Leo Valdez estava suando enquanto apertava os parafusos após horas de concentração na reorganização do casco do navio. O sol forte batia em sua cabeleira castanha e deixava as imagens longes turvas. Limpou as gotas salgadas que corriam por sua testa com as costas das mãos sujas de fuligem e suspirou com o calor, puxando sua camiseta branca – que agora era cinzenta - para fora do tronco, permitindo que a leve brisa marítima que passava por ali tomasse seu corpo no caminho.

Continuou ajustando parafusos, lixando partes que estavam deformadas e martelando pedaços aqui e ali. Estavam tão distraídos buscando por monstros que esqueceram de desviar de uma rocha enorme e submersa. Ela tinha feito um estrago e tanto naquela região, mas o garoto era habilidoso e o barco já estava praticamente pronto para seguir a missão. Sentia que os outros ficariam orgulhosos do seu trabalho. Quase podia imaginar o sorriso de Percy, o abraço de Annabeth e a alegria de Piper ao ver tudo pronto e ainda melhor que antes.

Sorriu para si mesmo, passando mais uma vez a placa porosa com força para retirar imperfeições. Orgulhoso de seu próprio trabalho, Leo buscou ao seu lado a pequena lata de tinta azul clara, a mesma cor do resto do barco, para pintar a parte que tinha sido danificada, a fim de seu trabalho e poder entrar finalmente e tomar um banho, retirando aquele calor e suor de seu corpo bronzeado.

Molhou o pincel largo no líquido viscoso e começou a passar pelo casco com carinho. Adorava aquilo que ele mesmo tinha construído. Sentia uma ligação emocional com suas criações e ficava feliz de poder conserta-las e deixá-las como eram quando as fez.

A pintura era algo rápido, se não fosse contar a parte chata de ter que esperar secar. Assim que pintou tudo largou o pincel e sentou, aguardando para que pudesse dar a segunda mão e entrar.

Começou a observar à sua volta e quase morreu de susto quando viu, na sombra do barco, um garoto parado o encarando.

— O que foi isso, Nico? - Indagou recuperando o fôlego com a mão no peito.

— O que? - Estreitou seus olhos negros com um sorriso curto nos lábios finos.

— Está aí parado me observando. Parece um stalker maluco.

— Talvez eu seja – Deu de ombros sentando ao lado de Leo e tirando o casaco de moletom preto de seus ombros e o deixando jogado na sombra.

— Alguém já te disse que você é assustador?

— Você disse.

— Bom. Porque é. Ainda mais se esgueirando pelas sombras e tal – Comentou fingindo que um calafrio percorria seu corpo.

— Coisa do meu pai – Disse em tom de desculpas, mas ainda rindo.

— Que também é um cara assustador.

Nico acenou positivamente com a cabeça, olhando a pintura que secava com o vento que passava por eles.

— Tava entediado, então vim aqui pra fora e fiquei olhando o trabalho que você está fazendo aqui...

— E o que achou? - Olhou orgulhoso para seu conserto trabalhoso.

— Muito bonito. Mas ainda mais bonito que o trabalho é sua cara de felicidade fazendo isso. Acho que nunca vi ninguém tão contente com uma coisa.

— É porque não viu a Piper se olhando no espelho… o dia todo – Falou arregalando os olhos com uma expressão exagerada.

— Acredite em mim eu vi - Fez uma careta, fazendo Leo rir.

— Obrigado cara. Eu gosto de fazer essas coisas

— Eu percebi – Sorriu para ele com cumplicidade.

— E você, gosta de fazer o que?

— Observar, eu acho.

— Hum… e o que já conseguiu com isso? – Seu interesse era genuíno.

— Além de ver pessoas felizes com suas coisas? Amores não correspondidos.

— É foda…

Pensou em todas as garotas por quem tinha se apaixonado e que saíram rindo dele quando ele lhes contava seus sentimentos. A única garota que não rira dele tinha ido embora da escola dois dias depois e as crianças maldosas tinham dito que ela tinha fugido dele. A vida amorosa de Leo Valdez podia ser definida como um lixo.

— Também tem muitos? – Nico arqueou uma sobrancelha.

— Nem me diga. Todos, na verdade.

— Finalmente encontrei alguma coisa em que somos parecidos – Falou cutucando as costelas de Leo com os dedos frios, fazendo o garoto rir e pular com a temperatura da pele.

— E quem é a última pessoa que não correspondeu?

— O que?

— Ora, seu último amor. Quem sabe posso te dar algum conselho amoroso, sabe.

— Você não acabou de dizer que sempre foi dispensado? Tipo por todas as garotas do mundo.

— Sim, mas posso te ajudar – Usou sua camisa suja para limpar mais uma vez o suor do rosto, imaginando que devia ter ficado com a cara toda suja.

— Não sei se preciso dessa ajuda – Brincou rindo.

— Você que sabe. Perder de ganhar um conselho gratuito meu. Eu sou demais, Nico, deveria me ouvir.

— Então tá bom – Concordou achando graça.

— Manda ver garoto – Bateu no peito em desafio, fazendo com que o filho de Hades risse ainda mais.

— Eu gosto de uma pessoa que provavelmente não gosta de mim – Começou a falar pausadamente.

— Ok.

— Digamos que ele… Provavelmente deve gostar da outra fruta.

— Você perguntou? – Cruzou as mãos no colo, fingindo uma pose profissional.

— O que? – Sua expressão era pura confusão. Porque diabos ele faria aquilo?

— Você perguntou? Checou qual fruta ele gosta?

— Não, claro que não. Quem perguntaria isso?

— Alguém interessado com certeza perguntaria isso – Sugeriu – E seu argumento foi invalidado.

— O que? Isso nem existe.

— Existe sim, acabei de invalidar o seu – Leo riu do outro, seu sorriso brilhava no rosto meigo.

— Isso é ridículo e uma perda de tempo – Fez uma cara feia para ele, mostrando sua resistência.

— Ei ei ei, fala comigo. Eu não tenho nada pra fazer mesmo, tenho que esperar aqui sozinho e sem ninguém.

Nico olhou dele para o barco e suspirou. Não tinha nada melhor para fazer também, não faria mal conversar um pouco, jogar uma conversa fora e receber alguns conselhos amorosos inúteis. Resolveu continuar a brincadeira e resmungou.

— Tá bem. Ele é bonito.

— Certo.

— Tem uma pele assim… bem diferente da minha – Apontou para sua palidez.

— O que não é muito difícil.

— Tem um jeito bem diferente.

— Também é muito amplo. Qual é cara, tem que ser mais especifico.

— Tá bem, tá bem. Mas vamos com calma – Pediu e pensou um pouco – Ok, ele é divertido.

— Você também.

— É engraçado.

— Eu tenho certeza que já ouvi você fazer piadas – Brincou.

— E é areia demais pro meu caminhãozinho – Concluiu desanimado.

— Outro argumento inválido – Negou com a cabeça veementemente.

— E é um idiota – Xingou olhando nos olhos castanhos de Leo.

— Uau, Di Ângelo acho que você está apaixonado por mim – Comentou fingindo animação e abanando o rosto com as mãos.

Ao invés de responder a provocação, Nico ficou com o rosto cada vez mais vermelho e Leo foi ficando com o sorriso mais largo. Corajosamente, puxou a gola da camiseta preta do garoto para perto de si, beijando seus lábios com suavidade.

— Eu também gosto de você – Sussurrou – E você também é um idiota.

— Outra coisa que temos em comum – Brincou voltando a tocar seus lábios.