Resilience escrita por Aurora


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Um obrigada mt especial a Tomioka Shinobu, que me acompanha desde o primeiro cap e agr favoritou a fic. Vc é linda demais, eu te adoro!!



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Lily se sentia cada vez mais confortável com os olhos dourados que a encaravam.

No início, ela não conseguia evitar o medo – era muito difícil ficar presença de um tigre tão grande quanto Thomas, ainda mais quando conhecia o temperamento do animal.

Ela não fazia ideia de como se conectar com o animal, então primeiro havia se concentrado em perder o medo só de olha-lo, o que foi bem difícil. Depois, tentou toca-lo, e então havia ficado fácil superar o medo. Thomas era macio e continuava gostando de receber carinho atrás das orelhas e na barriga, mas enquanto tigre ele não a atacava quando parava de receber o carinho, e por isso Lily era grata.

— Eu não sei o que te dar para comer quando você está assim – Lily disse, alisando a cabeça do tigre – Bom, eu sei que você não quer sachê ou ração, mas eu não acho que consigo matar algum animal para te dar.

Thomas soltou um barulho baixo e Lily pode jurar que o animal estava debochando dela.

— Eu tenho pena dos bichinhos, você sabe – ela respondeu, um pouco irritada – Você é um tigre, por que não vai caçar?

Ele rosnou para ela, claramente se irritando, e Lily cruzou os braços, olhando para o lado.

Quando era bem pequena, seu pai havia a levado para o zoológico, e depois de verem os tigres e leões, seu pai havia dito que enquanto o rosnado do leão era feito para ser ouvido a quilômetros de distância, o do tigre era para causar medo imediato. Lily não fazia ideia se era verdade ou não, mas concordava. Toda vez que o animal rosnava, ela não conseguia evitar de ficar arrepiada e seu coração batia mais rápido, o instinto de sobrevivência claramente a mandando fugir.

— Não adianta rosnar, se quiser comer, eu tenho sachê no chalé.

Eu não quero mais sachê, sua humana malvada, eu tenho necessidades.

Lily ouviu a voz claramente em sua mente, forte e rouca, como imaginou que seria a voz de um tigre, e olhou maravilhada para o animal, surpresa em ver seus olhos assumindo um tom um pouco mais esverdeado, como se ao invés de refletir a cor de seu pelo, como antes, agora refletisse os olhos de Lilian.

— Ah, é claro que sua primeira frase seria sobre comida – Lily riu, voltando a fazer carinho em Thomas – Isso significa que estamos conectados agora?

Significa que não vou comer seus amigos no jantar.

— Você é muito debochado para um tigre, Tommy.

Esse nome é tão decepcionante, eu pensei que seria um Hércules ou Aquiles e você vem me chamar de Thomas, pelos deuses, humana.

Lilian riu e passeou pelo bosque com ele, até acharem um javali selvagem, e Lily deixou que Thomas o pegasse, mas ficou de olho caso algum filho de Ares aparecesse – com certeza ficariam bravos ao ver o animal sagrado do pai destroçado pelo tigre. Enquanto comia, a voz dele ecoava na cabeça de Lily, explicando que Toyger’s Prin simplesmente não aceitavam donos covardes, que não importava se ele estava com ela a dois anos, se Lilian não conseguisse superar o medo que sentia, ele iria deixa-la ou ataca-la ou o que desse vontade, mas se afastaria com certeza.

Ver o Thomas comendo o javali estranhamente lhe deu vontade de se tornar vegetariana.

Quando Thomas terminou de comer, ele quis ir para o chalé dormir um pouco – como gato – e Lily foi até o chalé de Poseidon.

Percy não estava lá, o que era estranho. O filho de Poseidon sempre dormiu mais que o recomendado e depois da maldição de Aquiles, ele dormia ainda mais que o normal. Mas naquela manhã, apenas James estava no chalé, e Lily sentou na beira da cama, passando a mão pelo cabelo bagunçado do moreno.

Ele roncava baixinho e tinha o sono bem pesado. Era tão lindo dormindo, parecia tão inocente, totalmente diferente de quando estava acordado e tinha aquele olhar de quem poderia aprontar a qualquer momento.

Lily não fazia ideia de como havia se apaixonado tão rápido, mas de certa forma parecia que sempre havia sido apaixonada por ele, só não sabia ainda. Estava nervosa só de pensar em como seria na semana seguinte, quando tivessem que voltar para Hogwarts.

Estava tudo tão perfeito no Acampamento – eles podiam andar de mãos dadas e se beijarem escondidos, Lily se divertia vendo-o tentar aprender a lutar, e James se dava bem com todo mundo. Em Hogwarts tinha Sirius, e se ele realmente ainda gostava de Lily, ela não teria muita chance com James. Por mais que ele falasse que Sirius teria que entender, Lily sabia que eventualmente seria deixada para trás. Ninguém nunca a escolhia.

James dormia tão profundamente que Lily não quis o acordar – deu um pequeno beijo em sua bochecha e saiu.

Ela teria que ir embora, aproveitar a última semana do recesso para dar início a sua missão, que já estava atrasada. Lily sabia que havia errado em levar James, mas não conseguia se arrepender – em apenas uma semana tanto havia mudado entre os dois.

Lilian tinha pensado seriamente em levar James com ela, até começou a falar com ele sobre, mas não conseguia. E se algo acontecesse com ele? Lily não sabia se conseguiria aguentar a culpa.

James duelava muito bem e era bom em luta corpo a corpo, mas qualquer feitiço que o atingisse poderia significar o fim, ainda mais quando se tratava de Comensais da Morte. Valeria a pena arriscar a vida dele apenas para Lily ter uma ajuda? Quando olhava a situação como um todo, ela sabia que estariam salvando milhares de bruxos, e ainda assim, ela não achava que era valido. James era importante demais.

Seu malão seria mandado para Hogwarts na data certa, e Lily organizou sua mochila apenas com o necessário – ambrósia, uma pequena garrafa de néctar, uma grande garrafa de água, sachês para Thomas, todo o dinheiro que tinha, poucas peças de roupas e sua varinha. Não estava levando nada para comer, além de algumas barrinhas de cereais, porque sabia que conseguiria comida e abrigo de graça com seu charme.

Finalmente, olhou para Thomas, que dormia tranquilamente. Um tigre certamente seria útil, mas Lily não sabia se o felino era atingido por magia – ele era uma criatura grega, mas Lily não entendia perfeitamente como tudo funcionava. Como se sentisse que a dona o encarava, o gatinho acordou e a olhou como se soubesse exatamente o que estava pensando. Lily supôs que Thomas não conseguisse se comunicar enquanto gato, pois ao invés de falar algo, foi em direção a mochila de Lily, deitando em cima dela, e a mensagem era clara: Ele iria.

— Indo tão cedo?

Annabeth estava na porta do chalé, seus olhos cinzas a estudando.

—Infelizmente – Lily respondeu, e a loira se aproximou.

Annie sentou na cama de Lily, e a ruiva contou para ela sobre sua missão de forma resumida. Era fácil conversar com ela, mesmo após tantos anos afastadas. Quando Percy apareceu no Acampamento, Lily se lembrava bem de como Annabeth havia o tratado mal por ser filho de Poseidon. Ela tinha essas convicções e preconceitos, mas parecia ter mudado com o passar dos anos.

— Você pode levar meu boné, se quiser – Annie ofereceu quando Lily terminou de falar – Eu não estou usando por aqui mesmo, pelo menos vai ser útil.

— Isso seria incrível – Lily respondeu, sorrindo, e então ficou séria – Eu queria que a gente tivesse se entendido antes.

Annabeth desviou o olhar, encarando Thomas. Se tinha algo que ela não gostava nem um pouco era de admitir quando estava errada.

— Eu era difícil quando criança, e você é filha de Afrodite— ela disse e Lily cruzou os braços, não gostando muito da direção da conversa – Fala sério, Lily, você viu suas irmãs durante a batalha contra Cronos? Elas foram atrás de perfume, pelos deuses.

— É, mas eu não assim – Lily respondeu irritada – Você sabe disso! Você vê o quanto eu me esforço aqui, muito mais que você.

— Eu sei disso – Annie voltou a encara-la, seus olhos cinzas calmos, completo oposto de Lily – Eu sempre soube disso, e eu sei que eu errei em me afastar e afastar Luke de você também. Eu fui idiota, eu era criança. Mas Lily, eu te tratei daquele jeito principalmente porque você deixava. Você se esforça mais que qualquer um, mas quando alguém de chama de Barbie ou Princesa, você simplesmente deixa – ela suspirou, e se levantou – Eu preciso ir agora, o meu boné está na minha gaveta no meu chalé, você pode pegar se eu não estiver lá.

Lilian descruzou os braços e começou a trançar seu cabelo. Não estava mais tão irritada, e sabia que Annabeth estava certa. Era só olhar o histórico de amizade de Lily.

Severo a escondia dos amigos puros-sangues que tinha, e não colocava muito esforço esconder de Lily o quanto ele apreciava a magia negra. Ainda assim, ele precisou gritar com ela, a chamar de sangue-ruim na frente de todos seus amigos, para que Lily realmente se afastasse.

Marlene McKinnon estava sempre pedindo a ajuda de Lily com penteados e maquiagem – que era algo simplesmente natural para qualquer filha de Afrodite – e sempre desabafava com ela, mas nunca moveu um dedo para ajudar Lily com nada, nem perguntava se ela precisava. Dorcas Meadowes era sua parceira em quase todas as aulas e era uma bruxa extraordinária, uma das mais talentosas que Lily conhecia, mas era sempre a ruiva que fazia todo o trabalho sem reclamar. Passava noites em claro corrigindo os deveres de Peter, sempre cobria Remus nas noites de lua cheia e fazia notas de todas as aulas que ele havia perdido. Ela estava sempre lá por todo mundo, e nunca reclamava quando não era reciproco. Talvez tenha sido por isso que McLaggen a traiu e depois ficou tão bravo quando Lily não quis perdoar.

O único que não a tratava assim era James. Mesmo quando os dois não se suportavam, ele estava lá por ela. Lily raramente o ajudava, mas James sempre estava lá. Ele poderia ter aparecido em sua forma humana na Floresta Proibida no quinto ano e tentado conversar ou simplesmente a arrastar para o castelo, mas ele sabia que era a última pessoa que ela queria ver, e passou a noite inteirinha ouvindo ela reclamar dramaticamente de sua vida, apenas para no dia seguinte, não mudar em nada. Ele poderia ter se transformado no meio da conversa, a forçado a contar seus segredos, contado tudo para os marotos... havia mil atitudes ruins que ele poderia ter dito, mas não fez nenhuma. James a respeitou continuadamente e a tratou melhor que muitos de seus amigos.

De qualquer forma, Lily não poderia passar o dia sentada em sua cama ponderando sobre suas péssimas escolhas de vida. Ela estava pronta, precisava apenas levar James de volta para casa, então, após pegar o boné dos Yankees que Annie ofereceu, foi para o chalé de Poseidon.

— Você está pronto? – Lily perguntou quando encontrou o rapaz acordado e vestido devidamente.

Quando ele a viu, soltou um suspiro e sentou na cama, chamando-a para sentar com ele.

— Você não me disse qual é a missão – ele falou.

— Não, eu não disse – ela respondeu – Eu acho melhor ir sozinha.

James hesitou para responder e Lily percebeu que havia o chateado.

— Sua mãe disse que você não conseguiria sozinha.

Ela não estava mais sozinha, tinha Thomas consigo, o boné extremamente útil de Annie e certeza de que James estaria seguro.

— Eu preciso ir, James.

Lily sentia-se desconfortável sentada ao lado do garoto sem nenhum tipo de contato, nem mesmo visual. Queria faze-lo entender, mas se contasse sobre o que era a missão, James nunca a deixaria ir sozinha.

— Se você quer me ajudar, me deixa em frente à casa dos Black – Lily pediu quando o garoto informou que estava pronto para irem.

— Você não vai conseguir entrar, a casa é protegida por um fiel – ele respondeu, claramente irritado com Lily.

Ela disse que não tinha problema, e saíram do Acampamento, onde poderiam aparatar fora da proteção do local. Afrodite havia mostrado e lhe dado o endereço dos Black, mas era muito mais seguro aparatar com alguém que conhecia o lugar.

Sentiu o puxão em seu umbigo, o mundo girando repentinamente e quando abriu os olhos, estavam em uma rua trouxa de Londres.

— A casa dele é entre o número onze e treze – James disse, apontando para o outro lado da rua.

—Então é o doze? – Lily perguntou retoricamente para James, o olhando como se ele tivesse algum problema.

— É, mas você não deveria conseguir ver – ele respondeu, a olhando desconfiado.

Lily não havia dito sobre como era imune aos feitiços – não que ela estivesse escondendo de propósito, apenas esqueceu de mencionar. Colocou Thomas dentro da mochila, deixando o zíper um pouco aberto para que o gato conseguisse respirar normalmente, e tirou o boné do bolso lateral.

— Obrigada por me trazer, James – Lily ficou na ponta do pé para dar um beijo rápido nos lábios do garoto, e se afastou, pensando em como odiava o olhar magoado que ele tinha.

Lily colocou o boné e, por mais que não sentisse diferença alguma, sabia que estava invisível.

Sua mãe havia explicado que Voldemort tinha cinco horcruxes e a primeira que Lily tentaria pegar era a taça de Helga Lufa-Lufa, que ele teria dado para Bellatrix Black guardar em seu cofre, mas segundo Afrodite, ela só iria guardar após o casamento de Lucius Malfoy e Narcissa Black, que seria no dia seguinte – com sorte, a casa dos Black estaria vazia, já que o casamento não seria lá.

Lily abriu a porta facilmente, e fechou o mais silenciosamente que pode, tentando evitar chamar atenção. Era uma casa escura, as paredes decoradas com quadros de bruxos estranhos, e estava em completo silencio, provavelmente vazio. Lily foi até o quarto que tinha o nome de Sirius, onde sabia que a prima dele dormia frequentemente desde que ele havia fugido de casa. A porta rangeu ao ser aberta e, com o coração batendo, Lily esperou alguns momentos até ter certeza que ninguém estava se aproximando. O quarto estava todo decorado, com tantas coisas penduradas que mal dava para ver o papel de parede – havia banners da Grifinória, fotos de motocicletas e de meninas trouxas de biquíni.  Com a porta fechada, procurou pela taça por todo o quarto, tomando cuidado para não deixar nada bagunçado.

Já havia olhado dentro do guarda roupa, das gavetas, embaixo da cama e do colchão, e já não sabia mais onde procurar – era um quarto pequeno e como Black não pretendia passar muito tempo, não tinha tantas coisas dela.

Lily supôs que ela poderia ter levado a taça contigo para o casamento, manter perto de si, mas não seria mais seguro deixar em um lugar protegido por um fiel? Decidiu olhar tudo novamente, dessa vez procurando por fundos falsos, olhando mais detalhadamente, quando tropeçou no tapete. Ao colocar ele lugar, Lily encontrou um puxador e abriu sem hesitar. Era um pequeno esconderijo, com frascos de veneno, tufos de cabelo com etiquetas os identificando com números, um frasco com sangue e, finalmente, a taça que Lily procurava.

— Eu já encontrei uma, Tommy – Lily sussurrou ao guardar a taça na mochila junto com tudo que tinha no pequeno esconderijo. Não por querer usar eventualmente, mas para prevenir que Bellatrix não fosse usar.

Seu gatinho não parecia feliz por precisar ficar dentro da mochila, mas Lily não conseguia deixa-lo invisível – era completamente imune a magia – e não queria deixa-lo do lado de fora.

Com a horcrux segura em sua mochila, Lily saiu da casa o mais rápido que pode, sentando-se em um banco no outro lado da rua para pensar no que faria em seguida e deixou Thomas sair um pouco de sua bolsa.

Ela poderia aproveitar o casamento de Malfoy e Black para ir até o lago e conseguir o medalhão de Salazar, porém sua mãe havia contado sobre a história de Régulo. E se, ao pegar o medalhão antes dele, Régulo desistisse se rebelar contra Voldemort? Ele era um ano mais novo que Lily, e havia passado sua vida sendo influenciado por seus pais, era algo muito delicado. E seria mais fácil pegar em Hogwarts de qualquer forma.

Ir até a mansão Malfoy em um casamento seria muito arriscado – estaria mais cheia que o normal, o que dificultaria se Lily fosse pega, mas eles estariam mais distraídos.

Não tinha um horário ideal para ir. De noite, quando todos estivessem dormindo, seriam mais propensos a escutar qualquer barulho. De dia, teria pessoas circulando o tempo inteiro pela casa. Então, mentalizando o lugar que sua mãe a havia mostrado, Lily aparatou, segurando Thomas firmemente.

Era arriscado aparatar sem conhecer bem o lugar, mas Lily não tinha outra opção. Não poderia fazer James esperar em frente à casa dos Black apenas para servir de taxi. Não era justo com ele.

Quando Lily sentiu o chão firme abaixo de seus pés, checou se Thomas estava bem e, dessa vez, preferiu o deixar livre. A mansão dos Malfoy era gigantesca e cercada de arvores, então ela se abaixou para falar com seu gato, que lambia calmamente sua pata.

— Você pode esperar aqui fora – Lily informou – Tem bastante arvores, e talvez você consiga achar algum animal para comer. Só esteja aqui quando eu voltar, ok?

Em um piscar de olhos, era o grande tigre que encarava Lily.

Se precisar de mim, é só falar em voz alta e eu vou até onde você estiver.

— Você consegue me ouvir em qualquer lugar? – ela perguntou, o olhando admirada.

Thomas voltou a lamber sua pata, e Lily pode jurar que ele estava se segurando para não revirar os olhos.

Estamos conectados, humana, ele respondeu como se fosse algo óbvio, Às vezes parece que você não sabe de nada.

Lily realmente não sabia muita coisa sobre ele, mas preferiu deixar o assunto para mais tarde. Mesmo estando nevando, ela tinha certeza que seu tigre logo encontraria algo para comer – e se não encontrasse, Lily tinha vários sachês para ele em sua mochila –, e duvidava que alguém fosse sequer nota-lo, considerando os muros altos da mansão e o quão fácil seria para ele se esconder, então entrou na residência sem precisar se preocupar com seu tigre.

Era um lugar grande, parecia uma versão menor e menos acolhedora de Hogwarts. Havia uma aglomeração de pessoas no jardim, o arrumando para o casamento, mas Lily não parou para olhar – entrou pela porta que já estava aberta, e tinha ainda mais pessoas dentro. Um grito agudo era abafado pela constante conversa, como se ninguém além de Lily estivesse escutando. Eles agiam de forma tão natural que Lily se perguntou se não era algum tipo de disco doentio que eles gostavam de escutar, e se apressou para subir as escadas, tomando cuidado para não esbarrar em ninguém.

A casa era um labirinto com inúmeros quartos, mas assim como na casa dos Black, todos os quartos eram nomeados, nem que fosse com a pequena plaquinha de “quarto de hospedes”, o que facilitou muito.

O quarto de Lucius ficava no terceiro andar, um quarto desnecessariamente grande e cheio de quadros com fotos dele e bandeiras da Sonserina. Foi tão fácil achar o diário que era como se ele quisesse que fosse encontrado – ou como se nunca sequer suspeitasse que alguém poderia tentar pegar. Estava em cima do seu criado mudo, e Lily conferiu se não era o diário de Malfoy. Guardando-o em sua mochila, ela não conseguia entender como ele recebia algo de valor tão grande do seu mestre e deixava totalmente desprotegido, nem sequer dentro de uma gaveta.

Quando estava descendo as escadas, viu a grande cabeleira de Bellatrix, que havia a atormentado quando a Black ainda frequentava Hogwarts, e diminuiu a velocidade que estava andando para não acabar encostando nela ou a deixando desconfiada de qualquer forma. Mas Bellatrix estava ocupada conversando com um rapaz alto e forte.

— ... precisa manter ela quieta, ninguém aguenta mais os gritos – ela estava dizendo, também descendo as escadas – Eu iria, mas Narcissa precisa de ajuda e Colista é inútil.

— Eu posso me divertir com ela? – o rapaz perguntou, nenhum traço de emoção em sua voz.

Bellatrix o encarou por um momento, como se não acreditasse muito na pergunta.

— Sério – perguntou por fim – Ela tem o que, seis anos?

— Oito – corrigiu – Posso ou não?

Até mesmo alguém tão cruel como Bellatrix Black não chegaria naquele nível. Black torturava adolescentes e adultos, mas nunca crianças tão novas, e o que o homem sugeria era muito além do aceitável, até mesmo para Comensais. Ainda assim, algo parecia deixar Black dividida.

— Contanto que ela não grite mais – disse deixando claro em seu tom o quanto discordava do ato.

Lily sentiu a obrigação de seguir o homem. Não o deixaria encostar na criança e Lily não pode deixar de sentir-se irritada consigo mesma por não ter seguido o barulho dos gritos em primeiro lugar. O seguiu até as masmorras da mansão, e o cheiro de decomposição a atingiu com força antes mesmo de chegar as grades do local. Seu estômago se embrulhou e Lily precisou se controlar para não vomitar ali mesmo. O cheiro combinado com os gritos incansáveis fazia ela querer fugir do lugar e nunca voltar.

O homem entrou e não se deu o trabalho de fechar a porta do local, o que permitiu que Lily entrasse rapidamente. Ele acenou com sua varinha duas vezes e a porta fechou com força, fazendo a pequena garota parar de gritar e olhar assustada para o intruso.

— Me tira daqui – ela pediu, os olhos extremamente azuis arregalados – Por favor, por favor, me tira daqui...

A menina sangrava pela bochecha, onde tinha três grandes arranhões. Seu vestido estava manchado de sangue seco, então o que quer que tivesse a machucado em sua barriga, já havia parado de sangrar. Não tinha como distinguir a cor de seu cabelo que era uma bagunça de sangue, suor e algo preto, como cinzas, talvez. As pequenas mãos tremulas seguravam firmemente um corpo que já estava sem vida há dias, justificando o cheiro de decomposição. Tinha vomito, sangue, urina e fezes pela masmorra e Lily sentiu suas próprias mãos tremendo. Era uma cena horrível e o cheiro era ainda pior, e tudo que Lilian queria era pegar a pequena garota e tira-la dali.

— Eu lancei um feitiço silenciador na porta – o homem disse, puxando a garota pelo braço para afasta-la do corpo – Então você pode gritar o quando quiser, querida.

Lilian queria ir até ele e mata-lo ali mesmo, queria de verdade, mas a cena havia a impactado mais do que esperava e ela não conseguia se mexer. Era como se estivesse presa ali e nunca fosse conseguir escapar. Foi só quando o homem rasgou brutalmente o vestido da menina e começou a tirar sua calça que Lily conseguiu acordar do seu transe e, com sua adaga em mão, ela correu até ele, o esfaqueando diretamente no fígado. A garota gritou, correndo para o outro lado da masmorra, de volta para o corpo sem vida, e Lily tirou o boné, o enfiando no bolso e olhando nos olhos do comensal.

— Qual é seu nome? – Lily perguntou, segurando sua adaga firmemente.

Os olhos escuros a olhavam assustados, sangue saia por sua boca, e ele colocou a mão no ombro de Lily, não tentando a machucar, mas tentando se apoiar para não cair.

— Roger... Avery – ele murmurou e Lily viu a esperança ascendendo em seus olhos, como se ela fosse se afastar e cura-lo por ser um puro-sangue.

— Você devia saber, Avery – Lily disse, retirando devagar sua adaga – Que é uma sangue-ruim que vai te matar.

A esperança deu lugar ao ódio e a mão que ele tinha em seu ombro tentou fracamente ir até o pescoço de Lily. Em um movimento rápido, a adaga cortou a garganta dele, e Lily deixou que seu corpo caísse no chão. Roger Avery estava morto, e seu feitiço silenciador não funcionaria mais, então Lily lançou outro em direção a porta, caso a menina voltasse a gritar – o que seria compreensível, depois de tal cena.

Quando se aproximou dela, se arrependeu por não ter o matado de forma mais limpa, pois agora estava suja de sangue e a garota que já olhava assustada, parecia perto de desmaiar de medo. Devagar, Lily colocou sua varinha no chão e sua adaga já havia desaparecido. Agachou-se com dois metros de distância da menina, tentando faze-la ficar mais confiante.

— Eu não vou te machucar – Lilian disse mantendo a voz baixa – Eu estou indo embora agora e posso te levar comigo, se quiser.

A menina segurava seu vestido rasgado em cima de seu pequeno corpo e Lily tirou um moletom de sua mochila.

— Você pode usar, se quiser – disse, segurando a peça – Ou eu posso consertar seu vestido, mas está muito frio para ficar apenas com ele.

Ela ainda não se mexia, encarando Lily com os olhos arregalados. Lily queria poder voltar no tempo e apenas estuporar Avery ou algo assim, então a garota não teria medo dela. Tentando mudar de tática, Lily tirou a própria blusa de frio e esticou os braços para ela.

— Está vendo? – perguntou – Não tem nenhuma marca. Eu não uma Comensal, e eu não vou te machucar. Você pode vim comigo agora e eu te levo para sua família, ou eu posso ir embora e te deixar aqui. Você escolhe, mas precisa escolher logo, antes que alguém decida vim aqui.

— Eles mataram minha família – ela disse – Eu não tenho para onde ir.

Isso com certeza complicava, mas Lily não se importava no momento.

— Eles mataram minha família também – Lily respondeu – Quando eu tinha sua idade, e eu dei um jeito. Eu posso te ajudar, se você deixar.

A menina não respondeu, mas se afastou do corpo e foi até Lily, pegando o moletom e vestindo.

— Meu nome é Amélia Bonavich.

Os Bonavich eram uma família puro-sangue, que, assim como os Potter, era antiga, pequena e extremamente rica. Por que os Comensais teriam praticamente extinguido uma linhagem tão pura era além da compreensão de Lilian, e não era momento para perguntar.

— Meu nome é Lily Evans – respondeu – E se você segurar minha mão, podemos sair daqui.

Amélia assentiu e segurou a mão de Lily assim que terminou de colocar a blusa que havia tirado e pegado sua varinha e seu boné. Quando Lily estava pronta para aparatar, a porta da masmorra se abriu, e Bellatrix a viu claramente – antes que pudesse sequer levantar a varinha, Lily havia ido, mas o estrago já havia sido feito. A Comensal logo veria o corpo morto do colega e quando percebesse que a taça e o diário haviam sumido, seria fácil ligar isso a Lilian.

— Thomas? – Lily chamou quando não encontrou seu tigre onde havia deixado.

Como se sentisse que estava com outra pessoa, ele apareceu em sua forma de gato, pulando para o colo de Lilian, que aparatou novamente, dessa vez em uma rua no centro de Londres. Seu coração batia rapidamente enquanto pensava no que poderia acontecer. Black estava em seu quinto ano de Hogwarts quando Lily começou seus estudos, e a mais velha adorava atormentar os alunos novos. Mesmo que não lembrasse de Lilian, quanto tempo demoraria para ela retirar a memória e mostrar para todos os Comensais em uma penseira? Faltava quatro dias para voltar para Hogwarts, e Lily não poderia voltar para o Acampamento com Amélia. Quíron já estava muito irritado por ela ter levado James e como ela explicaria tudo para a menina? Como poderia mudar mais ainda o mundo dela, depois de tudo que passou? E não é como se pudesse a levar para Hogwarts, mesmo que fosse bruxa – e muito provavelmente era, considerando sua família –, só tinha oito anos.

Entrou em um hotel e pediu um quarto, usando seu charme para convencer o recepcionista a deixa-la pagar na saída, sem nenhum tipo de compromisso na entrada. Era um quarto confortável, mas não era nada demais – não queria se arriscar em um hotel mais caro, pois teria mais chances de chamarem a polícia mais rápido, e Lily odiava quando tinha que usar seu charme com policiais.

— Lily? – Amélia chamou antes de ir para o banho. Quando Lily a olhou, esperando a garota falar, pequenas lágrimas ameaçaram sair dos olhos azuis, e só então a ruiva percebeu que a garota não tinha chorado – Eu deixei o Sr. Urso lá.

No calor do momento, Lily não havia notado, mas agora se lembrava de um pequeno ursinho de pelúcia esquecido no chão da masmorra. A pequena frase havia atingido Lily com força, lembrando-a de como inocente a pequena Amélia era e de como tudo aquilo era doentio e errado. Era só uma criança que queria brincar com seu urso e ficar com seus pais e tudo havia sido tirado dela.

— Eu vou te ajudar a lavar o cabelo – foi a resposta de Lily, ao se lembrar como tinha dificuldade de tirar todo o shampoo quando era criança.

Tinha uma pequena banheira e Lily a encheu enquanto prometia que iria transfigurar alguma roupa em um pijama para ela e que no dia seguinte iriam fazer compras e Amélia poderia escolher o brinquedo que quisesse.

Quando a menina tirou o moletom, Lily viu o machucado na barriga da garota que havia sujado todo seu vestido. Na masmorra pouco iluminada, havia sido impossível ver com clareza a grande marca de mordida e Lily levou a mão até a boca, rezando para todos os deuses que aquilo não era o que pensava.

— Você consegue curar isso? – Amélia perguntou, vendo Lily encarar – O cachorro grandão me mordeu, eu acho. Estava de noite, eu não consegui ver ele direito.

Lily ajudou a menina a entrar na banheira e pediu que ela contasse tudo o que havia acontecido enquanto Lilian lhe dava banho.

— Eu estava dormindo quando eles chegaram – ela começou – Um animal, acho que um cachorro, bateu a pata no meu rosto e mordeu minha barriga. Eu vi uma mulher matando o meu pai e eu desmaiei, e só acordei naquele lugar escuro e minha mamãe estava lá, mas ela morreu depois também e eu fiquei sozinha com o Sr. Urso – a voz tremeu e Lily pensou que ela finalmente começaria a chorar, mas estava errada – Uma mulher loira que me levava comida as vezes disse que isso era o que acontecia quando recusavam o Lorde Volmart.

— Voldemort – Lily corrigiu baixinho e ninguém falou mais nada.

Tudo o que Lilian queria era abraçar a menina e chorar, mas se até agora Amélia havia conseguido controlar suas lágrimas, Lily também não choraria. Era uma situação horrível, um dos piores cenários que poderia existir. Não só mataram sua família, mas fizeram a garota ver o pai morrendo, a deixaram sozinha com o corpo morto da mãe, e ainda deixaram um lobisomem a morder. Tudo porque não queriam seguir Voldemort. Amélia passaria todos os meses de sua vida tendo cada osso de seu corpo quebrado e se transformando em um monstro. Haviam feito isso de propósito com ela, e Lily não fazia ideia do que fariam com a criança depois. Não a matariam de fome, já que alguém levava comida. Não estava lá para entreter os homens, já que Black havia hesitado tanto em deixar Avery ir. Só queriam a torturar mais um pouco antes de matá-la? Ou queriam ver se sobreviveria a primeira transformação? Queriam transforma-la em algum tipo de arma? Não fazia sentido também, se queriam que ela lutasse com eles, não teriam a deixado na masmorra com sua mãe, não deixariam um homem ir a estuprar.

Quando finalmente acabou o banho, Lily fez o máximo que pode para curar os machucados de Amélia – conseguiu fecha-los até cicatrizarem, mas não conseguiu tirar a cicatriz. Penteou o cabelo da menina, secou com o secador do hotel, e transfigurou uma saia e uma blusa em um pijama rosa cheio de ursinhos. Amélia sentou na cama e ligou a televisão, passando os canais até achar um desenho, Thomas indo deitar em seu colo.

Era a criança mais linda que Lily já havia conhecido. Seu cabelo era loiro e relativamente longo e levemente ondulado, com aquele brilho e maciez habitual que os cabelos infantis costumavam ter. O nariz era delicadamente arredondado, trazendo um ar ainda mais fofo para a menina. Sem dúvidas, o que a tornava tão linda eram os olhos – grande e arredondados, com o tom azul tão lindo que chegava a ser hipnotizante.

— O que você quer comer, Amélia? – Lily perguntou depois de tomar seu banho, o telefone em mãos para ligar para a recepção.

— Amy – ela corrigiu – Amélia é nome de velho.

Lily sorriu e ligou após a garota informar que não se importava, comeria qualquer coisa. Elas jantaram e Lily deu um grande peixe para Thomas, e só quando foram dormir que Amy começou a chorar. O som dos soluços cortava o coração de Lily, que sentiu os próprios olhos enchendo de lágrimas, e ela não soube se deveria fingir que estava dormindo para respeitar a privacidade da garota. Lembrando de como havia se sentido ao perder os próprios pais, Lily virou-se de lado e abraçou Amy com força, que não hesitou em virar para abraça-la de volta.

Era só uma menina assustada que precisava de uma mãe.

Lily prometeu ali que a manteria segura. Não importava se para isso tivesse que desistir de Hogwarts, nunca mais voltar para o Acampamento, e viver como uma mortal com ela. Nada mais importava para Lily, que agora só tinha dois objetivos: manter Amélia Bonavich segura e matar Voldemort e todos seus seguidores.


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