Ao Tempo escrita por Leticiaeverllark


Capítulo 10
Gale




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787573/chapter/10

POV KATNISS

 

É evidente que há algo entre Peeta e Gale, uma rixa ou inimizade.

Seu semblante muda completamente, a boca comprime, os olhos estreitam e as sobrancelhas se unem.

 

—Quem é ele, mamãe?

 

—Um velho amigo, querida.- e o cara que fez as bombas que mataram minha irmã.

 

É inacreditável, ja que tenho em mente aquele meu amigo.

O único que eu tinha, que caçavamos juntos, sobreviviamos nos ajudando.

 

Abro o envelope pardo, tiro uma folha dobrada ao meio. A letra esculachada chama minha atenção, começo a ler.

 

"Catnip... Katniss.

 

Há anos atrás fiz algo e a consequência nos machucou profundamente. Você sabe bem do que falo.

 

Perdi coisas demais, a mais importante delas foi você.

 

Viajarei ao 12 na sexta-feira, espero que possa me encontrar no nosso lugar de sempre, na floresta ao meio dia.

 

Não consigo viver com esse peso em meus ombros, é um farto que prefiro morrer ao ter que carregar.

 

Respeito sua resposta, seja ela qual for.

 

Abraço nas crianças.

 

Gale H."

 

Peeta segura meu pulso, penso que irá tomar a carta da minha mão, mas ele somente quer atenção.

 

—Podemos conversar?- assinto, olho pros nossos filhos que piscam nos observando.

 

—Por que não vão até a casa do tio Haymitch brincar com Elisabeth?

 

—Vocês vão brigar?- nego dobrando os joelhos, a tontura volta mas ignoro olhando nos olhos de cada um.

 

—Só vamos conversar, assim que acabar vou buscar vocês.

 

Peeta abre a porta os levando ao nosso vizinho, Effie abre esbanjando um sorriso e logo recebe as crianças. Peeta troca algumas palavras antes de sorrir e voltar.

 

Engulo em seco, nunca tive uma conversa desse tipo e tenho a impressão de não ser tão amigável. Apesar que não consigo imaginar Peeta gritando ou coisa do tipo, sua voz é sempre pacata e suave.

 

Eu grito e esbravejo.

 

Sento cobrindo minhas pernas e pés gelados, fungo sentindo meu nariz arder.

O corpo pesa quando encosto as costas do sofá, o loiro senta na poltrona a minha frente.

 

—O que você e Gale tem?

 

—Somos amigos.- sua cobrança me irrita, não somos nada além de...

 

Uma gigante ponto de interrogação paira sobre minha cabeça.

Peeta e eu somos o que?

 

Casados. Pois obviamente há alianças e duas miniaturas nossas correndo por ai.

 

Mas em nossas mentes confusas e maltratadas, o que nós somos?

 

Amigos que se beijam. Cuidam um do outro. Formam uma equipe para cuidar das crianças e combater os obstáculos que aparecem todo momento.

 

Peeta é o cara que está em meus pensamentos o dia inteiro, quem espero ver ao acordar, o cara que cuida de mim sem que eu peça, que me protege, diz que ama.

 

Preciso entender que se ele me ama como diz, o ciume é dos grandes.

Ja que eu e Gale Hawthorne somos ou éramos, muito amigos.

 

—Parceiro na floresta.- o azul vai tornando cada vez mais estreito, a medida que Peeta analisa minha resposta.

—Dividíamos a caça, trocávamos pelo que precisávamos no Prego. Eu atirava e ele fazia as engenhosas armadilhas, sobreviviamos.

 

Respondo por fim, espero que tenha sido boa pois é a única que posso e tenho para dar. Qual outra ele quer?

 

Eu e Gale nunca tivemos algo amoroso, ou talvez sim nesses anos?

 

A possibilidade me deixa enjoada.

 

—Certo.

 

—Não seja ciumento.- ele sorri, levanto odiando sua risada cheia de deboche.

 

Seu corpo ergue me parando na metade do caminho.

 

—Preciso tomar meus remédios.

 

—Não acabamos de conversar.

 

—Não tenho mais nada para lhe dizer, padeiro.

É essa a verdade, você goste ou não.

Gale e eu nunca tivemos nada. Bom, não sei esses anos, mas por mim isso nunca aconteceu.

 

—E por ele?

 

—Peeta eu não consigo ler a mente de Gale!

 

—Você o conhece, Katniss.

 

—Não, eu conhecia o Gale de 18 anos, o que caçava comigo. Quem sabe como está agora?

 

—E se ele vier pedir uma chance pra você?

 

—Ele matou Primrose!- é mais doloroso dizer isso em voz alta do que pensar, a ficha não quer cair.

 

Desvio de seu corpo indo para a cozinha, mas ao chegar no batente da porta sou jogada contra a parede.

 

Tremo ao pensar que Peeta está tendo outra crise, preciso entender como flashback funciona. 

Não acredito que ele vá me machucar, não é da sua natureza.

 

—Peeta, o que está fazendo?- sussurro virando no momento que ele joga seu corpo entre o meu.

 

—Eu não quero ficar brigado com você.- pelo seu tom de voz sei que está normal, mas continuo surpresa com sua atitude inusitada e provocativa.

—Demorei anos para ficar perto de você, te conhecer melhor e me declarar. Não vou jogar tudo pela janela agora.

 

A cada pausa sua boca se aproxima da minha, acelero a respiração sentindo seu cheiro tão gostoso e calmante.

 

—Não posso te perder, caçadora.

 

Um líquido quente escorre por todo meu corpo, aquece meu coração maltratado.

Sorrio subindo as mãos até seu peito, dobro os dedos pegando o tecido grosso de sua camisa.

 

—Não vai.

 

Forço meus dedos a puxá-lo, encosto minha testa na sua quando vejo-o abrir um lindo sorriso.

Um daqueles perigosos.

 

—Não consigo mais ficar longe de você, Katniss.- ele raspa seus lábios nos meus, proporcionando oscilações por todo meu ser, fazendo meus músculos vibrarem.

 

—Não fique.

 

Me rendo ao desejo de ter suas mãos em mim, sua boca me levando a um mundo totalmente desconhecido.

Me perco nas sensações que Peeta me causa.

 

Forço minha coluna contra a parede, escorregando as mãos pra sua nuca vendo-o arrepiar e me empurrar revelando todo seu desejo por mim.

 

—Desculpa.- ele fecha os olhos ofegante, seu pescoço é meu apoio para não cair.

 

Suas bochechas estão vermelhas, está envergonhado.

Seguro seu queixo o trazendo pra mim, querendo deixar tudo bem entre nós.

 

Não sei o que estamos virando, mas para mim é ótimo.

 

—Vou tomar os remédios.

 

Peeta faz questão de pegá-los e separar com um copo de água, bebo o agradecendo.

 

—Vamos buscar as crianças?- afirmo, puxando-o pra fora de casa.

 

                             

 

Sexta - feira chegou.

 

Mais rápida que meu poder de decisão.

 

Minha gripe deu uma trégua depois dos cuidados de Peeta, só não quero ter passado para ele através dos muitos beijos que demos.

 

—Te vejo no almoço?

 

As crianças ainda dormem, acordei com Peeta se arrumando para ir a padaria.

Precisa fazer o controle do estoque, do gasto e lucro.

Trabalho do dono.

 

—Talvez.

 

Mordo a parte interna da bochecha, apreensiva com sua reação.

Suas mãos me largam, sobem para seu rosto.

 

Ele sempre faz isso quando fica nervoso, tenho tomado cuidado com isso, não sei onde vai seu limite até o lado sombrio telessequestrado.

 

—O que quer dizer?

 

O doce do olhar muda para algo sério, mas não posso dar a ele o luxo de controlar minhas decisões.

Oh não, isso nunca.

 

—Talvez eu vá a floresta.

 

—Ver Gale.

 

Piscar e dar de cara com suas costas é bem pior que qualquer resposta.

 

—Eu preciso saber o que aconteceu, porque ele matou minha irmã.

 

—Exato, ele matou ela!- esbraveja, me dando um belo susto.

 

Fecho as mãos em punho, odiando o fato de seu ciúme ser grande o bastante para me desestabilizar.

 

—Vá para a padaria e fique lá!

 

Ia subir as escadas mas suas mãos me prendem como ferro.

 

—Não saia enquanto eu não voltar.- vira antes que eu diga algo.

 

—Ei!- sua cabeça vira.- Você não manda em mim, Mellark!

 

—Se deixar as crianças sozinhas ou levá-las, teremos problemas, Katniss.

 

Peeta bate a porta antes que eu lhe grite alguma resposta.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ao Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.