Lili Quer Cantar Pindorama escrita por SnowShy


Capítulo 1
Pindorama


Notas iniciais do capítulo

Prontos pra diversão na quarentena? Hahaha.
Fiz essa fanfic pq sempre amei a musiquinha do Palavra Cantada e, como assisto muito Meu Amigãozão, essa historinha acabou vindo na minha cabeça kkk. Espero que gostem!



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— Vai ser assim: o Yuri vai cantar a parte dos indígenas e o Matt vai cantar a parte dos portugueses.

Lili dava as instruções, no pátio da escola, para seus melhores amigos cantarem musiquinha "Pindorama", que ela haviam acabado de conhecer e mostrado a Yuri e Matt, que, assim como ela, tinham gostado muito.

— Mas eu não sou português — respondeu Matt —, sou americano.

A menina deu um suspiro impaciente e disse:

— Todo mundo aqui é americano, Matt! Mas na música cê vai fingir que é português. E tem que fazer sotaque!

— Mas eu não sei fazer sotaque português, por que você não faz?

— Porque VOCÊ é o cara pálida aqui! Tá, cê não é descendente de português, mas é de outro tipo de europeu, então dá na mesma! Se você não conseguir, não precisa fazer sotaque, mas vê se canta direito!

Era para cantarem só por diversão, mas Lili, como sempre, estava levando tudo muito a sério! Felizmente, Yuri e Matt já estavam acostumados com o jeito da amiga, então não fizeram muito caso. O primeiro apenas fez uma pergunta:

— E você, não vai cantar? É por isso que tá desse jeito?

— Que jeito? Ah, tanto faz. Eu não sei se vou cantar, não tem muito espaço pra mim nessa música. Ela é sobre o comecinho do Brasil, então os meus ancestrais ainda não tavam aqui... Mas eu pensei em nós três cantarmos juntos as últimas estrofes. Talvez cada um cante um verso, sei lá... o que vocês acham?

— Pode ser — os dois responderam.

— Tá. Legal. Vamo começar?

— TERRA À VISTA! — Começou Matt, sem fazer sotaque português.

— Parece coisa de pirata haha. — Disse Yuri.

— Ei, é verdade! E se eu fosse um português pirata?

— Você não é um português pirata, Matt! — Lili respondeu, indignadíssima. — Piratas são maus, eles são ladrões!

— Mas os portugueses não roubaram terra? Eles também não eram ladrões?

— É, mas...

— Tem um desenho que eu achei no nosso livro de História — Yuri interveio — que tinha um papagaio e piratas também têm papagaio.

— Ah, tá bom! Se o Matt quiser fingir que é pirata, tanto faz, contanto que ele não use um tapa olho nem fique fazendo aqueles barulhos estranhos de pirata, tipo "arrg!".

— Por mim, tudo bem — o menino concordou.

Yuri e Matt cantaram as suas partes, esquecendo a letra de vez em quando, mas, aos olhos de Lili, até que haviam se saído bem pra um primeiro ensaio.

— Ensaio? — Os dois perguntaram.

— Isso mesmo. Eu tava pensando na gente apresentar essa música pra sala toda no dia 22 de abril, o que acham?

— Mas a gente ainda tá em março — Disse Matt.

— Por isso mesmo, assim a gente pode ensaiar muito, todo dia, até ficar perfeito! Aí quando a professora for dar a aula sobre o descobrimento do Brasil, a gente se apresenta e ela vai ficar impressionada com o tanto que a gente já sabia da história antes dela ensinar, talvez até dê 10 no boletim pra nós três só por causa disso!

— Ia ser irado! — Exclamou Matt.

Yuri, por outro lado, estava meio assustado com a ideia:

— Mas... por que a gente tem cantar na frente da sala toda? Será que não dá pra cantar só pra professora ou sei lá?...

— É claro que não! — A menina respondeu. — Que graça ia ter se ninguém mais ouvisse a música e aprendesse o que a gente aprendeu?

— Mas, Lili, eu não quero cantar na frente da sala toda! Eu tenho vergonha...

— Que história é essa? A gente faz apresentação de música desde o jardim de infância!

— É, mas eu nunca tive que cantar sozinho! E cê quer que eu cante todas as partes dos indígenas sozinho! E se eu ficar nervoso e errar na frente de todo mundo??? Essa música é grande e difícil de decorar, eu posso até confundir as estrofes ou sei lá...

— Nisso o Yuri tem razão — concordou Matt. — A minha parte também é bem difícil, sem falar que quem gosta de cantar aqui é você, e cê também é melhor nisso...

— MAS EU NÃO POSSO CANTAR! Ah, cês não entendem nada! A gente vai ensaiar, cês vão aprender todos os versos e depois não vão mais precisar nem pensar na letra antes de cantar, ela vai sair sozinha da boca de vocês!

Triiiiiinnn

O sinal tocou e eles foram para a sala. Mas Lili deixou bem claro que ensaiaram todo dia antes e depois da aula, no recreio, no parque, na casa dela, na casa do Matt ou na Yuri. Eles iam trabalhar duro nessa apresentação! Talvez duro até demais...

~~~

Depois de algumas semanas, os meninos já tinham decorado toda a letra, mas ainda se confundiam de vez em quando, o que deixava Lili um pouco (muito) irritada. Mas quem estava se irritando mesmo eram eles, já que tinham que aguentar a amiga mandona. Para tentar deixar as coisas um pouco mais divertidas, Yuri sugeriu fazer alguns desenhos inspirados nos do clipe da música, mas Lili disse que a apresentação deles não era de desenho, e sim de música. Se bem que a ideia de Yuri tinha lhe dado uma ainda melhor: figurinos caracterizados, de índio para Yuri e de Pedro Álvares Cabral para Matt.

— Mas a gente não pode ficar sem uniforme na escola, é melhor eu levar um papagaio de brinquedo e pronto. — Disse o ruivo.

— Entendam uma coisa, meninos: eu dou as ideias, vocês só apresentam.

— Então você manda e a gente obedece? Que graça tem isso? Eu não quero mais participar se for assim!

— Ai, deixa de ser chato, Matt! A gente tá fazendo uma coisa legal pra sala toda, essa é a graça.

— Só que pra gente não tá muito legal... — disse Yuri. — Desculpa dizer isso, mas cê tá meio mandona.

— Tá MUITO mandona! — o amigo concordou. — E também muito chata!

— Chatos são vocês! — Exclamou a menina. — Se não querem fazer a apresentação, não façam, e também não precisam ser meus amigos depois disso!

Lili nem esperou os meninos responderem e se afastou.

Mais tarde, em sua casa, a menina começou a refletir sobre o que tinha acontecido na escola. Já fazia alguns anos que não tinha mais sua amiga imaginária Nessa, a girafa cor-de-rosa, mas às vezes Lili gostava de imaginar o que sua "amigonazona" lhe diria em momentos difíceis, como o momento pelo qual estava passando agora. A Nessa provavelmente diria que a menina estava sendo muito dura com os meninos e que eles não iriam deixar de ser seus amigos por causa de uma briga. 

A ideia da apresentação era muito legal, sim, mas para ela, não para eles. Se quisesse que seus amigos se divertissem com ela, devia ouvir as ideias deles e não só querer mandar o tempo todo. Era isso. Na escola falaria com eles, pedindo desculpas, aceitando a ideia de Yuri e prometendo ser menos exigente dali por diante. "Valeu, Nessa!", Lili pensou, pois sabia que, de certa forma, sua amiga imaginária ainda estava presente, era como uma vozinha em sua cabeça que lhe sempre lhe dizia a coisa certa a se fazer.

Para a surpresa da menina, ela não foi a única a pedir desculpas. Yuri e Matt disseram que também tinham se irritado muito com a amiga, mas que sabiam que no fundo ela só queria fazer uma coisa legal para a turma. Todos concordaram que Yuri faria desenhos, Lili mostraria os desenhos para a turma enquanto os meninos cantavam, Matt levaria um papagaio de brinquedo e ninguém usaria figurinos caracterizados, pois o uso do uniforme era obrigatório na escola e eles não queriam ir para a diretoria. Todos estavam tão felizes com as novas decisões, que Matt até concordou em fazer sotaque português.

Só estava faltando uma coisa.

— O quê? — Lili perguntou.

— Você cantar! — Os meninos responderam em uníssono.

— Ah, isso... A gente pode se revezar nas últimas estrofes, eu não vou cantar muito, só mostrar os desenhos do Yuri, mesmo...

— Nada disso! — Matt discordou. — Cê vai fazer um solo.

— É, e também dançar. — Completou Yuri.

— Quê? Quem falou em dança? — A menina perguntou.

— Ué, cê não sabe sambar?

— Sei, mas... Samba não combina com essa música, Matt.

— É claro que combina! — Yuri respondeu. — Pensa nas partes que os brasileiros cantam.

Lili pensou um pouquinho na música e respondeu:

— Tá, até que combina, sim...

— Cê fica dizendo que essa música é só sobre indígenas e brancos, mas ela é sobre todos os brasileiros. 

— É. Pindorama é sobre o Yuri, sobre você, e até sobre mim, que nem nasci aqui.

— É o que as duas últimas estrofes dizem, mas você tava tão concentrada na parte da História, que quase não percebeu...

Lili pensou mais um pouco e disse:

— É, cês têm razão! Na primeira vez que tem o coro e na penúltima estrofe eu posso dançar e cantar, afinal, eu sou muito boa nessas coisas pra ficar só mostrando desenhos, né? — Os meninos reviraram os olhos, mas concordaram e riram. — Só que na segunda vez que canta o coro e na última estrofe, vocês cantam comigo, vai ser todo mundo junto, sem solo.

Finalmente, todos concordaram sobre todos os detalhes da apresentação. 

~~~

Na aula de História da semana anterior à do dia 22 de abril, a professora comunicou que daria a aula sobre o descobrimento do Brasil. Aquilo foi um choque para os três amiguinhos, pois eles estavam preparando sua apresentação surpresa para a semana seguinte, não podiam apresentar naquele momento! Lili tinha que ensaiar mais a sua performance, Yuri tinha que terminar os desenhos e Matt ainda tinha que aperfeiçoar o seu sotaque português...

— Professora! — Lili levantou a mão, preocupada. — A senhora não tinha dito no começo das aulas que só ia ensinar sobre o descobrimento do Brasil no dia 22 de abril?

— É verdade, nem sabia que alguém aqui ainda lembrava! Mas eu tive uma ideia melhor: dar o conteúdo nesta semana e passar um trabalho em grupo pra vocês apresentarem no dia 22.

— Aaaah... — A turma toda disse, desanimada; exceto Lili, Yuri e Matt, que estavam preocupados demais com o provável fim de seu show para expressarem qualquer reação. 

— Não reclamem, crianças! Vocês vão ter, além do fim de semana, o feriado prolongado do dia de Tiradentes, é tempo suficiente pra fazer o trabalho! E vocês já vão aprender tudo durante a semana, nem precisam se preocupar com pesquisas, a não ser, é claro, que tenham muita curiosidade sobre o assunto e... bom, por enquanto vocês não parecem muito animados, mas pode ser que mudem de ideia depois das aulas!

— E agora? O que a gente faz??? — Sussurrou Yuri para Lili e Matt.

— Não vai dar pra apresentar agora e também não dá tempo de preparar a apresentação pra próxima semana com esse trabalho pra fazer... — suspirou Lili.

— Calma, galera, eu acho que tenho uma ideia... — Disse Matt. 

No final da aula, o menino perguntou:

— Ô, professora Sandra! Esse trabalho é pra entregar ou a gente tem que apresentar?

— Eu só tinha pensado em pedir pra vocês entregarem porque acho que o tempo é muito curto pra preparar uma apresentação, mas se algum grupo quiser apresentar, pode ficar à vontade! Vai ser ainda melhor porque eu vou saber que vocês realmente entenderam a matéria.

Lili e Yuri não estavam entendendo o que se passava pela cabeça de Matt, mas este continuou:

— E a apresentação pode ser artística? Tipo música, dança, desenhos...

Ah, agora fazia sentido! A professora adorou ver que pelo menos um aluno estava tão empolgado com o trabalho.

— Você acabou de me dar uma ótima ideia, Matt! Atenção, turma! O trabalho é livre, vocês podem entregar por escrito ou em forma de desenho, colagem ou que quiserem; ou podem fazer qualquer tipo de apresentação. No dia 22, a turma vai fazer uma votação pra escolher o melhor trabalho e apresentar pra escola toda! O que acham?

Todos os alunos ficaram empolgados desta vez, principalmente Yuri, Lili e Matt, já que agora sua apresentação estava salva.

No dia 22 de abril, os três levaram bandeirinhas do Brasil e distribuíram para a sala toda e para a professora Sandra. Matt estava com um papagaio de pelúcia, e Lili, com vários desenhos na mão, os desenhos de Yuri. 

 — TERRA À VISTA! — Disse Matt, com um sotaque tão português, que parecia até o próprio Pedro Álvares Cabral falando.

A professora ligou o som e Yuri começou a cantar:

 

Pindorama, Pindorama

É o Brasil antes de Cabral

Pindorama, Pindorama

É tão longe de Portugal

 

Enquanto isso, Lili passeava pela sala, mostrando os desenhos dele para a turma, um por um. Yuri e Matt continuaram cantando, até que chegou a parte de Lili. Ela voltou para perto dos meninos, soltou os desenhos e começou a cantar enquanto sambava:

 

Ao Álvares Cabral

Ao El-rei dom Manuel

Ao índio do Brasil

E ainda a quem me ouviu

 

Vou dizer, descobri

O Brasil tá inteirinho na voz

Quem quiser, vai ouvir

Pindorama tá dentro de nós

 

Ao repetir o couro com os meninos, Lili foi para o lado de Matt e apontou para ele no verso "Ao Álvares Cabral"; em seguida, foi para perto de Yuri e apontou para ele no verso "Ao índio do Brasil". Na última estrofe, a negra ficou no meio deles e os três cantaram abraçados.

Todo mundo aplaudiu. A professora ficou impressionada, não só com a apresentação, mas também com a música, que falava de coisas que ela nem tinha dito em sala de aula, como a possibilidade de Cabral ter vindo parar no Brasil não ter sido um acidente, mas, sim, um plano imperial. Lili, Yuri e Matt tiraram 10 e sua apresentação foi a escolhida para ser feita para a escola inteira, mas desta vez com todas as crianças da turma, todas querendo cantar Pindorama!


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