Teacher's Pet escrita por xxxumaico


Capítulo 6
Argentum Sativa


Notas iniciais do capítulo

oi, gente!
voltei ♥

algumas considerações sobre esse capítulo:

é importante que vocês percebam a dinâmica das relações Matthew/Josephine - Matthew/Meredith e o que decorre delas, assim como possíveis consequências futuras. além disso, atentem-se também às oscilações de humor constantes da Meredith, isso será importante lá pra frente.

o pequeno flashback deste capítulo está marcado com aspas, mas não está em itálico.

espero que gostem e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790073/chapter/6

 

— Eu ainda acho que não.

 

Após minha resposta retraída, a esperteza traduzida em um esticar de lábios de Meredith me levou, em poucos segundos, a um projeto de paraíso próximo. Ela pôs a mão direita sobre as sobrancelhas claras e despenteadas, protegendo seus olhos cristalinos do enxurro brutal que nos atingia sem qualquer sinal de piedade. Por alguns instantes, olhamo-nos sem perspectiva alguma de futuro, mesmo que fosse um próximo; estávamos imersos naquele embalo mágico e violento das nuvens furiosamente naturais. Meredith era, de certa maneira, como aquele temporal; singela, de beleza nativa de si mesma, mas também de uma intensidade bárbara e que fere com facilidade.

 

— Meu olhos estão queimando! — ela me avisou e moveu sua mão até o quadril.

 

— Eu estou imitando os seus olhos, então — eu sorri com minha pequena referência ao nosso diálogo anterior e ela, por sua vez, abaixou a cabeça, gesticulando-a horizontalmente.

 

— Eles são seus, Sr. Burke — Meredith levantou sua face à minha. — Com seu próprio espírito e originalidade.

 

— É melhor irmos — eu ignorei seus dizeres e ela assentiu.

 

— O senhor gostaria de uma carona?

 

— Meu carro está logo ali — dispensei sua proposta ao apontar a direção contrária.

 

— Certo.

 

Os olhos de Meredith se estreitaram e, os meus, quase que naturalmente naquela forma sempre, realizaram o movimento contrário: abriram-se. Como se ela tentasse enxergar a mim e eu, amedrontado por seu poder, expulsasse-a de minha estrutura ocular abalada. Giordano acenou, marcando a sua despedida inevitável e o sentimento de abandono que me tomaria dali em diante.

 

— Você tem olhos bonitos — Meredith virou uma última vez, deixando seu queixo alcançar o ombro, o que me proporcionava a enigmática visão de seu rosto em perfil. — Não se permita ver somente o escuro.

 

 

A inquietação que tomava conta do meu corpo se traduziu na enrugação perceptível de minha glabela, ação que causou uma reação na garota em minha frente: a ponta da boca bem desenhada de Meredith se ergueu. Era fascinante poder enxergá-la tão perfeitamente sob a chuva; e aí minha mente me trapaceava, afinal, eu estava de fato reconhecendo sua face ou somente dando cor à imagem de quase perfeição que havia atribuído a ela? Independente da conclusão — se é que episódios como aquele possuíam o luxo de algum encerramento —, perdi-me em seu flerte barato fantasiado de subjetividade banal, de modo que demorei alguns instantes para poder entrar no carro.

 

Ao chegar em casa, a chuva já havia cessado e o céu conferia uma tonalidade quase púrpura — senão pela proximidade, novamente, de nuvens carregadas de uma nova tempestade. Port Angeles era muito criativa nesse aspecto, de fato. O entardecer me atraía para a janela, mas eu permaneci próximo da porta do apartamento, empenhado em molhar minimamente a extensão da sala de estar. Despi-me do sobretudo encharcado e o pendurei no cabideiro estrategicamente posto ali, a fim de regular os estragos causados pelo excesso de água que carregávamos em nossas roupas.

 

— Josie? — eu chamei por minha esposa enquanto tentava, com as mãos, secar as gotículas em meus cílios. Desci-as, em seguida, por toda minha face.

 

— Sim, Matt? — sua voz ultrapassou os poucos cômodos do apartamento e, mesmo assim, senti-a vindo de longe.

 

— Estou em casa — avisei o óbvio e avancei alguns passos em direção ao corredor. — Hoje tive um dia cheio. Passei pelo café da sua mãe, até pude conversar um pouco com Brianna.

 

O silêncio foi a resposta nada surpreendente dada por Josephine. Mesmo compreendendo as questões difíceis e inelutáveis dela, achava que ao menos poderíamos ter um diálogo civilizado. Todavia, nem sequer isso era possível com a nova versão de Jo. Sem ouvir sua voz, então, eu cruzei o corredor e segui até o nosso quarto, marcando todo o chão de madeira com a consequência da tempestade que havia enfrentado mais cedo.

 

— Jo, estou falando com você — pontuei em baixo tom de voz; tão baixo que nem mesmo a mulher em minha frente, esparramada pela cama, conseguira me escutar.

 

— Sim, é exatamente disso que eu estou falando! — a animação na voz de Josie era palpável ao responder a pessoa que falava com ela ao telefone. Ela empunhava o aparelho distraída e confortavelmente, como se aquela conversa já durasse há séculos. Entretanto, o cenário descontraído de seu diálogo aparentemente fenomenal mudou quando ela pôs seus olhos castanhos e radiantes em mim. Isso me intrigara como poucas coisas já haviam me intrigado na vida: Jo estava feliz.

 

— Atrapalho? — questionei-a com o máximo de cuidado para não soar provocativo.

 

— Não — ela desenhou a palavra negativa em seus lábios que, tímidos, não emitiram nenhum som perceptível aos meus ouvidos. — Eu tenho que desligar agora. Até mais — Jo avisou à pessoa amiga do outro lado da linha.

 

— Oi — cumprimentei-a desanimadamente e segurei o batente da porta, controlando-me para não pular na cama e beijá-la, como costumava fazer nos velhos tempos em que éramos felizes.

 

— Olá — em um momento atípico, Josie sorriu para mim. A lateral de seu rosto afundou nos lençóis brancos e disfarçou-se naquela tonalidade pérola, quase idêntica à de sua pele. Os olhos, sobrancelhas e cabelos escuros dela contrastavam com a palidez do tecido, ditando a diferença entre sua pessoa e a cama. — Como foi o dia?

 

Eu não pude deixar de me alegrar com a pergunta direcionada a mim. Mesmo que tão cotidiana e aparentemente banal para alguns, era uma raridade para nós dois. Josephine já não se comunicava comigo e, ao menor sinal de progresso, sentia uma injeção de ânimo. Não soube como respondê-la ou como dosar minhas reações para não afastá-la ainda mais de mim.

 

— Cansativo — escolhi pelo básico e honesto. — E o seu?

 

— Em paz — sua voz abafada pelo colchão ainda se mostrava mais contente do que costumava ser nos últimos tempos.

 

— Você parece… — aproximei-me lentamente da cama, como quando não queremos assustar um filhote de gato vulnerável.

 

— Diferente?

 

— Bem — corrigi-a e apoiei os braços na calçadeira, mantendo uma distância segura dela.

 

— Matthew — Jo pronunciou meu nome de forma divertida. Há tempos eu não escutava aquele som.

 

— Diga.

 

— Você está molhando tudo — avisou-me e soltou um risinho agudo. Eu não pude evitar um longo sorriso.

 

— É, acho que vou tomar um banho — levantei-me e pude olhá-la de cima. Ela se deitou de costas para o colchão e me encarou como poucas vezes já fizera.

 

— Você deveria mesmo.

 

O retirar das roupas foi impensado diante das boas novas que haviam acabado de me atingir. Embora a alegria repentina de Josie houvesse cativado a melhor parte da minha alma, perguntei-me também o porquê de tamanho bom humor súbito. Era angustiante ter tantas questões acerca da mulher que eu ainda amava ardentemente; eram justamente essas questões que me faziam, a cada dia, sem sequer perceber, desistir pouco a pouco dela. Já não havia ela, entretanto, desistido de mim? A razão de sua felicidade certamente era alheia ao nosso casamento ou à possibilidade de resgatá-lo. Pensar nisso só fez aumentar a sensação dormente da fusão entre meu corpo frio e a água quente proveniente da ducha.

 

A conversa pitoresca que tive com Meredith completou minhas reflexões do banho daquela tarde, mas pensar nela sempre me trazia um desassossego agoniante que me fazia buscar, dentro da confusa mente que abrigava minhas teses, uma razão pela qual eu venerava tanto a sua imagem. Não era a sua beleza, não era! Eu nunca deixaria alguém atrapalhar minha sanidade por um rosto padronizado.

 

— Matty? — Josie chamou, contudo, senti-a mais próxima do que antes. Olhei para trás e enxerguei metade dela, sendo impedido de contemplá-la em sua totalidade por conta da cortina.

 

Ela abandonou suas vestes tão rapidamente quanto enunciou meu apelido. Meu corpo, paralisado pelo momento que imaginei nunca mais ser possível acontecer, tornou-se gelado mesmo sob a água aquecida que caía nele. Eu engoli em seco e abandonei todos os meus questionamentos anteriores quando Jo pisou na banheira, posicionando-se em minha frente.

 

— Eu sinto sua falta — Josephine ergueu a mão e correu seu dedo médio horizontalmente pelo meu peito.

 

— Eu também sinto a sua falta — murmurei e toquei seu queixo, levantando seu rosto.

 

— Não sei o que está acontecendo comigo — Jo fechou seus dedos em meu punho e, com os lábios trêmulos, deixou a primeira lágrima escapar de seus olhos até então secos. Em poucos instantes, o choro tímido dela se transformou em uma lamentação sonora e irreversível.

 

— Você vai ficar bem, amor — puxei-a para perto e agarrei sua cabeça, aninhando-a de maneira acolhedora.

 

— Eu ainda consigo senti-lo — Josephine colocou minha mão sobre seu ventre magro e sem vida, mas que, um dia, já abrigara nosso filho. Tocar aquela região depois de tanto tempo trouxe de volta as memórias que eu fechara a sete chaves em uma caixa esquecida em minha cabeça.

 

“— Josie, querida! — eu bati com força a porta pesada e brilhante que adornava a entrada sem graça do nosso pequeno flat recém-alugado. — Cheguei e só quero descansar, já não aguento mais esse ritmo nova-iorquino maluco.

 

Josephine surgiu magicamente e correu até mim. Seu abraço forte a fez entrelaçar as pernas fracas em minha cintura e eu bambeei por conta do despreparo, temendo que o pack de cervejas que carregava caísse no chão. Ela ria com facilidade e tinha o espírito mais alvoroçado do que o normal, se é que isso era possível:

 

— Adivinhe só — Jo parou de beijar meu rosto para poder me encarar. Seus olhos se tornavam menores com o riso largo.

 

— Você foi promovida na editora e eu vou poder parar de trabalhar para cuidar da casa? — brinquei e agarrei suas costas.

 

— Quase isso — ela mordeu o lábio inferior e grudou nossos narizes. — Você terá que se tornar um dono de casa, Sr. Burke.

 

— É o meu sonho, Sra. Ansbro — deixei um beijo rápido em sua boca. Ela colocou os pés no chão e continuou a me olhar fixamente.

 

— Eu não sei como você reagirá, mas eu estou feliz! E ninguém vai tirar isso de mim — advertiu-me com um tom repreensivo e antecipatório.

 

— Você adotou um labrador sem me consultar, não é? — caminhei até a mesa que separava nossa sala da cozinha e deixei as cervejas ali.

 

— Melhor.

 

— Eu não sei o que poderia ser melhor do que isso — cruzei os braços após temperar nossa conversa com ironia.

 

Josie abaixou a cabeça e, quando a levantou, tinha um sorriso brilhante enfeitando seu rosto já tão belo. Suas mãos foram até o abdome e, naquela região, ela deixou um carinho demorado e de ares maternais. Meu coração palpitou com a possibilidade de uma notícia tão arrebatadora.”

 

 

Nenhuma escala termométrica seria capaz de medir a temperatura cruel daquela manhã, mesmo que, no país do sonho americano, nós disfarçássemos essa incapacidade a partir dos graus fahrenheit. Na luta contra o frio, Josie encolheu-se ainda mais sob o cobertor e me lembrou de despertar por completo. Eu retirei o curativo de uma vez só e me levantei da cama rapidamente. Uma fungada longa e preguiçosa seguida de um coçar urgente de olhos aniquilou as esperanças que eu tinha de iniciar aquela manhã de uma maneira vivaz.

 

Após uma ligeira ducha e um ritual matutino previsível — com direito a um projeto de café da manhã —, despedi-me silenciosamente de Jo, que ainda dormia. Deixei o controle remoto do aquecedor sobre a mesa de cabeceira próxima do lado no qual ela estava deitada e fechei a porta do quarto. Eu ainda refletia sobre o momento que havíamos tido no dia anterior, mas estava convencido de que fora muito mais um pedido de socorro do que uma demonstração de amor e saudade — e, para mim, aquilo já era ótimo. Nós não havíamos transado e estava tudo bem. Eu não queria pressioná-la mais do que já estava pressionando, não em um período de extrema fraqueza.

 

Tranquei-me, mais uma vez, dentro do carro e segui ao colégio que abrigava as peças raras e juvenis do corpo adolescente de Port Angeles. Cumprimentar Karina Young nos corredores e conhecer cada vez mais colegas de profissão havia se tornado algo frequente em minha vida; infelizmente, tudo aquilo me lembrava os gloriosos dias em que tocava minha pesquisa em NY, munido somente de um lugar considerável — para minha idade — na academia, e de um espaço saudável na mente para poder trabalhar. Afundar-me naquele ninho de ensino médio era como trair minha alma mater.

 

— Bom dia a todos — com a sala já estando aberta antes da minha chegada, saudei os discentes enquanto andava até minha mesa.

 

Meus olhos, é claro, caíram até os de Meredith Giordano, que se levantou rapidamente para vestir mais um casaco. Suas pernas se moveram em um abre e fecha descoordenado e ainda digno de uma deusa de pés argentinos*. Ela retornou à cadeira e me permitiu voltar a minha atenção ao restante da classe, especial e surpreendentemente atenciosa ao meu cumprimento naquele dia.

 

— Eu espero que alguns de vocês tenham pesquisado o tema que solicitei na última aula.

 

— Eu pesquisei algumas histórias incríveis, Sr. Burke — uma garota animada, cujo o nome eu não me lembrava, levantou sua mão e falou antes mesmo de eu solicitar alguma consideração.

 

— Ótimo, Srta…

 

— Dillon — respondeu com um sorriso largo pendurado na boca de beiços finos. Algumas meninas ao seu lado cochicharam entre si após a contribuição da Srta. Dillon à aula. Eu já havia notado sussurros irritantes e questionáveis durante meus períodos, mas não sabia dizer exatamente o porquê tais inconveniências ocorriam.

 

— Algo que gostariam de acrescentar? — interrompi as alunas e elas negaram sem emitirem qualquer som. — Perfeito — posicionei-me na frente da mesa e ali me sentei, como costumava fazer quando não precisava utilizar a lousa. — Como eu ia dizendo, isso é ótimo, Srta. Dillon — eu elogiei a garota e ela pareceu muito satisfeita. — Ótimo porque hoje começaremos a discorrer pelas particularidades de cada texto pesquisado por vocês — eu apanhei algumas folhas sobre a mesa e passei a distribuí-las. — Não quero que a classe saiba quem realizou a tarefa ou não, portanto, entregarei a todos. Caso seja você a pessoa que não fez a atividade, sinta-se à vontade para produzir algo relacionado ao conteúdo das últimas aulas. Nada escrito aqui valerá nota, servirá apenas para compor próximas avaliações. Quando terminarem, podem sair.

 

Eu voltei ao centro da sala de aula e observei todos os jovens perdidos com meu mais novo pedido. Era óbvio em seus olhos clamantes por ordens que eles estavam acostumados aos maçantes modelos de enunciado tradicionais; deveria ser desesperador ver uma folha em branco que praticamente gritava pela ativação de seus processos criativos. Isso me entristecia, contudo, ao mesmo tempo era uma das únicas motivações para continuar o meu trabalho ali — talvez, daqui a alguns meses, quando eu deixasse todas as classes, a visão de educação dos alunos tivesse mudado.

 

— Terminei — Meredith, após curtos dez minutos de duração da atividade, surgiu ao meu lado, entregando-me sua folha.

 

— Você é rápida, Srta. Giordano.

 

— Eu não tinha muito para falar — explicou-se em um sussurro.

 

Meredith voltou à carteira na qual estivera desde o início da aula, contrariando minha última ordem. Eu me sentei, desta vez na cadeira posta atrás da mesa principal, para poder entender o que minha aluna havia escrito. Era decepcionante o fato de justamente ela ter entregado primeiro, afinal, estivera crente de que seria Giordano a estudante que produziria o melhor texto de todos.

 

“A poética que não pode ser dita somente com a palavra não é pura.

Você não precisa dos movimentos do corpo, mas eu os vejo.”

 

As palavras escritas por Meredith fizeram minha garganta coçar e um leve desconforto nascer em minhas entranhas. Ainda com o rosto direcionado ao papel, ergui minha visão e espiei Giordano discretamente: ela tinha os olhos fixos em mim, como se aguardasse pela minha reação. Uma pena para ela, pois eu me manteria posturado e radicalmente calmo. Negar para os meus próprios espíritos que eu desejava compreendê-la inteiramente seria uma mentira, porém, talvez o melhor a se fazer. Tornava-se cada vez mais difícil, entretanto, seguir ignorando meus anseios quando, a cada dez minutos, mais folhas eram jogadas sobre minha mesa e, consequentemente, mais alunos deixavam a classe. Isso se deu até o fim da aula, quando somente ela sobrou na imensidão de carteiras.

 

— Desculpe, o que está fazendo? — permiti-me falar quando a vi pegar um pequeno pote e retirar dele um saco plástico ainda menor.

 

— Bolando unzinho — Meredith respondeu naturalmente.

 

— O quê? — descrente do que estava diante dos meus próprios olhos, eu a questionei novamente.

 

— Eu estou bolando um baseado — repetiu em total despreocupação.

 

— Você só pode estar brincando — levantei-me da cadeira e tirei minha atenção da correção das atividades.

 

— Não, mas eu estarei em alguns segundos.

 

— Você não tinha outro lugar para fazer isso? — abandonei totalmente a formalidade ao me dirigir a ela. — Tinha que ser aqui?

 

— Lá fora está ventando muito — Giordano deu de ombros e eu ri desacreditado. — Algum problema?

 

— Olhe, eu estudei literatura, não é como se eu nunca tivesse fumado…

 

— Então ótimo — ela me interrompeu.

 

— Mas… — eu continuei a falar e me aproximei dela, certificando-me de que a porta estava fechada. — A senhorita não pode simplesmente fazer isso dentro da classe, principalmente sabendo que eu estou aqui durante o trabalho.

 

— Eu não tenho medo de você — Meredith expeliu algum ar pelo espaço estreito entre os lábios, caçoando da minha autoridade.

 

— Não é uma questão de medo! — alterei-me ao notar que ela claramente já desconsiderava, quando se tratava de mim, a hierarquia existente dentro do colégio. — Mas sim de bom senso. Educação, respeito. Chame do que quiser.

 

— Tudo isso porque não te chamei para fumar? — ela sorriu travessa.

 

— Srta. Giordano, por favor, retire-se da sala. Não me faça tomar uma atitude pior.

 

— Eu poderia acender aqui mesmo — ignorou meu pedido e, com os lábios voltados ao interior da boca, puxou a goma da seda, apertando o cigarro artesanal bem alinhado entre seus dedos. Ela molhou, com sua língua ágil, a pequena faixa reluzente do papel marrom, dando mais uma volta no cilindro formado. Ao fechá-lo com esperteza, ergueu uma sobrancelha. — O que o senhor acha? — amassou as duas partes vazias de erva que restaram e as enrolou logo em seguida. Eu bati na mesa, buscando por sua atenção. Meredith sorriu e seu dedo polegar girou a roldana metálica do isqueiro de plástico que ela carregava, gerando a chama que queimaria o papel até atingir o psicoativo.

 

— Totalmente inaceitável.

 

— Do que o senhor tem medo? — Giordano colocou o cigarro na boca e veio em minha direção, desistindo de acendê-lo. — Da diretora entrar aqui agora?

 

— Você enlouqueceu? Eu a mandei sair daqui! — repeti com certa força brutal na voz. — Eu não vou tratá-la com favoritismo, Srta. Giordano.

 

— Já está fazendo isso, Sr. Burke.

 

— Eu ter respondido aos seus suspiros pseudointelectuais em um café não quer dizer que eu tenha lhe dado esse tipo de intimidade! — afastei-me dela e abri a porta, indicando-lhe a saída. — Saia, Meredith.

 

— Desculpe — repentinamente, a garota ficou cabisbaixa e pareceu arrependida pelo que havia acabado de fazer. Em uma questão de instantes seu humor se transformara e ela foi de insolente à comportada.

 

— Retire-se, Giordano, agora! — por meio da maçaneta, balancei a porta para chamá-la até ali. Meredith guardou a maconha dentro do bolso do casaco e seguiu até mim. — Prepare seu sábado, porque a detenção te aguarda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*referência à Ilíada, de Homero.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Teacher's Pet" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.