Guilty ones escrita por Aislyn


Capítulo 1
Sorrateiro


Notas iniciais do capítulo

Repostada como presente de níver pra amora Kika =3

Boa leitura!



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A chave mal tilintava de encontro às outras enquanto era inserida na fechadura, assim como o rangido da porta foi amortecido ao ser aberta lentamente. Takeo tentou entrar no apartamento o mais silenciosamente possível, mas não contava com o fato de encontrar o namorado ainda desperto. Hayato nunca ficava acordado até aquela hora.

 

O abajur que ficava na mesa do telefone foi ligado assim que entrou na sala, iluminando a silhueta de Hayato, antes sentado no escuro à sua espera. Takeo não costumava ficar na rua até tão tarde, exceto quando a banda estava com os prazos apertados e, como aquele não era o caso, a preocupação se fazia presente.

 

Levantando-se do sofá, Izumi Hayato caminhou na direção do namorado, que estacou no lugar devido à surpresa.

 

— Aconteceu alguma coisa? Você demorou… – Hayato estendeu a mão para recepcioná-lo, mas não contava com um aumento de distância quando Takeo se afastou, coçando os fios ruivos da nuca nervosamente.

 

— Nada. Perdi a hora. – a resposta veio rápida, como se já tivesse sido ensaiada e o sorriso forçado só reforçava a mentira. Takeo o contornou sem lhe dar as costas, depositando a mochila no sofá e depois apontando para o corredor que levava ao quarto – Vou tomar um banho e deitar.

 

— Quer que eu faça um lanche pra você?

 

— Ah… não. Não precisa. Eu comi na rua. – outro sorriso sem graça e então Takeo se afastou, deixando Izumi mais ressabiado do que quando chegou. Alguma coisa grave tinha acontecido. Ele não sabia como tinha certeza daquilo, mas sentia que alguma coisa estava errada com o namorado.

 

Shiroyama Takeo sempre foi espontâneo, sorridente, comunicativo. O tipo de pessoa fácil de lidar, que brincava com qualquer um, às vezes exagerando nas brincadeiras de mal gosto, mas ficar desconversando e agindo sorrateiramente não combinava com ele. Hayato não conseguia imaginar o que deixou o namorado naquele estado, mas ia descobrir. Ele tinha seus meios para conseguir o que queria. Só precisava abordar no momento certo e deixá-lo confortável para se abrir.

 

Seguindo o mesmo caminho de Takeo, Hayato entrou no banheiro, sobressaltando-o enquanto ele tirava a camiseta.

 

— Posso tomar banho com você? – questionou em tom provocante, tentando usar do espaço apertado do cômodo, mas Shiroyama conseguiu colocar as mãos entre os dois, mantendo distância.

 

— Hoje não, Hayato. Só vou tomar uma ducha rápida e vou deitar. Imagino que você também está cansado. Outro dia tomamos juntos. – com mais um sorriso forçado, Takeo terminou de se despir, entrando no box e fechando a portinha às suas costas.

 

Ele o chamou pelo nome? Nada de ‘amor’ ou algum apelido carinhoso? Hayato se afastou atônito, beliscando o lábio num tique nervoso, mas parou ao chegar à porta, olhando para o homem no chuveiro.

 

— Sabe, eu realmente estou cansado, mas se você precisar conversar, eu tomo um litro de café só pra te ouvir. – Izumi tentou passar um pouco de animação naquela afirmação, mas estava abalado. Nada tirava de sua cabeça que algo grave tinha acontecido.

 

Suspirando fundo, Hayato voltou para o quarto e foi se deitar, torcendo para Takeo aceitar o convite para conversar. Contudo, o namorado tinha outros planos. Conhecia bem Izumi, ao ponto de saber que, após se deitar, não ia demorar muito até que pegasse no sono e, com isso em mente, enrolou no banho o máximo que pode, evitando qualquer interrogatório que pudesse surgir.

 

Como Takeo ia encará-lo e conversar sobre o que aconteceu? A única coisa que tinha certeza era que o namorado ficaria muito magoado. Com tantas besteiras que podia cometer, acabou ‘escolhendo’ a pior opção e agora sentia a consciência pesar, sem saber como resolver o problema, se é que teria solução.

 

Com passos leves, Shiroyama se dirigiu para o quarto, aproximando-se da cama e confirmando que Hayato dormia, para só então deitar ao seu lado. Talvez uma boa noite de sono o ajudasse a colocar as ideias no lugar, e então descobrisse a coisa certa a fazer.

 

* * *

 

Mesmo com toda a preocupação e após a oferta de ficar acordado se fosse necessário, Hayato se sentiu péssimo ao acordar na manhã seguinte, constatando que não conseguiu cumprir sua promessa de ouvir o namorado. O plano era esperar Takeo na cama, perguntar mais uma vez se ele queria conversar, usando todo seu charme e sua calma, e então, enquanto escutava o problema, iria fazer cafuné nos fios ruivos do namorado, até vê-lo pegar no sono.

 

Hayato riu amargo ao constatar que foram raríssimas as vezes em que viu o namorado dormir. Takeo tinha esse dom de dormir tarde e acordar cedo, também mal deitando durante o dia para cochilar. Se lembrava de sentir uma movimentação pelo quarto naquela noite, mas parecia tão distante que só conseguiu dar atenção quando ouviu o relógio despertar, avisando que era hora de trabalhar.

 

Encontrar a metade da cama vazia naquela manhã foi doloroso. Apesar das cobertas estarem reviradas, não tinha certeza se Takeo havia passado a noite toda ali. Enquanto se trocava para sair, torcia para que tudo não passasse de um momento ruim.

 

Ao se aproximar da cozinha, Izumi ouviu alguns palavrões, junto com o barulho de vasilhas sendo reviradas, o que era bem exagerado para o horário. Apoiou-se no batente, decidido a observar quietinho enquanto o namorado se movia de um lado para o outro, parecendo perdido na própria casa. Era engraçado vê-lo desajeitado daquela forma, mas também preocupante.

 

Virando-se para pegar um prato na gaveta, Takeo percebeu que era observado, abrindo um sorriso envergonhado enquanto respirava fundo, repetindo mentalmente que devia agir como sempre.

 

— Bom dia! Dormiu bem? – Shiroyama puxou a cadeira à frente, convidando o namorado a se sentar.

 

Não importava o quanto sua noite havia sido ruim. Não importava se havia revirado no colchão, mal conseguindo pregar os olhos. Decidiu que não ia causar mais preocupações a Hayato. Ele não merecia aquilo! Ia agir normalmente, iam tomar o café juntos e trabalhar juntos. Como sempre faziam! E, se Hayato o questionasse novamente, dessa vez teria uma resposta pronta e satisfatória.

 

— Essas são as torradas queimadas. – Hayato apontou divertido quando o namorado depositou a garrafa de café e o prato com as torradas na mesa, recebendo um olhar confuso antes de vê-lo retornar até a bancada e pegar o prato certo – Nada contra comida bem passada, mas acho que fica pesada para o horário.

 

— Não devem estar com um gosto bom… – Takeo murmurou incomodado, se afastando para pegar as xícaras, encontrando a mão de Izumi estendida em sua direção quando se voltou na direção da mesa, num claro convite para se aproximar.

 

Queria pegar sua mão… queria que ele o consolasse e dissesse que tudo ficaria bem, mas se sentia mal por estar enganando o namorado. Vê-lo oferecer ajuda sem saber o que tinha feito era bem mais do que merecia.

 

Ignorando o contato, Takeo depositou as xícaras na mesa e serviu a bebida, sentando-se de frente para o namorado, sem conseguir corresponder ao seu olhar. Sua determinação para qualquer interrogatório havia virado cinza, junto com as torradas queimadas.

 

Hayato, que a princípio tentou manter o clima leve, percebeu que sua ajuda estava sendo dispensada. Ao invés de perguntar o que tanto incomodava o namorado, deixava que mais e mais questões começassem a surgir em sua mente, assim como algumas suspeitas sem fundamento. Inconscientemente, levou a mão aos lábios, beliscando-os sem dó. E se Takeo estivesse estranho por algo que ele fez sem notar? E se ele fosse o culpado por aquele comportamento arredio?

 

Deixando o café intocado, Hayato se afastou da mesa, retornando ao quarto. Se não ia perguntar o que tanto o incomodava, se era para deixar a situação continuar estranha, então não precisava ficar forçando sorrisos, fingindo que estava tudo bem. Takeo encarou a cena estupefato, sem saber como reagir. Num primeiro instante pensou em ir atrás, mas depois desistiu, notando que seu plano de não preocupar o namorado havia falhado. No mínimo, devia ter piorado a situação. Pelo pouco que conhecia do vocalista, ele devia estar se culpando, quando na verdade era a vítima.

 

Tomando mais um impulso de coragem, saiu da cozinha e seguiu pelo corredor, encontrando Hayato exatamente onde imaginou que estaria; encolhido na cama, abraçando o travesseiro. Deu um toque na porta para chamar sua atenção e mostrar que estava entrando, mas não recebeu nem um olhar de volta.

 

— Hayato… eu posso estar errado, mas acho que sei o que está pensando. – sentando ao seu lado no colchão, Takeo pegou sua mão com cuidado, entrelaçando os dedos – Não é nada com você, ok? Você não fez nada de errado.

 

— Se eu não fiz nada, o que aconteceu? – questionou com a voz embargada, segurando a vontade de chorar ao mesmo tempo que se sentia feliz por confirmar que não era ele o culpado. Encarou as mãos entrelaçadas, apertando os dedos nos seus, aliviado por Takeo finalmente vir conversar. Queria tanto entender suas atitudes!

 

Mas talvez a verdade fosse amarga demais para seus ouvidos.


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Notas finais do capítulo

Continua!



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