Correio Elegante escrita por Sirena


Capítulo 12
Quinze, doze, vinte e um...


Notas iniciais do capítulo

Obrigada heywtl, Minnie, Isah Doll e Rafa Borges pelos comentários ♥



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Pedro veio para a casa comigo. Peguei um pacote de bolacha no armário e me sentei com ele na ponta da cama. Todas as cartas que eu recebi ao longo dos anos sobre ela e um conjunto de marca-textos no meu colo.

Não era o Pedro.

Infelizmente ou não. Não sei dizer se gostava de não ser ele, embora também não saberia responder caso me perguntassem se eu queria que fosse ele. Aquela altura do campeonato, eu apenas queria saber quem era, apenas isso. Não era pedir muito, era?

Mas, felizmente, notando minha decepção, desapontamento, raiva e desespero pelo idiota do Número Quinze não ter se dignado a ir, enquanto eu fiquei até as 17h30 esperando, o Pedro, que naquele meio tempo tinha terminado de ler o livro, resolveu me ajudar.

— Tantos anos te mandando cartas, deve ter alguma pista que você deixou passar. – ele havia dito. — Afinal, você não tava tentando descobrir quem ele era, apenas recebia, mesmo agora você só queria conversar, então não procurou nada. Agora vamos procurar.

Então, viemos para minha casa e pegamos marca-texto.

— Tá bom, essa carta foi no primeiro ano, quando você entrou. – ele falou, pegando uma folha em branco e começando a fazer uma anotação. — O que significa que é alguém que estuda com você desde a sétima série. Ele menciona que te vê entrando na sala todo o dia, então deve ser alguém da sala.

— Ok. – mordi os lábios, pegando outra carta. — Essa aqui não tem nada demais. Só fala das minhas muitas qualidades.

Ele suspirou, pegando outra. — Essa é de quando você terminou com o Renan. – ele leu, franzindo os lábios, talvez surpreso com o conteúdo, uma vez que eu nunca o deixei ler aquelas mais antigas ou talvez buscando pistas.

— Essa é uma das recentes. – falei. — Ele diz que me ouviu falando da primeira carta que me mandou. Então acho que devia sentar perto de mim na época, exceto que eu não lembro quem sentava perto de mim.

— Essa é estranha. – o Pedro observou, já com outra carta na mão e grifando o que ele tinha achado estranho antes de anotar na folha aparte. — Ele diz que a Adriana perguntou se tinha alguma carta pra te mandar.

— E dai? – perguntei. — Adriana pergunta isso para todo mundo.

— Tá, mas, nesse ano ela ainda não tinha voltado pra escola! Então, por que ela iria até ele só pra perguntar isso? – o Pedro arqueou a sobrancelha e coçou o queixo. — Foi ele quem deu a ideia de trocarem cartas pelo armário, não foi?

— Foi sim. – concordei. — Disse que já fazia isso faz tempo.

— Hum... – ele franziu os lábios, tamborilando os dedos. — Difícil, cara difícil.

— Eu sei! – exclamei jogando as mãos para o alto.

Pedro pegou as outras cartas e as analisou seriamente por longos instantes, em silencio, volta e meia grifando algo. Contive o impulso de roer as unhas, enquanto mordia minhas bolachas, a espera de um veredicto.

Ele voltou a anotar as coisas que havia grifado, observando o que tinha com atenção.

— Qual o armário que vocês usam de correio?

— P1. – respondi, sem entender. — Isso importa?

— Não faço ideia. – o Pedro suspirou, coçando o cabelo enquanto começava a escrever em ordem alfabética o nome dos garotos da sala.

Quando acabou, ele começou a riscar os que tinham entrado nos últimos anos e os que eram héteros ou estavam namorando, reduzindo drasticamente o número de nomes.

— Eu não to mandando cartas para mim mesmo. – observei, vendo que meu nome permanecia na lista.

— Ah. – ele franziu os lábios, riscando meu nome e em seguida riscou o seu próprio. — Eu não te conhecia na sétima série, então acho que podemos me eliminar da lista de suspeitos. – murmurou distraidamente, ainda analisando a lista. Uni as sobrancelhas, um pouco confuso. — Quem dos meninos normalmente recebe cartas durante o Correio Elegante?

— Além de mim? – arquei a sobrancelha. — O David, o Paulo, você, o Biel, o Edu e o Erick.

— Hum... – Pedro cortou mais alguns nomes enquanto observava a folha. — Quinze, doze, vinte e um, um e dezesseis... O que isso pode ser?

— Números de chamada? – sugeri.

— Pode ser. Quem é o numero quinze?

— A Laíssa. – respondi após repassar a lista na minha cabeça umas duas vezes. — Eu acho.

— Então não é isso. – suspirou. — Talvez... Hum... – ele hesitou, antes de começar a escrever o alfabeto em uma das partes da folha onde ainda havia espaço em meio a tantas anotações.

— O que você pensou?

Pedro não respondeu.

— O que a gente tem até agora? – insisti.

— Alguém que gosta de verde, tá na escola pelo menos desde dois mil e catorze, escreve bem, tem dificuldade em biologia, tem bom gosto pra livro, gosta de Disney, se dá bem com a Adriana, é ruim em espanhol e usa os armários da escola.

— Parece muito.

— Nem tanto. – ele bufou. — Todo mundo gosta de Disney e tem dificuldade em biologia, ninguém presta atenção na aula de espanhol então todo mundo é ruim e... É difícil achar alguém que não se dá bem com a Nana.

— Real. – suspirei. — Então alguém que tá desde dois mil e catorze, gosta de ler e usa os armários. Não é muito.

— E verde. Gosta de verde. – ele acrescentou, revirando os olhos. — E tem uma letra horrível. Qual a décima quinta letra do alfabeto?

— E eu sei lá. – bufei. — Acha que esses números são isso? Letras?

— Bom, talvez. É só uma possibilidade. – ele deu de ombros, contando as letras. — O.  A primeira letra é O.

— Quando eu entrei tinha um garoto que se chamava Oscar na sala. – lembrei. — Mas, ele repetiu. Depois foi expulso porque ameaçou matar uma garota da turma.

— Hã... Não acho que seja ele.

— E eu espero que não seja. Ele era estranho, levava uma faca pra escola e ameaçava a gente com ela.

—... Doze é L.

— O e L? Olgo? Tipo o masculino de Olga? Ou Ogro? Eu não conheço nenhum Sherek nem nada! – bufei. — Acho que você tá errado, Pedro.

— Não. – ele hesitou antes de dar de ombros. — Se for o que eu to pensando, já vi alguém da sala usando um código assim.

— Como assim? – arregalei os olhos. — O que você tá pensando?

Novamente ele não me respondeu, olhando seriamente para a folha enquanto escrevia.

— Letra U.

— Olu? – tentei. — Talvez seja um apelido. Não tinha um garoto na nossa sala que o apelido era Dengue? Vai ver Olu é alguma doença.

Pedro deu risada, mas, percebi que ele realmente parecia hesitante enquanto desvendava os números misteriosos que eu passei tanto tempo tentando descobrir o significado ao longo dos anos.

Como ele fazia isso? Como repentinamente, do nada, algo que eu levei anos para tentar falhamente resolver, o Pedro no auge de sua esperteza, desvendava em menos de dez minutos?

Ele parou, cerrando os lábios e erguendo os olhos para mim. — Você ficaria muito decepcionado se eu dissesse que realmente não sou eu?

— Pra caralho! – garanti, tentando tirar a folha da sua mão e ver quem era.

— É sério! – ele riu. — Você queria que fosse eu?

Hesitei. — Em algum momento talvez... – dei de ombros. — Agora, sei lá. Não que eu iria reclamar se você trancasse aquela porta e me agarrasse, mas... Agora, eu só quero esse garoto, não me importa quem sea, digo seja.

— Hum...

— Você queria ter escrito? – perguntei, observando sua expressão.

— Hum... Não. Não é minha cara. - ele resmungou, voltando sua atenção para a folha e dando um longo suspiro.

— Não mesmo. - concordei. — Por isso nunca achei que fosse você. Tu é atirado demais pra fazer algo assim.

Pedro deu risada. — Óbvio, pra que perder tempo? Embora, eu também não me importaria nada em trancar aquela porta e te agarrar.

Abri e fechei a boca umas duas vezes, tentando processar o que ele tinha falado. Mas, acho que meu cérebro deu erro.

— É o que, garoto?

Ele sacudiu a cabeça, rindo da minha cara.

— Idiota! - gritei, percebendo que ele estava brincando.

— O que posso fazer? Você nunca foi lá muito discreto!

—... Você... É... - eu não sabia o que dizer. — Tipo, como...

Ele jogou a cabeça pra trás, gargalhando. — Eu só to tirando com a sua cara!

— Você é muito cruel. - bufei, revirando os olhos. —... Por que você tava na praça?

— Tem uma garota que senta do outro lado da caixa de areia que tá lendo um livro desse cara e sempre que ela me vê lendo, me pergunta em que parte eu to. E ela... Não é que ela é linda, a Gabi mesmo é tipo mil vezes mais linda que ela, mas... Ela tem uma presença que... É simplesmente impossível não notar quando ela está perto e a voz dela é maravilhosa!

— E vocês tão se pegando? - adivinhei, analisando a expressão em seu rosto. Os olhos brilhantes e bochechas coradas.

— Hum... As vezes. Mas, normalmente o que mais acontece é que ela senta pra ler comigo e a gente fica tipo dublando os personagens. - ele deu risada. 

— Ela não foi lá hoje. - observei.

— Quando eu cheguei na praça, vi que ela tinha mandado mensagem falando que tava doente e não poderia ir. Fiquei triste, mas, como eu já tinha gastado a passagem mesmo pensei "é ler e pegar vitamina D."

— Justo. Qual o nome dela?

— Ana. - ele respondeu, sorrindo igual o palhaço que era. — Ela é legal. Acho que vou chamá-la para ser meu par na festa junina ou algo assim.

—A gente casa vocês dois na quadrilha. - falei. Paulo revirou os olhos e me empurrou, mas estava rindo. — Agora, me diz logo quem é! - tentei soar autoritário, apontando para a folha em sua mão, embora também estivesse dando risada.

— Ok, ok. Suas letras são O-L-U-A-P. Eu tava certo.

— Eu ainda não entendi. – suspirei.

— Tá de trás pra frente. – Pedro explicou. — Os números são letras do alfabeto, mas, o nome tá de trás pra frente.

— OLUAP... – franzi os lábios tentando desvendar o nome na minha cabeça. — P... Pa... – arregalei os olhos. — Paulo?

— Foi ele que me ensinou esse código. – Pedro murmurou. — Ele usava pra xingar os professores na parte de trás do caderno. Quando eu perguntei o que era, ele explicou.

— O Paulo? – franzi a testa, tremendo.

— E foi ele quem me emprestou esse livro. – acrescentou levantando o livro do Rick Riordan que estava lendo quando o encontrei.

— Cala a boca, que eu ainda to processando! – bufei. — Ai, minha pressão caiu! O Paulo... Nosso Paulo, irmão da... – fechei os olhos.

É claro.

Quão fácil devia ser mandar cartas anônimas quando se é cunhado de uma das garotas que entrega as cartas e irmão da outra?


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