As semanas se passaram, a apresentação do trabalho de português foi tranquila e bem-sucedida. Apesar da timidez e do nervosismo, Malu disse sua parte perfeitamente e ainda soube explicar cada dado da tabela. Outros grupos se apresentaram e a professora ficou bem satisfeita com os seus alunos.

Após as apresentações, ela deu um recado, na primeira semana de outubro, fariam uma excursão para a praça da liberdade, em Belo Horizonte. Os alunos ficaram em polvorosa, pois este parque é grande e com uma enorme área para se dar um passeio seja de barco, caminhando ou de bicicleta, é um lugar agradável.

Pouco depois, o sinal do intervalo tocou, todos os alunos se encaminharam para o pátio. Marcelo e seus amigos formaram uma roda, ele fez uma confissão, que antes só Diego sabia.

— Vou contar uma coisa para vocês, mas não façam muito escândalo. — Os amigos concordaram e Marcelo falou. — Eu estou apaixonado pela Maria Luíza.

— AAAHHH! MARCELO! TÁ APAIXONADO PELA MALU! — Disseram os amigos.

— Por favor, falem baixo. Alguém pode escutar e contar para a Malu.

— Nos perdoe, Marcelo. É que ficamos empolgados com a novidade, quer dizer, com a novidade não, já estávamos desconfiados, por causa de seus olhares apaixonados para a Malu. — Disse João.

— Mas agora, Marcelo, o que pretende fazer? Vai se declarar? — Perguntou Diego.

— É o que pretendo fazer, quero que seja um momento especial, será durante a excursão à praça da liberdade. Mas sou tímido, posso ficar nervoso e até gaguejar na hora.

—  Se lembre das dicas que lhe dei...

— Como assim, Diego? Você já sabia? — Perguntou João incrédulo.

— Sim, o Marcelo me contou no chat.

— Marcelão. Como pôde fazer isso com o seu melhor amigo? Sempre fui seu confidente e agora me deixa de fora de um assunto desses. — Disse João com voz de choro.

— Não foi por mal, João. Eu queria ter te contado, mas é que ultimamente, você tem sido um pouco fofoqueiro, me desculpa. — Disse Marcelo.

— Tá tudo bem. — João fez um toca aí com Marcelo para selarem a paz.

— Então, Diego. Sobre o que me falou, vou tentar, mas vou torcer muito para não ficar muito nervoso e dizer tudo que sinto para a Malu.

...

Finalmente chegou o dia da excursão. Os alunos cantavam, davam risadas, contavam piadas, conversavam, o ônibus virou uma verdadeira festa. Marcelo não tirava os olhos de Malu e mentalmente ensaiava a sua declaração. A cada risada, a cada palavra, Marcelo formulava uma frase de sua declaração, em um momento, Malu olhou para trás e ele fingiu que estava olhando para a janela.

A praça surgiu na frente dos alunos, que ficaram alvoroçados e cantavam “Tá chegando, oba! Tá chegando, oba! ”, enquanto faziam batucadas nas poltronas. De início Malu se assustou, mas logo entrou na brincadeira.

As folhas das árvores e o ar puro deixavam o clima agradável para uma conversa entre amigos, Diego ensaiou até uma corrida pela praça. Os professores deixaram os alunos se divertirem pelos diversos lugares, mas eles não poderiam ir muito longe e que deveriam se encontrar em um restaurante e lancharem antes de irem embora. Essa era a chance de Marcelo. Ele convidou Malu para um passeio e ela aceita.

Pela estrada cercada de arbustos e flores, Maria Luíza e Marcelo passeavam e conversam, na verdade, ele estava criando coragem para se declarar. Com um rompante, Marcelo cortou o que Malu estava falando e disse:

— Eu estou apaixonado por você, Malu.

— Como? — Perguntou Malu um pouco confusa.

— Meleca, não era para fazer isso. O Diego falou para não ir tão direto ao assunto. Mas fiquei tão nervoso que não pensei em como me declarar para você.

— Diego? O que o Diego tem a ver com isso?

— Ele foi a primeira pessoa para quem eu contei que estava apaixonado por você. O Diego me deu a dica de te falar o que sinto devagar, mas o nervosismo foi tanto, que não consegui fazer o que ele disse. Você ficou assustada?

— Assustada não, surpresa.

— Surpresa?

— É. Eu nunca poderia imaginar que o garoto mais cobiçado do Colégio Santa Mônica, iria se interessar e se apaixonar por mim.

— Bom, aconteceu. Essa nossa convivência, as conversas e os interesses em comum me fizeram me apaixonar por você. Fiquei encantado com sua esperteza, seu sorriso, seu jeito meigo, sempre disposta a ajudar e se mostra uma verdadeira amiga. Meu Deus! Era para eu falado isso antes, como eu sou burro.

— Você não é burro, Marcelo, só não sabia como se declarar. — Disse Malu. — Nunca encontrei um garoto que fosse tímido e, ao mesmo tempo, fosse desejado. Marcelo posso dizer que até eu caí nos seus encantos.

— Você? — Marcelo perguntou espantado.

— Sim. Vou te contar um segredo, que só a minha melhor amiga sabe. Eu sofri uma desilusão amorosa e jurei nunca mais me interessar por garoto nenhum, mas você mudou isso. Você me fez descobrir o amor novamente, sentir meu coração bater mais forte toda a vez que eu te vejo. Eu tinha esquecido como era bom esse sentimento. É um grande amigo e sempre se mostra prestativo. Confesso que também sou tímida e fiquei com vergonha de dizer o que sinto por você.

— Também me ama? Ah! Essa é melhor notícia que eu poderia receber. Hoje é o dia mais feliz da minha vida.

Malu achou engraçada a reação de Marcelo e riu um pouco. Para selar esse momento faltava algo especial, o beijo. O vento balançava o cabelo de Malu, os dois se aproximaram e se beijaram. Um momento mágico, especial e inesquecível, tudo estava perfeito, se não fosse por um pequeno acidente. O garoto e a garota se afastaram, mas os aparelhos se enroscaram, os dois tentavam desenroscar, mas não conseguiam.

— Eu sou um azarado mesmo, o meu primeiro beijo tinha que terminar de uma forma desastrosa. — Lamentou Marcelo enquanto se mexia de nervoso.

— Fique quieto, Marcelo, estou tentando nos soltar — Disse Malu. — Estou quase conseguindo, só falta mais um pouco e pronto, aparelhos soltos.

— Obrigado, Malu. — Marcelo disse um pouco envergonhado.

— De nada.

O beijo foi muito mais do que uma demonstração de amor, garantiu aos dois uma ida ao dentista, pois os aparelhos deles ficaram um pouco amassados. Mas eles nem ligaram para isso, até deram risada do que aconteceu.

...

Professores e alunos estavam em uma lanchonete perto da praça. Cecília, Fernanda e Thaís sentiram falta de Malu, enquanto Diego e João sentiram falta de Marcelo. De repente os dois apareceram, um buchicho começou a se espalhar pelo lugar e eles tentavam disfarçar ao máximo os aparelhos amassados, não queriam que ficassem perguntando o que tinha acontecido.

— Malu, onde estava? Demorou. — Disse Fernanda.

— Essa praça é tão grande que acabo me perdendo, vim aqui quando bem pequena e me esqueci desse detalhe. — Respondeu Malu.

— Ainda bem que conseguiu voltar, Maluzinha. Senão corria o risco de o ônibus sair sem você. — Disse Melissa.

— É, ainda bem. — Malu respondeu com um pequeno sorriso.

...

Terminado o lanche, era a hora de ir embora, todos subiram no ônibus e voltaram para o colégio. Quando chegaram, os alunos desceram do ônibus, alguns procuram os pais, outros foram embora caminhando. Ângela e Carla esperavam seus filhos, deram um abraço neles. Quando Malu e Marcelo foram falar algo, suas mães perceberam os aparelhos amassados e pediram uma explicação, os dois só disseram:

— No carro nós conversamos.

Ângela e Carla, mesmo com cara de brava, aceitaram a condição.

Malu foi a primeira a falar. Ela nem teve tempo de se ajeitar no carro e de fechar a porta que foi logo perguntada.

— Como você amassou o aparelho desse jeito, Maria Luíza? — Perguntou Ângela.

— Eu não vou mentir para a senhora. Eu beijei um garoto e os nossos aparelhos ficaram agarrados, por isso, o meu está amassado, o dele ficou também ficou. — Respondeu Malu envergonhada.

— Você deu seu primeiro beijo? — Perguntou Ângela surpresa.

— Sim. A senhora está brava porque amassei o aparelho?

— Brava? Não filha, não fiquei brava. Afinal, um aparelho pode ser consertado no dentista e ele foi amassado devido a um motivo muito especial. Meu Deus! Minha filha deu o primeiro beijo. E como foi? Você gostou?

— Eu já gostava desse garoto e eu fiquei surpresa quando ele disse que era apaixonado por mim. Aí aconteceu, nos beijamos, gostei muito. Mas não poderíamos imaginar que com o beijo, nossos aparelhos se enroscaram e ficamos alguns segredos presos. Até que consegui nos soltar, mas os aparelhos ficaram amassados, achamos a situação engraçada. E foi isso.

— Dá para notar suas bochechas vermelhas ao falar no assunto e pelo sorriso no rosto quando entrou no carro. Segunda feira eu vou marcar uma consulta com o dentista, quando seu pai chegar em casa, fale que você bateu em algum lugar enquanto andava de patins. Sabe como seu pai é, se souber que você beijou um garoto, é capaz de ele pedir o endereço da casa dele para ter uma conversa séria.

— Pode deixar, mãe. — Disse Malu rindo.

...

Marcelo entrou no carro de sua mãe, mas estava tímido demais para contar para ela sobre o beijo que deu em Malu, por isso desconversou do assunto.

— Ué! Mãe, cadê o Fernando? — Perguntou Marcelo.

— Ele está com seu pai. — Respondeu Carla.

— Ah! Pensei que ele estava com a senhora, Fernando vive grudado em você, não larga um segundo, parece um...

— Marcelo, pode parar de enrolação e me conta como você amassou esse aparelho. — Carla falou em tom de braveza.

— Tudo bem, já que a senhora quer saber. — Marcelo respirou fundo. — Eu beijei uma garota.

Nesse momento, Carla freou bruscamente o carro e olhou assustada para o filho.

— Mãe, a senhora nunca fez isso. Por que freou o carro desse jeito?

— Desculpa, filho. É que me assustei com o que me falou. Você disse que beijou uma garota?

— Foi. Aí, por isso que eu não queria falar nada, a senhora vai brigar comigo.

— Brigar não, eu vou é apertar a sua bochecha. Meu menininho está crescendo.

— Mãe, pare com isso. Volte a dirigir, quero chegar logo em casa para descansar. O dia foi puxado hoje. — Marcelo se recostou no banco do carro.

— Tudo bem. — Carla voltou a ligar o carro. — Mas me diga, essa garota, ela bonita?

— Mãe, ela é linda. Eu nunca vi garota tão linda. Parece um anjo.

— E eu conheço essa garota?

— A senhora a conheceu no mês passado, quando fomos na sorveteria. É a Maria Luíza.

— Aquela graça de menina? Eu gostei dela desde quando a vi.

— Ela confessou que também gosta de mim.

— Ah! Que lindo! Tomara que vocês se acertem. — Carla falou em tom de brincadeira.

— O que a senhora está querendo dizer? — Perguntou Marcelo.

— Nada, Marcelo. Eu estou apenas brincando.

...

Depois de descansar, Marcelo foi para o seu computador, ele queria conversar com Malu.Queria saber como ela estava depois do beijo e principalmente se ela havia gostado do beijo, apesar do pequeno acidente com os seus aparelhos. Quando Marcelo viu que Malu estava online, logo a chamou.

— Oi, Malu! — Escreveu Malu.

Assim que viu a mensagem, Malu sorriu e respondeu:

— Oi, Marcelo! Tudo bem?

— Tudo bem. E com você?

— Está tudo bem. Você quer me perguntar sobre o beijo?

Marcelo ficou assustado em como Malu foi direto ao assunto.

— É. Assim. Queria saber como você se sentiu com o beijo.

Malu riu e respondeu.

— Deu um friozinho na barriga, mas foi bom, gostei do beijo, principalmente do gostinho de metal do seu aparelho.

— Sabe que também senti do seu? Eu também gostei de te beijar. Também queria saber sobre como nós ficamos depois desse beijo, continuamos amigos?

— Tem razão, tudo muda com um beijo. Fique tranquilo, nós continuaremos amigos, só não podemos dar bandeira sobre o beijo e também temos que tomar cuidado quando nós estivermos próximos.

— Nossos colegas de classe já falam que formamos um casal e se souberem do beijo, aí é que vão nos zoar mesmo. Já sei podemos usar um código para nos comunicar. Ele pode ser “Amo te Odiar”. Que tal?

— Adorei a frase, é perfeita. Então, vamos usar “Amo te Odiar”. Até mais, amigo e Amo te Odiar.

— Até mais amiga, também Amo te Odiar.

Depois dessa linda conversa, Marcelo e Maria Luíza passaram dia sorrindo, lembrando do primeiro, desastroso e inesquecível beijo.