POV. JACOB

Movo meu peso de uma pata para a outra e Leah rosna na minha direção.

—Você podia pelo menos se concentrar. - pede em meus pensamentos e eu suspiro. Encaro a noite escura e continuo meu caminho com ela, Seth e Quil em meu flanco.

—Não sei se consigo, não sei o que Nessie está pensando agora. - penso e ela bufa pelas enormes presas.

—É só uma lenda idiota, avisei a você para contar, mas tenho certeza que a monstrinha não está nem lembrando mais. - ela rebate na minha cabeça, e eu paro para olhar na sua direção, o lobo acinzentado me olha com desdém e continua caminhando, rosno quando ela passa por mim.

—Não chame ela assim. - penso furioso, e ela continua andando como se não se importasse. Olho Seth e Quil que estão acompanhando nossa conversa em silêncio.

—Eu acho que você está se precipitando, pilhado desse jeito. Está sofrendo antes de levar o tiro. – Quil pensa e eu solto um ganido frustrado.

—Vocês conhecem a Nessie tanto quanto eu, sabem o quanto ela é esperta, não acho que ela tenha simplesmente esquecido. – lanço para eles.

—Eu acho que você está certo, e acho que já passou da hora de contar para ela. Qual é, estamos falando da Nessie. Ela é compreensiva, acho melhor você contar antes dela descobrir. – Seth me lança, e eu fico em silêncio por longos minutos repassando isso na minha cabeça. Ele estava certo – É claro que estou certo.

—Também acho que já passou da hora de contar para ela. – Sam invade nossos pensamentos, a quanto tempo ele estava ali, me pergunto e ele responde – A tempo suficiente, você fez uma promessa Jacob, um pouco absurda, mas agora vocês estão juntos, não faz sentido continuar escondendo isso dela. Você sabe disso.

Ficamos todos em silêncio, presos em nossos próprios pensamentos e ele fala novamente.

—Vou render vocês, Mikael e Brady também estão vindo, podem ir descansar. – não espero ele concluir e já corro na direção oposta, tomando rumo da minha casa, quando chego na base da floresta me transformo e visto minhas roupas, corto o espaço até a entrada e subo as escadas em silêncio, tentando não fazer barulho para acordar Billy.

Entro devagar e tomo rumo até o banheiro, ligo o chuveiro na água quente e sinto ela descer sobre meu corpo, limpando a terra da floresta que tem ali, não demoro muito tempo, enrolo logo a toalha na minha cintura e sigo até meu quarto. Quando fecho a porta posso enfim respirar fundo, visto uma boxer e moletom, me jogo na cama e fecho os olhos. Rolo tentando encontrar uma posição melhor, mas o sono não vem apenas as imagens de Nessie e seu sorriso na minha mente.

Meu sorriso cresce no rosto e eu não consigo ficar deitado, me sento na cama e me encosto na parede ao lado da janela, fecho os olhos e me permito passear minha mente por ela, era incrível como eu conseguia ama-lá mais ainda, depois do beijo, agora dos nossos momentos cada vez mais íntimos. O modo como Nessie faz de tudo ser novo, cada beijo, cada toque, tudo novo para ela, parece novo também para mim.

De modo que preciso manter meu alto controle sempre, para não passar barreiras demais, eu não quero assusta-la, quero mostrar aos poucos, afinal temos a eternidade para isso. Uma vida eterna ao lado dela, a garota mais linda, a mulher mais forte e determinada que já conheci, ela é sexy para mim sem mesmo perceber, cada passo com o jeans apertando modelando suas curvas moldadas, cada rubor, ou cada mordida no lábio inferior de forma nervosa, tudo me chamando para ela, até seu piscar lento, por debaixo dos volumosos cílios castanho avermelhados.

Aquela pequena maldição, o imprinting, não podia ser possível que ele fizesse todo esse papel, não podia ser possível que eu não prestaria atenção nisso se não estivesse atolado nessa merda até o pescoço, eu seria capaz de amar Nessie mesmo que isso não existisse, quem não amaria? Quem não prestaria atenção naqueles olhos cor de chocolate, quentes e brilhantes? Na ponta do nariz levemente avermelhado, pelo constante frio de Forks, nas minúsculas sardas abaixo dos olhos.

Sua delicadeza e teimosia, fazendo dela uma ferina e fazendo minha mente passear em áreas não muito castas de se pensar. Claro que tinha todo o lance de Edward, também precisávamos resolver aquilo, eu precisava resolver. Nessie não me parece muito bem esses dias e acho que Edward sendo duro com ela pode estar acarretando isso, ela está aérea, fica fora de foco por alguns segundos e volta depois como se nada tivesse acontecido, acho que as vezes nem percebe. De vez em quando vislumbro um pequeno sorriso triste em seus lábios, que se vai tão rápido quanto veio e também pego ela mentindo as vezes, coisas bobas, mas que prefiro não aprofundar no assunto, porque ela não parece confortável com a situação.

Preciso tomar rédeas da situação, não me faz muito bem vê-la assim. Também vi na mente de Seth e Leah, ela na casa de Charlie aérea, fora de foco, as vezes quero confrontar, mas não é o momento, antes ela tem que saber do imprinting, ela precisa saber. Eu preciso conversar com Edward, é isso.

Pego o celular sobre a escrivaninha e disco o número dele, um toque, dois toques, três toques, quando penso em desligar, ouço um suspiro do outro lado da linha.

—Acho que precisamos conversar. – digo e faz silêncio, um silêncio que por um segundo me pergunto se não estou surdo.

—Certo, no campo da última batalha. – ele fala e eu desligo.

Me levanto coloco uma blusa de moletom e tênis, descido não me transformar, não queria que ninguém soubesse o que eu estava fazendo. Ter essa conversa com Edward era uma coisa que eu precisava fazer a tempos, mas estava sempre adiando, só que agora não dá mais, não posso mais postergar isso, Nessie precisa saber, precisa saber de tudo.

Corro pelo perímetro fora da floresta, para que os lobos em ronda não escutem meus passos e desço o asfalto, sempre rente a borda da estrada, tudo que eu menos precisava agora era de um atropelamento, para adiar ainda mais isso. Desço a rua e viro tomando rumo ao caminho sugerido, e quando adentro a floresta para chegar até o campo, vou bem devagar para não fazer barulho aos bons ouvidos ali.

Quando chego a borda e caminho até o meio, encontrando Edward já me esperando, sua expressão está impassível. Não seria uma conversa fácil, ele ergue uma sobrancelha.

—Com certeza não será fácil. – fala e eu suspiro.

—Sabe o que vim fazer aqui. – ele concorda.

—Sempre querendo o que é meu. – acusa e eu faço a boca em uma linha.

—Não vamos entrar no mérito da coisa, nunca quis Bella de verdade, sempre foi Nessie. – ele ri sem humor.

—Pareceu de verdade para mim. – tremo levemente, e engulo o gosto amargo da acides de sua reposta.

—Certo, não vou discutir isso com você, so vim avisar que não posso mais manter minha promessa, Nessie precisa saber. – falo, e observo em silêncio sua expressão vacilar um segundo para uma mais cansada.

—Faça como quiser, Nessie é teimosa como a Bella, não é como se eu pudesse fazer alguma coisa mesmo. – ele rebate e de repente eu fico com raiva. Como assim, como se ele não pudesse fazer nada.

—É tão difícil assim? Me aceitar com Nessie? Aceitar nos dois juntos? Quer dizer eu pensei que tínhamos nos tornado amigos, e que no final disso tudo você já soubesse que isso poderia acontecer. – ele faz uma careta.

—Não sou burro Jacob, eu aceito vocês.. – o interrompo.

—Então porque parece que não, porque está brigado com Nessie, e eu pego ela de vez em quando com aquela expressão triste no rosto? – ele bufa.

—Eu tenho meus motivos, eu sei o que é melhor para minha filha e não quero ver no que isso vai dar depois. – franzo o cenho com sua fala.

—Isso? Nós dois? Está com medo de que Edward? Eu amo a Nessie e você mais do que ninguém sabe disso. Eu a amo tanto que, que.. – ele passa as mãos no cabelo de forma nervosa.

—Eu nunca duvidei de seus sentimentos Jacob, muito pelo contrário sempre fiquei muito feliz de ela ter você, mas é isso que me preocupa, todo esse amor, toda essa ligação. – nego repetidas vezes.

—Como assim te preocupa? Onde você quer chegar? – ele me encara duro dessa vez.

—Eu quase morri por Bella, pelo nosso amor, e ela chegou muitas vezes perto da morte por mim. Eu nunca fiquei feliz com isso, e você e a Nessie tem isso, o imprinting, prontos para morrerem um pelo o outro a qualquer momento, um amor tão incondicional e puro, mas letal Jacob. – fico confuso por alguns segundo sem falar nada, claro que ele tinha razão, eu morreria por ela e bom, pela ligação ela também morreria por mim, como a história de Avati.

Mas eu não queria aquilo, não iria acontecer, estávamos bem, a paz estava restabelecida, tudo estava certo. Vamos todos ficar bem. Edward suspira cansado, aperta a ponte do nariz como se procurasse calma e faz uma pequena careta, tentando voltar ao seu perfeito estado controlado.

—Eu vou cuidar dela, eu prometo. Com minha própria vida. – ele me encara muito sério, como se fosse me atravessar.

—Eu sei, e é disso que eu tenho medo. Tem coisas que não estão ao nosso alcance. – ele fala, se vira e vai embora, me deixando sozinho ali.

Começo a caminhar tão perdido, que não sei mais o rumo que estou tomando, meus pés me induzem a ela, mas me refreio indo até o nosso lugar, quando chego no meio perco as forças por um minuto, caindo de joelhos sobre as flores da clareira, repasso minha discussão com Edward na cabeça infinitas vezes tentando encontrar o erro da conversa, Edward estava temeroso. Mas porque? Eu nunca faria mal a Nessie.

O medo dele, meu amor por Nessie, o dela por eu, o imprinting, o maldito imprinting. Como contar para ela? Como contar que ela está presa a mim por uma maldição? Claro que eu nunca encararia uma maldição, estar preso a Nessie era uma luz no fim do túnel. Afinal qual seria o sentido de tudo isso? Lobos, vampiros, híbridos se eu não tivesse ela para ser a minha cura, se eu não tivesse o sorriso dela no final disso tudo? Como eu viveria sem ela? Bufo, será se eu viveria?

E será se ela era capaz de viver sem mim? Quero não pensar nas mil possibilidades de sua reação, mas é impossível. E se ela decidir que não me quer mais, que não me quer por perto, que quer ir embora? É cruel demais, mas o lobo obedeceria certo? Qualquer decisão que ela fosse tomar eu aceitaria de bom grado, feliz e rindo, só para vê-la feliz, certo? Errado, muito errado. A feiticeira que lançou a maldição sobre nós deixou um furo, eu não conseguia viver sem Nessie, era impossível imaginar vê-la indo embora e sentir feliz com isso, eu a queria para mim, sempre.

É errado e possessivo pensar assim, mas não consigo imagina-la nos braços de outro, não da para ficar feliz com isso, e não da para ver outra mulher alem dela, nisso a feiticeira não errou, nenhum pouco. É claro que eu via mulheres, muitas, de todos os tipos, mas em todas era quase impossivel não procurar um traço de Nessie nelas e isso que me prendia, nunca nenhuma delas é ela. Passo as mãos pelo rosto extremamente cansado e puxo levemente meus cabelos da raiz, sentindo alguns fios se desprenderem dali. Olho para o céu e ele já adquiriu um tom cinza levemente arroxeado, já era manhã e eu precisava voltar para casa, logo Nessie viria para irmos à La Push, e eu não queria que ela visse meu cansaço.

Me levanto e sigo até minha casa, na forma humana mesmo, ainda tinha lobos na floresta, eu conseguia ouvir seus passos e não estava preparado para que eles vissem essas coisas na minha mente, tinha coisas que eu queria que ninguém visse na minha mente, meus momentos com Nessie, aqueles momentos tão íntimos e nossos, essa discussão com Edward, e várias outras coisas que eu preferia não mostrar, mas se eu pensasse estava lá, escancarado para todo mundo ver.

Entro em casa e me desfaço da blusa de moletom, entro no quarto e me deito de novo, olho o relógio sobre a escrivaninha e o mesmo marca cinco e trinta e sete. Me movo na cama tentando não pensar demais, claro que impossível e forço o sono a vir até mim, tento contar carneirinhos, um carneirinho, dois carneirinhos, três carneirinhos, quatro carne..., bufo eu estava patético.

Respiro fundo e penso em Jasper, o vampiro ia fazer um belo trabalho ali agora, fico quieto e tento me concentrar na respiração de Billy no quarto ao lado, e estava funcionando.

—Ele chegou de ronda a poucas horas, eu ouvi, se quiser ir la acorda-lo. – ouço ao longe Billy falar com alguém, e abro meus olhos minimamente para fitar o céu lá fora, leves raios de sol tentam irromper as nuvens. Tinham se passado algumas horas desde que dormi, ouço passos vindo até o quarto, e a porta é aberta e fechada rapidamente, e o cheiro de morangos silvestres de Nessie toma todo o meu quarto, um sorriso cresce em meu rosto e eu me viro para olha-la, linda encostada sobre a porta.

Uma calça jeans clara molda suas curvas, e uma blusa fina de frio branca, quase transparente, deixa seu sutiã de renda um pouco aparente, o decote em V faz um belo trabalho mostrando um pouco de seus seios fartos, e um tênis preto está em seus pés. Quando chego em seu rosto ela está corada, com minha avaliação.

—Que foi? – pergunta com uma sobrancelha arqueada. Sorrio e abro os braços para ela.

—Nada, só estou reparando, como você fica cada vez que ponho os olhos em você, mais linda.  – ela revira os olhos e vem ate mim devagar, quando chega eu a puxo para meu canto e ela solta um pequeno grito pelo susto. Eu rio também.

A aninho em meus braços, no meu canto. Aspiro o cheiro de seus cabelos e a aperto levemente sobre meus braços, beijo o alto de sua cabeça e depois desço os beijos até seus lábios, Nessie corresponde prontamente e eu logo peço passagem com minha língua, faço uma varredura completa por sua boca saborosa e ela parece se refrear parando o beijo, a olho com uma sobrancelha erguida e ela está seria. Se levanta rápido, saindo de meus braços e arruma os cabelos.

—La Push se lembra? – pergunta e eu me levanto prontamente.

—Claro, claro. – ela sorri e sai do quarto, eu pego a tolha sobre a cadeira e jogo em meu ombro.

Saio do quarto me deparando com Billy rindo de algo que Nessie está falando, ele me olha negando e depois olha para Nessie.

—Só você mesmo para fazer esse garoto acordar sorrindo. – ela sorri minimamente e eu rolo os olhos.

—A qual é? Também não é assim. – ele gargalha movendo sua cadeira até a cozinha, e Rachel entra pela porta sorrindo também. Vejo Renesmee olhar para ela e um brilho diferente brotar em seus olhos.

—O que é tão engraçado? – ela pergunta, fechando a porta atrás de si.

—Jacob acordar de bom humor. – Billy fala com uma sobrancelha arqueada.

—Jacob acabou de acordar? – pergunta surpresa olhando para mim, ergo as mãos em sinal de rendição.

—Por incrível que pareça sim, mas claro, Nessie foi lá dar um beijo nele de bom dia, não seria diferente. – Billy debocha e Rach passa os olhos para Nessie, que está quieta até agora.

—Então esta explicado, bom dia Nessie. – ela fala indo até ela e a abraça, Nessie sorri fraco e lhe devolve o abraço. Ela estava estranha, será se Edward tinha contato para ela da conversa, ou será se ela ainda pensava na lenda?

—Bom dia Rach. – ela fala.

—Trouxe café da manhã. – ela ergue a bandeja na mão, e consigo sentir o cheiro de bolo.

—Ótimo, não sei o que seria de mim sem você, Jacob só come o tempo todo. – Billy protesta.

—Puff, agora deu para mentir, está ficando velho e mentiroso. – debocho de Billy e ele faz uma careta engraçada, Nessie ri dessa vez. Ri lindamente – Tenho ido sempre ao mercado e me arriscado com essas receitas que Rach deixa aí. – falo.

—Não de ouvidos a ele Renesmee, esse garoto está muito abusado. – ele fala rindo e ela ergue as mãos. Rachel a acompanha rindo.

—Bom vou tomar um banho. Você espera? – pergunto me direcionando a Nessie, ela balança a cabeça concordando, entro no banheiro tomo uma chuveirada rápida, enrolo a toalha na cintura e saio na sala, encontrado apenas Billy ali.

—Onde está a Nessie e a Rachel? – pergunto as procurando e ele dá de ombros.

—Nessie chamou Rachel uma para conversar, aí elas saíram. – faço uma careta, mas vou até meu quarto, coloco uma camisa de manga curta preta, uma bermuda jeans e um tênis, o sol ainda tentava se manter firme lá fora, parecia um bom sábado de sol. Estranho Nessie chamar Rachel para conversar, o que ela tinha de tão importante que não podia falar aqui?

Passo as mãos pelo cabelo quase seco, vou para a cozinha, pego um pedaço generoso de bolo e com duas mordidas o devoro, não satisfeito pego mais um pedaço.

—Rachel precisa trazer um inteiro, só para você.  – Billy fala e eu rio.

—Desculpa, preciso manter a forma. – ele revira os olhos com a minha fala, e passa por mim passando a cadeira de roda sobre meu pé rindo – Ei – protesto.

—Desculpa, precisava descontar a raiva. – nego e vou até a porta, já devorando o terceiro pedaço do bolo.

—Volto mais tarde. – digo ele bufa.

—Claro, claro. – me imita e eu saio o deixando para trás.

Quando alcanço as escadas, vejo Nessie no último degrau sozinha.

—Onde está Rach? – franzo o cenho.

—Já foi. – fala ainda de costas para mim, a alcanço e a pego no colo, ela não resiste e sorri, beijo seus lábios rápido.

—E porque não entrou de novo? – ela nega e dá de ombros.

—Sabia que viria para cá, só te esperei. – concordo e a coloco no chão.

—O que conversaram? – ela ergue uma sobrancelha, e passa as mãos na calça como um gesto nervoso.

—Nada demais. – semicerro os olhos e suspiro não insistindo.

—Certo, vamos? – pergunto ela concorda seguindo rumo a praia, pego sua mão para caminharmos juntos.

Ficamos em silêncio por um tempo, a caminhada não era longa, mas aquele silêncio estava me incomodando. Um turbilhão de coisas invadem minha cabeça, olho Nessie e ela mantem uma ruga em cima da sobrancelha, parecendo tensa e pensativa, abaixo dos seus olhos, imperceptível a olhos humanos, tem a sombra de olheiras. Olho para frente novamente e caminho pensando como eu contaria a ela, como eu falaria do imprinting, o que ela pensaria?

Quando nos aproximamos da praia os meninos da matilha estão lá, Seth, Brady, Quil e Embry, vejo que estão jogando bola. Seth quando nos vê, se afasta dos garotos sobre protestos e vem até nos, acena para mim e pega Nessie no colo a rodando, ela solta uma gargalhada, e ele sorri a colocando no chão.

—Oi baixinha. – ela nega.

—Oi lobinho. – ele sorri.

—Vieram pelo sol? – ele pergunta olhando para nós e eu concordo.

—Estou cumprindo uma de minhas promessas, para minha garota. – falo abrindo um sorriso e olho para Nessie, ela cora com minha fala e eu a puxo para meus braços. Seth ergue as sobrancelhas e assobia fazendo uma reverência.

—Primeira dama. – ela sai dos meus braços, empurra Seth e rola os olhos.

—Dois bobos. – nega saindo de perto de nos rindo, e vai para perto dos meninos roubando a bola.

—Vou entrar no lugar de Seth. – fala e eles começam a rir brincando com ela.

Fico olhando ela brincar com os meninos, sua linda pele aveludada em contraste com o sol e seu sorriso iluminando a praia. Seth pigarreia do meu lado.

—Limpa a baba aí Jake. – ele debocha e eu suspiro.

—Não sei se reparou, mas minha namorada é linda. – falo ainda a admirando, Seth acompanha meu olhar e concorda.

—A Nessie é linda mesmo Jake. – ele me olha de novo – Mas já contou para ela? – ele pergunta e não preciso ser nenhum leitor de mentes para saber que ele falava do imprinting, nego.

—Fica tranquilo Seth eu vou contar, só estou esperando o momento certo. – ele concorda dando e ombros.

—Sabe o que eu estava pensando. – fala e me olha – Você devia contar para ela tudo sabe? – franzo o cenho, ele gesticula com as mãos – Tipo do imprinting, do que você e a Bella tiveram e... – nego várias vezes e quase tenho uma aneurisma.

—Não, não Seth, uma coisa de cada vez. Nem sei se ela vai administrar bem, por saber do imprinting. – falo olhando Nessie ainda distraída.

—Mas Jake, eu acho que você está adiando muito, melhor contar tudo de uma vez e para de esconder as coisas de Nessie, melhor arrancar o band-aid de uma vez para a dor ser uma só, do que ficar tirando aos poucos. – Seth fala sensato, quase concordo com ele, mas meu medo do que ela poderia pensar, do que faria, se não falaria mais comigo ou que não queria me ver era muito maior, eu não conseguia nem pensar. Nego.

—Seth, você não entende, ela não, eu não. – suspiro cansado – Ela tem que administrar essa ideia do imprinting antes, eu não posso perder Nessie entende? E se eu contar isso e ela nunca mais quiser me ver? – falo e olho na direção dela novamente, eles estavam comemorando, provavelmente algum gol.

—Jake, estamos falando da Nessie, conversa direito com ela, ela vai te entender. – Seth ergue uma sobrancelha e eu nego.

—Não, melhor não. – rebato, ele dá de ombros.

—Depois não diga que não avisei. – fala, bate em meu ombro e vai em direção aos outros.

O sigo devagar, pensando em tudo que ele disse e tinha mais aquele problema na minha cabeça agora, ter que contar que fui apaixonado por Bella, mas eu não fui, era ela, tudo por ela, tudo para ter Nessie, para pertencer a ela e ela a mim. Mas como eu ia explicar isso de uma forma que ela entendesse? Suspiro cansado e ignoro esses pensamentos pelo menos hoje, não ia estragar o dia.

—Jake, vai ficar parado aí ou vai jogar também? – Seth pergunta rindo de mim. Tento disfarçar e Nessie está me encarando, ergo uma sobrancelha.

—Quem vai perder para mim? – pergunto sorrindo, Embry gargalha.

—Está escutando Nessie, seu namorado é muito convencido. – Nessie ri e rola os olhos.

—Está precisando de uma lição. – Quil fala. Nessie pega a bola da mão de Brady e coloca no chão.

—Menos papo e mais ação, vocês falam muito. – ela chuta a bola sorrindo e corre.

—Bem mandona essa vampira. – Brady fala e nós rimos, mas começamos a partida.

Começamos a brincar e o sorriso não abandona o rosto de Nessie, fico feliz por isso, eu estava devendo ela uma tarde em La Push a muito tempo, toco a bola devagar para Seth que está do outro lado e Nessie está no meio de nós, ela pega a bola e chuta para Embry que faz o gol. Seth bate as mãos ao lado do corpo impaciente.

—Jake, assim não dá, você fica entregando a bola para Nessie. – Seth reclama e Embry gargalha -Vamos trocar de time. – Seth fala e Embry nega.

—Não senhor, não sabe perder?  Fica com o senhor apaixonado aí, a baixinha sabe jogar uma bola. – Embry bagunça o cabelo de Nessie.

—E sabe enlaçar bem um alfa. – Quil debocha. Reviro os olhos e a puxo para meus braços, beijo seu rosto e ela fecha os olhos.

—E outra, o Jake mais empurra do que joga, não deixa a gente nem chegar perto da Nessie. – levanto minha cabeça e encaro Seth.

—Já viu o seu tamanho e o dela? – rebato protetor. E Nessie protesta.

—Mas sou metade vampira, sei me proteger. Acha que não posso dar conta de mais dúzia de lobinhos? – Brady ri.

—Está vendo a garota é invocada, e durona. – ele fala, e eu ergo uma sobrancelha.

—Tá legal, mas mesmo assim ainda vou proteger você. – aponto para ela que rola os olhos.

—Tem uma vaga aí no time? – ouço a voz de Collin atrás de mim, interrompendo nossa discussão – Oi galera, oi Renesmee.  – ele cumprimenta e Nessie acena sem graça, a puxo para meus braços, Collin sempre dava um jeito de me tirar do sério, sempre com Nessie na cabeça ou falando nela de uma forma que não me agradava, me viro para ele e o encaro. Chego perto do ouvido de Nessie e pergunto.

—Vamos dar uma volta na praia? – ela concorda e eu sorrio.

—Sim, eu e Nessie vamos dar uma volta. – falo depois que ela concorda, ele ergue uma sobrancelha, Nessie abraça Seth e acena para os meninos.

—Tchau garotos. – eles acenam e eu pego sua mão, acenando com a cabeça para eles.

Seguimos caminho pela orla da praia, e Nessie tira os sapatos para sentir a água em seus pés, quando estamos bem distantes dos meninos nos sentamos na areia, me sento encostado na pedra e Nessie se senta na minha frente entre minhas pernas, ela fecha os olhos e uma brisa passa por nós me mandando seu cheiro convidativo de morangos. Seu pescoço exposto me convida para um beijo e eu não reprimo minha vontade, beijo seu pescoço e sinto Nessie arrepiar sobre meus lábios, passo a língua devagar no local e ela estremece.

Mas não se rende, me olha, sorri e se ajeita mais sobre mim, olhando a vista, o silêncio se faz presente por um tempo entre nós e eu me sinto levemente incomodado com isso, Nessie está quieta, pensativa, desde que hoje de manhã, quando chegou lá em casa e eu estava com medo de perguntar o motivo.

—Jake? – ela chama com os olhos no horizonte, vendo as ondas nascer além de onde podíamos enxergar. Levo meus olhos até ela e ergo uma sobrancelha indagativo, ela se vira para me olhar e suspira – Estou esperando você dizer. – ela fala e eu franzo o cenho.

—Dizer o que? – pergunto meio receoso.

—Quando teve um imprinting por mim. – Nessie fala e a menção da palavra me dá um soco na boca do estômago, como ela soube? Minha cabeça da uma guinada e mil probabilidades vem nela. Penso em Edward, Bella, todos, e me pergunto quem contou a ela. Provavelmente Edward, ele queria minha cabeça. Abro a boca e fecho uma sequência de vezes, e no final não consigo falar nada, Nessie tem uma expressão séria, e eu sabia que devia ela total explicação, ela precisava saber a muito tempo e eu só estava adiando isso, esse olhar, mas por onde começar.

—Eu, Nessie, eu não.. Quem contou a você? – ela sorri de lado seco e olha para a praia de novo.

—Ninguém, eu descobri sozinha. – suspiro, e ela me olha novamente – Porque nunca me contou Jacob? Porque escondeu isso de mim? – ela pergunta ressentida.

—Eu ia te contar, so não achava o momento certo, eu tinha medo. – ela nega.

—Momento certo para falar que está preso a mim por uma maldição? – ele pergunta com amargura e eu franzo o cenho, como ela sabia da maldição?

—Como você... – começo, mas ela me interrompe.

—Eu li, no livro que Rachel me deu de aniversário, a história do imprinting de um lobo, uma vingança de uma feiticeira apaixonada, que se apaixona perdidamente por um lobo e no final ele não escolhe ela, escolhe outra. Então ela lançou essa maldição, que o guerreiro encontraria sua amada não veria mais ninguém, seria tudo e qualquer coisa por ela, e só com ela ele poderia ter lobos fortes, saudáveis e que se ela morresse ele também morreria, pois não conseguiria viver em um mundo que sua prometida, seu imprinting não estivesse. – ela fecha os olhos suspirando – Porque nunca me contou Jacob? Porque não me falou que estávamos ligados por uma maldição? Que eu sou a sua maldição. – Nessie fala quase chorosa e eu nego repetidas vezes, segurando seu rosto para me olhar.

—Nessie, primavera, você nunca seria minha maldição, você é minha salvação, eu não vejo sentido em tudo isso, se você não estivesse aqui para ser a minha luz. – falo e ela balança o rosto se soltando de meu aperto, em seus olhos uma sombra de dúvida está lá. Ela olha para areia no chão e depois para a praia.

—Depois que descobri, fiquei me perguntando se você ainda me amaria se não fosse por isso. – ela pergunta e a realidade me acerta como um soco, é claro que eu a amaria, como não ama-la, mas como falar que o que realmente a salvou foi o imprinting? Que eu estava indo matá-la quando a maldição a salvou? Que provavelmente por alguns anos eu a odiaria, mas depois que eu colocasse os olhos nela seria irreversível. Como não amar Nessie? Suspiro.

—Independente do maldito imprinting ou não eu amaria você, foi como eu falei Nessie, nessa vida ou na outra, imprinting ou não, humanos ou não, eu sempre vou amar você. – um sorriso triste brota em seus lábios.

—Então por que nunca me contou? – ela pergunta novamente, e eu penso se devo ou não contar a verdade sobre o porque, mas eu não podia mentir mais sobre isso, precisava enfrentar as consequências desse segredo. Tiro os olhos dos seus, ainda não conseguindo sustentar a tristeza que eles têm, e olho as ondas se quebrando próximo as rochas ali.

—Fiz uma promessa a seu pai e sua mãe, eles pediram que eu não contasse, porque ainda era muito nova e para você ter chance de escolha. – termino de falar e a encaro, ela está me encarando surpresa, um brilho raivoso está em seus olhos e ela faz a boca em uma linha.

—Não acredito que fizeram isso. A quanto tempo teve isso por mim Jacob? – ela pergunta dura agora, fecho os olhos e passo as mãos no cabelo.

—Desde o seu primeiro dia de vida. – falo e Nessie se levanta, me levanto também e olho para o outro lado da praia para ver se os meninos ainda estão lá, constato que não, ameaço ir até ela. Mas ela ergue a mão e me olha.

—Estão escondendo isso de mim minha vida toda? – pergunta com raiva, apenas engulo o bolo que está na minha garganta, quero cortar o espaço entre nós e a abraça-la implorar por perdão e dizer eu não fiz por mal, que eu não queria que isso tivesse acontecido e que por mim ela já sabia a mais tempo, mas ela me encara de forma dura – Jacob, todos sabiam menos eu? – ela pergunta e eu concordo com a cabeça olhando para baixo.

—Mas fizemos pensando no seu bem, porque amamos você, queríamos que pudesse escolher Nessie, nunca quis que se sentisse obrigada a ficar comigo, a maldição é minha e não sua. – rebato e ela me olha incrédula.

—Você é tão egoísta, nunca te ocorreu que eu também faço parte disso? E outra, você acha certo? Esconder de mim que sofreu uma maldição por mim quando eu nasci, mentir para mim minha vida toda, escondendo de mim coisas da minha própria vida, porque me amam? – ela fala com lágrimas rolando nos olhos e eu nego.

—Não é bem assim Nessie, eu não acho que seja uma maldição, e não menti para você. – dou um passo na sua direção e ela deixa o braço cair ao lado do corpo como se estivesse cansada, corto o espaço entre nós e a puxo para meus braços a abraçando, como se a qualquer segundo ela fosse evaporar dali.

—Mas Jake, é uma maldição, vocês fizeram isso para que eu tivesse uma chance de escolha, mas e você? Fadado até a morrer por mim, sem chance alguma de escolha, obrigado a me amar. – ela começa a falar de forma desesperada e eu a calo com meus dedos.

—Não Nessie, não, eu amo você e morreria mil vezes se fosse preciso, dentre mil vidas que eu vivesse, se eu tivesse que viver amarrado a você eu agradeceria todas as mil vidas, porque eu não mereço você, seu amor e sou grato por ter isso. – a abraço de novo e beijo sua testa, depois suas lágrimas e seus lábios – Eu não queria que soubesse dessa forma, mas você é esperta e o meu erro foi te subestimar, também queria que você não pensasse dessa forma, queria que isso não existisse, para você saber que te amaria independente de qualquer coisa, e faria tudo por isso. – falo e ela suspira olhando nos meus olhos, ela parece muito cansada, como se estivesse lutando dentro de um enorme furacão e eu quero pegar sua dor e tomar para mim, quero que ela não pense nessas coisas, quero que toda a tristeza que ela está agora se desfaça, mas não tenho poderes para isso.

Ficamos abraçados por um bom tempo e Nessie se mantem em silêncio o tempo todo, penso em perguntar, em fazê-la falar alguma coisa, mas não o faço, ela estava com milhões de coisa na cabeça e eu também estava, ela me empurra levemente, beija meu rosto e aperta os olhos, as lágrimas rolam e meu coração bate forte dentro do peito, ela estava sofrendo com a aquilo. “Preciso ir” ela fala através de seu dom, com a mão em meu rosto, suspira e dá um passo para trás. Seguro seu braço.

—Nessie, por favor não faz isso, eu... Me desculpe. Eu queria ter te contado. – ela olha para mim, sorri e limpa as lágrimas.

—Não estou com raiva de você Jacob. Só preciso de um tempo. – fala olhando para minha mão que esta segurando seu braço, quero fingir que não vi e não soltar, não quero perder Nessie, não seria possível que eu não a teria mais, depois de tanto tempo, depois de tudo, não seria possível que se quebraria por uma maldita promessa, pelo maldito imprinting – Jake por favor. – ela pede eu suspiro a soltando. Ela me olha mais uma vez e depois corre em direção a floresta, passo as mãos no cabelo nervoso e soco a rocha ali, quebrando no processo um ou dois dedos.

Sinto lágrimas chegar em meus olhos e as limpo com raiva, eu devia ter contado, devia ter seguido minha intuição, o conselho de meu pai quando ele falou para que eu contasse, o concelho de todos da matilha, Rachel e até Leah me aconselhou a contar. Mas não, eu como um grande idiota fiz o que os Cullen pediram, fiz batendo palma igual a um bobo da corte. Sinto os tremores tomar conta do meu corpo e logo escuto o barulho de rasgado das roupas que estou vestido, virando pedaços pequenos de tecido, minhas patas batem forte no chão e eu balanço a cabeça sentindo nesse corpo a dor tentar me tragar, e fico levemente tonto por isso, quase querendo voltar a forma humana, mas corro mais rápido que minhas pernas podem.

—Jacob vai ficar tudo bem. – ouço a voz de Seth na minha cabeça, com dor em sua voz ele também estava sentindo, tudo que eu sentia.

—Cara estamos com você, a Nessie vai te perdoar só está triste. – Quil fala e eu rosno furioso, eu queria ficar sozinho.

—Voltem a forma humana. - peço e eles se negam.

—Queremos ajudar você. – Paul fala e eu nego.

—Não quero ajuda. Voltem a forma humana. – peço novamente, mais furioso dessa vez e Seth gane.

—Mas Jake nós..

—VOLTEM A FORMA HUMANA. É UMA ORDEM. – uso meu tom alfa, posso sentir a tristeza e o ressentimento deles, mas logo meus pensamentos são só meus pensamentos, e estou sozinho.

Eu precisaria lidar com isso também depois, nunca precisei usar meu tom alfa com eles, e a tristeza e ressentimento deles me deixou mal de certa forma, eles queriam me ajudar, mas eu precisava daquela forma para que a dor fosse mais dissipada, precisava ficar sozinho. As árvores  passam por mim como um borrão, de forma que a floresta a minha frente é quase negra, um grande vazio negro, a imagem de Nessie triste vem a minha cabeça e eu solto um ganido triste por entre minhas presas, eu era um grande idiota.

Mas a amo tanto, por isso ela chamou Rachel para conversar, um livro de lendas, quem diria que um livro de lendas destruiria tudo, mas a culpa foi minha, eu que plantei a semente na sua cabeça a levando naquela maldita fogueira, eu estava correndo todos os riscos e sabia disso, é claro que ela ia procurar saber sobre a lenda.

Desacelero a corrida, minhas patas tomam o rumo por mim, claro que traidoras, indo até ela, eu estava correndo a horas sem rumo, o céu já adquiriu uma cor escura, e o sol já havia cansado de lutar a muito tempo contra as nuvens no céu, a clareira apareceu na minha frente florida como nunca, com sua beleza intocável e o perfume de Nessie dando um toque especial a ela, a dor me toma novamente, mas essa logo perde para a raiva que me domina, raiva de mim, de tudo isso estar acontecendo.

Eu precisava também de um tempo, sair dali e pensar com clareza. Depois procurar Nessie e me resolver com ela, não podia estragar mais as coisas. Volto a correr novamente e depois de muito tempo, só percebo para onde estou indo, quando vejo a placa do limite de Forks passar por mim como um borrão. Sinto meu coração bater muito forte dentro do peito, e sinto o cabo de aço que me prende a Nessie tentar me levar de volta, mas não volto, eu precisava pensar.