É só uma coisa implícita escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 30
Capítulo 30 – Ampulheta


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pela demora em publicar novamente. Meu aniversário (cuja comemoração durou 3 maravilhosos dias) e outras situações me mantiveram muito ocupada. Mas aqui está. A partir de agora começa o fim do sofrimento de Meredith e Gamora. E não se preocupem. Mesmo depois que a situação for resolvida, ainda quero colocar muito Starmora na história. =D

Sobre a origem dessa história, finalmente chegou o momento de falar sobre ela: Tempos atrás, uma leitora, chamada Rebeca, começou a falar comigo no instagram, sobre minhas fanfics dos Guardiões e o quanto ela adorava lê-las. Nos tornamos amigas e passamos a falar com frequência sobre tudo dos Guardiões, e muito sobre fanfics deles. Um dia, Bec teve um sonho. No sonho, Gamora (nossa Gamora de verdade, não esse projeto de Gamora que apareceu em Guardiões 3) estava com outras pessoas (provavelmente uma equipe). O único membro dessa equipe de quem Bec conseguiu se lembrar ao acordar era alguém que ela não tinha certeza se era Adam ou Nova. Ele e Gamora estavam conversando sobre uma situação séria, e havia uma criança com ela, uma menininha de cabelos claros (da mesma cor dos cabelos de Peter), que aparentava ter 4 anos. Adam insistia para Gamora, dizendo "Você tem que contar a ele, Gamora! Você tem que contar." E com seu olhar ameaçador que já conhecemos bem, Gamora o encarava negando e jurando matá-lo se ele contasse, pois ela mesma contaria no momento em que fosse seguro. Depois disso, ela beijou a filha e a deixou com Adam, pra ir fazer alguma coisa muito importante. / É tudo que minha amiga se lembrou do sonho. Eu tive um mega insight e desse sonho eu criei essa história. Por muito tempo eu e Bec falamos sobre isso, ela leu trechos que eu estava escrevendo e deu muitas ideias e opiniões preciosas sobre essa fanfic. Eu não sei porque ela desapareceu do instagram, mas sou muito grata por esse presente astral que virou fanfic, e por todas as conversas maravilhosas que tivemos. Dedico esse capítulo a você! Finalmente escrevi seu sonho.



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Capítulo 30 – Ampulheta

                Gamora entrou no palácio pela porta da frente, acompanhada por Meredith, Adam e Alia como de costume, e vendo Ayesha sentada em seu trono, cercada de outras soberanas jovens como Alia, e os guardas que sempre estavam nos cantos do salão quando alguém chegava. A guerreira puxou uma caixa com uma bateria anulax do cinto, e a estendeu para Ayesha. Uma das soberanas pegou o objeto e o levou até a sacerdotisa, que abriu a caixa e pegou a bateria com cuidado para avaliar o estado do objeto, como sempre fazia.

                - Nova e perfeita como as anteriores. Vejo que está cumprindo bem sua pena – a sacerdotisa disse, ignorando outra vez o termo acordo.

                Gamora simplesmente a ignorou, preferindo economizar sua energia.

                - Mais três dessas e o que acertamos estará cumprido. Se localizar o restante de sua equipe, vocês estarão livres após um pedido formal de perdão.

                Adam não perdeu como Gamora apertou os dentes para se impedir de bufar de raiva e manter a expressão fria e séria de sempre.

                - Por que vocês são dourados? Ninguém lá fora tem essa cor – Meredith perguntou de repente, diretamente para a sacerdotisa, alarmando os três adultos ao seu lado.

                Ayesha pareceu surpresa, e as jovens a sua volta tinham uma expressão de quem acabara de ver algo muito fofo.

                - Apenas o povo soberano possui essa aparência, que reflete perfeitamente bem a nossa sociedade – Ayesha respondeu séria para a criança, que claramente não entendeu bem – Nunca ficou curiosa em saber porque você não se parece com sua mãe?

                Meredith olhou para cima, encarando Gamora, que já a olhava de volta, as duas estando de mãos dadas.

                - Tenho os olhos e metade do cabelo dela.

                Até Gamora quis rir com isso, mas se segurou, enquanto todos os outros soberanos, exceto Ayesha e alguns guardas, faziam o mesmo. Mas Gamora não esperava que justamente agora Meredith fosse despertar a parte de Peter que tinha dentro dela, e só notou tarde demais o sorriso travesso no rosto da filha.

                - A senhora já ouviu falar do Taserface?

                Com isso, risinhos vieram de alguns dos soberanos, que claramente tinham tomado conhecimento sobre o ocorrido na época, e Ayesha os olhou com irritação, fazendo-os precisar de ainda mais força para conter o riso.

                - O assunto de hoje está resolvido. Adam, acompanhe-as de volta. Alia, leve a bateria para o local adequado.

                - Sim, Suma Sacerdotisa – a jovem assentiu, contendo-se e subindo os degraus para pegar o objeto, enquanto ao longe Adam já levava Gamora e Meredith de volta, e a pequena relatava mais uma vez a história de Taserface para o jovem dourado, que permaneceu em silêncio, ainda que Alia tivesse certeza de que ele também estava se contendo.

                Com a nova menção do nome do falecido ex-saqueador, os soberanos no hall não conseguiram mais se segurar e gargalharam.

                - Não é esse tipo de postura que exibimos na frente dos prisioneiros – Ayesha reclamou.

                - Mas é impossível levar esse nome ridículo a sério – um dos guardas argumentou.

                - Tenho até pena do cara que morreu acreditando que ter esse nome era algo legal – outro guarda falou.

******

                Gamora olhou para a filha adormecida na cama, e sentou-se próxima da única janela que havia no quarto. Estando no terceiro andar do palácio, podia ver as estrelas claramente. Ayesha a transferira novamente, outra vez para dificultar possíveis fugas, e para permitir acomodar duas camas no quarto já que Meredith estava crescendo. Era em noites como essa que ela e Peter ficariam sozinhos no convés da nave, sentados na cadeira de um dos dois, Gamora em seu colo enquanto Peter a abraçava e acariciava seu cabelo. Os dois passariam horas olhando as estrelas e contando histórias de suas vidas, ou planejando algo para fazer no próximo planeta. Geralmente quando as horas avançavam os dois seguiam juntos para dormir em seu quarto, mas às vezes Gamora adormecia no peito do terráqueo, que era a coisa mais fácil do mundo com Peter beijando sua testa e falando baixinho com ela. E Gamora acordaria na manhã seguinte dentro do abraço dele, percebendo que estavam em sua cama e pensando na sorte que tinha por tê-lo encontrado.

                Quando seus devaneios cessaram e a realidade pesou sobre ela de novo, a guerreira mais uma de muitas e muitas vezes odiou Thanos e tudo que ele fez, odiou Ayesha e os soberanos por impedirem que Meredith tivesse uma infância normal, a mais normal que Gamora pudesse oferecer, mesmo que sozinha. Se ao menos estivessem livres, se ela pudesse chegar até Xandar, se Nova Prime ou Dei estivessem realmente vivos, as duas poderiam tentar começar uma vida lá. A Tropa Nova certamente não lhe negaria ajuda. Com a proximidade do fim do acordo, esses pensamentos e sentimentos conflitantes vinham mais e mais a sua mente para perturbá-la com medos, dúvidas e desespero.

                Olhando uma última vez para Meredith, a zehoberi não se conteve mais e escondeu o rosto entre as mãos permitindo que as lágrimas caíssem e aliviassem a imensa ansiedade que sentia. Ao contrário de outras vezes, antes de Thanos roubar sua vida pela segunda vez, a dor não se foi junto com as lágrimas, e Gamora só se sentiu pior e ainda mais cansada e frustrada. Respirou fundo para tentar se acalmar e só abriu os olhos e os secou quando finalmente conseguiu. Ergueu novamente a cabeça para olhar pela janela e tentar esvaziar sua cabeça de qualquer coisa que não fosse sobreviver, cuidar de Meredith, e encontrar uma forma de burlar o grande sistema de segurança dos soberanos ou fugir no primeiro planeta em que pousassem para alguma missão caso Ayesha não cumprisse o prometido.

                - Meu Senhor das Estrelas... – sussurrou após muito tempo sem falar essa combinação de palavras.

                Assustou-se quando sentiu Meredith repousando as mãozinhas e a cabeça em sua perna, ficando surpresa por não tê-la ouvido acordar.

                - Me desculpe por acordar você, meu amor – falou com a melhor voz de que era capaz enquanto secava o rosto.

                - Não tô com sono.

                Gamora a pegou no colo e a sentou de frente para a janela, querendo evitar que ela visse seu estado. Meredith tinha apenas três anos, logo faria quatro, mas era muito inteligente para a idade.

                - Tá com dor?

                - Não, querida.

                - Então por que tá chorando? Quem é o Meu Senhor das Estrelas? É o mesmo das suas histórias?

                Gamora inspirou fundo quando a filha perguntou exatamente o que ela temia. Gamora já tinha lhe falado bastante sobre Peter, mas ela era muito pequena para lembrar de tudo. Ultimamente suas memórias pareciam estar ficando mais firmes.

                - Você tinha um Senhor das Estrelas que nem o da história? – A menina questionou novamente.

                Gamora encarou os olhinhos curiosos enquanto pensava no que responder.

                - Eu tive, querida. Há muito tempo. Sinto falta dele.

                - Ele era legal que nem Mary Pop?

                - Mary Poppins. Ele era sim. Ele era um anjo.

                - Ele tinha asas?!

                - Não, meu amor. Eu quis dizer que ele era uma pessoa muito boa.

                - E por que ele não vem nos buscar? Você não fala mais com ele?

                - Eu falaria se pudesse.

                - E por que não pode?

                - Mere... Às vezes... As coisas não acontecem como esperamos que aconteçam, ou como queremos. Ninguém sabe porque, mas às vezes a vida faz isso – explicou acariciando os cabelos ruivos e cor de rosa da filha – E por mais triste que seja, um dia nos separamos numa batalha, e nunca mais nos vimos. Eu já falei isso pra você, mas você ainda é muito pequena, é normal não lembrar de tudo.

                - Não pode procurar?

                - Precisamos de um computador pra isso, e não temos um. E mesmo se tivéssemos, o universo tem um tamanho tão grande que ninguém nunca conseguiu calcular. Não conseguiríamos encontrá-lo tão fácil caso ele não esteja onde morávamos antigamente.

                - Ele também gostava de música?

                - Demais. Ele sempre encontrava uma forma de ouvir música em qualquer lugar. Às vezes ele trançava meu cabelo igual eu trancei o seu há alguns dias.

                - Achei que meninos não sabiam arrumar o cabelo.

                Gamora riu.

                - Ele sabia. E muito bem.

                - Eu tenho pai mesmo? Ele é o Senhor das Estrelas?

                - Claro que tem, meu amor. Um bebê só pode nascer se tiver um pai e uma mãe, na maioria das espécies. Um dia vamos sair daqui, e procurar por ele. E se encontrarmos o Senhor das Estrelas, você pode dar um abraço nele pra deixa-lo feliz de novo, como combinamos. Eu não sei o que seu pai anda fazendo agora, se ele ainda faz as mesmas coisas de antes. Mas tenho certeza que ainda nos ama muito.

                - Por que não coloca mais músicas naquela caixa? Ele ia gostar de ouvir.

                Gamora pensou por um instante, concluindo que Meredith estava se referindo ao walkman prateado que ela havia ganhado anos atrás. Não era muito útil tendo apenas duas fitas com uma única música cada, ou sem conexão com a holo net ou rádio, mas Gamora ficou feliz por não recusar algo que a fazia se lembrar Peter, e se encontrasse mais fitas com boa música em algum momento, queria que Meredith as ouvisse. In The Meantime e No Matter Where You Are eram tudo que tinham para realmente ouvir. E pensando na segunda canção, Gamora não conseguia deixar de sentir com muita força que tinha um pedacinho de Peter aqui com elas.

                - Precisamos de fitas com aquelas músicas, docinho. E infelizmente nós não temos. Nem sempre conseguimos encontrar ou temos tempo de procurar nas missões.

                - Por que nunca saímos daqui? Por que só Adam deixa a gente sair?

                - Já falei disso pra você. É algo que você não consegue entender agora, e é muito estressante. Eu vou lhe contar um dia quando você tiver aprendido mais coisas.

                - Por que você fala tanto sobre meu próximo aniversário?

                Gamora a olhou, não esperando essa pergunta agora.

                - Querida – disse baixinho e com seriedade, ajustando a posição da filha em seu colo para poder encará-la – Escute com atenção. Você vai fazer quatro anos em pouco tempo. E esse dia é especial porque faltará pouco pra o dia do acordo. Provavelmente estaremos fora daqui no seu aniversário de cinco anos. Se o acordo não funcionar, vamos sair daqui de outro jeito. Você não pode contar isso a ninguém, nem a Adam e Alia, é muito importante que não conte.

                - Por que...?

                - Prometa! Por favor.

                Meredith a encarou em silêncio por um tempo, e Gamora sentiu o coração apertar dolorosamente por precisar impor algo tão difícil a uma criança tão pequena. Os olhos que refletiam os seus não pareciam entender suas razões, mas talvez entendessem seus sentimentos.

                - Prometo.

                - Muito bem. Antes desse dia vamos aprontar algumas coisas. Uma bolsa com coisas importantes, só as mais importantes e que pudermos carregar sem dificuldades. Comida, água, seus brinquedos favoritos, lembranças de quando você nasceu, os equipamentos pequenos que Adam e Alia trouxeram pra nós e a pouca documentação de exames médicos que temos. Vamos começar hoje mesmo a separar tudo e guardar antes desse dia chegar. Se Ayesha não nos deixar ir embora quando o acordo acabar, eu e você vamos fugir.

                - Mas tem um montão de guardas lá fora, maiores do que nós, mamãe.

                - Eu sou mais forte e rápida do que eles.

                - Então como conseguiram prender você?

Meredith a pegou. Essa era uma boa pergunta, da qual Gamora não tinha muita certeza da resposta, então respondeu o que era mais fácil de deduzir. Meredith não entenderia agora a existência de duas Gamoras, então essa parte poderia ficar para o futuro.

                - Quando eu cheguei aqui, tinha acabado de acontecer uma guerra muito grande no universo. Muitas pessoas se machucaram e tiveram sequelas.

                - O que é isso?

                - Sequela é uma consequência de algum ferimento ou doença, às vezes é só uma cicatriz, às vezes algum defeito que fica no seu corpo ou na sua mente depois de enfrentar alguma coisa muito difícil de curar.

                - Você tem isso?

                - Não, não tenho mais. Mas quando cheguei aqui eu estava sem minhas memórias, eu nem me lembrava de quem era nossa família ou que eu já conhecia os soberanos. Vim parar aqui por acaso porque eu estava perdida e sem saber o que fazer. Como eu não me lembrava que eles não gostam de mim, fui capturada facilmente. E só depois disso Adam me ajudou a recuperar a memória.

                - Por que ele não te ajudou a fugir?

                - Nessa época nós ainda não éramos amigos, ele ainda não me conhecia e achava que eu podia realmente ser perigosa. Só depois ele descobriu que não, mas já era tarde pra fugir.

                - Mas você é mais forte que eles, você não disse?

                - Sim. Mas eu não queria arriscar que machucassem você. É fácil lutar sozinha. Mas eu não tenho certeza se daria conta de lutar e proteger você ao mesmo tempo. Mas agora você cresceu, você aprendeu a falar, andar, correr e até a se defender e ser furtiva. Se fugirmos e em algum momento e eu precisar colocar você no chão pra lutar, você tem que prestar muita atenção, não deixar ninguém pegar você e me seguir o tempo todo.

                - Mas sou muito pequena pra ser tão rápida e forte que nem você.

                - Você é minha filha, e um dia vai fazer tudo ainda melhor do que eu faço, e isso começa agora. Você pode, e vai fugir, comigo ou sozinha.

                - Não quero ficar longe de você.

                - Nem eu, meu docinho. Mas às vezes não temos escolha. Se acontecer, você vai na frente, e depois eu encontro você.

                A criança ficou um longo tempo em silêncio, sua mente provavelmente lutando e buscando todo tipo de alternativa contra essa possibilidade. Mas como Gamora acabara de dizer, Meredith era sua filha e de Peter, e ela tinha o senso de estratégia do pai.

                - E como vou sair daqui sozinha? Não sei pilotar. Meus pés e mãos ainda nem alcançam os comandos nas naves.

                Gamora riu com o quão adorável foi essa colocação. Meredith descobrira isso ao se sentar na cadeira do piloto na última missão, longe dos olhos de Ayesha, claro.

                - É verdade. Mas é aqui que entra a única exceção ao nosso segredo. Se acontecer dessa forma, você vai pedir ajuda a Adam e Alia. Quando você nasceu eu fiz Adam prometer que protegeria você com a própria vida dele, e que se eu não pudesse mais cuidar de você, ele te levasse até um planeta bonito chamado Xandar, onde alguns velhos amigos da mamãe vão cuidar de você. E se Xandar não puder te receber, ele te levará pra um planeta chamado Terra, onde outros amigos também podem cuidar de você.

                Meredith bufou de descontentamento.

                - Por que não gostam de nós aqui?

                Gamora ficou em silêncio, em parte surpresa com o quão curiosa sua filha estava. Hoje era o dia das perguntas. A zehoberi sorriu, Nova Prime já lhes dissera que toda criança fazia isso um dia.

                - Há muito tempo, antes da guerra, eu estive aqui com nossa família. Só estávamos juntos há 4 anos, que é mais ou menos o tempo em que eu e você estamos aqui, e antes de sermos uma família não éramos pessoas tão boas. Alguns de nós melhoraram rápido, outros demoraram bem mais tempo, e nesse dia, um desses roubou uma coisa daqui. Precisamos usar essa coisa pra salvar a galáxia de um perigo muito grande, então não pudemos devolver. E até hoje a líder dos soberanos ficou com muita raiva de todos nós. Eu vim parar aqui sem querer, então aproveitaram pra me prender.

                - E eu?

                - Você nasceu aqui. Eu estava esperando você quando isso aconteceu.

                Meredith ficou um longo tempo em silêncio, sua expressão parecendo confusa e indicando que ela estava cansada de fazer perguntas por enquanto, mas uma última questão veio para Gamora.

                - Mamãe...

                - Sim?

                - Por que eu não sou verde que nem você?

                Meredith quase a pegou desprevenida de novo, uma vez que ela vira Ayesha implantar essa dúvida na cabeça da pequena no dia anterior.

                - Porque você se parece com o seu pai.

                - Você ainda lembra dele?

                - Eu nunca esqueceria. Seu pai é uma pessoa difícil de esquecer. Mesmo porque ele é muito bonito – Gamora sorriu.

                - Como ele é?

                - Grande e forte. Tem as mesmas cores de pele e cabelo que você, menos o rosa, ele é apenas ruivo, tem cabelo curto e ondulado. Os olhos dele são verdes e gentis. Ele ama ouvir música e dançar, e está quase sempre sorrindo. Ele também é muito brincalhão e carinhoso, e costuma usar uma jaqueta ou sobretudo vermelhos, de couro, como o pai dele.

                - Vovô?

                - Sim.

                - Como ele é?

                Gamora tomou um tempo para pensar em como explicar isso, e se perguntou se realmente Meredith estava dando conta de gravar tanta informação.

                - Eu já contei muitas coisas pra você hoje, assim vai acabar esquecendo alguma delas. Eu vou falar sobre seu avô, e depois nós vamos dormir. Já é muito tarde.

                A pequena concordou.

                - Você tem dois avôs. O pai de verdade do seu pai, que se chamava Ego, era um cara mal e tentou nos machucar. Mas ele não está mais aqui e não vai mais machucar ninguém. Ele e seu pai são parecidos, embora seu pai se pareça mais com a mãe dele. Seu outro avô foi quem cuidou do seu pai desde que ele era pequeno. Uma boa pessoa, apesar de adorar dar uma de durão.

                - Qual o nome dele?

                - Yondu. Ele é de outra espécie, com pele azul, olhos vermelhos, e dentes amolados.

                - E vovó?

                - Meredith, a mãe do seu pai, que tinha o mesmo nome que você. Seu pai a amava muito. Infelizmente ela também não está mais aqui, mas tenho certeza que ela ama você de onde quer que esteja.

                - E os seus pais, mamãe?

                Dessa vez foi Gamora quem suspirou incrédula, se perguntando se sua filha havia consumido algum tipo de energético por acidente. E a pergunta era algo muito maior do que todas as outras.

                - Como eu disse antes, já te contei muitas coisas hoje. Falaremos mais sobre isso depois. Estou cansada agora. Outro dia eu conto sobre eles pra você. Vamos dormir.

                Meredith bocejou e assentiu, finalmente percebendo que também estava com sono, e desceu do colo da mãe para que as duas voltassem para a cama.

                - Mere, antes de deitarmos... Eu quero que você repita pra mim o que eu disse sobre fugir. Quero ter certeza de que você se lembra.

                - Se você precisar me colocar no chão, eu preciso prestar atenção e ser rápida pra seguir você sem deixar ninguém me pegar. E se pegarem você, eu tenho que fugir e pedir ajuda a Adam ou Alia.

                - Isso! E pra onde eles devem levar você?

                - Pra Xandar. Ou pra Terra.

                - Certo. Só mais uma coisa. É importante você saber os nomes das pessoas que devem cuidar de você. Se levarem você pra Xandar, devem deixar você com a Tropa Nova, com uma mulher conhecida como Nova Prime, e um amigo chamado Dey. Se levarem você até a Terra, devem deixar você com os Vingadores, com Tony e Pepper se possível.

                - Como vou conseguir lembrar de tantos nomes?

                - Vamos repetir isso todos os dias até o dia de fugir. E lembre-se que é nosso segredo.

                - Como Adam e Alia vão ajudar se é segredo?

                - Adam se lembra dessas coisas. Se não nos deixarem ir, eu direi a ele pra fazer o que me prometeu, e ele saberá. Agora vamos dormir.

******

                Gamora acordou com uma sensação estranha, como se algo importante estivesse para acontecer, como no dia anterior ao nascimento de Meredith na prisão, como se algo, muito em breve, fosse quebrar a ampulheta que marcava seu tempo e de Meredith ali, e alterar completamente suas vidas.

Sentou-se na cama tentando lembrar de seus sonhos, que se apagaram na urgência de se preparar para mais uma missão, mas tinha sido algo feliz, e bastante, disso ela se lembrava. Após alguns minutos tentando se lembrar sem muito sucesso, apenas o rosto de cada um de sua família veio a sua mente, quase como se estivessem ali com ela durante seu descanso. Torcendo para que o quer que as aguardasse hoje não fosse algo ruim, Gamora se levantou, decidindo deixar Meredith dormir mais alguns minutos. Beijou a bochecha da filha e se preparou para o dia, trocando de roupa e sentindo uma imensa vontade de levar consigo o que ela e Meredith haviam preparado para uma possível fuga, apesar de ainda faltarem três baterias para coletar, e hoje buscariam apenas mais uma.

— Ela não vai conseguir carregar tudo isso. Se nos separarmos, terei que dar um jeito de levar e guardar num lugar seguro, ou confiar a Adam e Alia – Gamora pensou alto enquanto verificava a mochila e tinha certeza que tudo que tinham de mais importante estava ali. Pegou Celeste, o ursinho ruivo de Meredith, nome que ela mesma escolhera, e o colocou na mochila também, a fim de não deixa-lo para trás por acidente.

A garota havia completado quatro anos há duas semanas. O presente de Adam e Alia para ela dessa vez fora um casaco cor de rosa, uma vez que alguns dos planetas que estavam visitando tinham entrado numa época de frio. Meredith amou a cor e a textura macia da peça de roupa. Pensando nisso, Gamora separou o casaco para que ela usasse hoje se quisesse.

— Mamãe...? – A pequena sentou-se na cama, esfregando os olhos e se espreguiçando – Vamos agora?

— Ainda não. Devem nos trazer comida daqui a pouco, e só depois de comer vamos sair.

— Cadê Celeste?

— Eu o guardei na nossa mochila de fuga, pra ter certeza que não vamos esquecê-lo.

— Vamos fugir hoje? – A menina sussurrou surpresa.

— Eu não sei. Mas tive uma intuição. Vamos levar a bolsa por precaução. Se não for hoje, trazemos tudo de volta, e esperamos a hora certa.

— Posso te ajudar a carregar as coisas?

— Não podemos levar muito, é melhor uma mochila só, Mere. Se numa situação em que não houver outro jeito, eu e você precisarmos nos separar, eu ou Adam e Alia vamos guardar tudo num lugar seguro até estarmos as duas livres, e pegamos depois.

Meredith assentiu.

— Vá se arrumar. Adam ou Alia devem vir logo. Você quer usar seu casaco rosa hoje?

— Quero sim!

******

A feira de peças em que estavam era extensa, provavelmente levaria mais de um dia inteiro para se andar por todo o local, e muito mais do que isso para conhecer todos os comerciantes. Gamora acabara de conseguir mais uma bateria anulax em troca de trabalho braçal para carregar peças pesadas junto com a dona de um dos estabelecimentos maiores para o local de exposição de vendas, algo que demoraria muito mais com ajudantes comuns com uma força comum.

Estavam voltando junto com Alia e Meredith para a nave. Gamora continuava tomada pela mesma sensação de que algo iria acontecer. Adam veio literalmente voando até elas, habilidade que ele já dominava perfeitamente, parecendo muito preocupado.

— O que aconteceu? Onde está o piloto? – Alia perguntou.

— Aster atacou o reino. Ele está falando com nosso planeta pelo rádio.

— O que?! – Gamora e Alia perguntaram ao mesmo tempo.

— A criança da Ordem Negra? – Meredith perguntou – Ela quer nos pegar?

— Ela não vai nos pegar – Adam tentou tranquilizar a criança, mas sem muito sucesso.

— É uma boa ideia voltarmos agora? Ela quer Gamora – Alia lembrou.

— Também estou tentando descobrir isso. Talvez possamos leva-las a algum dos outros planetas aliados enquanto resolvemos isso.

A conversa foi interrompida pela chegada do piloto soberano, respirando ofegante pela corrida.

— Ela tem aliados – ele disse – Alguns continuam atacando o palácio e alguns pontos da cidade. A garota fugiu. E outros se dispersaram pra sabe-se lá onde.

— Agora sabemos o que esteve fazendo por todo esse tempo – Adam deduziu.

— O que vamos fazer? – Meredith perguntou com medo.

— Há alguma ordem pra nós? – Adam questionou o piloto.

— Eu tentei falar sobre isso, mas a comunicação caiu.

— Volte à nave e tente conectar com outro terminal.

O rapaz assentiu, correndo pelo caminho de volta para obedecer a ordem de Adam. Gamora pegou Meredith no colo e os três adultos se entreolharam. Mas antes que qualquer um deles conseguisse tomar alguma decisão, o coração de Gamora disparou ao reconhecer uma das naves que estava descendo no estacionamento ao longe.

— A entrada aqui não devia ser controlada?

— Mais ou menos. Como lhe dissemos, esse planeta ainda está fechando os acordos de parceria, por isso a sacerdotisa nos deu tão pouco tempo pra ficarmos aqui.

— Podem ter nos rastreado?

— Talvez – Alia respondeu – Você está vendo alguém conhecido que não gostaríamos de encontrar agora? – Ela perguntou baixinho.

— Não... Mas eu conheço aquele modelo de nave.

Os dois dourados olharam para a nave que pousava e se destacava das demais, com detalhes em azul marinho, preto e verde acinzentado evidentes na lataria prateada.

— É um dos modelos que a Ordem Negra tinha. Não podemos continuar aqui.

— Então o que fazemos enquanto aguardamos as ordens?

Gamora olhou para Alia, tentando decidir rápido enquanto a nave sumia de vista por enquanto, ao finalmente pousar ao longe.

— Eu vou acabar com isso.

— O que? Não, você não vai sozinha, eu vou também.

— Você prometeu proteger minha filha com a sua vida! E o momento de cumprir essa promessa chegou.

— Eu os conheço, sei o que esperar deles. Você vai levar Meredith até Xnadar, e não ser pego até lá.

— Mas mamãe...!

— Querida! – Gamora encarou a filha – As pessoas perigosas estão vindo pra cá. Você ainda não pode lutar com elas, mas eu sim. Adam e Alia vão proteger você. Eles vão deixar você com nossos amigos até a mamãe ter uma boa conversa com os malvados e deixa-los mais calmos. Então vou entregar o restante das baterias e depois vou até você.

— E se você se perder?!

— Eu não vou. Eu prometo! Eu conheço a galáxia muito bem, eu não vou me perder.

— Gamora... A atenção não está em nós por enquanto. Você devia fazer alguma coisa. Devia contar a ele. Parte desse planeta ainda não fechou alianças com meu povo ou qualquer outro, não poderão delatar você. E não sabemos o que mais vai acontecer de agora em diante. Você tem que contar a ele.

— Por mais que me doa, é justamente porque ainda não sabemos em que isso vai dar que não é seguro fazer contato ainda. Eu voltarei pra terminar de cumprir nosso acordo. Tudo que exijo é que proteja minha filha. Ela nunca teve nada a ver com isso. Com essa bateria, já temos oito – Gamora contabilizou, entregando o objeto embalado a Alia – Considere que as duas que faltam são pela minha vida e a de Rocket. Eu voltarei pra entregar o que falta. Depois que eu colocar esses remanescentes no lugar deles. Leve Meredith a Xandar, deixe Alia num lugar seguro, e volte pra me buscar e me levar de volta. Acredito que seu povo é capaz de sobreviver sem você até terminarmos tudo. Se a líder não está lá e eles se dividiram, será ainda mais fácil. Leve Meredith a Xandar. Deixe-a segura dentro da sede, ela saberá o que fazer. Não fale nada ainda. Se você contar a ele, ou a qualquer outra pessoa, eu vou matar você. Quero fazer isso direito, e nunca mais precisar voltar ao seu planeta a partir daí.

Adam encarou a amiga por um longo tempo, tentando pensar rápido nos possíveis desdobramentos de todas as palavras dela. Gamora entregou a mochila que carregava para Alia, e pôs Meredith no colo de Adam, com certa dificuldade, uma vez que a menina não queria ir.

— Mamãe!

— Querida – chamou séria, segurando o rosto da filha com as mãos – Você ficará bem, falamos muito sobre o que fazer se algo assim acontecesse. Adam vai proteger você. A Tropa Nova também. Falta muito pouco pra tudo isso acabar. Logo eu irei encontrar você – falou com urgência, e a voz embargada de tristeza enquanto olhava na direção do estacionamento, tentando distinguir alguém estranho entre as pessoas que iam e vinham – Eu te amo mais do que tudo! – Disse por fim, beijando a testa da filha e lhe dando um longo abraço – Estarei esperando você aqui – Gamora prometeu, encarando Adam profundamente – E se algo acontecer a Meredith, eu mesma acabo com aquele planeta extravagante.

Dando um último beijo nos cabelos da filha, enquanto mais uma vez murmurava um eu te amo, e com dor se afastava do abraço de Meredith, Gamora desembainhou a God Slayer enquanto corria por entre as pessoas na direção do estacionamento, sendo observada por Adam e Alia, ainda perdidos e surpresos com toda a situação.

Percebendo a distração do amigo dourado, Meredith discretamente começou a escorregar de seu abraço, e mesmo quando os dois soberanos perceberam o que estava acontecendo, a menina decidiu continuar seu próprio plano improvisado, e usar sua super força e truques ensinados pela mãe pra pular para o chão e fugir. Ela só precisava se esconder, se esconder até sua mãe derrotar as pessoas com quem tinha ido lutar, e então encontra-la novamente. Adam e Alia estariam ocupados procurando as duas e todos sairiam dali juntos. Depois disso poderiam ir a Xandar ou à Terra como sua mãe queria. Parecia muito simples, como sempre parece para uma criança. Adam passou voando sem percebê-la quando ela se escondeu num stand vazio no início da feira. Alia chamava por ela desesperada, mas Meredith ignorou, e furtivamente começou a passar de um stand de vendas para o outro por entre as pessoas distraídas.

A feira era muito grande, seria fácil evitar Adam e Alia. Meredith fez isso por tanto tempo que não tinha ideia do quanto da feira tinha percorrido, ou onde os dois amigos dourados estavam agora. Olhou em volta e se escondeu novamente em mais um dos pontos de venda vazios, tentando encontrar algum sinal dos soberanos. Seu coraçãozinho estava disparado com medo de ser encontrada. Por mais que sua mãe tivesse tentado lhe explicar a situação e que Adam e Alia fossem amigos, Meredith não entendia completamente o que estava acontecendo, e o universo era grande demais, grande o suficiente para que talvez as duas se perdessem para sempre estando tão longe. E esse não era o plano original. Elas não tinham previsto ou combinado o que fazer nessa exata situação.

Tentando respirar fundo para se acalmar, como Gamora havia ensinado, a criança olhou por uma fresta no balcão de madeira do stand, vendo alguém familiar sentada num banco para descanso do local. Sim, Meredith conhecia aquelas roupas verdes, antenas, olhos puxados e mechas azuis no cabelo castanho. Nunca vira pessoalmente, mas Gamora falara sobre Mantis muitas vezes em suas histórias sobre os Guardiões. O restante deles estaria aqui também?! Eles também poderiam protege-la, também poderiam cuidar dela, e encontrar sua mãe sem prendê-la de novo depois. Ela não sabia o que fazer para que Ayesha não descobrisse, mas precisava tentar. Ela vira sua mãe sofrer na prisão desde o começo de sua breve vida, e isso tinha que acabar.

Se afastando para a escuridão ao ver Adam passar voando e Alia correndo na direção de onde tinham vindo, Meredith saiu de seu esconderijo quando os dois estavam longe o suficiente, e correu na direção de Mantis.


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