Riptide escrita por Dani


Capítulo 1
Capítulo 1: O Grito


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal?
Então, comecei essa fanfic como um presente de aniversário para minhas duas bbs, sou novata nisso de terror, então peço só paciência de vocês hehehe

Tenham uma boa leitura ♥

(Desculpem o mini texto, mas hoje foi um dia difícil, perdi o meu cahorro, e ainda estou curtindo o luto)



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Quando Karoline havia saído com sua bicicleta nova naquela manhã, acompanhada de sua inseparável amiga e vizinha Beatriz, em direção as trilhas da floresta que conheciam como a palma de suas pequenas mãos.

Ela esperava encontrar lagartos, borboletas, sapos, girinos, talvez até animais maiores como uma raposa, até mesmo um veado seria esperado pelas garotas, visto que Bea havia comentado certa vez, que estava passeando com seus pais e viu um veado saltando ao lado do seu carro. A garota havia passado dias falando daquilo, não tinha como esquecer.

Mas diferentemente de todas essas possibilidades, o que encontraram foi algo totalmente inesperado e incoerente. Não que elas soubessem o significado dessas palavras.

— Ele está morto?

— Eu não sei.

Bem ali, nas margens do lago que cortava a floresta, de água cristalina, rodeado de imensas árvores, estas por sua vez tomadas por inúmeras aves abrigadas em seus galhos. Bem ali, aos pés da garota, um corpo inerte e de tonalidade estranhamente azul, jazia.

Beatriz correu, pegando algo perto de onde haviam jogado suas bicicletas, aparecendo rapidamente ao lado da amiga, que encarava o estranho deitado aos seus pés. Entregando-lhe um pedaço de madeira.

— Toma, mexe com isso.

Karoline a encarou como se a amiga estivesse louca, jogando longe o pedaço de madeira.

— Eu não vou mexer, o papai fala pra não mexer com coisas estranhas.

— Mas e se essa pessoa estiver viva? — Declarou a mais velha.

Karoline a olhou com um ar de curiosidade, ela lutava contra a vontade de cutucar aquele corpo azul. A seriedade da cena não havia sido entendida por aquelas garotas.

E enquanto as garotas olhavam para o desconhecido, com a dúvida estampada em seus rostos, assustaram-se ao ver o corpo se mexer de repente. A correnteza empurrava, puxava e chacoalhava a parte que ainda estava dentro da água, e podiam ver que a cintura daquela pessoa batia descompassadamente nas rochas que estavam na borda, o corpo tremia com as pequenas ondas do lago, por vezes era empurrado para fora e em outros momentos parecia afundar mais. As garotas fizeram uma careta, ao ver, que em um destes momentos, onde o corpo era empurrado para fora, sua nudez ficava estampada.

 A falta de uma camisa não havia as incomodado até agora, mas a falta de calças as fez corar. Não estavam acostumadas a ver traseiros, em uma cidade tão pequena como a que viviam.

Beatriz, a mais velha, embora corada, não conseguia parar de olhar. A água escondia e desnudava o corpo descompassadamente, às vezes ela conseguia ver pequenos peixes, que estavam sendo arrastados pela correnteza, parando ao redor do corpo, talvez estivessem tão curiosos quanto elas. Mas eles não ficavam por muito tempo, logo seguiam pelo caminho marcado do rio, deixando o corpo e aquelas duas garotas para trás.

Ao seu lado, a garota pode ouvir passos, e ao virar-se viu a amiga se aproximando ainda mais da borda do rio, sentando-se em seguida, quase que ao lado do achado delas. E logo a mais nova pronunciou-se.

— Será que é um menino ou uma menina?

Beatriz arqueou uma sobrancelha, aproximando-se da garota, acocorando-se ao seu lado.

— É claro que é um menino, olha — Beatriz apontou para a cabeça da pessoa deitada a sua frente, quase tocando os finos fios — Tem cabelos curtos.

— Isso não quer dizer nada — Karol fez uma careta.

— Quer dizer sim, você é muito nova para entender Karol.

— Você é cinco meses mais velha que eu, não sou tão nova assim — A pequena comentou fazendo uma careta.

Beatriz olhou a amiga, pronta para dar-lhe uma resposta, no entanto um barulho não muito longe de onde estavam lhe chamaram a atenção, as garotas viraram-se imediatamente. Uma figura escura, longe o suficiente para não ser identificada, parecia encará-las, escondida atrás de uma árvore, com apenas uma parcela do corpo para fora.

A silhueta misteriosa parecia balançar algo quase que na altura do que deveria ser seu rosto, a sombra tremia e chacoalhava, os pássaros ganiam assustados sempre que passavam perto daquilo.

Karoline segurou a mão de Bea.

— Bea — A mais nova chamou a amiga, que encarava hipnotizada o que quer que fosse aquilo — Quem é?

A sombra formou um sorriso branco, que de longe era apenas uma linha branca curvada, enquanto balançava incessantemente o que deveria ser seu braço.

— Eu não sei — Beatriz respondeu, apertando os olhos, tentando ver melhor.

Karol se pôs a frente, também apertando os olhos, levantando então a mão livre, acenando para a sombra.

— Ei, quem é você? — Gritou a garota com inocência.

Bea puxou a mão da mais nova com certa brutalidade, chamando sua atenção.

— O seu pai nunca te falou para não falar com estranhos?

Karol fechou a cara em uma careta, cruzando os braços, se voltando novamente para o rio, emburrada com a amiga. Bea ao ver o comportamento da amiga, bufou e revirou os olhos, e ao voltar-se para a misteriosa sombra, não havia mais nada.

Seus olhos correram a floresta, mas não tinha mais nada, os pássaros haviam voltado a cantar normalmente como se nada houvesse acontecido e os imensos troncos de árvore, pareciam agora estar ainda mais iluminados e de alguma forma brilhantes,  aquilo fazia Bea lembrar de quando sua mãe passava um óleo estranho e de cheiro forte na mesa de madeira da sua casa, e como a mesa ficava irritantemente lisa.

Por fim a garota virou-se para a amiga emburrada.

— Tá com raiva?

Karol não respondeu, abraçando-se ainda mais as pernas, enquanto cutucava algo no chão.

Bea bufou e revirou os olhos novamente.

— Desculpa... — Bea murmurou, olhando pros lados.

— O quê? — Fingiu a mais nova não ter escutado.

Bea grunhiu irritada, e repetiu irritada e envergonhada.

— Desculpa...

Karol sorriu vitoriosa para a amiga, Bea sorriu também, jogando-se ao lado da amiga na terra molhada da beira do lago, sujando a roupa de ambas, e ignorando o corpo enrugado e inchado que ali jazia. As duas garotas sentadas, sujas de lama e reconciliadas a beira do lago, agora voltavam novamente seu olhar para a pessoa dentro da água.

O corpo ainda chacoalhando, tremendo e batendo nas pedras e na terra abaixo da água, os cabelos curtos também sujos, como pequenos galhos e folhas presas, a nudez totalmente a mostra e o rosto escondido por debaixo da lama que sujava os pés das duas garotas que ali, curiosas, admiravam aquele ser.

As garotas estavam assustadoramente interessadas no corpo, tão interessadas e desatentas a todo o resto que nem perceberam quando mãos grossas e pesadas pousaram sobre a cabeça de cada uma delas, e uma voz grossa e arrastada, acompanhada de um forte aroma de gengibre misturado com café ecoou em seus ouvidos.

— Não deveriam estar aqui.

 

 

E então Karoline acordou.

 

 

O coração acelerado, o corpo pequeno frio de suor, e suas mãos tremiam como se houvesse levado um choque.

— Mãe — A garota chamou, choramingando, mas não obteve resposta — Mãe! — E mais uma vez o silêncio.

A garota sabia que poderia gritar o quanto quisesse, sua mãe não viria, ele havia parado de vir a muito tempo, então havia aprendido também que tinha que resolver seus problemas, e foi isso que ela fez, respirou fundo e se levantou rumo ao banheiro, tentando esquecer o pesadelo.

Karoline estava acordada, estava pronta, usando seu adorado vestido azul com um short por baixo preparada para tudo, os curtos cabelos escuros presos em uma fina tiara que carregava uma pequena rosa falsa e em seus pés suas já surradas e a ponto de irem direto para a lixeira, suas adoráveis sandálias antes amarelas, mas que agora beiravam a alguma cor que a jovem já nem conseguia mais identificar. Tudo estava certo.

Descendo para tomar café, ninguém a esperava na mesa, apenas seu irmão mais novo, que sorriu quando a viu e ela chegou perto depositando um beijo no topo da cabeça do mais novo. Na cozinha uma mulher alta, vestida e brilhando como se houvesse acabado de praticar alguns alongamentos ali mesmo, com um rabo de cavalo preso no topo da cabeça onde seus fios negros e rebeldes soltavam-se e colavam na testa suada da mulher, preparava, pelo o que a garoto pode identificar pelo cheiro, como sendo ovos mexidos e bacon fritos, bem como ela gostava.

— Querida — Um homem moreno e barbudo surgiu de algum lugar atrás da garota, apertando uma gravata verde escuro ao redor do pescoço — Tenho que ir — Falou apressado passando pelas crianças, depositando um beijo rápido da bochecha da esposa.

— Mas você ainda não comeu — A mulher relutou, levantando a panela onde as finas tiras de bacon ainda estalavam com a temperatura e a gordura que escorria.

O homem olhou ao redor, pegando uma torrada e pondo alguns pedaços de Bacon.

— Como no caminho, até mais — Ele correu, mandando um beijo na direção da mulher enquanto seus olhos estavam presos na pequena tela de celular que carregava.

— Mas... — A mulher tentou falar algo, mas o barulho da porta da sala batendo, cortou sua palavra, e ela direcionou seu olhar para os filhos.

— Desculpe, eu tenho que ir.

— Mas mãe...

E a jovem Karoline também foi cortada, com o barulho da porta batendo, seu irmão a olhou como se perguntando o que fariam agora, a garota o olhou e sorriu.

— Não se preocupe, eu cuido de você.

Falou por fim se dirigindo ela mesma para a cozinha e ajeitando algo para que comesse, guardando as sobras para quando seus pais resolvessem voltar.

Ela não havia planejado trazer seu irmão mais novo para o encontro com seus amigos, mas também não poderia deixa-lo sozinho, e por conta de seu grande instinto de considerável responsabilidade ali estavam eles, de mãos dadas enquanto seguiam, sendo acompanhados apenas pela correnteza do enorme rio que cortava a cidade e a enorme floresta que a cercava.

Lukas era o nome do seu irmão, um garoto pequeno, de pele negra com um tom que lembrava uma barra de chocolate ao leite, seus fios castanhos claros formavam cachos que caiam como molas por sua pequena cabeça, não chegavam a tocar seus ombros, mas estava quase lá, ele carregava sempre consigo sua garrafa de água transparente com desenhos de extraterrestres e naves espaciais pendurada habitualmente em seu pescoço por um cordão a muito desgastado, e que na verdade já havia se partido, mas Karoline havia dado um jeito, como ela sempre fazia quando se tratava dele. Lukas ia fazer 5 anos, ela ia fazer 12, no entanto a garota se portava como alguém muita mais velha quando estava com ele, seus pais os ignoravam desde que Lukas havia nascido, ela não lembrava o motivo e já havia desistido de tentar descobrir o porquê.

Ela só se importava com ele, assim como ela sabia que ele se importava com ela, de sua forma inocente e ingênua.

Durante todo o caminho, atravessando ruas, pontes e a tentadoras lojas de sorvete e guloseimas, eles finalmente haviam chegado a uma enorme praça de eventos, onde enormes tendas estavam erguidas, risadas, barulhos de buzinas, campainhas e gritos entusiasmados vinham por todos os lados, o cheiro de pipoca, algodão doce e cachorro-quente dominavam as narinas das duas crianças que quase babavam de desejo, enquanto que pessoas de tamanhos variados passavam por eles correndo, gritando, em grupos, em duplas, fedendo a vômito e outras com cheiros doces.

Os irmãos abriam caminho entre aquele mar de tentações, Karoline apertava a pequena mão do irmão, enquanto que o mesmo olhava em todas as direções, maravilhado, ele já não segurava a mão da garota, deixando para a irmã todo o trabalho.

Ambos andaram por incontáveis pernas e crianças suadas e melecadas de doce, Karoline puxava o irmão cada vez mais forte a cada barraca de jogos e cada fila de brinquedos, quase o perdeu enquanto passavam pelo carrossel, até que finalmente chegaram a um espaço aberto o suficiente para respirar e que não tivesse cheiro de urina.

E então, sentados nas mesas distribuídas na frente de um carrinho de cachorro quente, estavam seus amigos, Beatriz como sempre, foi a primeira que a viu, acenando para os dois, aceno esse que Lukas retribuiu entusiasmado, soltando-se da garota correndo de encontro a amiga, que levantou-se para recepcionar o pequeno nos braços.

Os outros que estavam sentados eram dois garotos, o primeiro deles, ao lado de Bea, era Samuel, ou Sammy, um garoto pequeno, de óculos grandes, magro e de corte militar que contrastava com o rosto travesso do rapaz, Karol lembrava-se de quando haviam se conhecido, na verdade a amiga lhe havia apresentado, garoto novo na rua, recém transferido para a escola, filho de militares mas que ironicamente por seu tamanho e seus óculos fundos de garrafa sofria com piadas infelizes e constantes empurrões dos outros garotos, intimidações as quais ele nunca revidava, quem normalmente o defendia era ela, Bea e o garoto sentado ao lado de Sammy.

Caleb por outro lado, tinha longos cachos bagunçados e onde sempre se poda encontrar folhas ou galhos, seus lábios carregava sempre um sorriso brincalhão e como o de Sammy seu rosto constantemente fazia com que pensassem que ele estava tramando algum tipo de pegadinha, Caleb morava com os pais, ou ao menos seus pais moravam na casa enquanto que o garoto sempre estava escondido em algum lugar da cidade, suas roupas sempre estavam sujas de terra, Karol também se lembrava de quando o havia conhecido, havia o confundido com um garoto de rua, quando saia de uma sorveteria e ele veio lhe abordar pedindo trocados ou os restos do sorvete da garota, os quais ela deu com inocência, ele estava sujo como sempre, no entanto imaginem a surpresa da garota ao descobrir que Caleb era filho de uma conhecida médica na cidade e do dono da própria sorveteria, Karoline criou uma certa implicância com ele desde então a qual era recíproco, pois, resumindo a história, o pequeno Caleb havia terminado seu primeiro encontro com a garota com uma bola de sorvete de baunilha espalhada por todo seu rosto.

E por fim, sua inseparável e mais antiga amiga, Beatriz, uma garota simples, de longos cabelos cor de mel, feições intelectuais e ligeiramente mais velha que ela, se conheciam desde que tinham consciência, suas famílias eram amigas, suas mães quase irmãs, seus pais praticamente não se desgrudavam. Bea sempre a protegeu e tomou as brigas da mais nova para si, assim como Karol passou a fazer após um tempo, elas se amavam como se fossem da mesma família, o que quase era real.

— Ka! — A mais velha praticamente gritou, pulando nos braços da garota para um apertado abraço — Que bom que finalmente chegou e trouxe o Lukas.

Karoline riu sem graça.

— Desculpe, não podia deixar ele sozinho.

Lukas já havia saído das graças de Bea, e agora conversava animado algo sobre naves espaciais com os garotos. Beatriz sorriu.

— Hey — A mais velha deu um soquinho no ombro da amiga — A gente adora ele, tá tudo bem.

— Okay — Karol sorriu, aliviada — Então, vamos?

Beatriz assentiu e com um assovio alto, Sammy e Caleb pularam da cadeira em posição de sentido, Lukas os imitou com sua garrafa infantil pendurada.

— Está na hora da diversão! — Bea gritou e todos correram para os brinquedos mais próximos, Lukas sempre acompanhando sua irmã.

O pequeno grupo brincou em tudo que tinham direito (e dinheiro), carrossel, roda-gigante, carrinhos, pescaria e até tentaram pescar um peixinho dourado, conseguindo apenas deixar Caleb quase que inteiramente encharcado.

Eles iam para lá e para cá, rindo, brincando, tirando piadas uns com os outros, no entanto quando um grito agudo e angustiante cortou o ar divertido e infantil do lugar todos pararam, os sons e músicas do parque foram desligados, novamente o grito foi ouvido, e dessa vez todos seguiram para a origem dele, incluindo o grupo.

Uma multidão havia se formado ao redor de algo a beira do rio que corria atrás da praça, cochichos impossíveis de entender vinham de todos os lugares, pessoas pareciam chocadas, outras estavam sendo abanadas por amigos, Karol olhava tudo aquilo com curiosidade  e inquietação, algo estava errado, a cada segundo que passava mais pessoas se juntavam ali, enquanto que o grito ainda não havia cessado, ele agora estava apenas mais alto, mais desesperado, mais amedrontado.

A garota olhou para os amigos que estavam logo atrás de si, eles também estavam confusos, Sammy parecia estar com medo, Bea estava nervosa e Caleb estava com uma feição inquieta, mas faltava mais um rosto, um rosto infantil e familiar, e quando Karol conseguiu entender uma das conversas que corriam pela multidão, ela pode sentir o mesmo grito querer sair de seus pulmões. Apenas quando escutou...

É um garoto, aparentemente afogado...

Ela olhou quase chorando para seus amigos, desesperada, suplicante e amedrontada, transmitindo a mensagem que todos haviam captado no ar.

Onde estava Lukas?


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Tem algo que posso melhorar?
Estou aberta as críticas, quero melhorar cada vez mais para que esta seja uma boa experiência para todos.

Obrigada por lerem ♥



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