As Cores do Invisível escrita por Bluebell


Capítulo 1
Devoção


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores!

Essa fic é leve, doce e faz bem para a alma em tempos de quarentena. Por mais que eu tenha me prestado a uma pesquisa rasteira, entendo de arte tanto quanto os cavaleiros aqui, então perdoem qualquer gafe e me alertem sobre os erros, por favor.

Fic betada por mim mesma, já viram.

Vou receber críticas e correções com o maior carinho.


Boa leitura!



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As Cores do Invisível

 

O cheiro forte de terebintina das tintas e do solvente saturava o ar. Sua náusea passou rápido a um estado de discreta tontura. Suava por debaixo da armadura e suas costas doíam pelas horas sentado no banco incômodo. A vontade de levantar-se dali crescia, cada vez mais irresistível. Acaso seria muito cedo para pedir uma pausa? Queria tanto beber um copo de água longe daquele material tóxico de pintura a óleo...

A verdade é que mal se movera nos últimos minutos. Seguia obedientemente estático numa postura rígida que pareceria pouco natural a qualquer um, exceto o severo Cavaleiro de Capricórnio. Ninguém poderia acusá-lo de fazer poses. Aquele era ele mesmo: tornozelos entrecruzados, a coluna ereta, braços cobrindo-lhe o peito de modo carrancudo. A cabeça agora estava inclinada na direção da janela grande, por onde a luz da manhã se derramava, levando-o franzir ainda mais o rosto de traços agudos.

Não se podia dizer que era um personagem simpático.

Talvez por isso a artista sofresse com tanta dificuldade em encontrar um resultado que satisfizesse os padrões dela. Era uma pintora experiente e de confiança de Shion, e isso só tornava mais preocupante a sua demora em concluir o quadro.

A pintura do retrato de Shura de Capricórnio, que deveria figurar na galeria do décimo terceiro templo – conforme a tradição de vários séculos –, já se arrastava por semanas a fio. Naquela manhã, ele batia o recorde de dez dias corridos no estúdio improvisado. Em comparação com os colegas, Afrodite e Máscara da Morte perderam não mais que alguns períodos espaçados servindo de modelo. Até o espevitado Aiolia conseguiu se livrar da tediosa tarefa de posar para o seu quadro em três míseras visitas.

E Shura nem era o mais inquieto ou o mais rebelde de todos – muito pelo contrário. Ele se pôs como um boneco nas mãos da arista para que tudo acabasse o mais depressa possível. Permanecia feito estátua por longos intervalos e seguia as instruções dela à risca quanto às mudanças de posição.

Todas as manhãs, ele deixava as obrigações rotineiras para subir até uma saleta apertada no décimo terceiro templo, escolhida a dedo pela própria pintora por contar com uma janela que alcançava do chão ao teto. A artista então o acomodava no banquinho e besuntava seus pincéis preferidos nas tintas já misturadas para retomar o trabalho de onde tinha parado. A iluminação era ideal, os materiais de pintura não pareciam ser um obstáculo, o modelo era mais que colaborativo...mas o bendito retrato nunca ficava pronto. A cada final de expediente, Capricórnio esperava angustiado por sua alforria, somente para ouvir a frustrante sentença de que “ainda faltavam detalhes”.

Na opinião dele, estava tudo ótimo. Perfeito, até. A pintura tinha ares realísticos, as cores da tela eram fiéis e o esplendor da armadura de ouro fora copiado à exatidão.

Ela poderia tranquilamente dispensá-lo e dar os acabamentos pendentes com a paz e a privacidade de um estúdio vazio. Mesmo assim, insistia em apagar ora os olhos, ora os lábios, recomeçando o rosto quase do zero. Ruminava que faltava algo – algo que também era invisível ao prático cavaleiro.

Na tarde anterior, viu-se dissuadindo aquela mulher louca de cobrir a tela com uma camada branca e anular a pintura inteira. Foi quando Shura teve a certeza de que era plenamente capaz de lidar com o egocentrismo dos deuses, mas não com as crises artísticas de uma pintora excêntrica.

Raiado o novo dia, com a graça de Atena, ela aparentava mais equilíbrio. Era uma senhora na casa dos sessenta usando óculos de grau enormes e um coque torto nos cabelos assumidamente grisalhos. Pincelava o desenho de modo concentrado, lançando curtos olhares pelas laterais da tela de tamanho médio:

— Por favor, vire o rosto na minha direção – a voz dela soou cansada por detrás do cavalete. – Não, menos. Agora mais para a direita. A minha direita...

Shura foi guiado a movimentar seu queixo como se estivesse estacionando um carro, até que ela se desse por satisfeita. Quanto tempo mais teria que aguentar ali?

Eis que uma abençoada intromissão veio através de batidas respeitosas na porta. Uma lufada de frescor invadiu a sala juntamente com o efusivo Cavaleiro de Sagitário:

— Bom dia, Sra. Eudóxia! – ele saudou a artista plástica com um caloroso aperto num ombro dela. Era impressionante como ele criava intimidade com as pessoas em tão pouco tempo; tinha dividido sequer uma semana com ela durante o esboço de seu retrato. Não deixou de estranhar a presença do vizinho ali. – Olá, Shura! Hoje não era o dia de Camus estar aqui?

— Tivemos que adiar – Eudóxia respondeu com uma nota de impaciência.

— E como meu amigo está se saindo? Deve ser mais fácil desenhar gente bonita.

Shura, que havia cumprimentado o amigo com um mero “oi” entredentes e até ali se mantinha quieto para não perder o ângulo conquistado com muitas manobras, enfim desmanchou a fachada ranzinza. Assumiu um desconcerto atípico e, por isso mesmo, quase cômico. Por sua vez, Aiolos sorriu, como se deixar o outro sem jeito fosse mesmo sua intenção:

— Só passei para agradecer. Vi meu quadro na galeria, ficou muito melhor do que a realidade.

— Imagine, querido. Foi um prazer.

— Shura, você também não está nada mal aqui. – Sagitário contemplou o quadro inacabado.

— É o que digo à Sra. Eudóxia todos os dias, mas ela não acredita em mim – ele arguiu, desgostoso.

Finalmente, Aiolos percebeu a tensão entre os dois:

— O que há de errado? – e emendou depressa – ...Com o retrato.

— Não me convenci de que está bom o suficiente. – Eudóxia, irredutível.

Sagitário não viu as farpas trocadas entre Capricórnio e a artista pelo canto da tela. Examinava atentamente a obra, um brilho de apreciação refletido em seu olhar:

— Pois eu achei muito bonito. Essa luz toda favorece o rosto dele. Quero dizer, eu nunca tinha reparado que seus olhos são verdes, Shura.

O cavaleiro da décima casa rodaria os ditos olhos, não estivesse comprometido com a pose. O que não conseguiu conter, porém, foi o embaraço em ter Aiolos elogiando sua aparência repetidamente na frente de uma estranha.

— Não gosto desse aspecto ameaçador – resmungava Eudóxia, corrigindo novamente a boca da pintura. – Talvez ficasse melhor se ele relaxasse um pouco os ombros e, não sei, tentasse parecer mais agradável?

Sagitário o defendeu:

— Esse é ele. Qualquer outra representação vai parecer falsa.

Sim, não vou sorrir para um retrato oficial, pensava Shura, a ponto de abençoar a sensatez de seu amigo. Afinal, que crédito o cavaleiro da décima casa teria na posteridade com seu único quadro o ilustrando mais alegre do que as mocinhas frívolas do rococó? Não queria inspirar delicadeza; se possível, escolheria ser retratado como os nobres austeros do barroco espanhol. Por mais que não entendesse nada de arte, vinha de um país prodigioso no campo da pintura e que exaltava tal fossem heróis os seus artistas.

Com aquele anticlímax, uma trégua se fez necessária.

— Pode se mexer, querido. Vamos fazer um intervalo – a pintora disse num tom manso que escondia veneno. Colocou o pincel sujo num suporte e deixou a paleta de lado para sacar um maço de cigarros.

Shura respirou aliviado quando ela se retirou para fumar – bastava o cheiro horrível da pintura a óleo. Ergueu-se num salto e alongou-se com gosto diante da janela, como um girassol se espichando na direção do astro rei. Notou que Aiolos continuava ali, agora observando-o com aquela cara de quem ocultava uma travessura. Ao que tudo indicava, ele tinha tirado o dia para constrangê-lo.

— O que foi? – resmungou desconfiado, recolhendo os braços esticados sobre a cabeça em tola autodefesa.

O outro respondeu com a tranquilidade mais insuspeita do mundo:

— Nada. Só estou olhando.

— Se vai ficar aí, então me ajude a terminar essa tortura – apontou o quadro ao aproximar-se sem muitas esperanças. De fato, suas suspeitas se concretizaram: Eudóxia havia recuado outra vez. O desenho de seu rosto fora reduzido a uma massa bege emoldurada por cabelos escuros e o elmo de Capricórnio. – Ela não sabe mais o que fazer para enfeitar minha imagem. Olhe essa iluminação, que coisa forçada! Ela deveria nos poupar e me aceitar como sou: um cara comum e fechado.

Aiolos inclinou-se sobre o ombro dele, rindo de seu pessimismo sem sentido:

— Bem, eu queria muito poder ajudar, mas esse não é meu departamento. É mais útil chamar o Afrodite. Ele deve ter várias cores de batom para emprestar...

Se olhar matasse, Aiolos já estaria nos Elísios. Contudo, como não era o caso, e considerando-se que tinha diante de si uma excelente oportunidade de atormentar o amigo tão sério, Sagitário seguiu vivíssimo e firme em suas provocações:

— Quem sabe não conseguimos te deixar mais agradável se também aparecer segurando umas flores no retrato? – e exclamou com os olhos arregalados diante de uma ideia infame – Melhor ainda: com flores nos cabelos!

Havia sido uma estratégia sagaz de Afrodite. Peixes exigiu ser pintado com uma rosa nas mãos e trouxe para si toda a sensibilidade de que carecia nos olhos cruéis. No entanto, imaginar Shura com uma coroa de flores enchia seu peito de risos.

— Aiolos...

O arqueiro podia jurar que o amigo fumegava de raiva. Esfriou os ressentimentos dele com um tapinha em suas costas:

— Estou de brincadeira! Você é bonito do jeito que é, não precisa de nada mais.

Era a terceira vez que ele usava aquele adjetivo. Não compreendia por que insistia em destacá-lo como tal, quase à guisa de consolo. Shura estava perfeitamente ciente de que a natureza não lhe fora tão generosa como com Afrodite, Milo, Saga e o próprio Aiolos. Sua personalidade teimosa e rabugenta – equiparável a de um velho amargo esquecido num asilo – também não contribuía em torná-lo mais atraente. Logo, não tinha motivos para se iludir com a cortesia do outro. Jamais se cegaria com vaidade – quanto mais com vaidade infundada.

Quis acreditar que Sagitário estava se esforçando em ser gentil. Todavia, enxergou sinceridade no sorriso manso que lhe foi endereçado. Sem perceber, baixava a guarda de novo perto dele.

Ele tinha aquele poder de desarmá-lo com muito pouco – às vezes, nem precisava abrir sua boca insolente para tal. Bastava um olhar sereno ou um toque acolhedor.

— Ei, a Sra. Eudóxia sabe o que faz. – a mão do arqueiro deslizou por entre suas escápulas, sobre a armadura, ao que Shura apenas o censurou com um olhar de esguelha – No retrato de Aldebaran, ele parece um anjo de candura. O quadro de Máscara da Morte não ficou medonho. E Mu até que saiu bastante imponente, acredita?

Capricórnio estalou a língua:

— Por que tenho a impressão de que você não vai escolher o meu lado nessa batalha?

— Tente levar a experiência numa boa. Você tem o direito de sair menos carrancudo no seu retrato. – Sagitário suavizou, assumindo um tom tranquilo e suspeito.

Como um mediador exímio, Aiolos também era razoavelmente hábil em persuasão. Só isso justificaria o poder que ele exercia sobre Shura – ou foi no que o cavaleiro da décima casa quis acreditar quando se viu à beira do convencimento em cinco minutos de conversa mole. As quase duas semanas de insistência da artista plástica – a profissional ali – não tinham nem chegado perto de vê-lo feito a criança manipulável que se tornava diante de Sagitário.

— ...Você disse que o quadro de Máscara da Morte não ficou medonho. De que jeito ela o pintou, então? – Capricórnio murmurou, incapaz de conter o interesse e se amaldiçoando por sua fraqueza.

— Definitivamente ele não se parece com um herói, mas ele foi representado mais...leve? – Aiolos deu de ombros. – Não sei explicar direito. É como se a pintura estivesse a ponto de sorrir, mas não aquele sorriso mau dele...Está mais para a cara que ele faz quando apronta.

Shura conseguia compor a cena, conhecia aquele sorriso bem demais para sua própria saúde. Acontece que Máscara da Morte parecia ser mais esperto do que realmente era com aquele meio-sorriso e os olhos estreitos. Quem sabe pudesse fazer uma visita à galeria mais tarde para checar o tal quadro...

 

.

 

Assim que Eudóxia finalizou seu cigarro e voltou, encontrou os dois cavaleiros junto à janela dialogando – ou melhor, Aiolos matraqueava e Shura o escutava mergulhado em fascínio. Este não tinha deixado a sala, apesar de sua clara repulsa à terebintina. Ao contrário, agora parecia celestialmente confortável. O olhar dele brilhava em franca idolatria, enquanto Sagitário se dedicava ao seu falatório (e sua ignorância).

Era exatamente por isso que ela não fazia retratos por encomenda baseados apenas em fotografias, como os artistas mais jovens. Resultavam tão artificiais quanto as fotos caseiras, na maioria das vezes, e ela não via propósito em meramente passar à tela algo que os clientes já possuíam e de forma muito mais verossímil. Não que desconsiderasse a fotografia uma forma de arte. Fato é que, veterana no assunto, era adepta à filosofia da pintura como um ponto de vista. E para que se pintasse algo, assim como um jornalista redige uma opinião e um perfumista combina essências harmônicas, deve-se ter propriedade sobre o que se pinta. Somente ao vivo podia perceber quem de fato estava traduzindo em tintas – a movimentação, o cheiro, o som da voz, algum detalhe mais sutil da personalidade. Havia mais cores do que se via com os olhos. Portanto, fazia questão de passar tempo com suas inspirações.

Shura havia sido uma exceção. Ele era tão ou mais inexpressivo do que suas fotografias. Encerrava-se na concha de uma reserva tranquila, obscura. Eudóxia levou muito tempo tentando extrair dele qualquer coisa a mais. Não era possível que o rapaz se resumisse ao preto, branco, cinza e verde da superfície.

E então, depois de dez dias, ele surgia absolutamente cru à presença de um colega. Exalava nuances de cor-de-rosa e rastros de dourado além da armadura. O instinto dela nunca falhava: havia também vermelho e azul na alma do jovem soldado de Atena. Aquela exposição que se desenrolava inocente diante dos pincéis em repouso era um tesouro desperdiçado. Ocupou seu assento feito uma ladra e reiniciou o trabalho numa espécie de fixação.

O momento na surdina durou pouco, apenas o suficiente para que ela pudesse puxar as rédeas de sua arte na direção verdadeira. Aiolos foi o primeiro a notar o retorno dela e, julgando-se inoportuno, ofereceu-se a deixá-los a sós.

— Você fica – ela sentenciou, freando-o com uma mão espalmada. – Aiolos, conte a ele como convencemos seu irmão a ficar sentado por três horas seguidas.

— Eu posso imaginar – Shura torceu a boca. – Foi com comida?

Sagitário riu, mais do que contente com o quão a fundo ele conhecia sua família:

— Também. Fiz com que ele viesse logo depois de uma sessão pesada de treino e um banho quente. Aiolia comeu um cacho de uvas inteiro enquanto conversava conosco...e acabou tirando um cochilo sentado aí mesmo, nesse banco.

Aiolos ainda se prontificou a fazer-lhes companhia até que batesse o horário de sua audiência com o Patriarca. Comentava sobre os outros retratos que já tinha visto, sempre bem-humorado e guardando admiração à obra de Eudóxia. Enchia todo o lugar com sua voz profunda, o gesticular exagerado, as gargalhadas incontidas. Se Shura era um desafio, ao menos havia sido fácil pintar aquele outro rapaz tão transparente.

Ele se despediu pontualmente e saiu apressado. Sua presença, no entanto, perdurou no estúdio por mais alguns minutos. Era palpável na leveza da atmosfera e nos olhos sorridentes do Cavaleiro de Capricórnio.

Antes do meio-dia, a artista encerrou a missão em definitivo. Convidou um perplexo Shura a ver o retrato antes dos últimos retoques.

 

.

 

Ele quase perdeu o ar. Mal se reconheceu sem suas máscaras.

Aquele quadro era uma confissão.

Perguntou-se, exasperado por ter seu íntimo à mostra, em que momento Eudóxia teria percebido. Era tão óbvio?

— O amor fica bem em você – ela ciciou, um sorriso de segredo brincando em seus lábios.

O olhar de admiração da pintura surgia chocante para si mesmo. Pegou-se suando frio ao concluir que assim se punha na presença de Aiolos. Só um tipo muito ingênuo como ele para não perceber...

— Não se preocupe – ela tratou de acalmá-lo quando seu silêncio se tornou angustiante. – Ele não sabe e também é provável que mais ninguém.

Mil coisas andavam pela cabeça de Shura naquele instante para se indignar ou demonstrar vergonha. Verbalizou um único desespero:

— Você pode mudar esse rosto? Eu fico aqui o tempo que quiser!

Implorava, ciente de que suas chances eram baixas desde o início. O retrato cativava e isso era um feito único em se tratando dele. No fim das contas, foi despachado dali com um sonoro “nem pensar!”.

Teria que preparar uma boa explicação para aquela cara de cachorrinho vendo seu dono pela primeira vez depois de uma longa separação.

 

.

 

Quando a tinta secou e o verniz foi aplicado, Aiolos insistiu em arrastar Shura à galeria. Estava morrendo de curiosidade, palavras dele, e não entendia como o amigo se desinteressava beirando a repulsa pelo seu retrato oficial. Shura havia mentido que não sabia da versão definitiva do quadro. Esquivo, resmungava que se ver pintado numa tela era a menor das prioridades de sua vida.

Assim que vislumbraram a nova adição ao hall dos santos de ouro, o Cavaleiro de Capricórnio contemporâneo quis ser engolido pelo chão. Ali estava seu rosto circundado por um halo de luz, como nas pinturas cristãs. Os olhos fixos num ponto lateral transbordavam uma adoração viva, fervorosa e comovente. A despeito do olhar emocionado, à sua figura não faltava imponência. De longe, passaria por um quadro bem-acabado de um general numa armadura reluzente.

A polêmica residia nos seus olhos. A um observador mais atento, haveria também algo de jovial e até de sonhador no sorriso discreto e nas bochechas um tanto rosadas.

— Você parece...calmo? Feliz? – arriscou Aiolos, capturado por aquela imagem.

A palavra era apaixonado, mas nenhum deles ousou dizer aquilo. Shura fingiu um bufo de desprezo:

— Ela romantizou o quadro. Previsível.

Seu companheiro não comprou a teoria tão facilmente:

— Não sei. Acho que já vi esse olhar... – matutou, agora examinando o modelo do quadro.

Capricórnio pigarreou, procurando manter a atenção na pintura para que não hesitasse sob as análises dele:

— A Sra. Eudóxia e eu começamos a conversar sobre Atena quando você saiu. Acho que foi minha devoção que ela viu.

— Sim, é isso...devoção. – Aiolos concordava com a definição, aprovando a tela com um aceno vago. – Eu já disse que ficou muito bonito?

Shura riu por dentro – um riso obviamente nervoso:

— Acho que não...Obrigado?

Jamais se cansaria de ouvir aquilo. Ainda mais quando estavam sozinhos na galeria, sem ninguém mais para testemunhar seu rosto queimando com o carinho inesperado que Aiolos depositou em seus cabelos.


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