Gardênia escrita por Arcchan


Capítulo 1
Flores, retaliações e um amor secreto.


Notas iniciais do capítulo

Espero que apreciem a fic ♥



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Gardênia

Por: Archie-sama

Capítulo Único — Flores, retaliações e um amor secreto.

 

 Nora tinha cheiro de flores, foi o que Yukine constatou na primeira vez em que se encontraram. Naquela noite, à beira do lago, ela também cheirava a sangue e fuligem, mas esse foi um detalhe que ele deixou passar despercebido, já que estava ocupado demais admirando a beleza da garota. Ela tinha aparecido a sua frente de maneira repentina e, ainda assim, conseguira tomar toda sua atenção. 

 A tez dela era pálida como a neve; os cabelos, negros como carvão. Os olhos eram escuros e indecifráveis, e ela possuía tantos kanjis gravados no corpo que era impossível contabilizar só de olhar. 

 "Você tem olhos bonitos", ela disparou, vendo as bochechas dele se avermelharem de leve. Yukine ficou paralisado diante da presença desconhecida que ela o impunha, e seu estômago revirou de nervosismo.

 O vento soprou na direção do rosto dele e trouxe consigo o aroma floral que ele, naquela época, não sabia identificar. E vinha dela. No entanto, o encanto se quebrou no momento em que ela começou a proferir maldades. Palavras que causaram calafrios na espinha dele e que o afetaram mais do que deveriam. Foi quando ele percebeu…

 Essa é uma garota má.

Os encontros que eles tiveram, ao longo de todo o ano, não foram dos mais agradáveis. Nora estava sempre arranjando uma forma de importuná-lo — e a Yato —, além de tentar constantemente fazer com que se sentisse inútil como shinki. Entretanto, por algum motivo louco, ao completar um ano exato de sua existência, algo mudou drasticamente dentro dele em relação àquela garota. 

 Ela o beijou… E revirou sua cabeça de um jeito inexplicável. 

 Yukine sabia que ela era uma garota má… Porém, mesmo assim, não conseguiu evitar gostar do simples e cálido selinho que ela depositou em seus lábios. Era para ser algo ruim, era para ele ter odiado, era para ter esquecido e apagado completamente da memória, contudo… Foi mais como um presente de aniversário inimaginável. Toda aquela situação era.

 De perto daquele jeito, o cheiro que emanava dos cabelos e pele dela era ainda mais perceptível. E, dessa vez, ele sabia ao que ela cheirava. Gardênias brancas. Havia aprendido com Suzuha durante seu curto período de amizade. Essas flores eram lindas e tinham um significado especial. Pureza. Sinceridade. Doçura. Tudo que alguém como Nora não era, ou não possuía. Mas, apesar de tais flores serem o oposto dela, de alguma forma estranha combinavam com ela mais do que qualquer outra; eram como a personificação de sua yukata branca e sua pele alva. 

 Dias após o seu aniversário, Yukine a encontrou novamente. Quis fugir, porque definitivamente ainda não estava pronto para encarar a garota que o beijara e que não saía de sua cabeça, embora fosse um dos seres mais desprezíveis que já conhecera. Todavia, ela o segurou de um jeito que tornou impossível ele querer ir embora, e, quando finalmente tomou coragem de olhar para ela, não conseguiu acreditar no que estava vendo. 

   Foi completamente novo para ele se deparar com a imagem de Nora cabisbaixa, sem toda aquela pose, aparentemente inabalável, de força e autoconfiança que ela geralmente mantinha. Ela chorava copiosamente, e, mesmo sabendo que não deveria, sentiu compaixão por ela. Seu coração ficou apertado. No fim das contas, tinha esquecido que ela ainda era só uma garota. 

 Que situação estranha, era tudo no que conseguia pensar. Ela repetia “papai me jogou fora” com uma tristeza tão genuína que ele se perguntava se não estava sendo tolo por acreditar nela. Queria abraçá-la e confortá-la, mas sabia que isso seria ainda mais estranho do que a situação em si.

Yukine também enrubesceu consideravelmente ao ver a moça descendo a yukata pelas costas. "Você definitivamente não precisa se despir!!", exclamou, desviando o rosto com as mãos na frente e tentando não olhar. Mas, ao reparar na pele dela, percebeu que estava livre de kanjis. 

 Quando Nora lhe explicou a situação e finalmente resolveu falar a verdade, dizendo que o odiava por ter levado Yato para longe dela, nada de ruim emergiu no interior de Yukine. Ele deixou de lado todos os seus sentimentos confusos no que se referia à garota e continuou apenas observando-a, compreendendo como ela estava se sentindo.

Estava sendo empático porque, afinal, via sinceridade nos olhos dela, nas palavras e na maneira como chorava. Ele sabia bem como era perder a confiança em si mesmo e se martirizar questionando se não era bom o bastante para seu mestre. Ele também sentiu alívio, porque assim, com ela sendo sincera consigo mesma e com ele, poderia abrir um caminho para o coração dela e tentar mudar o que os distanciava.

Foi com esse pensamento que ele a cobriu com seu casaco, dizendo que tudo ficaria bem — embora estivesse desviando os olhos, já que era bem irônico falar algo do tipo para Nora. Porém, apesar disso, sabia que era aquilo que ela precisava ouvir. E ela não disfarçou a surpresa que a acometeu. Jamais imaginara que Yukine, que claramente a odiava, pudesse acolhê-la de tal forma.

* * *

"Fique aqui, eu já volto", afirmou o loiro depois de um tempo,  deixando-a sentada em um banco de pedra da praça mais próxima da estação. 

Ela hesitou, segurando a bainha da blusa dele de leve, impedindo-o de se afastar. 

"Aonde vai?", a moça o questionou. Yukine olhou para a mão que o segurava e corou, ficando um pouco mais nervoso. Infelizmente, não tinha mais controle de si mesmo quando se tratava de Nora. Ela fazia com que sentisse uma mistura de sensações das quais não conseguia se livrar. Primeiro raiva, frustração, incredulidade... Depois afeição, simpatia, amor...

"Não vou muito longe", garantiu, porém ela não o soltou ainda assim, o que fez com que ele precisasse olhá-la diretamente. "Confie em mim", pediu num resmungo, fazendo com que ela se surpreendesse outra vez e o soltasse. Ela sabia que ele era confiável, diferente dela. 

"Tudo bem", concordou, encolhendo-se sob o casaco, os cabelos cobrindo seus olhos marejados.

"Não chore", Yukine sussurrou, virando-se para ela e levando a mão até o rosto pequeno. Tocou-a gentilmente, o polegar deslizando sobre o canto do olho direito e secando uma lágrima solitária. "Isso não combina com você", ele completou, sorrindo de lado. E, por mais incrível que pudesse parecer, Nora se sentiu tão pasma e envergonhada que suas maçãs do rosto avermelharam de leve. 

Não eram apenas os olhos dele que eram bonitos, afinal. O sorriso também.

O garoto se retirou em seguida, a fim de encontrar uma máquina de bebidas e trazer um chá quente para Nora. Ficou imensamente feliz quando encontrou uma não muito longe, sentindo-se esquisito logo após. Por que estava tão feliz com algo tão insignificante? Fazer algo pela Nora era realmente tão bom assim? 

Balançou a cabeça várias vezes e bateu com as duas mãos de leve no rosto, tentando recobrar o juízo. Ela é apenas uma garota má... Recordou-se do cheiro dela. E cheirosa. Eu nem gosto dela tanto assim. 

Ruminando tais pensamentos, escolheu a bebida e rapidamente voltou para o lugar de onde tinha vindo. Nora continuava sentada lá, como a instruíra, e encarava as próprias mãos.

Tudo bem, eu realmente gosto dela. Yukine se deu por vencido ao avistá-la, pois voltou a ficar tão nervoso quanto antes. Seu coração batia forte e suas mãos suavam.

Entretanto, antes que fosse ao encontro dela, decidiu em seu íntimo que não se deixaria ser controlado por ela. Precisava fazer alguma coisa para revidar tudo aquilo que Nora havia feito com ele. Dessa forma, apertou a bebida nas mãos e voltou a se aproximar.

"Aqui." Estendeu a lata à moça, sentando-se ao lado dela. Nora o fitou incrédula, entendendo que ele saíra apenas para buscar aquilo para ela. 

"Não pedi que você fizesse isso", ela murmurou, pegando a lata e a encarando. 

"Mas eu quis fazer", retrucou ele.

"Por quê?" A pergunta pegou o menino de guarda baixa. Talvez fosse sua chance para retaliar? 

"Sei lá..." Ele deu de ombros. "Eu só acho que você cheira bem." E isso, na sua concepção, era como dizer para Nora "eu gosto de você". 

Seria o mais próximo que chegaria disso.

A garota ficou rubra, mas decidiu disfarçar, dizendo: 

"Você não está fazendo sentido."

"É sério!" Ele riu de leve, embaraçado, encostando seu ombro no dela e ficando com o rosto muito vermelho. "Você tem cheiro de gardênia." 

"É a primeira vez que alguém me diz isso...", confessou ela, sem saber como reagir. O ombro que encostava no seu era quente e aconchegante... Assim como a bebida que tinha em mãos. 

"Nora, o que pretende fazer de agora em diante?", Yukine indagou, ficando sério de repente. Queria saber se ela ainda iria atrás do feiticeiro. 

"Eu não sei...", a menina declarou. E, mesmo que não soubesse se ela falava a verdade, Yukine decidiu acreditar nela. 

"Eu vou te ajudar... Se quiser", o loiro afirmou, encabulado, e ela arqueou uma sobrancelha.

"Porque eu cheiro bem?", Nora zombou, tentando desconcertá-lo.

"Sim...", ele concordou, nem um pouco abalado, e virou o rosto para encará-la. Nora o olhou de volta, um tanto inocente. Os rostos estavam a centímetros de distância. "E também porque Gardênias significam 'amor secreto'", sussurrou,  inclinando a cabeça e depositando um selinho casto nos lábios da garota.

Ela ficou vermelha novamente, e ele sorriu, porque enfim havia tido a sua pequena vingança. Seja lá como fosse, Yukine estava satisfeito somente por estar com ela. Em sua mente, ele jurava que iria protegê-la do feiticeiro com todas as suas forças. Mas, naquele momento, com Nora vulnerável a sua frente e não o contrário, não pôde evitar lembrar de Suzuha e agradecê-lo mentalmente. 

 

O significado das flores nunca havia sido tão útil.


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