Hermione soluçou retirando o sapato de salto dos pés machucados e limpou as lágrimas com as costas da mão, vendo que a mesma voltava suja de maquiagem. Com raiva, lançou o calçado na parede contrária, ouvindo um grito surpreso vindo do corredor.

— Quem está ai? – Indagou fungando, pois o portador do som ainda não estava visível.

— Hermione?

Das sombras do corredor mal iluminado da escola, Fred Weasley apareceu com uma sobrancelha arqueada olhando apavorado do sapato usado como arma para a garota que agora parara de chorar. O rapaz usava uma roupa preta, com um colete marrom e ela achou que ele estava muito bonito.

— Oi, Fred.

— O que aconteceu? – Se aproximou, levando consigo o salto e sentando ao lado de Hermione no pé da escadaria.

— Ah – Deu de ombros cabisbaixa sem conseguir colocar sua tristeza em palavras.

— Krum fez alguma coisa?

— Não. Ele não fez nada, ele é um amigo muito bom – Declarou.

— Então o que foi?

Hermione suspirou, limpando mais uma vez o rosto com a mão suja com o rímel escorrido. Agarrou a saia do vestido com os dedos finos, limpando sua maquiagem ali e olhou nos olhos azuis do Weasley.

— Ron falou coisas maldosas para mim – Confidenciou. Fred revirou os olhos, irritado.

— Meu irmão é um cabeção. Um dos muito bocós.

— Eu sei – Fungou.

— O que ele disse? Pode me falar?

O ruivo tocou as mãos dela, fazendo com que ela soltasse o aperto que amassava sua roupa e entrelaçou seus dedos, acariciando sua pele.

— Ele disse que eu sou uma boba. E que Viktor não quer apenas ser meu amigo e se eu acredito nisso então eu sou muito inocente.

— Ron é um bobo.

— Ele também disse que ainda bem que o garoto húngaro me convidou para o baile, porque ninguém em Hogwarts faria isso.

Dizendo essas palavras, Hermione voltou a chorar, já sem ligar para as lágrimas que corriam por suas bochechas. Fred acenou positivamente com a cabeça, sem conseguir pensar em nada além de maneiras de surrar seu irmão pelas coisas que disse a ela.

— Ele deve gostar de você para dizer isso – Falou, crendo que era o único motivo para Ron falar aquelas coisas – E ficou com ciúmes.

— Ah, eu acredito que ele estivesse com ciúmes. Mas não de mim. De Krum ou sei lá – Deu de ombros, não ligava para o motivo naquele momento, só queria parar de ficar triste e chorar como a boba que era.

— Isso não seria novidade – Brincou lembrando do jogo de quadribol que assistiram e da torcida feroz de Ronald para com Viktor Krum, o apanhador do outro time.

— Ei, Fred – direcionou seus olhos castanhos e borrados para o garoto mais velho – Você pode me fazer rir?

— Se eu posso?

Sorriu desafiadoramente soltando as mãos dela e ficando de pé. Fez uma reverência para Hermione e declarou.

— Pediu para a pessoa certa.

Hermione deu uma risada sem graça antes de começar a rir para valer: Fred fazia mágicas de trouxas – coisa que vinha aprendendo com o pai e com seu interesse maluco por aquela gente desprovida de magia, contava histórias de peças que ele e Jorge haviam pregado em desavisados e narrou todas as brincadeiras que ele e o gêmeo gostavam de fazer.

— Sabe, Mione, eu e Jorge queremos abrir uma loja um dia. Só com produtos que farão as pessoas rirem – Garantiu.

Já no final da noite, a garota já estava com o humor muito melhor e já tinha até mesmo esquecido das palavras rudes que Ron tinha dito a ela. Secando as lágrimas das risadas, Fred sentou mais uma vez ao seu lado e ela apoiou a cabeleira castanha e arrumada em um penteado lindo no ombro dele.

— Obrigada por hoje.

— Não há de que. Tudo por você.

Um silêncio constrangedor se abateu sobre a dupla e Fred corrigiu:

— Porque você é muito legal e é amiga do meu irmão e tal. Por isso.

— Claro – Gaguejou.

— Então – Cutucou sua cintura com o cotovelo, empurrado levemente seu corpo – Viktor Krum, é?

— É só meu amigo – Defendeu-se rindo – Ele queria mesmo era ir com a Fleur, mas viu que ela já tinha sido convidada, então me chamou. Ele disse que me achou esperta e bonita e disse que pensou que eu seria uma boa companhia.

— Errado ele não estava.

— Ele sempre foi muito gentil, deixando tudo claro entre nós – Recordou do jovem explicando a ela, com um sotaque carregado, sobre sua paixão e que só queria sua amizade e achou graça.

— Um homem descente – Constatou Fred. Hermione segurou sua mão e brincou com seus dedos.

— Uhum. E você foi com quem no baile?

— Angelina.

— A do quadribol? – Estreitou os olhos para ele, sentindo uma pontada de ciúmes que não sabia de onde tinha surgido.

— Ela mesma. Também foi coisa de amigos – Falou retirando seus cabelos do rosto – Ela sabe que eu estou... Gostando de outra garota.

— Oh – Hermione sentiu vontade de afastar seu corpo rapidamente dele, mas então se repreendeu. Ele devia estar a tratando apenas como uma amiga. Uma espécie de irmã mais nova, não tinha nada que se preocupar, não estaria ofendendo ele ou sendo oferecida.

— Pois é. Ei, Mione, como acha que eu deveria falar para ela?

Sentiu outra pontada de ciúmes, mas deu de ombros e formulou algumas ideias.

— Poderia simplesmente chegar para ela e falar. Ou fazer uma super declaração, vai depender de como ela é, sabe.

— E como deveria fazer se fosse para você? – Perguntou com um sorriso nos lábios marotos.

— Não sei – Franziu as sobrancelhas – Ninguém nunca me perguntou isso.

— Ah, qual é, mas você já deve ter pensado – Insistiu – Garotas sempre pensam nessas coisas.

— Para sua informação, tem muitas outras coisas que garotas ocupam sua mente além de garotos estúpidos – Ralhou – E outra, garotos também pensam nessas coisas.

— E quem disse isso?

— Ora essa, você está pensando agora mesmo.

Fred ficou em silêncio por alguns momentos, absorvendo a sabedoria furiosa de Hermione.

— Mas se fosse comigo – Ela quebrou a quietude – Gostaria de algo simples, não gosto de atenções. E os caras tem que saber que não é porque eles gostam de nós que nós correspondemos, então nada de chegar beijando. A não ser que saiba que ela também sente o mesmo.

— Hum – Fez uma expressão pensativa – E como saber se ela sente o mesmo?

— Ai, Fred, eu lá sei – Levantou os braços em dúvida – Eu só entendo de livros e estudos, não sei dessas coisas de amor.

Com uma risada seca, o Weasley passou o braço pelos ombros dela, aproximando seus corpos.

— Eu só queria saber...

— Porque? – Sorriu provocativa – Tem interesse?

Fred deu de ombros, sem conseguir esconder o sorriso enorme que lhe rasgava o rosto e desviou o olhar.

— Fred... – Hermione chamou ao notar que ele não tinha respondido.

— Sim? – Indagou ainda com a face voltada para o outro lado.

— Fred Weasley – Chamou mais uma vez passando a entender o que estava acontecendo. Não podia ser. Não podia ser. Ah, mas se fosse...

O garoto virou finalmente os olhos para ela. Suas bochechas estavam rosadas como o vestido do baile de Hermione e ela sorriu vendo sua timidez repentina.

— Não sou bom com declarações – Murmurou nervosamente – Nunca cheguei nessa parte.

— Eu também não – Riu também.

Seus olhos se cruzaram e Fred rompeu sua vergonha, tomando coragem e aproximando o rosto lentamente, e, ao ver que ela correspondia, tocou seus lábios finalmente, arrancando um suspiro de Hermione.

— Como foi a declaração? – Indagou separando o beijo.

— Perfeita – Sussurrou a garota, tomando sua boca mais uma vez.