Ao Tempo escrita por Leticiaeverllark


Capítulo 24
Não Crie Expectativas




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POV PEETA

—Peeta Mellark!- um médico me cumprimenta de maneira tão alegre e receptiva que abro um pequeno sorriso, tímido e perdido em meio a isso tudo.

— Dr. Aurélios. - agradeço a mim mesmo por ter tido a brilhante ideia de ler a placa sobre a porta, antes de entrar. 

—Como está indo?

—Bem, muito bem.- ele indica uma cadeira a frente de sua mesa, aceito sentando, levo as mãos aos bolsos.

—As dores de cabeça são raras e fracas.

—Isso é ótimo.- analiso o quão grisalho é seu cabelo e me imagino da mesma maneira. 

—Se recuperou de forma surpreendente, tanto que liberei a sua volta.

—Vou para o 12?

—Sim. Seu trem sairá as 16 horas.

Abro um sorriso, mas fecho ao lembrar de Katniss.

—Mas, doutor... É seguro?- comprimo os lábios, levando meu pensamento a morena e as duas crianças. -Já estou bem melhor, sem dores e flashbacks. Mas... se eu atacá-la? Ou pior...

—Peeta, eu não aceitaria que Paylor autorizasse sua volta se não acreditasse na sua melhora. Acompanhei essa sua segunda vez aqui e usei um método novo para retirar o veneno, foi pouco mas não podíamos arriscar deixar Katniss perto de você. - presto toda a atenção em suas palavras, querendo absorver o máximo possível. -Me surpreendi ao ver o quão fácil foi dessa vez. Descobrimos que o objetivo de Tanus não era telessequestrar novamente e sim matá-lo. Mas ele não conseguiu, o veneno inserido em seu sangue foi pouco. Com sorte conseguimos tirá-lo, você está como anos atrás, entende?

—Acho que sim.- ele sorri, pega a caneta no bolso de seu jaleco e risca rapidamente num papel. Fico minutos preenchendo uma grande quantidade deles.

—Você levará um grande estoque de remédios, fará tudo o que fez da primeira vez. - como irei lembrar?

—Certo.

—Quero que você me ligue pelo menos 3 vezes na semana, me atualizando sobre o tratamento. Combinado?- assinto, depois de uma sessão de exames sou liberado.

Despeço dele e do hospital, sendo surpreendido na porta.

—Peeta!

Viro, antes de dar o último passo e entrar no carro que me levará pra mansão presidencial. 

—Hey.- sorrio, vendo minha médica correr até mim. Seus braços querem me apertar, mas impeço. Com dois passos pra trás, deixo claro que sua aproximação não é bem vinda. 

—Estou indo embora.

—Eu soube.- ela lança um sorriso triste, cruza os braços os afundando na barriga. -Paylor conseguiu, afinal.

—Do que está falando? 

—Nada que importe.- seu olhar muda, me encara sem toda aquela melancolia. -Faça boa viagem, e não se esqueça de mim.

Sorrio, pegando a pequena bolsa cheia de caixas de medicamento e poucas peças de roupa.

A garota tira um papel do bolso e me entrega.

—Me ligue se precisar de algo.

—Obrigado, é muita gentileza sua.- ela da de ombro antes de ficar sobre os dedos e plantar um beijo em minha bochecha, perto demais de minha boca.

—Fique bem, querido.

Saio apressado, entro no carro sentindo minhas bochechas protestarem. Não que eu fiquei balançado, só com vergonha por ter pensado em Katniss no momento. 

Pelo que parece, a morena está em meus pensamentos na maior parte do tempo.

                           ******      

—É muita gentileza sua me receber agora, presidente. - a mulher no auge de seus 50 e poucos anos, abre um sorriso enquanto rodeia a mesa.

—Peeta Mellark. Sempre um cavalheiro. - reprimo um sorriso, envergonhado pelo elogio. Sento aceitando o copo de suco que ela me estende.

—Lamento fazê-lo vir até aqui, mas a conversa é séria e inadiável. 

—Estou todo a ouvidos.- deixo minha pequena bagagem sobre meus pés, tomo um gole do refrescante suco de maçã. 

Sou enviado para minha nova casa, dias depois de ter acordado nessa realidade. Katniss e eu estávamos cozinhando, juntos.

Eu fazia uma bela torta de frango e observava-a, ela se propôs a fazer um suco. Me perguntou se eu gostava do sabor da maçã, afirmei adorando o momento familiar que estávamos tendo.

—Suponho que saiba que autorizei sua alta adiantada.

—Sim.

—Pois bem, soube agora que Tanus está no Distrito 12.

—Oh não!- engulo o suco com dificuldade, pousando o copo no tampo da mesa. -Ele irá atrás de Katniss.

—Ja entrei em contato com Haymitch, ela e as crianças estão bem. Mas, agora estou preocupada com você. 

—Dele me pegar de novo?- ergo a sobrancelha, cruzando os braços antes de desviar o olhar pra janela. 

Percebi que ganhei ironia junto essa personalidade, ou talvez seja por passar muito tempo com Katniss. 

—Pelo que sabemos, esse homem é um seguidor de Snow.

—Eu sei.- volto a pegar o copo, rodando a borda com a ponta do dedo.

—Me mande para o 12, vou acabar com ele antes que possa chegar até mim novamente. 

—Não é tão fácil, Peeta. Entendo que tem todos os motivos para querer fazer justiça com as próprias mãos,  mas não é algo muito inteligente. 

Suspiro levando meu pensamento a Katniss, a saudade de ver seu rosto ruge em meu peito. Apesar de todos os sinais me indicarem que a amo, parte da minha mente quer ativar o puro ódio.  

Mas, por não lembrar da primeira vez que fui telessequestrado, o amor continua vencendo. 

—Preciso proteger minha família. 

Paylor solta uma ponta de sorriso, mas logo fecha.

—Terei que adiar sua volta.

—Não, me deixe ir.

—Peeta, se Tanus te encontrar, irá terminar o que não conseguiu da última vez. 

—Só que dessa vez estarei preparado.

—Desculpa, mas não posso enviá-lo para o perigo estando ciente. Fique mais algumas horas.

Desvio o olhar, acabei de tomar um banho de água fria. As expectativas foram por água abaixo, assim como um sorriso alegre que escapava por minha boca.

—Prometo que estará la para o aniversário de sua filha.

Willow!

Esqueci completamente da data.

—Amanhã.- lembro de quando Katniss e eu fomos confirmar no livro, agora não esqueço mais.

—Então, usarei esse tempo livre.

Andarei a Capital inteira atrás de um bom presente.

                                *******                             

POV KATNISS

—Você entendeu, Bob?

—Sim, Sra. Mellark.- viro o rosto, não gostando da formalidade. Ele parece meu empregado e não gosto disso.

—Katniss.- sorrio aprovando a mudança. 

—Posso passar as 16 horas?

—Claro. Até lá está pronto. - sorrio aprovando, o bolo de Willow quase foi esquecido por mim.

Volto ao centro do Distrito, falhei ao deixar tudo para última hora. Agora estou correndo igual maluca, tentando arrumar tudo, mesmo minha cabeça estando na volta de Peeta.

A sensação de formigação no estômago é comum quando se trata dele, minha mente mudada planeja várias possibilidades para nosso reencontro. Mas as vezes deixo passar a situação mais óbvia, Peeta se manterá longe.

Paylor me deu grandes esperanças sobre o estado dele, liguei para o tal Dr. Aurélios e percebi que somos velhos conhecidos. Não lembro, mas chuto ter sido ele que me ajudou depois da guerra.

Posso não lembrar sobre aquela época, mas sinto as consequências. 

A mania de me sentir insegura, analisar bem todo o ambiente que estou em busca de perigos, a desconfiança em pessoas estranhas. 

Entro na loja de adereços vindos da Capital, provavelmente terá o que preciso. Apesar de detestar festas, estou animada para preparar, pela primeira vez, uma para minha garotinha.

Seu tema foi bem específico, mesmo com pouca idade já é decidida.

"-Quero borboletas, mamãe"

Willow é fascinada por elas. Por isso um de meus presentes será levá-la para a floresta, mesmo que seja só na borda, perto da Campina.

Effie me ajudou no possível, fez uma lista de tudo que precisarei, o que me colocou no rumo certo. Estava totalmente perdida. 

Effie ficou na parte dos convidados, por mais assustador que seja deixá-la logo com essa responsabilidade. Só Deus sabe quem a mulher chamou, apesar da minha exigência ser apenas nós. 

—Borboletas, quero tudo de borboletas.

O homem prontamente me mostra vários itens de decoração, de todas as cores possíveis. 

Sigo religiosamente a lista que Effie montou, mas acabo comprando algumas coisas a mais para enfeitar o quarto de Wi.

Ao sair me dou conta do quão rápido o tempo passou, o laranja suave colore o céu. A cor favorita dele.

Corro pra casa, terei que arrumar as coisas hoje, fora que o trem de Peeta chegará a qualquer momento depois das 18:00 horas. 

Deixo as sacolas sobre a mesa e volto pra cidade, minhas pernas doem horrivelmente. 

Sento na banco à frente do portão de desembarque, respiro fundo tentando conter a ansiedade. A expectativa joga muitas possibilidades em minha imaginação, a vontade de apertá-lo contra meu corpo só cresce.

Meus olhos nervosos insistem encarar o relógio todo segundo. Com fome e um pouco de frio, fico na estação vendo as horas passarem.

19:30.

Certo, 1 hora e meia de atraso não é tão comum.

Engulo os pensamentos ruins, temendo que algo tenha acontecido. Sacudo a cabeça cruzando os braços, aguentando firme e forte.

20:40.... 

Irritada com tamanha demora, levanto decidida a entender que droga está acontecendo. Sigo até o guichê onde as passagens são vendidas, um homem está comendo um pedaço de torta tranquilamente. 

—Hum hum.- chamo sua atenção, reprimo um riso ao dar de cara comigo. 

—Desculpa, posso ajudar?

—O trem vindo da Capital chegará que horas?

 

O funcionário rapidamente consulta um computador, franze as sobrancelhas voltando a me encarar.

—Chegou a horas. 

Droga. Peeta chegou e nem fui avisada? 

Mas esse horário eu estava em casa, deixei as coisas do aniversário e vim pra estação. 

—Tem como ver a lista de passageiros?

—Não tenho autorização para isso.

—Por favor. É urgente.- chapo as mãos a frente do vidro, mas nada do homem se abalar.

—Lamento. Volte pra casa.

Seguro uma bela e nada educada resposta. As pessoas não entendem o gosto amargo da decepção?

Fecho bem a jaqueta, pegando a estrada de volta pra casa. Paylor não pode ter me enganado. Qual o propósito? 

Depois de andar e tentar segurar minha gigantesca raiva, chego na porta de Effie e Haymitch. Pego meus filhos, agradecendo o favor que a mulher me fez.

—Onde está Peeta?

—Não sei.

Saio, não quero continuar o assunto. Quando sua expectativa é quebrada, a irritação vem com tudo. Por isso não gosto de ficar pensando muito sobre algo, parece um carma pois não acontece. 

—Mamãe, borboletas? 

—Comprei, querida. As mais bonitas. - esse universo é novidade, apesar de ter sido uma menina diferente na infância, não tive essas coisas. Minha realidade era bem diferente da que meus filhos vivem. 

É tarde, preciso fazê-los jantar e ir pra cama.

—O que vocês querem comer?

—Tia Effie já deu janta. -respiro aliviada, preparar algo decente tem sido difícil. 

—Ótimo, agora precisam ir pra cama!

—Leite.

—Vocês acabaram de comer.

Eite!- Rye protesta ao lado da irmã mais velha, rolo os olhos percebendo que será impossível fazê-los dormir sem dar um leite quente.

—Certo.- passo a mão sobre a cabeça de cada um, levando-os para a sala.

—Mamãe já vem.

Cobeita.

Os cubro, desejando que eles demorem para crescer. Não canso de imaginar o quão lindos eram quando bebês, como seria ter alguém crescendo dentro de mim, amamentar, estar no nascimento. Coisas demais que não lembro, nem do momento, nem da sensação. 

Sigo pra cozinha, despejando o jarro dentro de um canecão. Deixo uns minutos para esquentar, jogo colheres de chocolate e açúcar. Pego a mamadeira de Rye e o copo com bico de Willow, como se tornou uma mania, pingo umas gotas para sentir a temperatura. 

Volto a sala dando a eles, sento no meio colocando suas cabeças sobre meu colo. O primeiro a dormir é Rye, a mamadeira cai pro lado, escapando dos dedos sem força do menino. Wi demora, mas logo me entrega o copo e cai no sono.

Por um breve momento me encontro completa. Sinto uma grande felicidade momentânea, sorrindo sem realmente me importar em controlá-lo.

Como seres tão perfeitos saíram de mim? 

Ignorei todos os meus antigos pensamentos e criei crianças extraordinárias. 

—Mamãe ama vocês. - calmamente beijo o nariz de cada um, sentindo o cheiro de um sabonete diferente na pele deles. Com todo cuidado os levo pra cama, tomo um banho e desço pra sala. 

Ignoro o cansaço e os protestos de minhas pernas, pego uma boa fita adesiva e começo a decorar a sala. Distraio minha mente, jogo a decepção pra debaixo do tapete e penduro as borboletas, fitas e balões coloridos.

Quero que Willow acorde e se sinta feliz, afinal amanhã é o seu dia.

E Peeta não estará aqui.


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