Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 46
Capítulo 45




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O sexo não mudou o status quo da relação de Dallas e Harry, apenas criou uma intimidade maior entre eles. Fora isto, a programação seguiu o seu curso normal, com Dallas enlouquecendo Harry e Harry frustrado com Dallas. Era uma situação complexa, intercalada por momentos de carinho e afagos e demonstrações silenciosas de afeto vindas de gestos mínimos, com brigas e discussões e confronto de gênios e teimosia de ambas as partes. Era estressante e gratificante ao mesmo tempo e somente nas últimas duas semanas eles terminaram e reataram o namoro repetidas vezes. 

— Harry, isto não é saudável. — Hermione comentou mais uma vez quando Harry retornou para a sala comunal da Grifinória soltando fogo pelas ventas, após mais uma discussão com Dallas.

Harry deu de ombros e seguiu direto para o dormitório. Não adiantava explicar-se para Hermione, não queria mais explicar-se para Hermione. Ela não iria entender mesmo. Qual fosse a relação da amiga com Ron, era bem diferente do que ele tinha com Dallas e ela não podia usar isto como base para todos os relacionamentos da Terra. E o que ele tinha com Dallas também era difícil de explicar. Era gratificante e sufocante ao mesmo tempo, tinha horas que ele queria mandar a namorada para os quintos dos Infernos, outra hora queria beijá-la até tirar-lhe o ar, e Hagrid riu quando o ouviu descrever de forma intensa e acalorada o que sentia. Precisava desabafar com alguém e os amigos já estavam de saco cheio de ouvir sobre o assunto.

— Isto é o amor, Harry. Com os seus pais não foi muito diferente. Viviam em um arranca rabo de terminar e reatar o namoro a cada semana, e veja como eles terminaram, casados. Ninguém esperava por isto, mas aconteceu. — Harry sentiu-se um pouquinho melhor ao saber que o seu namoro não era tão anormal assim quanto todos achavam ser e que agora tinha mais isto em comum com os seus pais. 

Para Patrick, tudo parecia uma grande e mal escrita comédia grega. 

— Eu sei que você é apaixonada pelo Harry, eu presenciei vocês dois por anos nessa valsa nauseante de trocas de olhares e carícias discretas, mas precisa torturar o pobre assim? — Dallas suspirou longamente diante da crítica do amigo. 

— Não é como se eu estivesse fazendo isto de propósito. — Patrick piscou repetidamente. 

— Como?

— Não é como se eu quisesse arrumar qualquer pequeno motivo para discutir com Potter. Apenas não consigo evitar. É uma coisa veela 

— Coisa veela?

— Eu mandei uma carta para grand-mère perguntando sobre isto, porque não pode ser normal, não é mesmo? Os nossos arranca-rabos constantes, e ela me disse que é o meu lado veela testando a qualidade do parceiro. 

— Como é?! — Dallas suspirou novamente, de forma sofrida. 

— Potter é imune ao Encanto, mas para a veela dentro de mim, isto não é o suficiente. Ela quer ter certeza que Potter é para valer, que não está comigo só por causa dos meus lindos olhos azuis. 

— Você está testando se Harry é um parceiro à altura? Na verdade isto tudo é uma dança do acasalamento para as veelas? — Patrick atestou e então começou a rir. — E qual é o veredicto?

— Ainda não tenho um. Grand-mère falou que quando a veela se der por satisfeita, as coisas vão melhorar. 

— Vão mesmo? — porque Dallas não deixaria de ser geniosa só porque o seu lado veela aprovou Harry para parceiro. — E faz ideia de como é estranho ouvi-la referir-se a si mesma como duas pessoas diferentes? Você é uma veela, não está possuída por uma. 

— Cala a boca!

E as coisas melhoraram na semana seguinte. Harry e Dallas eram amor puro um com o outro até o fatídico incidente no banheiro da Murta-Que-Geme, onde Harry teve a infelicidade de usar contra Malfoy um feitiço que ele não sabia o que fazia. Em desespero, dois pensamentos somente passaram pela cabeça de Harry enquanto via Malfoy sangrando de forma nauseante no chão do banheiro: 

Primeiro, ele tinha que livrar-se do livro do Príncipe Mestiço.

Segundo, ele precisava ser o primeiro a contar para Dallas o que tinha acontecido, antes que a rede de fofocas de Hogwarts entrasse em ação e a história chegasse aos ouvidos dela de forma distorcida.

— Você o quê?! — a voz de Dallas havia ganhado um tom melódico e quase sedutor com os anos, uma característica veela que Hermione achava fascinante, mas desta vez o que saiu da boca dela foi um guincho ultrajado que lembrou à Harry o grito das harpias nas quais as veelas da Copa Mundial de Quadribol se transformaram. Segundo Dallas, somente veelas puras tinham o poder de transformar-se na ave, mas o modo como ela o mirava com fúria completa e os olhos brilhando em um profundo tom de violeta, o fez pensar que talvez meio veelas fossem capaz do feito também, Dallas só não tinha descoberto isto ainda. 

— Foi um acidente. — e isto foi a coisa mais errada a se dizer.

— Acidente?! Acidente, Potter, é você esbarrar em um caldeirão e derrubar uma poção quente sobre o colega. Usar um feitiço desconhecido em alguém não é acidente, é burrice ! — Harry encolheu os ombros diante da reprimenda.

— Eu sei, eu sei! Mas Malfoy está bem, Snape o curou!

— Ah, e isto faz tudo voltar aos seus eixos, não? Draco foi curado, então por que devo me preocupar? 

— Okay, isto não teria acontecido se você me dissesse o que ele está tramando! — outra coisa erradíssima a se dizer. Os olhos de Dallas escureceram tanto que estavam quase negros de ódio.

— Você é um completo babaca, Potter! — ela deixou a Sala Precisa com um bater estrondoso da porta. 

— Peça desculpas. Implore por perdão de joelhos, se for preciso. — Hermione disse em um tom duro quando Harry contou à ela e Ron sobre o incidente no banheiro e a detenção dada por Snape. 

— Por quê? — Ron protestou em favor do amigo. — Harry está certo, se Winford tivesse contado antes o que Malfoy está tramando…

— Ronald! Isto não vem ao caso. Além do mais, achei que tínhamos concordado que Malfoy não é nosso problema. — Hermione o cortou de forma feroz. Mas implorar por perdão à Dallas não seria um trabalho muito fácil, Harry sabia disto. 

Por outro lado, apesar de ter quase sido cortado ao meio, Draco parecia bem recuperado do ataque violento que sofreu. Os seus gritos indignados ecoavam pelas paredes de pedra da Ala Hospitalar e Madame Pomfrey só não havia dado um ataque junto com ele porque no momento encontrava-se fora do recinto. Dallas, por outro lado, era quem sofria com a contrariedade do irmão que estava testando o limiar de sua pouca paciência. 

— O seu namorado é um cretino! — Draco finalizou, ainda afogado em pura indignação. Dallas rolou os olhos.

— Estou ciente, mas você também tem culpa no cartório com as suas atitudes suspeitas, como se estivesse tramando algo ilegal. Ah! — ela estalou os dedos em um momento " eureka ". — Verdade, você está tramando algo ilegal. — ele abaixou o tom de voz. — Matar o diretor, por exemplo. — Draco ficou branco como cera de vela, mas Dallas suspeitava que a palidez não era causada por pavor, mas sim absoluto ódio. 

— Por que não fala mais alto, acho que não te ouviram… no Uruguai ! — Draco disse em um sibilo enfurecido. 

— Acho fofo o fato de você se iludir achando que o diretor realmente não sabe o que você planeja.

— E ele não sabe 

— Draco, você tem duas tentativas óbvias e fracassadas em suas costas, confie em mim, ele sabe.

— Confie em mim, ele não sabe . — Draco enfatizou de tal maneira que naquele momento Dallas percebeu que havia mais caroço naquele caldo. 

— O que exatamente ele não sabe? O que realmente você está aprontando? — Draco suspirou e recostou na cama, fechando os olhos.

— Eu estou cansado. Tem como voltar amanhã? — desconversou. 

— Draco! — mas ele ignorou Dallas veementemente em favor de fingir que estava dormindo. 

Dallas queria brigar, realmente queria, mas quanto mais o tempo passava, mais ela percebia em como Draco e ela eram parecidos no quesito teimosia. E o que mais a frustrava era que o tempo também passava e ela não conseguia arrumar uma forma de ajudar o irmão, ela estava falhando na missão que lhe foi dada por Narcissa  

O seu olhar foi para o braço coberto de Draco, o braço que ela sabia estar a marca negra e que ele agora nunca expunha em público. 

— Já pensou que talvez te salvando consigamos ajudar Narcissa? — a mãe deles era uma Black, família tradicional e poderosíssima no mundo mágico, era impossível que Narcissa não conseguiria fugir do Lorde das Trevas se assim quisesse. Talvez a razão porque ela permitia-se ser mantida em cativeiro era por causa de Draco, para garantir a segurança de Draco. 

— E como você propõe fazer isto? — Draco desistiu de fingir que estava dormindo e voltou o olhar para Dallas. 

— Eu posso falar com grand-mère, ela pode ajudar a te esconder… — a risada debochada dele cortou a sugestão de Dallas.

— Esta maldita marca… — Draco falou com puro nojo permeando a sua voz. — não é apenas uma tatuagem horrorosa em meu braço, tem magia negra entranhada nela, magia negra que entranhou-se em mim. Mesmo que eu arranque o meu braço fora, ele ainda será capaz de me localizar, mesmo sob milhares de barreiras de proteção, meu único jeito de escapar dele é se um de nós dois morrer. E sabe o que é mais aterrorizante? Quando Potter lançou aquele feitiço em mim, eu realmente desejei morrer naquele momento, quase pedi para Snape não me ajudar, porque ao menos com Potter a minha morte seria rápida. O Lorde das Trevas não terá esta mesma cortesia. 

— Draco… — Dallas disse com pesar. Sempre torceu para o dia em que Draco finalmente amadurecesse, porque já estava de saco cheio do pedantismo do garoto e ter que colocar algum bom senso na cabeça dura dele na marra, mas jamais quis que as suas previsões fossem concretizadas: que o amadurecimento de Draco viesse em um momento em que ele se encontrasse em profundo desespero e sem nenhuma opção de saída.

— Não, não me dê a sua pena. — ele falou com amargura e os ombros arriados de cansaço. — Apenas me deixe dormir para ver se este dia miserável termina mais rápido. 

Dallas suspirou e deixou a enfermaria em silêncio, rumo a sua sala comunal, ou ao menos esta era a sua intenção antes de ser abordada no meio do caminho por Dumbledore. 

— Ah, Dallas! — o diretor a chamou com uma intimidade como se eles fossem amigos de longa data. — Justamente quem eu procurava. — Dallas repassou pela mente uma lista do que fez nas últimas semanas e se alguma coisa foi digna de requerer a intervenção direta do diretor da escola. Até onde ela sabia, não tinha nada, era inocente até que provassem o contrário. — Lá estava eu, revisando alguns antigos manuscritos de minha juventude, leis que eu sugeri para implementar a segurança da comunidade mágica, e deparei-me com um volume usado em minhas consultas e o qual tenho a certeza de que será de seu interesse. — Dumbledore estendeu à ela um livro de capa surrada e escura, onde mal dava-se para a ler o título em letras douradas. Era alguma coisa das leis mágicas … suas fraquezas … fortes. 

— Obrigada? — Dallas disse ao recolher o livro, porque o que mais ela diria quando o diretor surtava, a abordava do nada no meio do corredor e lhe dava como presente um livro tão velho que tinha cara de ter sido impresso pelo próprio Gutenberg? Pois é. 

— Vai ver ele quer te conhecer, como um pai querendo conhecer a namorada do filho. Harry ainda é o favorito dele. — Patrick comentou no dia seguinte quando Dallas relatou à ele o ocorrido. 

— Nada do que Dumbledore faz é sem razão. Ele não seria temido por Você-Sabe-Quem se fosse um sujeito de intenções tão inofensivas assim. — Dallas explicou enquanto girava o livro nas mãos, o observando. Havia ido procurar refúgio na biblioteca e arrastou Patrick consigo porque Potter insistia em pedir desculpas e ela não estava com humor para lidar com a cara de cão arrependido dele. Esta era de cortar o coração e Dallas não queria amolecer tão cedo diante das chantagens emocionais de Potter.

Patrick tirou o livro das mãos dela e começou a folheá-lo. 

— Ou talvez ele esteja te dando uma pista. — ele abriu em uma página cuja ponta estava curiosamente dobrada, como se estivesse marcando a passagem. Era um texto sobre o feitiço de maioridade, a sua concepção, a sua função, os seus pontos fortes mas, principalmente, os seus pontos fracos. 

— Está querendo me dizer que Dumbledore está indiretamente me dizendo que eu devo violar o Feitiço da Maioridade? Só tem um porém. — ela pontuou após uma rápida lida do conteúdo da página e apontou uma passagem em particular. — Eu preciso de um bruxo maior de idade para executar o contra feitiço e não acredito que alguém esteja disposto a burlar as leis mágicas desta maneira. 

— Eu faço dezessete anos agora no final de Abril.

— Patrick. — Dallas soltou em tom de aviso.

— Não, Dallas, o momento é propício, perfeito. Você-Sabe-Quem está cada vez mais alçando-se ao poder, o Ministério da Magia é com certeza o alvo dele e você entrou no radar dele com a sua fuga ousada da Mansão Malfoy. Se você ainda tiver este rastreador em você por causa da sua idade, não conseguirá esconder-se dele quando for preciso. Hogwarts têm feitiços que impedem o Ministério de detectar magia praticada por menores, ou senão o alarme deles de violação das leis mágicas ficaria soando toda hora. Então este é o momento perfeito de burlar o Feitiço de Maioridade. O Ministério não saberá que este foi quebrado porque as barreiras de Hogwarts irão nos proteger.

— E você está disposto a fazer isto? A fazer algo ilegal desta maneira? 

— Dallas, estamos em guerra, não venha me dar lição de moral porque moral no momento é a última coisa que precisamos usar neste cenário. 

— Ok. — Dallas concordou, porque o argumento de Patrick era válido. Portanto, no dia 26 de Abril, um dia após o aniversário de dezessete anos de Patrick, eles encontraram-se na Sala Precisa onde o corvinal lançou os contra feitiços necessários para encerrar o monitoramento do Ministério sobre Dallas.

— Como vamos saber se funcionou? — Dallas perguntou, porque, tecnicamente, não sentia-se diferente. 

— Não vamos. Não até você executar algum feitiço fora das paredes de Hogwarts. Ou…

— Ou o quê? — Patrick deu um sorriso de canto de boca que Dallas conhecia bem. Era o sorriso que ele dava quando estava pensando em uma enorme traquinagem. O sorriso foi o aviso de que, no dia seguinte, ela beberia uma poção Polissuco surrupiada de Slughorn e, transformada em Patrick, foi para as aulas de aparatação do Ministério. 

— O Ministério teve que desfazer as barreiras de Hogwarts no Salão Principal para as aulas, o que significa que qualquer magia feita por menor de idade no salão será configurada como magia fora dos terrenos de Hogwarts. Você pode estar parecendo comigo, mas a sua assinatura mágica não. 

— E os funcionários do Ministério não notarão que a minha assinatura mágica não casa com o que eles têm registrado de Patrick Gordon?

— Não, porque eu já tenho dezessete anos. Não tenho mais monitoramento. E não é como se eles fossem ficar fiscalizando para o caso de aparecer um aluno sob o efeito da poção Polissuco e que acabou de quebrar o Feitiço da Maioridade. — ainda sim, Dallas entrou no salão com extrema cautela. Ser Patrick era uma sensação estranha, começando pelas partes extras em lugares em que ela não estava acostumada a ter partes extras, terminando pelos olhares coquetes que recebia de algumas colegas. Quando o instrutor os posicionou, explicou mais uma vez para eles o que era preciso para aparatar, Dallas fechou os olhos, respirou fundo, concentrou-se e ouviu o estalo do espaço sendo cortado pela magia e o seu corpo era espremido de forma enjoativa pela fenda criada até que, quando abriu novamente os olhos, estava dentro do círculo e surpreendentemente com todos os membros atrelados ao seu corpo. E mais surpreendente ainda, após alguns minutos combatendo o enjôo e tontura que a primeira aparatação causava, ela notou que ninguém fazia alvoroço, que não tinha alarmes soando ou Aurores pipocando dentro do salão querendo saber quem era o menor de idade usando magia sem permissão. 

Duas horas depois Dallas tinha voltado a ser ela mesma, tinha aprendido a aparatar e confirmou com sucesso que agora estava fora do radar do Ministério da Magia. 

A felicidade de Dallas diante desta conquista sumiu uma semana depois. Uma semana sem ver a sombra de Potter pelos corredores porque ele estava ocupado demais com aulas de Oclumência com o diretor, uma semana onde encontrou um Draco extasiado para alguém que tinha uma espada eternamente repousada na nuca, uma semana que terminou em uma noite fresca e de poucas nuvens, com um céu limpo o bastante para ver a Marca Negra pairando sobre a Torre de Astronomia.


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