Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 8
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787448/chapter/8

— O que foi aquilo tudo? — Montgomery deu voz a pergunta que estava martelando em sua cabeça desde o confronto de horas antes. Embora descobrir a existência do mundo mágico tenha sido fascinante, assim como foi fascinante conhecer o Beco Diagonal, desde o momento em que ele pisou naquele lugar, todos os seus sentidos gritaram para ele ficar constantemente alerta. E a pior coisa que existia era ficar alerta por horas a fio. Montgomery já sentia uma enxaqueca fruto da tensão brotando por detrás do seu olho direito, porque aquele lugar ao mesmo tempo em que era mágico, literalmente, era um risco. Todos ali eram uma ameaça da qual Montgomery não fazia ideia se os seus anos na Marinha Real Britânica seriam capazes de lhe oferecer a reação certa no momento certo. A tensão era tanta que ele sacou a arma ao invés de somente desarmar aquele homem. Um segurança digno não sacava a arma exceto em casos extremos, mas no momento em que aquele menino puxou Dallas para fora de sua zona de segurança e o pai dele lhe apontou a varinha, Montgomery foi transportado de volta os seus anos não mencionados no MI-6 e todas as missões de alto risco que viveu. A agência de espionagem não era bem algo que ele orgulhava-se de colocar no currículo, e muito menos era aquela coisa glamourosa descrita nos livros e filmes de James Bond. Não havia supervilões e tanto sangue envolvido, somente estresse e garantia de muitos traumas se você não soubesse desassociar trabalho de vida pessoal. 

Pelo espelho retrovisor, Montgomery viu Dallas dar de ombros. 

Montgomery não se casou, ou teve filhos, quando a oportunidade de servir aos Winford surgiu, oferecida da boca de um antigo amigo e também ex-agente, ele a agarrou com unhas e dentes. Servir de motorista e segurança de uma família rica era o oposto do que ele tinha vivido até aquele momento, era garantia de paz e a cessão de seus pesadelos, e ele recebeu esta oportunidade de braços abertos. Quando foi informado de que seria segurança pessoal de Amélia Winford, sentiu-se honrado. Mas mais honrado sentiu-se quando Amélia colocou uma Dallas recém nascida em seus braços e o ordenou que a guardasse com a sua própria vida. 

Montgomery sabia que não tinha nenhuma autoridade sobre Dallas. Na hierarquia da Mansão Winford, ele era apenas mais um criado dentre tantos, mas inconscientemente assumiu para si, ao lado de Clarisse, uma pequena parcela de responsabilidade na educação dela. Albert não era homem o suficiente para assumir os seus erros e preferia continuar a dividir o seu tempo entre fazer a fortuna da família ficar ainda maior e as dezenas de amantes. Ao menos agora ele tinha ficado mais inteligente e fizera uma vasectomia para garantir que novas Dallas não aparecessem. Amélia, apesar de sua indiferença e dureza, claramente favorecia Dallas, mas recusava-se a demonstrar qualquer tipo de afeto de forma mais explícita. Às vezes Montgomery não estava certo se a matriarca realmente amava a neta porque Dallas era sim a neta de sangue dela ou se favorecia Dallas em relação aos gêmeos para irritar Meredith. 

Meredith e os gêmeos? Estes não mereciam nem ao menos um pingo da consideração de Montgomery. A personalidade deles era fácil de traçar e Montgomery já sabia no que Samantha e Nicholas iriam se tornar no futuro: dois adultos mimados e que não aguentariam o tranco do mundo real porque cresceram achando que este deveria dobrar-se às suas vontades, e não o contrário. 

Dallas deu de ombros como resposta a sua pergunta. Desde que voltou de Hogwarts havia uma nova camada de petulância e indiferença a rodeando. 

— Qual parte? — só houve dois grandes acontecimentos naquele dia para chamar a atenção de Mongotmery. O modo como ela fez Harry Potter de otário e agora sentia-se levemente culpada sobre isto, embora jamais fosse admitir. Potter, tecnicamente, nunca lhe fez nada para receber o tratamento padrão dos Winford reservado a pessoas que estavam bem abaixo de seu nível. O outro acontecimento foi o lapso de sanidade de Draco. 

— O menino que a segurou. Por que ele fez isto? — Dallas novamente deu de ombros. 

— Sei lá. Sabe-se lá o que se passa na cabeça vazia de Draco Malfoy.

— Malfoy? — o nome era estranhamente familiar, mas Montgomery não lembrava exatamente de onde já o tinha ouvido. 

O restante da viagem seguiu em silêncio, assim como Agosto seguiu em silêncio. Meredith e os gêmeos foram passar o resto das férias de verão em um cruzeiro pelas ilhas gregas. Meredith queria aproveitar o último mês em que estaria na presença constante dos filhos, antes deles irem para o tradicional internato que serviu de base educacional para os herdeiros de grandes fortunas britânicas por gerações. Dallas também teria ido para lá se não tivesse recebido o convite para frequentar o internato de meninas na França e, depois, a carta de Hogwarts que surpreendentemente chegou um ano antes do esperado. 

Primeiro de Setembro amanheceu nublado e com a temperatura abaixo da média. Dallas entrou no Expresso logo após entregar as suas malas para o despachante e quando encontrou Patrick em uma das cabines, prontamente deu um chute na canela dele antes de acomodar-se na poltrona oposta onde o garoto estava.

— Está maluca? — Patrick resmungou enquanto esfregava a canela ferida. 

— Como você ousa rir da minha desgraça? — Dallas resmungou e os grandes olhos castanhos de Patrick piscaram uma, duas, três vezes antes dele cair na gargalhada. Nunca, mas nunca que imaginaria Dallas Winford fazendo bico, e a cena não era adorável? As bochechas dela estavam infladas e rosadas e os lábios contorcidos em um muxoxo. 

— Nossa, você passou as férias com tutores e socando um saco de areia. Sabe como eu passei as minhas férias? Com a minha tia-avó Judith apertando as minhas bochechas e repetindo até o cansaço o quão adorável eu era. Sabe quantos anos ela tem? Noventa e cinco. Sabe quantos anos mentalmente ela tem? Quinze. Porque esta é a única justificativa para querer usar short cavado e biquíni para tomar banho de sol no quintal. Ou ela faz isto para nos aterrorizar ou já passou do estágio de senil e está em profunda loucura. — agora foi a vez de Dallas piscar repetidamente antes de cair na gargalhada. Imaginar a cena era hilário e se Patrick fez aquela mesma cara de profundo nojo ao ver a tia-avó de biquíni, era realmente um acontecimento de chorar de rir. 

A porta da cabine abriu poucos minutos após a partida do trem da plataforma 9 ¾ e Draco entrou acompanhado de suas fiéis sombras, Crabbe e Goyle, e parou ao lado de Dallas que desviou o olhar do jogo de cartas bruxo que Patrick a ensinava jogar, para o colega de casa.

— Pois não? — ela perguntou com toda a falsa polidez que lhe era característica, ainda mais que o rosto de Draco estava torcido como se ele tivesse chupado um limão e comido jiló logo em seguida. 

Draco inspirou profundamente e sentou ao lado de Dallas.

— Eu queria pedir desculpas pelo incidente no Beco Diagonal. 

— Verdade? — Dallas questionou, porque a cara de Draco era de quem que estava tendo as entranhas reviradas por uma faca quente diante da possibilidade de pedir desculpas à alguém. 

— Sim. — Draco disse entre dentes.

Pedir desculpas não era algo digno de um Malfoy, exceto quando o seu pai exigia que Draco fizeste isto. Lucius havia questionado o porquê da reação de Draco e quem era aquela garota, e após o filho explicar toda a história sobre quem era Dallas Winford e como ela desvirtuava os preceitos sonserinos, obteve como resposta do pai um torcer de lábios que mostrava que Lucius o estava julgando e o condenando pelos seus atos. 

“Eu conheço os Winford, de nome e de alguns poucos negócios que a nossa família fez com eles.” Draco ficou chocado ao saber que Lucius já fez negócios com trouxas e ao ver a expressão do filho, ele complementou:

“Possuir alguns contatos poderosos às vezes é mais importante do que barreiras de sangue. E os Winford são um contato poderoso, não contrarie a herdeira que todos sabem que apesar de sua origem não convencional, é a favorita da matriarca da família. Então, você vai pedir desculpas à ela e oferecer a sua aliança.” 

— Eu agi de forma inapropriada e impulsiva, me desculpe. — Dallas olhou longamente para Draco, não havia falsidade no pedido dele, mas estava claro que este não estava sendo feito pela grandeza de seu coração. Algo em troca ele queria. — Amigos? — Draco estendeu uma mão para ela e Dallas hesitou por alguns segundos antes de recebê-la. 

— Não pra tanto, mas quem sabe um dia. — ela ofereceu em resposta e para Draco já era o suficiente. Não queria exatamente ser amigo de uma sangue-ruim, mas o seu pai praticamente o obrigou a criar conexões e era isto o que estava fazendo. 

Draco soltou a mão de Dallas quando considerou o contato prolongado demais para o seu gosto. Aliás, compartilhar o mesmo ambiente com ela estava sendo prolongando demais para o seu gosto. Algo no olhar de Dallas dava-lhe nos nervos. Era intenso e hipnotizador e o fazia ficar desconfortável, porque a sensação que tinha era que com um único olhar ela estava desvendando os seus segredos mais podres. Com um pulo, Draco deixou o sofá que fazia parte da cabine e partiu sem nenhuma frase de despedida e praticamente batendo a porta à suas costas. 

— O que foi isto? — Patrick perguntou após a partida do trio sonserino. — Você está formando alianças com Draco Malfoy? — havia um tom julgador na voz de Patrick, o tom padrão que todos usavam quando referiam-se a alunos da Sonserina. Todos eram propensos bruxos das trevas. Para Patrick, Dallas era a exceção porque ela era uma nascida trouxa, por isso ele ainda permitia a aproximação de ambos, por isso os corvinais não protestavam muito quando ela sentava-de à mesa deles quando estava cansada do papo fútil de seus colegas de casa. Porque Dallas não era inocente, ela sabia que Patrick deu razões concretas para os corvinais aceitá-la na mesa deles, e a maior das razões provavelmente foi que ela era uma nascida-trouxa entre as serpentes. Com certeza a maioria dos corvinais deveriam sentir pena enquanto a outra parte apenas dignavam à ela a indiferença, e Dallas não fez questão de corrigir Patrick, lhe dizer que tinha grandes suspeitas de que a sua mãe era uma bruxa e que a família dela só pertenceu à Sonserina, segundo o Chapéu Seletor. 

— Não. — justificou-se com um toque de má vontade. Nunca foi adepta em explicar os seus atos à ninguém. — Eu estou evitando que Malfoy me chame de sangue-ruim por um ano inteiro. — Patrick sobressaltou-se ao ouvir a ofensa sair da boca dela e Dallas rolou os olhos. 

— Você precisa contar para um professor sobre isto, Dallas! — Patrick era um doce, mas claramente superprotegido se não sabia como este universo funcionava. Contar a um professor não adiantaria de nada, ainda mais para Snape que preferia manter os conflitos internos de sua casa dentro de sua casa. Além do mais, Malfoy sabia que ela era uma mestiça e somente a chamava de sangue-ruim para irritá-la, ou tentar irritá-la. Dallas aprendeu cedo a ignorá-lo, ainda mais quando ele era o único na Sonserina que insistia em usar este tipo de ofensa como provocação. 

— Está tudo bem. — Dallas recostou no assento e recolheu as cartas que havia largado mais cedo sobre o colo, com a chegada de Malfoy. — Eu sei lidar com pessoas como Malfoy. — declarou e percebeu que Patrick queria dizer mais alguma coisa, insistir que ela deveria denunciar Malfoy a um adulto, mas o alto apito do trem, os pegando de surpresa, calou as suas palavras seguintes. O barulho foi agudo e ensurdecedor e foi seguido por um rebuliço que soou por todo o trem, com alunos falando alto e o som de janelas deslizando em seus suportes ao serem abertas com violência. 

— O que está acontecendo? — Patrick largou as suas cartas e também abriu a janela, colocando a parte superior do corpo para a fora. Olhou para cima, para os lados, para baixo, e então retornou para dentro da cabine. 

— O que foi? — Dallas perguntou e Patrick respondeu com um dar de ombros e fechou a janela. Ele não tinha visto nada demais. 

A dupla descobriu o que houve naquele momento em que o Expresso de Hogwarts apitou sem aviso quando chegaram na escola e a fofoca da vez que corria por entre as mesas era que um carro voador foi visto circulando o trem, alguém quase caiu do veículo, mas este estava alto demais para ver quem dirigia e quem quase caiu. Mas a resposta veio no dia seguinte com um berrador que fez Weasley ficar tão branco que os suas sardas destacaram-se em sua pele como um pisca-pisca de Natal. Aparentemente quem esteve no carro foram Weasley e Potter e esta viagem não foi exatamente uma viagem autorizada. 

— Hunf! Potter de novo, sempre se achando bom demais para andar no Expresso com os outros pobres mortais. — Draco resmungou ao lado dela, no tom de despeito de sempre, e os seus outros colegas nem mais abalavam-se com as reclamações do garoto. 

O berrador terminou de gritar e virou picadinho, literalmente. O restante do café-da-manhã seguiu de forma tensa, com relances sendo dados para a mesa da Grifinória até que o horário da primeira classe chegasse. Defesa Contra As Artes Das Trevas, uma matéria da qual Dallas não era muito fã, não pelo seu conteúdo, mas pelos seus professores. Ou melhor, professor. Quirrell, no ano anterior, era uma negação para o assunto, sempre a fazendo questionar como um sujeito que tinha medo da própria sombra acabou como professor de DCAT. E, aparentemente, este ano não seria diferente. 

Quando Lockhart entrou na sala, empinado como um pavão e as suas vestes farfalhando às suas costas, Dallas engoliu um grunhido. Ao seu redor meninas suspiraram diante do sorriso branco e brilhante que o professor deu e toda a uma hora e meia de aula foi gasta com o homem falando sobre o seu último livro e quais aventuras ele viveu para escrever aquela obra prima. Aliás, agora que Dallas reparava, a bibliografia da classe naquele ano eram só livros de Lockhart. 

— Misericórdia. Acho que o meu QI caiu cinco pontos. — ela resmungou para si mesma enquanto o som da voz de Lockhart ecoando pela sala conseguia abafar qualquer barulho, até mesmo os pensamentos dela. O homem gostava de ouvir-se falar. Ao seu lado, alguém riu. Harry Potter riu, na verdade, depois de ouvi-la falar. Ela arqueou uma sobrancelha para o garoto e esperou a reação padrão dele diante de sua mirada intensa e julgadora, esperou o rubor surgir nas bochechas pálidas, mas ele apenas respondeu também com um arquear de suas sobrancelhas negras e Dallas deu um discreto sorriso de canto de boca para ele. Como a sua avó dizia: “olha só em quem está brotando culhões”. 

Por fim o sinal de fim de classe soou, para a completa felicidade de Dallas que deixou tão rápido a sua mesa que a cadeira ainda ficou balançando alguns segundos diante do movimento brusco. A meio caminho da aula de História da Magia, que seria fascinante se o professor não estivesse tentando matá-los de tédio e assim ter alguém para fazer-lhe companhia no pós-morte, Dallas encontrou-se com Patrick que fez uma careta condoída ao ver a expressão expressão dela. 

— Lockhart? — perguntou o garoto ao emparelhar com ela e irem a passos comedidos na direção da classe de História da Magia. 

— Como adivinhou?

— A sua cara de quem quer lançar uma imperdoável em si mesma a denunciou. Foi a mesma cara que eu e meus colegas fizemos quando tivemos aula dele. Bem… eu e a maioria dos meus colegas. As meninas da minha classe não fizeram essa cara.

— As meninas da minha também não. Eu sou a exceção. O que exatamente elas viram naquele cara? 

— Bem… — Patrick hesitou. — ele tem os seus atributos. — completou com um abaixar do rosto para esconder o rubor. Dallas achou a reação estranha, mas não questionou o amigo, apenas arquivou aquela informação para ser indagada uma outra hora. 

— Sim, ele é charmoso e tem os seus atrativos. Mas dois minutos com ele falando e senti-me emburrecer um pouco. — Patrick riu quando entraram na sala e acomodaram-se às mesas no fundo da classe. Binns já esperava, flutuando junto à sua mesa de trabalho, e quando o último aluno entrou, abriu a boca para discorrer de forma monocórdia e arrastada sobre a revolução dos Goblins de 1465. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Extremos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.