Rey estava encantada. A caminhada nos arredores da escola com Finn pela manhã havia sido o suficiente para que ela nem sentisse falta de sua antiga escola. O almoço com Poe e as conversas jogadas fora enquanto esperavam o sinal para aula foram suficientes para arrancar algumas risadas da garota, que nunca havia tido amigos assim na vida.

Agora era hora de realmente encarar sua primeira aula de verdade. Finn estaria com ela, o que lhe dava um certo alívio. E, por mais que Estudos Sociais não fosse um assunto que despertasse seu interesse imediato, Rey mal podia esperar para ver como seria a aula.

Ocupou uma cadeira mais para o meio da sala, com Finn ao seu lado. Não prestou atenção no resto da classe, mas sabia da diversidade. A flexibilidade da grade curricular permitia que alunos de diferentes idades e conhecimentos compusessem a mesma turma. Suas notas antigas lhe garantiram vagas em aulas avançadas e intermédias, de modo que ela era relativamente mais nova que a maioria.

Quando Luke Skywalker entrou, ela quase levou um susto. O homem tinha uma postura de autoridade, mas do tipo que se fazia ser respeitada pela sabedoria e gentileza. Rey sabia da importância do homem, era conhecido no meio acadêmico, admirado pelos alunos e não pôde deixar de ouvir excelentes comentários entusiasmados sobre suas aulas. A ideia de estar sendo lecionada por uma pessoa importante a fez sorrir.

Luke era uma figura interessante, tinha uma barba cinza bem aparada, um cabelo loiro escuro bem cortado e usava um suéter juntamente com o terno.

— Sobre história e a política na Nova República… - Ele iniciou, olhando a classe como se cada um deles fosse seu filho. - Bem, vivemos nela. E já discutimos bastante sobre o que a levou até aqui, mas gostaria de trazer outra discussão…

Ele se virou e começou a anotar algo no quadro, explicando mais sobre a história da República. Revisou suas origens, deixou que os alunos se expressassem sobre os motivos que a levaram a uma queda e reforçou a importância de filosofias e pensamentos revolucionários em tempos de escuridão.

Rey nunca havia visto alguém envolver tanto uma turma assim. Ele visivelmente era querido por todos ali, despertando admiração nos corações mais inspirados. A aula passou voando e Rey sentiu-se levemente triste por ter acabado. Luke se despedia de todos com um sorriso, pois todos o cumprimentavam ao sair.

Todos, menos um. O rapaz de cabelo preto passou pelos outros alunos, buscando sair da sala o mais rapidamente possível. Luke abriu a boca para chamá-lo, mas desistiu. Em vez disso, sua atenção se voltou para Rey.

— Senhorita Rey, pode vir aqui por 1 minuto? - chamou o homem mais velho.

Ela se despediu de Finn e andou timidamente até ele.

— Senhor Skywalker… - cumprimentou ela. - Foi uma ótima aula. Nunca tive um professor igual 

Ele sorriu.

— Obrigado. Bem, a chamei pois é incomum um estudante entrar no meio do semestre. Mais incomum ainda em turmas tão avançadas, levando em consideração as outras instituições da qual você veio.

Rey apertou os lábios, sem saber o que dizer, talvez até ficando um pouco envergonhada. Era verdade que se tivesse esperado um ano, poderia entrar no primeiro ano e começar do zero a maioria das cadeiras e organizar sua carga horária com calma. Mas quando lhe oferecem a opção de fazer uma prova de aptidão, uma lâmpada se acendeu na sua cabeça. Poderia se formar mais cedo, poderia sair do trailer mais cedo. A tentação era boa demais para ser deixada de lado.

— Seus resultados me impressionaram e, honestamente, vejo potencial em você - continuou Luke, procurando um papel entre suas coisas. - Mas vai precisar de mais do que boas notas para fechar sua carga horária. Aqui tem uma lista de atividades extras e mais alguma orientações. Como vice-diretor, o mínimo que posso fazer é facilitar e lhe dar isso. Mas… não tenha tanta pressa, isso pode lhe prejudicar. Paciência é uma virtude.

Ele entregou algumas folhas, contendo cadeiras, aulas extras e clubes que ela poderia aproveitar. Várias opções preenchiam os seus olhos, que brilhavam conforme viam as possibilidades.

— Obrigada, senhor Skywalker - agradeceu ela com um sorriso e se despediu.

A conversa demorou um pouco mais do que esperado, pois os corredores estavam, em sua maioria, vazios. Todo mundo aqui parece tão pontual, pensou Rey. Ela talvez se atrasasse para a próxima e última aula do dia e, apesar do passeio guiado por Finn, ela ainda teria que se acostumar com os locais.

Sua atenção se dispersou ao ouvir um barulho, um baque no metal. O som de um corpo sendo chocado contra um armário e as vozes ao longe, ficando mais altas conforme ela se aproximava da esquina de um corredor, a faziam ter ideia do teor da conversa.

— Não é fofoca se o que dizem é verdade, Solo! - a voz de um garoto dizia, firme apesar do medo.

— Não me importa! Quer bancar o esperto? Faça isso agora na minha frente! - Uma voz grave bradou, se fazendo ser ouvida por todo o corredor.

E mais uma vez, lá estava ele. O garoto de antes. Seus cabelos negros e ondulados chegavam até os seus ombros. Era bem mais alto que o garoto que estava amedrontando e bem mais forte também. Rey podia perceber que, por mais que se segurasse, ele estava prestes a erguer o punho.

— Hey! - Ela falou, alto o suficiente para ser ouvida, não sabendo de onde havia encontrado a coragem. - Solta ele!

Os dois olharam para ela em uma visível confusão e o rapaz menor aproveitou a distração para fugir. O mais alto sustentou seu olhar.

— Devia cuidar da sua vida - Ele disse enquanto ela se aproximava.

— E vocês deviam parar de ser tão idiotas! - respondeu Rey.

Só ali Ben percebeu que seus olhos brilhavam em um tom de avelã, olhando-o com determinação e raiva. O coques no cabelo liso e castanho já estavam se desfazendo.

— Vocês? - perguntou ele.

— Você e seus amigos que quase me atropelaram. Se acham tão bons, mas só são um bando de mimados - retrucou ela.

Ben soltou uma risada abafada, não acreditando na audácia da garota.

— Escuta aqui - começou ele. - Você chegou aqui hoje e não pense que pode agir como bem entender. Aqui não é uma daqueles lugares qualquer de onde você vem, não aja como se fosse a dona do lugar. Aqui, você não é ninguém. Se acostume com isso.

Rey se calou, as palavras surtindo efeito sobre ela. Sua raiva só aumentava conforme ele dava as costas e andava, dirigindo-se para um dos elevadores.

{...}

Incrivelmente petulante. Essa era a palavra que Ben buscava. Petulante. O gênio forte da garota haviam feito com que ele perdesse a postura por um breve momento, mas não se deixou abalar. Quantos mais seriam as pessoas que se achavam no direito de lhe dar sermão? Ninguém ali tinha.

Enquanto esperava o elevador apitar até chegar no térreo, Ben Solo pensava nos olhos grandes que o encaravam de uma maneira intensa. A raiva dela havia sido uma surpresa para ele, não tinha culpa de Hux não ser um bom motorista e tampouco as atitudes de Phasma refletiam sua opinião sobre Finn, a quem era indiferente.

Ela era desconcertante, pra dizer o mínimo. E ele não entendia por que se deu ao trabalho de respondê-la, quando simplesmente poderia virar as costas.

Hux já o esperava no térreo, enquanto guardava suas coisas dentro do armário e puxava uma bolsa com algumas roupas dentro.

— Um pouco atrasado - pontuou o ruivo.

— Tive um pequeno imprevisto - respondeu o moreno, olhando para a luz que passava pelas vitrines e apoiando as costas nos armários. - Suas aulas acabaram?

— Ainda tenho coisas a fazer, com respeito ao clube de debate, não vou demorar muito. Você? Vai me esperar?

Ben deu de ombros.

— Vou a pé pra casa - disse por fim, deixando Hux para trás enquanto se dirigia para a saída.