Solstício escrita por Jules


Capítulo 1
Capítulo 1 - Mudança


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, espero que gostem!



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Abri os olhos e pisquei algumas vezes, respirei fundo deixando o ar entrar em meus pulmões e contei mentalmente até dez, me levantei da poltrona do avião e peguei minha mochila colocando-a em meus ombros. Passei a mão em meus cabelos, tentando de alguma forma arruma-los, o que obviamente foi inútil e ajeitei meu óculos sob meu nariz. Ele era redondo e um pouco surrado, havia uns dois anos desde a ultima vez que fui ao oftalmo, caminhei pelo corredor e vi que havia pouquíssimas pessoas nesse vôo.

 Uma aeromoça belíssima com seus cabelos loiros presos em rabo de cavalo alto sorriu para mim, apenas acenei com a cabeça e segui meu caminho. Estava vestindo uma roupa simples, sendo uma jeans escura, um tênis preto e surrado e um casaco marrom e peludo. Meus cabelos curtos voaram com o vento, desci as escadas e caminhei em direção ao aeroporto de Seatle, a poucos metros pude ver uma figura alta e de cabelos castanhos escuros acenar, dei um sorriso de canto e me aproximei do homem, sendo abraçada logo em seguida e grunhi baixo.

— June, como foi o vôo? Você está tão linda e... Crescida! – sua voz saia em disparada, parecia estar ansioso e ao mesmo tempo animado. Agora que estávamos mais próximos pude reparar que ao redor de seus olhos existiam rugas e marcas de expressão, se vi meu pai mais de dez vezes foi muito. Mamãe e ele se separaram quando ainda era criança, então, ela logo se casou e se mudou para o Canadá.

— A foi bom, e como estão às coisas Rick? – questionei ajeitando a mochila em minhas costas, ele revirou os olhos, não gostava que o chamasse pelo nome e acabei por dar de ombros. Observei que estava com minhas malas ao seu lado, apanhei uma, enquanto ele pegou as outras duas. A realidade é que não havia muita coisa que trazer de Quebec, seria melhor deixar a casa para meu padrasto e meu meio irmão.

— O quartel está tranquilo, é muito difícil acontecer alguma coisa de diferente na cidade de Forks, mas o pessoal está agitado já que dizem que tem alguns ursos na região e aparentemente estão atacando algumas pessoas. – dizia Rick enquanto caminhávamos até o carro, senti um frio em minha espinha ao ter de entrar no veiculo. Ele abriu a porta para mim, apanhando a mala que estava em minha mão e colocando no porta malas.

Rick entrou no carro e logo deu a partida, como estávamos em Seatle levaria no mínimo duas horas para chegar a Forks, fui observando o caminho enquanto Rick ficava mudando de estação de rádio de forma nervosa. O sol era fraco, estávamos no solstício de inverno, que é a transição do outono para o inverno, podia observar as árvores, flores e alguns pássaros que estavam do lado de fora. Não estávamos rápido, percebi que havia uma agitação nos arbustos em frente e mais uma vez senti aquele frio em minha espinha, foi quando dois servos faltaram em direção a nosso carro, o primeiro bateu no para-brisa e segundo conseguiu fugir, Rick pisou forte no freio e por alguma razão o carro acabou por rodopiar e capotar. Segurei-me com muita força na porta sentindo o impacto, os pedaços de vidros caiam sobre Rick e eu.

Estávamos de ponta cabeça, pendurados pelo cinto de segurança me virei para o lado e vi que Rick estava desacordado e em sua testa havia um corte e o sangue escorria. Desesperei-me, tentando me soltar, só que o cinto havia ficado torto com o impacto. Procurei por minha mochila, mas aparentemente ela havia sido jogada para o lado de fora. Tentei mais uma vez me soltar, acabei por gritar e comecei a chorar.

— Socorro, por favor... Alguém!

Foi quando ouvi o som de passos, vozes de algumas pessoas, respirei fundo e tentei me acalmar. Os pés se aproximavam do meu lado, a voz de uma mulher dizia que deveriam chamar alguém, um tal de doutor com um nome estranho. Sua voz era tão delicada que lembravam sinos, a voz do outro parecia bem preocupada. Vi um tênis all star preto e rasgado próximo da janela e então um pessoa se abaixar, não conseguia ver seu rosto ao certo, minha vista estava ficando escura, apenas pude ver os olhos dourados e os cabelos escuros. Sua mão foi até meu pescoço, estava gelada.

— Está com pulsação! – disse o rapaz, saindo de perto de mim ao ver que sua mão estava suja de sangue. Passei a mão em mim, senti uma dor e levei minha mão até meu abdômen e havia um pedaço do para brisa em minha pele. O sangue escorria, minha cabeça estava doendo e começava a sentir frio.

— O homem também! – a voz era de outra mulher, parecia ser mais séria.

 Estendi minha mão em direção ao rapaz, ele me fitou e acabei por murmurar algo que nem eu mesma pude entender. Senti tudo ficar escuro e minha mente apagar, as vozes ficavam cada vez mais longe, será que chegará a minha hora?

[...]

Ouvia o som de algo apitando, parecia com um monitor cardíaco que havia na UTI quando minha mãe estava internada, abri os olhos lentamente e pisquei algumas vezes até a imagem ficar nítida. Estava dentro de um quarto hospitalar, virei para o lado e vi Rick, ele segurava minha mão esquerda e tomou um susto quando me mexi. Em sua testa havia um curativo enorme e um sorriso bobo em seus lábios.

— Querida, como se sente? O médico disse que você teve uma perfuração superficial, não atingiu nenhum órgão interno, só que você perdeu muito sangue, então tiveram de fazer uma transfusão. – Rick explicou de forma rápida, sem me dar brechas para perguntas.

— Hm... Onde estão as pessoas que nos salvaram? – questionei passando a mão em minha testa e sentindo uma leve dor de cabeça.

— Pessoas? Bem, não havia ninguém lá, um carro parou a nosso lado e chamou a ambulância. – respondeu Rick confuso, franzi o cenho e balancei a cabeça negativamente.

— Havia sim, tanto que vieram ver se estávamos bem. – fiz uma pausa, tentando me lembrar do rosto do rapaz, mas a única coisa que me recordava era daqueles olhos dourados.

— Filha, acho que você bateu forte com a cabeça e deve estar confusa, mas tudo bem. Logo iremos embora e vai ficar tudo bem! – Rick se levantou e deu um beijo em minha testa.

Rick saiu do quarto, passei a mão em meu rosto e tentei me concentrar no que acabara de ouvir, será mesmo que foi apenas coisa da minha cabeça? Aqueles olhos dourados pareciam tão reais, só de me lembrar sentia um arrepio percorrer por meu corpo. Poderia ser real ou não, mas em minha mente alguém realmente tinha vindo ao meu resgate.

Após mais algumas horas de observação finalmente o médico estava me avaliando para me dar alta, ele tinha uma lanterna em meus olhos e colocou um aparelho em meu dedo que dava alguns valores. Seus cabelos eram loiros, um loiro mais opaco e sua pele branca, seus olhos eram castanhos escuros e fazia tudo com precisão e uma perfeição fora do comum. Seu rosto era intacto, sem rugas ou marcas de expressão, mas em seus olhos era possível ver um cansaço, que provavelmente era preenchido por diversas canecas de café.

— June está liberada, mas se sentir alguma dor excessiva ou desconforto retorne ao hospital, certo? – dizia com uma voz tão calma, que deixava-me tranquila. Um sorriso bondoso se formou em seus lábios finos. Li em seu jaleco, seu sobrenome era Cullen.

— Está certo, senhor Cullen.

— Se cuide, esta bem? – Apenas acenei.

Já havia trocado de roupa, agora usava uma calça preta e um moletom vermelho escuro, ao me movimentar pude sentir a dor na ferida. Caminhei pelo corredor até chegar ao estacionamento onde Rick estava com uma caminhonete, ele me ajudou a subir na mesma e rumamos em direção a sua casa. Foram mais trinta minutos até chegarmos a uma vila com casas simples e de madeira.

Sua casa era branca com o teto cinza, a porta de entrada era azul escura e para entrar na mesma havia dois pequenos degraus. A grama era verdinha e tinha uma pequena camada orvalho. Ao lado direito da casa tinha uma árvore que agora estava basicamente seca.

— Pode deixar que eu pego suas coisas, pode entrar. – Rick disse.

Concordei e caminhei até os degraus subindo-os, abri a porta de madeira e dei de frente com uma sala de estar. Havia dois pequenos sofás vermelhos escuros, um tapete marrom, com uma mesinha de centro, ao lado uma lareira e uma TV em um painel. Do outro lado, uma porta que provavelmente seria o banheiro e próximo da escada vinha à cozinha. Embaixo da escada tinha um quartinho, que deveria ser onde Rick guardava suas ferramentas, coisas de pesca e caça.

— Gostou? – perguntou eufórico com as malas ao seu lado.

— Sim, é bem aconchegante. – sorri de lado.

— Seu quarto é lá em cima, venha. – chamou-me, carregando duas malas.

Subi a escada com um pouco de dificuldade, mas tentei não reclamar para não deixa-lo preocupado, ao lado direito havia uma porta e ao esquerdo duas. Todas de madeira e rusticas, ele abriu a porta a esquerda e lá estava um quarto de um tamanho razoável com moveis novos. Uma cama de casal, um guarda roupa e uma escrivaninha.

— Esse é seu quarto, ao lado tem uma porta que dá acesso ao banheiro, basicamente ele será só seu já que tem um no meu quarto. Espero que tenha gostado, mas para frente você deixa do seu jeito. – Rick deixou as malas ao lado do guarda roupa, e caminhou em direção à porta.

— Sim, agradeço é muito bonito! – sorri de canto, colocando minha mão na cintura.

— Vou descer, daqui a pouco irei preparar algo para jantarmos. – Ele caminhou para fora do quarto, deixando a porta entre aberta.

— Está certo.

 Assim que finalmente fiquei sozinha comecei a abrir minhas malas, fui até o guarda roupa e senti o seu cheiro de novo. Comecei a separar as roupas em seus locais determinados, havia alguns cabides e pude pendurar minhas jaquetas, casacos e moletons. Os tênis e sapatos ficaram na parte inferior, na parte superior os cobertores e roupas de cama. Tentava me mexer o menos possível, coloquei um lençol e um cobertor sobre a cama, vesti os travesseiros com as fronhas e joguei duas almofadas na mesma. Fui ao banheiro colocando minha toalha e os produtos para banhos no Box, minha escova e a pasta dentro de um suporte, sobre a pia e por ultimo coloquei meus livros e notebook sobre a escrivaninha.

— Acho que agora terminei. – murmurei para mim mesma.

Observei a cortina e vi que a mesma era grossa e dificultava a luz de entrar, da forma que gostava. Após toda a organização, resolvi que estava na hora de tomar um banho. Com todo cuidado do mundo, retirei minha roupa colocando-a em um cesto preto que tinha no banheiro. Liguei o mesmo, sentindo água aos poucos esquentar. Retirei o curativo e vi que a ferida tinha no mínimo uns dez centímetros de comprimento e ainda estava um pouco vermelho, com um processo de inflamação e resolvi higienizar bem a ferida.

O banho não demorou muito, foi até que rápido e por fim escovei meus dentes. Troquei-me dentro do próprio banheiro, coloquei uma calça moletom cinza e uma camisa de manga longa na cor vinho, e por ultimo uma meia peluda. Sequei meu cabelo e caminhei até minha cama, me sentando e pensando em tudo que tinha acontecido até o presente momento. Minha havia morrido há uma semana, meu padrasto deixou claro que não me queria mais em sua casa, então tive de rapidamente recorrer ao meu pai que nunca tive um contato muito intimo. Pelo menos, Rick parecia feliz em me ter por aqui. Senti meus olhos ficarem marejados e suspirei fundo.

Senti um corrente de ar frio entrar pela janela, caminhei em direção a mesma fechando-a, fitei as árvores em frente a nossa casa e podia jurar que havia algo ali, talvez fosse apenas mais algum animal. Puxei a cortina, caminhando em direção a minha cama, não estava com fome e me deitei, me cobri e apaguei a luz deixando apenas o abajur acesso. Amanhã seria um grande dia, afinal, teria de ir para escola e ainda comprar um celular novo e procurar por algum emprego. Suspirei fundo e fechei meus olhos e para minha surpresa sonhei com aqueles olhos dourados a noite toda.

 


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Notas finais do capítulo

- Olá pessoal, deixem suas duvidas e comentários.

Até o próximo!



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