A escuridão na rua deserta era imensa e tomava conta de tudo ao redor. Nem mesmo as lamparinas penduradas aqui e ali ajudavam a combater a falta de luminosidade da lua nublada daquela noite.

E era o momento perfeito para Vlaks sair de sua toca. A criatura se esgueirou pelas sombras, passando por paralelepípedos e estradas de chão; seu amontoado de partes disformes, que mais lembravam uma goma de mascar babada, se movia com seus passos irregulares pelo chão.

Passou seu rastejo gosmento por cima de um jornal sujo e já passado da data, cuja manchete gritava “Novos desaparecimentos preocupam a região” e seguiu sua caminhada lamuriosa até a ponte que ligava aquela cidade com a vizinha. No local sempre passavam pessoas, mas nunca em grupos grandes, pois as madeiras entrelaçadas eram frágeis.

Ouviu, ao longe, o som de uma carruagem veloz se movendo sobre as tábuas da ponte e se posicionou no meio do caminho, logo abaixo de uma fraca fonte de luz, mas que o tornaria visível a quem guiasse a condução.

Vlaks, um monstro terrível e de forma arredondada, com uma boca fétida e cheia de dentes começou a se transformar na mais bela mulher já vista em todo aquele mundo ou em qualquer outro, um corpo de dar inveja, cabelos esvoaçantes e pele brilhante. O cocheiro, quando avistou tal criatura sob a pálida iluminação, diminuiu a velocidade dos cavalos.

— Boa noite – Acenou com a cabeça sem tirar os olhos da mulher.

Vlaks sorriu, mostrando dentes bonitos e alinhados, e se aproximou lentamente do homem, como se flutuasse na direção dele. Seu vestido vermelho, feito com o sague dos outros devorados que se deixaram levar pela aparência, deixava à mostra o busto e os ombros de forma sensual e hipnotizando aquele que o olhava.

— A senhorita gostaria de uma carona?

Ainda com o sorriso estampado no rosto, Vlaks tocou com seus dedos femininos com unhas pontudas na perna do homem, sentindo seu sangue correr e os músculos contraírem. Sentiu também, deixando um filete de saliva correr pelos lábios, os ossos firmes abaixo daquela carne suculenta. Delicioso.

— Moça?

Rápido como tinha se transformado em uma linda mulher, a criatura horrenda logo voltou à sua forma natural e triturou o pobre cocheiro com sua boca escarrada, engolindo o homem e o resquício de luz à sua volta.