Amor Perfeito XIV - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 51
Provocando dor e sofrimento


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789213/chapter/51

Rafael Narrando

O sábado chegou mais frio do que todos os outros. Ou era apenas o meu estado de espirito mesmo. Estava sentado no parapeito da janela, assistindo o movimento da cidade de Torres e pensando se eu iria embora daquele lugar ou não. Mas eu sabia que isso não era uma opção, por mais que eu quisesse. Fazia mais de uma hora que eu permanecia imóvel na mesma posição. O pessoal da casa já havia acordado, ouvi passos no corredor. O bom era que me tratavam tão bem e eu me sentia tão em casa que eu podia sofrer em paz, sem me preocupar com nada. Arthur com certeza ainda não sabia de nada, se não havia vindo aqui, o que seria um incomodo, enquanto eu não processasse aquele fim eu não queria falar disso com ninguém, nem com ele. Abracei meus joelhos com mais força e funguei o nariz, tentando melhorar minha respiração entupida. Eu havia chorado excessivamente esta noite. Muito mais do que qualquer outra. Eu me sentia exausto, exalando fadiga. E eu sabia que os dias que viriam iriam me proporcionar um esgotamento enorme, talvez paralisando até mesmo meu raciocínio. Senti o toque em meus ombro, nem havia reparado que a porta se abriu. Levantei a cabeça – apoiada sobre os joelhos – e ergui o olhar vendo Arthur, um tanto quanto surpreso. Ele passou a mão no meu braço amigavelmente e de forma preocupada.

— O que aconteceu? - não me senti tão incomodado ao ouvir sua pergunta. Pelo contrário, procurei por por um apoio nela.

— Eu não aguento mais, Arthur. – desabei, grunhindo e chorando, tentando saciar aquela dor dentro de mim. – É demais. É sufocante. Eu não consigo mais viver sem ele, e estraguei tudo. O quão doentio isso soa? O quão desagradável é? Isso faz um mal do caralho para a saúde, sabia? – levantei a cabeça, segurando seus ombros com ambos os braços e encarando-o com a destruição transbordando por meus olhos. Ele me encarou, também emocionado, assustado por eu ter fraquejado tanto. Sem dúvida alguma, aquilo parecia ainda mais absurdo, mas só de recordar-me do inferno que a minha vida se transformou ao botar os pés dentro dessa cidade em minha última volta de casa, eu estava satisfeito por estar ao menos chorando. Só por ter certeza que eu queria lutar por ele. E isso de certa forma, acabava quebrando essa mentalidade que sentir a falta de Kevin incansavelmente chegava a ser tão doentio. Não era. Porque ele conseguia isso de uma forma muito fácil. Apenas ele. Eu não sabia como. E por sentir tanta falta eu precisava parar de lutar contra isso. Em um suplico Arthur me apertou cada vez mais contra o seu corpo. Eu envolvi sua cabeça ao redor de meu braço, afundando meu rosto em seu ombro.

— Vocês terminaram então. – ele concluiu com todo o meu desespero após um bom tempo.

— Porque ele consegue encontrar as minhas fraquezas? Consegue encontrar quem eu realmente sou e escancarar para quem estivesse interessado em ver. – funguei. – Não quero me sentir assim novamente. – suspirei me afastando um pouco dele. – Perdoe-me. – tentei me redimir. Ele deu um sorriso de apoio com bastante ternura, acariciando meu rosto.

— Tudo bem, Rafa. Você sabe que estou aqui para cuidar de você. – afirmou meigo e benévolo. – Agora vá descansar. Você está com uma cara de que não dormiu nada. Tá com fome? Se quiser, eu pego algo para comer. – neguei com a cabeça, tentando engolir o choro, que agora cessava calmamente.

— Se eu conseguisse, definitivamente, eu estaria deitado em minha cama nesse exato momento.

— É preocupante. – soltei um suspiro agoniado, como se tentasse rejeitar o que havia acabado de escutar. Afundei minha cabeça novamente por entre os joelhos, esticando minha coluna cansada. Senti um alívio me preencher. Molhei os lábios. – Eu conheço toda essa história. Já estive assim. – minha boca estava seca. Precisava beber algo. – Não se prive das coisas ao seu redor por pior que possam ser. Você precisa viver isso. Não vá ignorar essa dor. Só eu sei os resultados e as consequências. Demonstre fraqueza. Vá te fazer mais forte mais tarde. – eu soltei o ar, deixando com que algumas lágrimas escorregassem por meus olhos. – Vou te deixar sozinho, mas estarei aqui. Não sairei hoje. – concordei mesmo sabendo que eu não ouviria os conselhos dele e eu não ouvi.

Kevin esteve na tarde desse mesmo sábado comigo e disse que cuidaria de mim e não se afastaria. Ele era um idiota se achava que isso ajudava em alguma coisa.

— Oi. – Clara se sentou ao meu lado, aceitando ao meu convite. Já era segunda, estávamos no bar no intervalo da faculdade e eu fui com os caras beber, Arthur não havia ido, mas como eu queria ficar com essa garota vi que era uma oportunidade perfeita para chama-la.

O grande problema é que eu não rendia uma frase e pra piorar comecei a ficar mau humorado com ela e ainda por cima não sentia vontade de leva-la pra cama. Perfeito. A oportunidade que eu tinha de me distrair da minha dor estava escapando pelas minhas mãos.

— Você enlouqueceu? – Arthur perguntou quando estávamos indo embora. – Tem dois dias que o seu namoro acabou. E você já tá dando em cima de alguém? E sério mesmo Rafael?

— Quer que eu faça o que? Fique chorando? É sério mesmo Arthur? – repeti sua última pergunta.

— Eu esperei mais de um mês para me envolver com Letícia. Até ter certeza que Alice não voltaria atrás. Você nem sabe se Kevin pode voltar pra você.

— Ele deixou claro que quer alguém pra ser dele, como posso corresponder essa expectativa se... Você sabe.

— Você ainda não entendeu que não é errado se você o ama?

— A questão agora nem é só essa. Eu o irrito. Ele não gosta do meu jeito, Kevin é dominador demais. Não vou ficar numa coleira sem fazer as coisas que eu fazia antes. E também tem o meu ciúme. Nada colabora para ficarmos juntos Arthur.

— Tá bom. – ele concordou mesmo estando insatisfeito. – Só não deixa ele saber que tá se envolvendo com alguém. Não vou te botar medo, vou te dizer exatamente o que ele vai fazer. Ele vai até essa garota e vai contar que era seu namorado e vai dizer a ela que você tá com ela apenas para supera-lo. – nos olhamos. – Não acho que ela vai querer continuar nada depois disso. E é bem capaz dela contar pra uma amiga que conte a outra e por aí vai. Se você se preocupa tanto em estar com um homem acho que não seria uma boa opção.

— Esse não é o problema. Não ligo para o que pensam de mim. É o que eu acho que me limita. É errado. Na minha cabeça. Você ainda não entendeu isso?

— Que caralho Rafael. Eu tenho vontade de te socar tanto as vezes. Eu juro que é difícil ter empatia e se colocar no seu lugar. Seria mais compreensível se você tivesse receio pelo que as pessoas pensam.

— Não é da minha personalidade uma coisa dessas.

— Mas é achar que é errado ficar com um cara? – ele me encarou praticamente bufando.

— Por que você tá tão irritado? Não é com o meu problema. – pensei um pouco. – O que aconteceu com Alice? Vou lá hoje.

— Vai porque ela é amiga do Kevin e você tá inconscientemente arrumando pretextos para se encontrar com ele.

— Não preciso de pretextos. Ele tá atrás de mim. Foi lá sábado e domingo ver como eu estava. - me calei. - Mas está bem claro que isso não significa que ele vá voltar. – admiti com tristeza e baixei o rosto.

— Ele meio que se contenta com pouco. – Arthur comentou pausadamente. – Mas volto a dizer, não deixe ele saber.  – concordei mesmo achando que toda a preocupação dele fosse um exagero.

Arthur Narrando

— O que está acontecendo com o Kevin que nem eu consigo tira-lo do sério? – Caleb perguntou chegando perto de mim na terça feira no meio do expediente.

— Não sei. Voltamos a nos falar, mas não é a mesma coisa. – disfarcei.

— Ele e aquele garoto ainda estão juntos? – o olhei tentando entender aonde ele queria chegar com aquelas perguntas.

— Eu evito tocar nesse assunto com Rafael. Desde sempre pedi para não se envolver com Kevin. – o que não era totalmente mentira.

— Você gosta muito dele né? – percebi a maldade. – Esse garoto loiro.

— Não chegue perto dele. – ameacei com seriedade.

— Pensei que confiasse em mim e quisesse me ajudar. – ele sorriu se sentindo vitorioso. O desgraçado estava me testando. Era sempre assim com ele, pisando em ovos, tinha que ficar atento a todo o momento e eu não nasci pra isso.

— Quero porque não tenho outra escolha. Lembra? Estou de corpo e alma nisso Caleb. Não precisa se preocupar. – ele se convenceu e eu voltei ao que estava fazendo.

Se, como ele disse, meu irmão estava tão triste ao ponto de nem o pai conseguir tira-lo do sério então eu devia estar ao lado dele também e não só de Rafael.

— O que foi? – ele perguntou ao me atender assim que cheguei em sua casa. – Alice tá lá em cima se não quiser vê-la melhor ir embora.

— Voltaram a grudar um no outro? – perguntei e sorri.

— Ela tá malzona. Sabia?

— Pior que você? – o encarei.

— Não sei. Estamos juntos nessa de sentir pena um do outro e sofrermos. O que você quer Arthur?

— Nada. Eu só vim te ver e saber como você está.

— Terminei meu namoro há três dias, como eu posso estar? – desviei o olhar ao lembrar do pouco tempo e das atitudes de Rafael. – Não é possível. – ele falou e deu uma risadinha. – Ele é surpreendente. – sua fala continha desgosto e decepção.

— Você que é surpreendente! É inacreditável que por um desvio de olhar você faça conclusões.

— E acerte. – ele afirmou sem titubear.

— A dor está fazendo com que ele fique irracional Kevin. Não tem nenhuma chance de vocês voltarem? – ele fez um gesto de que não sabia.

— Mais tarde vamos nos encontrar na sua casa, Danilo fez o primeiro movimento.

— Ok. – concordei e fui embora. Não queria me encontrar com Alice. Depois da nossa última conversa desastrosa achei por bem continuarmos nos evitando, só nos causávamos dor.

Como Kevin disse nos reunimos. Danilo estava presente, o que foi bem estranho pra mim, já que falaríamos dele.

— Por que você nos traiu com Luiz? – ele o questionou.

— Na verdade eu não trai. O cara apenas me abordou. Que papo é esse? Você sabia de tudo né?

— Você é um cretino Danilo! – Otávia exclamou e saiu da biblioteca.

— Eu achei que no ritmo que estavam vocês não tinham chance contra ela, só quis cuidar de mim.

— E cadê ela que tá quietinha? – meu irmão questionou parecendo bem curioso.

— Armando. Um bom plano passa por um bom tempo de planejamento. Relaxa, quando você souber dela nunca mais vai esquecer.

— Diz tudo o que sabe agora. – ele o ameaçou com ódio nos olhos.

— Não sei de nada. E mesmo se soubesse eu não diria. Vocês não param de me testar. Já disse tudo o que sei e tudo que fiz. Coloquei todas as cartas na mesa. A verdade é que eu quero me livrar dessa submissão com Diana, se vocês se contentam em viver com medo da vizinha ao lado, problema é de vocês. – ele se levantou e Kevin pediu para que esperasse.

— Vou pensar em algo essa noite. A gente não pode matar a sua irmã. Isso não existe. Se você morre de medinho e não quer colocar os seus pais no meio, vou ter que pensar em outra coisa. Espera e fica quieto. Ouviu?

— Sim senhor chefão. – ele saiu batendo os pés. Olhei para o Rafael e depois para o Kevin.

— Vou embora. Se alguém tiver alguma ideia me ligue. – ele se virou pra Alice. – Vem animalzinho.

— O respeito do Kevin pelas pessoas é algo admirável. – Lari comentou com ironia.

— Se você não sabe das coisas, não comenta. Saímos pra beber e ela cismou de urrar, por isso o nome animal que eu chamo no diminutivo por ter carinho por ela. E mesmo que eu não precise me explicar, faço por pura consideração a Alice. Que vocês também deveriam ter nesse momento que ela está passando.

— Sabe que ela não pode corresponder todo esse carinho e consideração né? – Ryan questionou de forma séria.

— Ela corresponde. Do jeito dela. Tchau pra vocês.

— Kevin a gente pode conversar só um minuto? – ouvi Fael o abordar. Previ que aquilo não acabaria nada bem, mas minha previsão nunca chegaria perto do que realmente aconteceu no fim de tudo.

Kevin Narrando

Estava evitando conversar com Rafael a partir do momento que eu percebi que ele estava se envolvendo com alguém. Mas ele tinha que dificultar as coisas.

— Eu preferia que a gente conversasse depois. – falei quando ele me abordou.

— Por favor, é rapidinho. – respirei fundo e sai com ele da biblioteca.

— É o meu pai. Conversamos ontem a noite e ele perguntou por você e pela gente. Não tive coragem de dizer que terminamos. Como eu faço isso? – fiquei olhando pra ele.

— Da mesma forma que você faz pra conseguir ficar com alguém tão pouco tempo do fim. – afirmei com raiva.

— Como você sabe? – ele franziu a testa certamente se sentindo traído.

— Ele não contou nada, apenas vacilou. Você sabe que eu sou esperto.

— Não entendo o porque de você estar tão nervoso, não temos mais nada não é mesmo? Você terminou comigo Kevin.

— Eu termino e você já sai igual um louco se atirando pra todo lado?

— Não é todo lado, é uma garota.

— Garota. Óbvio. – era ridículo, mas ele conseguiu me fazer sentir coisas que eu não gostava nem de expressar.

— Não é da sua conta o que eu vivo. – o olhei tentando entender todo aquele ataque a mim. E entendi. Eu ter dito sobre a garota de alguma forma mexia com toda a questão da sexualidade dele. – Sou livre pra ficar com quem eu quiser.

— É. Eu também. – suspirei. – Mas não fico porque além de ser recente eu ainda te amo.

— Engraçado... Porque você ficou comigo amando Murilo.

— Mas não fiquei com você para esquecê-lo. – sorri de lado. – Porque eu já tinha certeza mesmo naquela época, que isso era impossível. – ele pareceu se petrificar e ficou me olhando com os olhos úmidos. Aos poucos ele começou a chorar. – Por que você tá chorando Rafael?

— Um soco doeria menos.

— Cada um provoca dor como pode. – fui embora o mais rápido que podia.

— Quer falar o que foi? – Alice perguntou quando paramos em frente a minha casa.

— Não. – respondi apenas. Fui pra cozinha.

— O que vai fazer?

— Alguma coisa pra eu comer.

— Mas você não sabe cozinhar.

— É. – fechei os olhos e respirei fundo. – Pega meu celular e pede alguma coisa em um algum aplicativo. Por favor.

— Eu acho que você não está bem com fome. – ela opinou, mas mesmo assim o pegou. – Kevin. – sua voz estava diferente, a olhei imediatamente. – Meu irmão está te ligando. – meu coração acelerou em um ritmo inacreditável. Permaneci calado, ainda chocado. Pisquei várias vezes. Eu tinha certeza que estava parecendo um idiota. – Quer que eu atenda?

— Não. – peguei o aparelho com as mãos trêmulas e vi que era uma chamada de voz. Menos mal. Encara-lo seria bem mais complicado.

— Oi. – falei tentando manter firmeza em minha voz.

“Ei Kevin. Desculpa estar te ligando.— ele como sempre ansioso indo direto ao ponto. – Não queria te incomodar. É... É só que o Rafael me mandou mensagens dizendo coisas sem sentido, confesso que fiquei preocupado. O que tá acontecendo com vocês dois? Posso ajudar em alguma coisa?— o nível de empatia e solidariedade dele era algo que eu nunca conseguiria entender. – Eu disse a ele que não tinha sentido porque eu vi com os meus próprios olhos, mas acho que ele não se convenceu. É sério, o que houve?"

— Eu que te peço desculpas. E não se preocupe com isso. – não consegui dizer mais nada além disso, desliguei e peguei minha chave.

— Espera Kevin. – Alice veio atrás de mim, entrando correndo em meu carro. Cheguei naquela casa transtornado e fui até o quarto do Rafael e minha intenção era questionar o motivo dele ter feito aquilo, mas não consegui me controlar e parti pra cima dele.

— Você sabe o quanto isso pode afeta-lo? – perguntei quase gritando. – Você entende que ele tem um problema sério que afeta a vida dele? Você não tinha o direito de fazer isso.

— Vou chamar o Arthur. – Alice disse e saiu rápido.

— Contar a ele que você não o esqueceu? Como se ele já não soubesse.

— Ele só sabe que eu te amo. E isso é o suficiente. Só que agora eu te odeio.

— Ei, vem cá. – Arthur entrou no quarto e me puxou. – Larga ele, calma. O que tá acontecendo aqui?

— Devia me agradecer Kevin. Tentei juntar vocês dois de novo. – e eu tive vontade de partir pra cima dele mais uma vez.

— O meu irmão está bem, fica calmo. – Alice disse e me mostrou seu celular. Ela estava conversando com Murilo.

— É, talvez você tenha me feito um favor. – falei o olhando. – Mas não foi em relação ao Murilo e sim a você. - se ele estava agindo irracionalmente, com toda certeza eu corresponderia a altura.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até amanhã ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor Perfeito XIV - Versão Arthur" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.