Corações Perdidos escrita por Choi


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Tudo bem? Espero que sim!
Muuuuuuito obrigada pelos comentários de vocês no capítulo passado.
Espero que gostem desse capítulo
Boa leitura!



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Bella

— Vai mesmo trabalhar assim? – Lauren me perguntou assim que entrei no camarim. Ela me olhava com uma expressão que mesclava nojo e irritação, mas sua antipatia por mim não era nenhuma novidade.

— Nada que maquiagem não cubra, e também, o Connor não está em condições de me demitir – aquele filho da puta nojento, completei em pensamentos, mas achei melhor esconder minha opinião de Lauren, ela fazia de tudo para puxar o saco do canalha.

Me sentei em frente ao espelho cheio de luzes e comecei a trabalhar em uma maquiagem que escondesse o roxo ao redor do meu olho. O machucado no lábio não estava muito ruim, apenas inchado.

Eu não queria estar aqui, queria nunca mais pisar nessa espelunca. Cheirava a cigarro, sexo e álcool. Para muitos, era o lugar perfeito, para mim era o inferno. O meu inferno particular, mas afinal, não havia minha vida inteira sido assim? Meu corpo tremia com a possibilidade de Connor aparecer e me atacar novamente.

Respirei fundo me olhando no espelho, tentando controlar meu coração.

Minha história era bem simples e típica de uma prostituta de New Orleans: órfã, rejeitada pela sociedade enquanto crescia, e sem ter nenhum diploma, o único trabalho que eu consegui foi essa porra.

Eu tinha só quatorze anos de idade quando comecei a trabalhar em bares pela noite. Amanda, a dona do primeiro bar em que eu trabalhei, era uma mulher muito simpática e amável... claro que isso era só uma fachada nojenta que escondia sua verdadeira essência: uma mulher que se aproveitava da inocência de garotas.

Infelizmente, eu caí em seus joguinhos e acabei me entregando. Quando vi, não conseguia mais sair daquela vida.

Quando terminei a maquiagem, achei que o serviço estava ótimo. Ninguém diria que meu olho estava ferrado e doía como o inferno. Coloquei o corpete, o short minúsculo, e os saltos super altos. Ainda era de tarde, mas New Orleans é uma cidade que nunca adormece e nunca descansa, então tínhamos clientes em todos horários.

Felizmente eu estaria apenas servindo hoje, a não ser que surgisse algum cliente que valesse a pena.

Desci as escadas e encontrei Zafrina no balcão, ela é a gerente, e diferente de todas as outras funcionárias, não fazia nenhum serviço oculto. É uma mulher simpática, mas sua pena velada que sentia por nós me fazia ficar com pé atrás.

— Marie! Como está? – Ela perguntou assim que me viu.

— Só para eu saber, estou demitida? Porque tenho alguns dias para receber – A ignorei, cruzando meus braços e a encarando.

— Connor está meio impossibilitado de falar nesse momento – Deu de ombros – Por enquanto, não está demitida, mas eu não ficaria aqui se fosse você. Quando ele voltar, vai querer te esfolar.

— Ele se importa demais com o pênis dele para tentar outra coisa contra mim – Sorri irônica – Será que vai levantar de novo? – Perguntei, pensativa.

Zafrina escolheu me ignorar e eu fui trabalhar. O bar não estava muito cheio, mas ainda havia alguns clientes. Ganhei algumas gorjetas a mais me sentando no colo de homens nojentos, estavam tão bêbados que me davam mais do que gostariam.

Algumas horas depois, a porta se abriu e eu me preparei para atender quem quer que fosse, mas parei no lugar quando vi Esme.

Eu cresci minha vida inteira sem ter respeito, carinho ou amor por alguém. Nunca aprendi a demonstrar sentimentos, e minhas reações a qualquer coisa se resumiam em poucas palavras: eu sorria e me calava se envolvesse uma boa quantia de dinheiro, ou xingava, ou chutava algum pinto e xingava. A ultima opção era sempre muito prazerosa para o meu ego.

Quando conheci Carlisle, alguns dias atrás, meu mundo girou um pouco. Nunca havia conhecido um homem que se recusasse a deitar comigo porque tinha uma família. Ele foi o primeiro. Foi o primeiro também a se importar comigo. Porra, o cara arrumou o teto da minha casa!

Me sentia como uma filha da puta idiota e sentimental. Fiz a besteira de deixar me apegar a ele, mesmo sabendo que ele estaria voltando para casa logo.

Não estava em meus planos também conhecer sua esposa. Pelo que ele havia dito, sua família não estava no melhor momento, e eu definitivamente não queria ficar no meio daquilo, nunca tive paciência para drama. Me acostumei a levantar o dedo do meio e tacar o foda-se para qualquer situação que envolvesse muitos sentimentos.

Mas quando vi Esme, não consegui agir como sempre. Na verdade, seu olhar reprovador me deixou inesperadamente com vergonha. Nunca senti vergonha de nada! Não escolhi minha profissão, mas já que eu fazia isso, fazia de cabeça erguida para ninguém pisar em mim.

Também não queria causar problemas para Carlisle, ele havia sido bom comigo e eu era grata. Sua esposa facilmente iria confundir nossa relação, se é que eu podia chamar assim.

Por isso quando ela colocou seus olhos sobre mim, pensei em fugir e me esconder. A escada para o camarim não estava muito longe, eu poderia...

— Bella, boa tarde – Ela me interrompeu, parando em minha frente.

Sorri forçada, colocando a bandeja redonda em frente ao meu corpo.

— Me chame de Marie aqui – Eu disse, olhando ao redor para me certificar que ninguém havia ouvido.

Esme me olhou confusa, mas assentiu.

— Podemos conversar? – Me perguntou.

Analisei o movimento e percebi que estava tudo muito calmo. Lauren e Claire davam atenção suficiente aos clientes que estavam ali naquele momento.

— Sim.

Escolhi uma mesa e indiquei a cadeira em minha frente. Respirei fundo, e ajeitei meus cabelos longos, me perguntando o que aquela mulher queria comigo.

— Olha, antes que surte comigo, eu só quero dizer que seu marido nunca tocou em mim – Eu disse antes que ela pudesse falar algo, não queria criar mais uma cena no bar – O que, convenhamos, me ofendeu um pouco. Que tipo de homem não iria querer... – Eu mesma me interrompi, percebendo o que estava dizendo. Esme não precisava de tantos detalhes – Me desculpe. Seu marido é completamente fiel – Tentei me concertar.

Para minha surpresa, Esme riu. Ela riu. Caralho, eu sou muito boa mesmo!

— Eu sei. Carlisle nunca me trairia com alguém da sua idade – Ela disse. Ouch, isso me ofendeu um pouco. Aparentemente, o casal Cullen gostava de jogar na minha cara que eu era nova demais.

— Ok, certo. Que bom que estamos esclarecidas – Sorri, por mais que tenha saído uma careta, provavelmente. Estava me levantando quando Esme tornou a me chamar.

— Bella, espere – Ela se debruçou sobre a mesa – Você gosta de viver aqui?

— A lanchonete do lado faz um lanche ótimo – Dei de ombros. Esme me olhou feio, como se pedisse uma resposta mais completa. Ótimo, agora eu estava levando bronca também! Quando me tornei tão fácil assim? – Eu não tenho nada para comparar, vivi aqui minha vida inteira. Eu não amo, mas fazer o que, certo?

— Carlisle realmente se importa com você, Bella – Ela teve o cuidado de dizer meu nome em um tom mais baixo – Ele se incomoda com o fato de você ser uma...

— Prostituta? – Ergui uma sobrancelha. Esme claramente não estava confortável, e muito menos eu – Olha, Sra. Cullen, vocês não têm nenhuma obrigação que me envolva. Carlisle me disse uma vez algo sobre eu lembrar a filha de vocês, mas olha só, vocês estão com sorte – sorri sarcasticamente –, eu não sou – Me levantei da cadeira e antes de sair, tornei a olha-la – Volte para a sua mansão e vida perfeita.

A deixei sozinha na mesa e fui para o balcão, preparar alguns drinks. Isso era a única coisa que eu realmente gostava naquele emprego. Era divertido misturar bebidas.

Não vi quando Esme saiu, o que foi bom. A noite rapidamente chegou, e o bar ficou mais lotado.

A madrugada se arrastou. Eu me sentia suja quando saí. Havia me encontrado com três clientes que só se importaram com o próprio prazer, resultando em mais dores em meu corpo, tanto pelo esforço quanto pelos machucados recentes. Minha boca latejava, e minha garganta estava incrivelmente seca. Caminhei longos trinta minutos até em casa, descalça, já que o que eu menos precisava naquele momento era calos nos pés.

A noite fria era acalentadora, mas quando entrei em casa, só conseguia pensar em um banho.

A água fria me arrepiou inteira, e não consegui aproveitar tão bem como eu desejava. Tirei a maquiagem no chuveiro, como sempre, sabendo que ficaria resquícios em meus olhos. Ri com a lembrança de Carlisle me olhando assustado no outro dia.

Me enrolei na toalha e fiquei de frente para o espelho sujo. Meu olho estava pior do que eu pensei, e doía demais. Meus lábios estavam inchados e quando toquei, gemi de dor, xingando até a terceira geração de Connor, aquele filho da puta.

Vesti um conjunto velho de moletom e procurei algo para comer. Minha ultima refeição havia sido feita pela manhã e eu estava morrendo de fome. Mas não havia nada na geladeira, apenas o café frio que Carlisle havia feito dois dias atrás. Dei de ombros, e tomei aquilo mesmo.

Caí na cama – no quarto, obrigada, Carlisle –, e rapidamente senti o sono vir. Eu estava esgotada.

Acordei com batidas pesadas em minha porta. Demorei alguns minutos para me situar, já que estava em um sono muito profundo. Pisquei algumas vezes, e cocei os olhos, tentando limpar as remelas que haviam se acumulado.

Bateram na porta mais uma vez.

— Já vai, porra! – Gritei irritada.

Quem era o filho da puta que estava me acordando aquela hora? Calcei o chinelo com uma força desnecessária e fui até a porta, a abrindo.

— Que é, caralho? – Perguntei sem nem ao menos ver quem era.

Mas quando olhei, quase caí para trás, porque em minha frente estavam o Casal Cullen. Carlisle tinha um sorriso enorme no rosto e Esme parecia apreensiva, mas apoiava o marido no que quer que ele estivesse fazendo, aparentemente.

— Bom dia, Bella ­– Disse Carlisle, animado demais.

— Bom... dia? – O cumprimentei incerta. Busquei o relógio na parede da sala e quis bater neles – O que estão fazendo na minha casa às onze da manhã? Você sabe que para mim isso é como madrugada na casa de qualquer pessoa? Eu dormi depois das cinco, porra! – Gemi, sentindo meus olhos arderem pelo pouco tempo dormido.

— Desculpe, mas vamos conversar.

Carlisle não me deu chance e me puxou para dentro da minha própria casa, trazendo Esme consigo.

Eu não sabia quando havia dado essa intimidade para ele convidar qualquer pessoa para a minha casa, mas minha cabeça doía, então preferi evitar a fadiga e não discutir. Quanto menos eu falasse, mais rápido eles iriam embora e me deixariam dormir.

Me sentei no sofá de qualquer jeito, trazendo minhas pernas para cima e bocejando. Esme me olhou estranho, como se reprovasse meus modos. Minha querida, essa é a minha casa; minha casa, minhas regras, quis falar para ela, mas pensei no meu método de ficar quieta e me calei.

— E então? – Perguntei. O casal estava no sofá a minha frente, e Carlisle parecia empolgado demais – Não estão esperando café e biscoitos não, né? Porque não vai ter – Perguntei apenas para ter certeza.

— Bella, queremos te fazer uma proposta... – Carlisle começou.

— Eu não faço ménage! – Deixei claro, o interrompendo. Mas Carlisle ficou com o rosto vermelho e abaixou a cabeça, a balançando negativamente. Talvez não fosse isso a proposta, mas nunca se sabe.

— Isabella, não é nada disso! Pelo amor de Deus, quase me faz me arrepender disso – Disse Esme, claramente irritada.

— Desculpe – Eu disse por desencargo de consciência. Não me sentia nenhum pouco envergonhada ou arrependida. Eles vêm com papinho de proposta e querem que eu pense o que?

— Queremos que venha morar conosco em Atlanta, Bella.

Olhei chocada para Carlisle. E então para Esme. Bom, isso definitivamente nunca passou pela minha cabeça!


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Notas finais do capítulo

Quem mais amou a narração da Bella? Eu sou apaixonada nela. Ela já sofreu muito e viveu muitas coisas que mulheres formadas nunca viram na vida, mas continua uma garota boa e espontânea.
Na verdade, eu amo essa espontaneidade dela de dizer tudo o que pensa na lata.
Me digam o que acharam nos comentários.
Beijos