. Era estranho usar este sobrenome, mas era meu agora, então devia me habituar. 

Rose me acompanhou até a secretaria para pegar meu horário e depois até minha primeira aula. 

Eu podia até ter arrumado uma arrumado uma inimiga no meu primeiro dia, mas meu instinto me dizia que também havia arranjado uma amiga. 

Apesar de ser estranho ser meu primeiro dia de aula no meio do ano letivo, não foi feita muita comoção sobre isso da parte dos professores. Nenhum pedido estranho para eu me apresentar ou algo do tipo. Já entre os alunos... Aparentemente eu havia confrontado a abelha rainha e deveria esperar uma retaliação. Mas apesar disso, a semana foi boa. Eu não tive chance de me aproximar muito de outras meninas, uma vez que o incidente do primeiro dia já havia criado uma certa fama sobre mim, e, segundo Rose, a abelha rainha havia dado uma ordem de isolamento social para mim. Eu não sabia quanto tempo duraria, mas estava feliz em poder passar despercebida por enquanto. 

 Hoje finalmente era sexta-feira e eu poderia planejar fazer algo para o fim de semana. Como eu apenas via meu avô na hora do jantar, me perguntava se ele teria tempo para fazermos algo juntos ou se eu deveria tentar fazer sozinha, para não atrapalhar seu fluxo de trabalho. Talvez eu lesse um livro, para ocupar a mente. 

Vestindo meu uniforme, desci as escadas para tomar p café da manhã antes de ir para a escola e encontrei me avô sentado à mesa com um jornal cobrindo parte de seu rosto. 

—Bom dia, minha querida – disse ele, quando cheguei ao último degrau. Me dirigi a mesa e me sentei ao seu lado. 

—Bom dia – disse eu, me servindo de um pouco de suco. 

—Espero que sua semana tenha sido boa até aqui – disse ele, pondo seu jornal de lado. 

—Foi sim, vovô - disse eu, ocultando a parte de ter interferido em uma briga no primeiro dia de aula e ter sido isolada socialmente por isso. 

—Você fez amigos na escola nova? 

—Fiz uma amiga, na verdade. Uma menina chamada Rose – optei por não dar muitos detalhes ainda, até porque eu não sabia se ele realmente se interessava por saber sobre isso ou se estava apenas sendo gentil comigo. 

—E vocês fizeram planos para o final de semana? 

—Na verdade, eu não quis fazer planos ainda... Estava pensando se havia a possibilidade de, se você puder, claro, fazermos algo em família. 

Tentei não fazer cara de cachorrinho pidão mas sabia que a expectativa era visível através de meus olhos. 

Vovô deu um sorriso terno e eu senti a expectativa crescer ainda mais em mim. Seria possível que ele tiraria folga do trabalho para fazer algo comigo? 

—Eu fico feliz que pensemos da mesma forma. Para ser sincero, estava com medo que você tivesse planos e eu tivesse de adiar nossa pequena viagem. 

—Viagem? Para onde? 

Um novo ânimo havia tomado conta de mim. Vovô não apenas havia tirado um tempo para ficar comigo como também havia planejado algo especial! 

—Uma pequena viagem até a praia. Phasma me disse que nunca viu o mar, então pensei em - a expressão dele se congelou no que parecia um pouco de espanto pelo pequeno grito que eu dei. - Acho que a ideia lhe agrada – completou ele, agora rindo comigo. 

—Muito! - Disse eu, com um sorriso tão grande que seria capaz de partir meu rosto em dois. 

—Pedirei que Phasma prepare uma pequena mala para você, assim podemos partir assim que suas aulas acabarem. 

A felicidade não cabia em mim e o sorriso não deixava meu rosto. O caminho até a escola hoje pareceu mais florido e bonito. Será que era coisa da minha cabeça? Bom, mesmo que fosse, eu iria aproveitar e ter um bom dia. E com isso em mente, esperei pacientemente que que as aulas chegassem ao fim, e embora olhasse para o relógio a cada cinco minutos, o tempo passou razoavelmente depressa. 

—Você parece animada – disse Rose, me alcançando na saída de minha última aula. 

—Eu estou – admiti. Não havia como negar, afinal de contas. 

—Quais são os planos para o fim de semana? - Perguntou ela, enlaçando seu braço ao meu enquanto caminhávamos até o portão da escola. 

—Vou para a praia – disse simplesmente. Eu sabia que para ela era uma coisa comum, para a maior parte das pessoas era. Mas para mim... imaginar um final de semana em família, com uma pequena viagem à algum lugar perto, era o tipo de coisa que eu imaginava antes de dormir enquanto estava no orfanato. Era o tipo de coisa que me dava esperança. 

—Bom, eu espero que se divirta então! Ah, meu carro chegou. Preciso ir! Nos falamos depois! - Gritou uma Rose apressada se dirigindo à um carro parado a poucos metros de nós. Acenei com a mão, quando a vi colocar o cinto de segurança e abanar para mim. 

Procurei pelo carro que normalmente era usado para me trazerem para a escola, mas não o encontrei. 

Me perguntei se vovô estava atrasado. Eu deveria ligar para saber se ele demoraria... Mas não tinha seu número pessoal. Na verdade, em meu celular novo havia apenas o número de Rose e Phasma arquivados. Adicionei “pegar o número de celular do vovô” na minha lista mental de coisas para fazer e me sentei em um dos degraus que levavam ao interior da escola. Nem mesmo um minuto chegou a se passar até vovô aparecer em minha frente e me guiar até o carro que iríamos usar. Eu não sabia dizer se meu rosto transparecia o que eu sentia ao ver o carro, mas vovô deu um pequeno riso e disse: 

—É lindo, não é? 

Deus, lindo era pouco! Mal podia esperar até ver como era o motor dele. 

—Sabe, Rey, seu pai gostava muito de mecânica... E essa era uma das marcas favoritas dele. Demora-se mais de seis meses apenas para construir o motor, tamanha a complexidade da peça. 

Adentramos o veículo e ele deu a ordem para o motorista ir. Eu ainda estava encantada. 

—Será que posso olhar o motor? Em outro momento? - Perguntei. 

O sorriso dele pareceu crescer ainda mais. 

—Claro, querida! Eu esperava que quisesse isso. Talvez você possa aprender a dirigir quando voltarmos, o que acha? 

—Eu adoraria, vovô! - respondi, com genuíno entusiasmo.  

Após alguns minutos, chegamos à frente de um prédio alto e imponente, com faixada trabalhada em vidro e metal, mas sem nenhuma placa que indicasse de quê se tratasse. Vovô desceu do carro e quando o motorista abriu minha porta eu desci também, apressando meus passos para segui-lo até o elevador. 

—Um dia, Rey, tudo isso será seu. Meu legado será seu, para comandar como quiser – disse ele, enquanto estávamos dentro da caixa metálica. Havia certo tom de orgulho em sua voz. 

—Que demore muito para isso acontecer, Vovô, sou jovem demais para saber o que fazer com isso. 

Ele se virou para mim, olhando em meus olhos, e disse: 

—Gosto muito quando me chama assim, criança. Ter reencontrado você foi um presente da vida, já não posso pedir mais nada para ela. 

E antes que eu pudesse responder qualquer coisa, as portas foram abertas no que parecia ser a presidência. Vovô continuou andando a minha frente até o que parecia um lance de escadas. Quando chegamos ao topo do prédio, o helicóptero que me trouxe até a cidade já estava pronto para alçar voo assim que nos acomodássemos. E assim, ele o fez. Devidamente atada a meu conto de segurança, com headphones que permitiam a comunicação e óculos de sol escolhidos por Phasma eu observei a cidade de cima mais uma vez. 

Quando o helicóptero pousou, Vovô me explicou que era mais prático poupar tempo voando do que na estrada, e por isso havia optado por esse meio de transporte. Não me importei realmente. Estava feliz por ele ter tirado um tempo para fazermos algo, pois sabia que isso não aconteceria sempre. Pessoas ricas normalmente são ocupadas. 

Um carro nos levou ao hotel em que ficaríamos pelo final de semana e encontramos Phasma no saguão. Ela me acompanhou até meu quanto, deixando claro que o do vovô era bem ao lado, e que se eu precisasse de algo ela estaria por perto. Disse que havia me comprado algumas roupas para o fim de semana e esperava ter acertado. Eu ri com ideia. 

—Órfãos usam qualquer coisa, Phasma. Ficamos felizes em ter algo para vestir – disse eu, rindo. 

—Não é mais uma órfã, senhorita Palpatine. Mas podemos fazer compras quando voltarmos para a cidade. Ou por aqui mesmo, se assim preferir. 

Apenas assenti com a cabeça. Eu queria ver o mar, não fazer compras. 

—Por que não veste um dos biquinis que trouxe? Podemos ir até o mar em alguns minutos. 

Não pude evitar dar um pequeno pulo enquanto ia até o quarto procurar o biquini. Era isso que eu queria! Andei até o guarda-roupas e procurei entre as gavetas os biquinis e algo para vestir por cima. Havia mais roupas ali do que eu precisaria, mas não me prendi a isso nesse momento. 

Depois de experimentar alguns conjuntos, optei por um biquini branco e vesti um vestido de mesma cor sobre ele. Me encaminhei até a entrada do quarto e abri apenas uma fresta da porta que levava ao corredor, procurando por Phasma. Não havia nem sinal dela ou de qualquer outra pessoa no corredor. Fiquei em dúvida se deveria ou não ir até o quarto do vovô.  

Ponderei por alguns segundos o que deveria fazer. Ir ao quarto ao lado podia ser visto como invadir a privacidade, mas ficar parada esperando não mudaria nada. 

Escolhendo vestir a coragem como uma espécie de escudo para qualquer situação vergonhosa ou de repreensão, saí do que agora era meu quarto e bati na porta que ficava logo ao lado.  

Dei um enorme sorriso que esperava ser persuasivo o bastante para a pessoa ir para o mar comigo quando Phasma abriu a porta. 

—Você pode aguardar alguns minutos? - perguntou ela. - Ele está em uma ligação importante agora. 

Tentei não me chatear. Eu havia esperado dezessete anos para isso acontecer, podia esperar mais alguns minutos. 

—Claro, assim dá tempo de você vestir seu biquini também - eu disse a ela, recebendo um olhar de incredulidade da mulher em troca. 

—Não acho que seja de bom tom – foi sua resposta. - Você pode aguardar no seu quarto ou ir até o saguão do hotel. Há algumas lojas que podem te interessar... Uma livraria, inclusive. 

Olhei para meus pés me perguntando se seria necessário trocar de roupas para isso. Não queria perder mais tempo.  

—Não precisa se trocar – disse ela, lendo meus pensamentos, aparentemente. - Mas vai precisar disso. 

Foi-me estendido um cartão preto com meu nome e uma série de números bem abaixo. Peguei o cartão com cuidado e me vi novamente com aquela sensação... Rey Palpatine era um bom nome, apenas não soava perfeito. Tentei empurrar essa sensação para o fundo de meu cérebro, dizendo a mim mesma que era só questão de tempo até me acostumar. 

E com um breve cumprimento, Phasma fechou a porta me deixando no corredor vazio. 

Com um pouco menos de animação, me encaminhei até o elevador e desci para o andar das lojas. 

A livraria era maior do que eu pensei que seria. Admirei as estantes de livros enfileiradas e rumei para onde eu sabia que acharia algo interessante: engenharia mecânica. 

Depois de alguns minutos perdida entre títulos e sinopses ouço alguém resmungando no corredor ao lado seguido pelo barulho feito por uma pilha de livros derrubada.  

—Merda – ouvi a pessoa resmungar. 

Achando a cena deveras engraçada, fui até a criatura desastrada e comecei a ajuntar os livros, bem como o homem de certa idade fazia. 

—Não precisa se dar ao trabalho, criança - disse ele.  

—Não é trabalho algum. 

Quando por fim terminamos de ajuntar os livros, peguei aqueles que já estavam comigo antes, e quando estava me encaminhando para voltar ao corredor, ouvi o senhor me dizer: 

—É raro encontrar crianças da sua idade nessa seção, bem educadas então, é quase impossível! Obrigado por me ajudar com o incidente ali. 

—Não foi nada, realmente. 

—Eu me chamo Han Solo – disse ele, estendendo a mão para mim. 

—Rey Pa...- fui interrompida por uma voz feminina que fez com que o senhor Solo se virasse imediatamente na direção do outro corredor. 

—Eu perco você por dois minutos e já está incomodando alguém com suas histórias - disse uma senhora, um pouco mais baixa que eu, com um elegante penteado, enquanto se aproximava. - Desculpe querida, sei que deve ter coisas melhores para fazer do que ouvir esse velho. 

Ela repousou a mão sobre o braço dele e o olhou com carinho, e, embora o rosto do Senhor Solo estivesse sério eu podia ver certo divertimento em seus olhos ao perguntar para ela “quem era o velho?” 

E com um breve adeus eles se foram enquanto eu ainda os observava.  

Depois de alguns minutos de indecisão, Phasma veio me buscar para finalmente fazer o que viemos fazer: ir até o mar! 

Vovô nos aguardava na saída o hotel e assim que cheguei, tratamos de começar a andar. A praia a que iríamos era propriedade do hotel, por isso não era longe. Foram menos de dez minutos até eu estar ali, frente a frente com algo que permeava meus sonhos e desejos de vida. 

Aparentemente, sonhos viram realidade sim. E com esse pensamento, dei uma última olhada para o senhor de bermuda e chapéu brancos que parecia tão deslocado sob o guarda-sol e me lancei no mar. 


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Notas finais do capítulo

Hey, se você leu até aqui, obrigado! Sério mesmo, voltar a escrever tem sido como voltar a respirar, por isso eu preciso agradecer Valdie Black por ser tão amável e comentar todos os capítulos. Talvez você não saiba, mas tem feito meus dias mais alegres.
Sinceramente, Dark Angel.