Leiam as notas iniciais

POV Luli

Nos dias seguintes ele tentou falar comigo, mas eu sempre ignorava ou ia falar com os meus amigos. E mesmo assim ele não desistia. Ninguém sabia de nada, então eu tinha que fingir o tempo todo. Era muita coisa pra assimilar. Ia até a arena quando ele me abordou. Estava sozinha então apressei o passo para despistá-lo. Não funcionou. 

— Onde você pensa que vai?- perguntou se pondo na minha frente. Respirei fundo.

— Pra arena.- respondi simplesmente.

— Luli, por que que você tá me evitando?

— É sério que você não sabe? Eu não quero falar com você. Aqui não é o Brasil e ninguém sabe que a gente se conhece. O acampamento é grande o suficiente pra nós dois.

— Mas eu não quero que seja assim. A gente se dava super bem antes, me dá outra chance, vai. Eu sei que você gostava de quando a gente tava junto e se você quiser pode ser assim de novo.- disse ele se aproximando ainda mais de mim.

— Ian se você tá sugerindo que a gente volte, não vai rolar. Sinto muito. Se você achou que eu ficaria super feliz em te ver e que correria pra você se enganou feio. Eu tenho namorado e não tenho o menor interesse em largar ele. E nem adianta insistir. Não. Vai. Rolar.- retruquei o mais seca que pude. É sério que ele queria voltar comigo, depois de dois anos sumido e de tudo o que ele fez? Continuei meu caminho e não olhei pra trás.

Mais tarde, depois do treinamento…

Eu conversava com a Carol, falamos de todas as coisas possíveis antes de chegar no tópico mais delicado no momento: o Ian.

— Como você tá?- perguntou preocupada.

— Relaxa eu to bem, acho que agora ele para de me seguir.

— E o James?

— Estranho- respondi.- Ele anda mais cauteloso ultimamente.

— Será que ele sabe?

— Impossível. Ninguém sabe. Não teria como ele descobrir. A gente nunca fala sobre isso.- comentei.- E você?

— Ah, na mesma.- falou indiferente.- Fingir tá sendo a parte mais difícil. Eu morro de vontade de acabar com ele… O pior é esconder do Adam. Ele sabe que tem coisa errada, mas eu não posso falar nada. O bom é que o Ian tá na dele sem falar com ninguém.

— E pensar que ele tentou voltar comigo hoje…- disse baixo, pensando em voz alta.

— ELE FEZ O QUÊ?! O que que aquele garoto tem na cabeça?- exclamou indignada.

— Isso eu realmente não sei, mas depois da nossa conversa hoje eu tenho certeza de que ele não vai tentar mais nada.- respondi, tentando acalmá-la.

— Pelo bem dele eu espero que não tente.

Mais tarde antes do jantar…

Estava indo pro meu chalé tomar banho. O dia tinha sido normal, um pouco puxado, mas nada com o que eu já não estivesse acostumada. O Ian parou de me perseguir então acho que vou ter paz daqui em diante. A única coisa fora do comum era o James. Ele tava me evitando. A única resposta possível, seria se ele soubesse sobre o Ian, mas isso é impossível. Decidi que falaria com ele mais tarde. Já estava quase na porta do meu chalé, especificamente entre o de Hera e Zeus, quando o Ian chegou.

— O que você quer? Que eu sabia o seu chalé é pro outro lado.- perguntei.

— Eu sei, eu tava te procurando.- respondeu, nervoso.

— Bem já achou agora pode ir. 

— Pera Luli, só um minuto. Eu sei que você não é assim grossa com todo mundo, só me deixa falar.- pediu.

— Bem eu não era assim, faz dois anos desde a última vez que você me viu, não me conhece mais.- retruquei.

— Mas eu quero conhecer. Por favor, me dê mais uma chance. Pra eu poder concertar tudo. Por favor.- enquanto ele falava, ia chegando cada vez mais perto de mim, enquanto eu recuava, até que bati as costas na parede do chalé de Zeus. Ele não parou de se aproximar.- Vamos, eu sei que você quer isso tanto quanto eu.

Ele foi aproximando seu rosto cada vez mais do meu, até que me beijou. Ele me prendia na parede com tanta força que não consegui fugir. Mas na primeira chance que tive, o empurrei e dei um soco bem no meio do seu rosto.

— Seu louco! O que você pensa que tá fazendo?! Que parte de “eu não quero ficar com você” você não entendeu?!- gritei irritada. Já estava quase pegando minha espada, e ele viu isso, pois no seu olhar tinha raiva, surpresa e medo. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ele saiu correndo.

Entrei no meu chalé batendo a porta. São em momentos como esse que eu agradeço por não ter irmãos. Fui correndo pro chuveiro ver se um banho conseguia me acalmar. Acho que ele só serviu pra me irritar ainda mais. Saí do banheiro o mais rápido que pude, indo em direção da floresta. Estava sem fome nenhuma pra jantar. Entrava cada vez mais na mata fechada, tentando me afastar o máximo possível do acampamento para ninguém poder me achar.

— Luli? O que você tá fazendo aqui? Não vai jantar?- fui ver que tinha perguntado e vi o James. Ótimo. Ele era a última pessoa que eu queria encontrar naquele momento.

— Não eu to sem fome.- respondi, um pouco rápido demais.- E você o que faz aqui?

— Eu tava te procurando. A gente tem que conversar.- eu nunca tinha visto ele tão sério antes.

— E sobre o que exatamente?- ele parecia nervoso. Suspirou e disse:

— Olha você anda muito estranha ultimamente, pensando demais, me evitando e evitando os outros. E também tem aquele cara novo o Ian, por que você não me contou que conhecia ele?

— Olha James, é meio complicado. Estranha eu não tô, é só paranoia da sua cabeça. Pensar é normal, tenho que focar em treinar e controlar os meus poderes. Não sei da onde você tirou que eu tava te evitando, por que não é verdade. E sobre o Ian, é simples eu não falei nada por que ele é o meu ex-namorado.-pronto, falei tudo de uma vez. Ele me olhava surpreso.- Agora se me dá licença…

— Como assim, me dá licença? Você não pode jogar uma bomba assim e fingir que tá tudo bem. Por que não me contou antes?- questionou irritado.

Suspirei:

— Porque eu sabia que você ia reagir assim.

— Assim como?

— Se irritar sem motivo e ficar estressado e paranoico.

— Sem motivo? Você é minha namorada, eu tinha o direito de saber! Eu achei que você confiava em mim, porque eu confiava em você.

— James não tem motivo nenhum pra você reagir assim! Para de ser infantil!- falei já me irritando.

— A não? Agora que estamos sendo sinceros, me diga, tem mais alguma coisa que eu tenha que saber?- disse irônico.

— Sim. Ele me beijou.- eu sabia que não era a melhor ideia do mundo contar pra ele agora, mas simplesmente saiu.

— Ele o que?! 

— Exatamente o que você ouviu. Ele chegou e me beijou.

— E você não fez nada?

— O que você acha? É claro que sim! Eu não ia deixá-lo me beijar assim, sem mais nem menos!

— É mesmo? Olha Luisa, eu não sei aonde você acha que vai chegar com todas essas mentiras enfeitadas, mas você não me engana mais. Eu achei que podia confiar em você, que você me amava. Mas não, tinha que ser o filho de Hefesto iludido! Você é pior que a sua mãe. Por que engana todo mundo com essa carinha de santa, só pra apunhalar pelas costas. Você é um monstro!

Não, não, não. De novo não. Mais uma vez eu estava nas nuvens. E mais uma vez meu mundo virou de cabeça pra baixo. Mas não ia ficar quieta como da última vez. Dessa vez eu respondi:

— Monstro? Eu? Olha James se você acha que foi iludido estamos todos no mesmo barco, por que eu nunca, nunca, achei que você fosse assim. O tipo de cara de desiste no primeiro desafio. O tipo de cara que se estressa fácil. O tipo de cara que me machucaria. Você tem ideia do que aconteceu entre mim e o Ian? Tem ideia do porque terminamos? Sabe o quão difícil foi pra eu me permitir me apaixonar de novo? Não. Então não me venha com esse papo inocente como se você fosse a vítima, por que você não foi o único a se machucar hoje. - comecei gritando com fúria, mas quando terminei já soluçava e mal conseguia conter as lágrimas. Sem dar chance dele responder saí correndo de volta pro acampamento. Precisava de um tempo. Talvez visitar meu pai por uns dias, me trancar no chalé e não sair pelos próximos séculos.

Enquanto passava pelo refeitório, notei que vários campistas estavam reunidos no meio, ouvindo alguém que falava em cima de uma mesa. Me aproximei mais pra ver quem era. O Ian. Me virei para ir embora, mas já era tarde demais. Ele tinha me notado.

— Olha lá pessoal, é ela! Estávamos falando de você acredita nisso? Da pessoa ignorante que você é. Por que não volta pro Olimpo princesa, pro lado da vaca da sua mãe onde é o seu lugar? Você não deveria estar aqui. Você não devia nem ter nascido. Sua mãe já arruinou as nossas vidas, e não vamos deixar que você faça o mesmo. Não. Vamos cortar o mal pela raiz. Quer um conselho? Saia daqui enquanto tem chance. Aqui não é o seu lugar, aqui é a nossa casa. E acredite, vamos defendê-lo até o fim de monstros como você. Então o que você escolhe?

  Me afastei devagar. Aquele era oficialmente o pior dia da minha vida. Tinha perdido o amor da minha vida e a minha casa no mesmo dia. Não aguentava mais. Saí correndo pro meu chalé pegar as minhas coisas e ir embora o mais rápido possível. Socava coisas pra dentro da mochila sem nem ver direito o que eu pegava. Quando estava quase saindo de novo, Carol, Hannah, Mateo e Sam entraram pela porta com mochilas sobre os ombros.

— Lembra da nossa promessa? Vamos com você onde quer que for.- lembrou Mateo.

Assenti e os abracei em agradecimento. Saímos correndo porta afora até o limite da entrada do acampamento. Olhei pra trás mais uma vez antes de descer a colina meio-sangue pela, provavelmente, última vez.