Jacob parecia pronto para fugir de confusão quando parou em frente a casa dos Cullen. Não se abalou pelo tamanho do imóvel, mas o vi oscilar o olhar quando percebeu que Edward estava em frente ao portão.

— Você já esclareceu para o seu namorado que não temos nada, certo?

— Ele não é meu namorado – Olhei indignada para ele – Obrigada pela carona e pelo jantar, pode ir.

— Você vai ficar bem? – Perguntou.

— Te mando um sinal de fumaça.

Sorri, mesmo não querendo, e saí do carro, arrastando minha bolsa comigo. Mal pisei na calçada e Jacob arrancou o carro dali como quem fugia da forca. O olhar de Edward não era um dos melhores, e senti inveja do meu colega por um mísero segundo até lembrar que eu não devia nada ao Cullen.

Respirei fundo e me aproximei, pronta para o ouvir um sermão digno de um advogado.

— Isabella, você enlouqueceu? – Nota 5 pela originalidade. Cruzei os braços, o olhando desafiadoramente – Você sabe o quão preocupado eu fiquei, porra?

Edward parecia realmente perturbado e por um momento me senti culpada por causar preocupação nele, mas ao mesmo tempo, era como se eu fosse um passarinho em uma gaiola e Edward fosse meu dono, prontíssimo para controlar cada chiado meu.

— Você não liga, não manda mensagem. Eu pensei que...

Apesar da voz alta e alterada, Edward se calou. Seu peito subia e descia, claramente ofegante. Seus olhos verdes que costumavam serem tão serenos e provocativos, agora possuíam um brilho incomum que eu desconhecia.

— Eu mandei mensagem para o Carlisle. Avisei a ele onde eu estava, você não tinha porque se preocupar – Mantive minha postura, sem me deixar abalar por ele.

— E não pensou em avisar para mim? Eu já estava quase ligando para a policia!

— Ok, Edward, agora você está exagerando – Descruzei meus braços, achando que aquele fosse o momento certo para dar minha opinião sobre aquilo tudo – Você não é responsável por mim, eu não te fiz promessa nenhuma. Você não tem o direito de ficar irritado comigo por sei lá que motivo e vir cobrar coisas de mim. Eu não sou sua irmã, sua namorada ou a porra das suas amigas!

Meu coração doeu quando terminei de falar, e me perguntei o porquê até perceber o olhar magoado de Edward. Bom, entra na filha, bonitão, eu também estou magoada com você!

Edward respirou fundo e encarou o nada, ficamos alguns minutos em silencio até ele tornar a falar.

— Realmente, você não é nada minha, não sei porque me dei ao trabalho de me preocupar com você.

Ele não me olhou uma segunda vez, simplesmente entrou no carro e saiu pisando fundo, deixando-me ali, no portão, sozinha.

Eu sempre fui uma pessoa solitária, mas naquele momento senti como se uma multidão tivesse deixado meu a redor e me deixado isolada.

Fechei a cara, tomando a decisão de não deixar ninguém saber o quanto aquilo me magoara e entrei em casa. Não havia sinal de Dora, mas Carlisle e Esme estavam ambos no sofá, como se esperassem a filha rebelde voltar para casa.

— Boa noite – Eu disse, doida para me trancar no quarto, mas sabia que devia algum respeito pelo casal.

— Boa noite, Bella, conseguiu terminar o trabalho? – Carlisle perguntou, sutil, mas eu via nos seus olhos que ele queria dizer mais.

— Sim, tudo como o planejado – Dei de ombros e me sentei em uma das poltronas livres, de frente para eles – Depois fomos comer em uma lanchonete, o tempo passou que nem vimos.

— Bella, Edward ficou muito preocupado com você – Esme, ao contrario do marido, foi direto ao ponto – Ele estava a ponto de chamar a policia. Você havia dito a ele que iria ligar para ele te buscar assim que terminasse o trabalho.

Tentei conter minha personalidade, mas quando vi, já estava bufando de indignação pelas palavras dela.

— Eu não prometi nada a ele, e nem devo nada. Ele se preocupou sem motivo algum. Edward acha que tem algum poder idiota sobre mim, coisa que ele não tem. Sinto muito, Esme, mas não vou deixar seu filho agir como se fosse meu dono.

— Ele não está agindo dessa forma, Bella – Disse Carlisle.

Me levantei, irritada, e pronta para iniciar a maior discussão da minha vida. Se eu não protegesse minha liberdade e direitos, quem o faria?

— Você não está ao nosso redor todo tempo, Carlisle, você não pode garantir isso – Retruquei – Eu respeito vocês dois, e sou muito grata, vocês sabem disso, mas ninguém vai me tratar como um animal enjaulado.

Sentia que a qualquer momento eu iria chorar, por isso corri para o quarto, esquecendo até mesmo a mochila jogada no chão. Bati a porta com força desnecessária e me joguei na cama.

Meu grito foi abafado pelo travesseiro, e gritei mais uma vez. De raiva, de frustração, de ódio... eram tantos sentimentos que eu estava perdida. Haviam tantos prós em contras em ter vindo para essa cidade com Carlisle, era como se eu estivesse em um labirinto por dias e a cada passo que eu dava, uma parte de mim ficava para trás.

Onde estava a Isabella forte, independente, que não abaixava a cabeça para ninguém? Essa Isabella foi quem enfrentou tantas dificuldades na vida e venceu todas, mas me sinto distante dela.

Era esquisito pensar que esses sentimentos vieram à tona assim que briguei com Edward. Ultimamente, era como se meu humor fosse resumido a ele. Era um saco. Edward me vê como uma garotinha indefesa que necessita de proteção, assim que ele souber a verdade sobre a minha vida, ele irá me abandonar, assim como todos que cruzaram meu caminho.

Me levantei e resolvi deixar a miséria para trás e tomar um banho. Enchi a banheira com a mente em branco, imersa ao barulho da água caindo da torneira. Despejei sais que nem o nome eu podia ler, mas o cheiro gostoso que subiu fez valer a pena.

Entrei na banheira e apreciei longos minutos ali dentro, até meus dedos ficarem enrugados e com a pele fina. Não me importei. Esses momentos, sozinha comigo mesma, eram necessários, me lembravam a minha vida quase que passada. Eu tinha que encontrar um meio termo entre essa nova Isabella e a antiga.

Já estava vestida no meu pijama fresquinho quando ouvi batidas na porta. Respirei fundo, e autorizei a entrada de quem quer que fosse.

Carlisle apareceu. Sua expressão era quase dolorida, como se ele estivesse sofrendo por algum motivo.

— Bella, podemos conversar? – Ele perguntou. Eu nunca conseguiria recusar nada a ele.

— Claro – sentei-me na cama e ele fez o mesmo.

— Bella, eu sinto muito pelo que aconteceu hoje, nunca foi minha intenção te arrastar para o meio do meu drama familiar, mas sinto que desde o inicio nossa relação foi baseada nisso.

Franzi o cenho, confusa. Que papo doido é esse? Mas não o interrompi e o deixei continuar.

— Lembra de quando nos conhecemos? Eu disse que você me lembrava a minha filha, e posteriormente, Esme lhe disse que ela faleceu alguns anos atrás. Esse é um assunto delicado em nossa família e ninguém nunca fala dela. Isso fez todos nós nos afastarmos, como se a memoria de Bree fosse algo doloroso. Estarmos juntos abria essa ferida. Quando eu te conheci, percebi que eu precisava salvar a minha relação com Esme, nós dois sofríamos pelo mesmo motivo e nunca falávamos disso. Isso nos desgastou. Eu me sentia um fracassado. Deixei a minha família inteira sofrer ao não demonstrar meu sofrimento.

— Carlisle, claro que não – Me sentia uma estupida por dizer aquilo, mas o que mais eu poderia dizer? Nunca precisei consolar ninguém?

— Você me fez enxergar isso, Bella. Mesmo com a sua vida complicada, sem muitas oportunidades, você não se deixou abalar. Eu vi isso, assim como Esme também viu. E tenho certeza que Edward também. Edward sempre foi muito protetor com Bree, ela era a garotinha dele, mas ele estava passando por um tempo difícil alguns anos atrás, eles se encontraram, brigaram enquanto ele estava no volante e... sofreram o acidente.

Eu me sentia sem chão. Bree, a adorada filha falecida de Esme e Carlisle, faleceu enquanto estava no carro com Edward. O tempo que eu o conheço é minúsculo, mas imagino a sua dor e culpa que carrega consigo. Quis chorar por ele, quis gritar e me bater por ter sido tão egoísta quando todas suas atitudes eram preocupações genuínas.

— Bree teve morte cerebral e Edward ficou em coma por um mês. Ele não pôde ir ao velório, não se despediu da forma devida. Isso o afetou de formas que ninguém pode imaginar. Após isso, ele se tornou distante, foi morar fora de casa e se afastou de todos nós. Essa relação que você vê entre nós é recente, Bella, estamos construindo aos poucos. Edward sofre até hoje, e tenho certeza que os momentos com você é algum tipo de antidoto.

Carlisle se calou, e eu não tive palavras para dizer algo. Meu coração estava partido por remorso, arrependimento e mais que tudo, dor, como se eu mesma houvesse passado por aquilo.

Carlisle bateu em minhas costas como se me consolasse, sorriu, e saiu do quarto, parecendo satisfeito.

Em minha mente, a expressão preocupada e furiosa de Edward ia e voltava, como um lembrete de que eu havia o machucado. Não conseguia dormir, e imaginei como ele estava. Com certeza eu trouxe as más memórias de volta, e agora ele está sozinho remoendo tudo isso tudo.

Me levantei da cama em um rompante e tirei o pijama, vestindo a primeira roupa que eu encontrei pela frente.

Bati na porta do quarto de Carlisle e Esme incansavelmente, deixando para me preocupar depois se isso os acordaria. Carlisle apareceu sonolento, mas não surpreso por me ver ali.

— Preciso do endereço do Edward.

— Me dê um minuto, eu te levo...

— Não, eu vou sozinha. Tenho que fazer isso.

Carlisle sorriu como se me entendesse. Pegou o celular e me mandou uma mensagem com o endereço.

— Boa sorte, querida.

Já passada das onze da noite quando pedi o uber. Minha perna tremia de ansiedade enquanto esperava o carro, o celular escorregava pelas mãos soadas, o segurei com mais força, com medo dele cair. Depois de cinco minutos, o carro finalmente chegou. Cumprimentei o motorista simpático e respondi as perguntas dele quase como um monologo, não queria conversar e estava ansiosa para encontrar Edward.