Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 37
Capítulo 36




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O retorno para Hogwarts havia sido estranho e boa parte disto deu-se ao fato de que Potter estava tratando Dallas de forma mais gélida que o vento glacial da Antártida. 

Nos encontros da Armada Dumbledore, quando Potter costumava arrumar qualquer desculpa e oportunidade para ficar próximo dela, agora ele mantinha a distância e parecia estranhamente íntimo de Cho Chang, com quem trocava sorrisos e outras futilidades. Até mesmo Weasley a olhava torto vez ou outra, quando no passado a interação entre eles sempre foi nula e o grifinório nunca dispensou um segundo de sua atenção para ela. O olhar de Granger, no entanto, era pior, porque era um olhar de pena, pena de Dallas, pena de Potter, um olhar que tentava compreender como eles tinham chegado naquele ponto. Dallas muitas vezes sentiu-se tentada a aproximar-se da grifinória, perguntar à ela o que diabos estava acontecendo, mas o seu orgulho não estava no fundo do poço para ela cometer tamanha gafe. Além do mais, Potter e ela concordaram em manter a distância e parecia que agora ele finalmente estava cumprindo a parte dele na barganha.

Ainda sim, isto não melhorou o humor de Dallas quando na manhã do Dia dos Namorados ela teve o desprazer de testemunhar Potter e Chang em um encontro em Hogsmeade. Em um bom dia, Dallas não daria a mínima para este fato, Potter era solteiro e desimpedido, livre para sair com quem quisesse, mas Chang sorria de forma tão açucarada que dava para perceber a falsidade dela a quilômetros de distância, fora que estava claro que ela estava exibindo Potter como um troféu, como alguém que dizia para todos “olhem para mim, a fodona que conseguiu um encontro com o salvador do Mundo Mágico”. Era enojante. 

— Opa! — Dallas sentiu dedos mornos tocarem o seu pulso e abaixar a sua mão, apontando a ponta de sua varinha para o chão. — Não é legal azararmos colegas de escola. — Patrick comentou após soltar a mão dela. Ela nem ao menos havia percebido que sacou a varinha para deformar a cara sonsa de Chang com um feitiço corrosivo bem nocivo. — Mesmo que eles mereçam. — pela expressão enojada que Patrick fez, ele também percebeu que a colega corvinal só estava interessada na boa fama que sair com Potter lhe traria. 

— Eu não entendo, por que não a Weasley? — Dallas comentou, afastando-se daquele teatro patético que era Chang arrastando Potter para cima e para baixo e para lojas de Hogsmeade que não tinham nada a ver com os gostos do garoto. 

— Como? — Patrick respondeu em um tom genuinamente confuso. 

— Se Potter queria namorar alguém, por que não a Weasley? 

— Eu não acho que a Gina seja a escolha primária de Harry para namorada. — Patrick falou, dispensando a amiga um olhar bem significativo. Dallas rolou os olhos diante da acusação que leu dentro das íris castanhas do garoto. 

— Podemos, por favor, deixar de lado por um minuto a minha complicada relação com Potter? 

— Okay. Bem, provavelmente porque Gina Weasley superou a paixonite que tinha por Harry, Harry não tem nenhum interesse nela além de amizade e ele na verdade está querendo te irritar por causa do beijo.

— Beijo? Que beijo? 

— Página seis, The Sun ? Embora seja o herói do mundo mágico, Harry Potter ainda é um adolescente de quinze anos, com os hormônios de um adolescente de quinze anos, a cabeça de um adolescente de quinze anos e a racionalidade de um adolescente de quinze anos que deve ter ficado com o ego e orgulho bem feridos ao ver que a garota que ele gosta dispensou um beijo dele para dias depois beijar outro cara e ter este fato registrado pela imprensa britânica. Quem era aquele cara, aliás? O The Sun soltou umas especulações bem malucas sobre o relacionamento de vocês.

É, Dallas lembrava de ter lido essas especulações. Na verdade foram mais teorias que geralmente os jornais usavam quando flagravam dois herdeiros em um encontro íntimo, teorias que diziam que futuras uniões estariam por vir. Infelizmente, neste caso, a teoria em questão era mais do que um simples boato que o The Sun pretendia espalhar e realmente a pura verdade. 

— Lembra do noivo que eu comentei que eu tinha? Pois é. — Dallas deixou vagando no ar mas, para um bom entendedor, meia palavra bastava e Patrick era um ótimo entendedor. 

— Eu pensei que o que vocês tinham era apenas um simples acordo comercial, não havia sentimentos envolvidos!

— E não há. Foi um beijo de momento, nada para fazer tamanho alarde, nada emocionalmente significativo. 

— Harry considerou emocionalmente significativo, por isso que ele está deixando a Chang arrastá-lo para a Madame Puddifoot. — Dallas deu um relance para o casal em questão, facilmente identificável entre moradores, visitantes e alunos de Hogwarts transitando pela rua principal de Hogsmeade e realmente, como Patrick comentou, Chang arrastava Potter para a casa de chá de decoração duvidosa e que estava sendo a anfitriã naquela tarde para os casais apaixonados e adolescentes carregados de hormônios que achavam estar apaixonados. 

Dallas reconsiderou azarar Chang por puro despeito e porque a cara de Potter era digna de pena. Estava claro no rosto dele que ele não queria estar ali, que estava questionando as suas escolhas naquele momento, mas que agora que tinha entrado na chuva, nada poderia fazer a não ser se molhar. Dallas deu as costas para o casalzinho “ feliz”, porque se Potter queria agir na infantilidade por causa de um beijo, então isto era problema dele. 

Após o Dia dos Namorados, a tensão continuou forte em Hogwarts, Trelawney foi demitida sem nenhum remorso pelo sapo gordo da Umbridge e só não foi expulsa do castelo por interferência de Dumbledore. Está certo que a professora de Adivinhação não era a favorita de muitos, mas se comparada ao sapo rosa, ela era muito mais querida. 

A Guerra Fria ocorrendo entre Potter e Dallas era óbvia até mesmo para quem não era da Armada Dumbledore. Os embates Sonserina x Grifinória estavam mais intensos a cada dia e Potter azarou Draco ao menos umas quatro vezes em uma mesma semana em discussões ao longo dos corredores. 

— Faça alguma coisa, Dallas! — Granger a abordou entre a aula de Poções e Trato das Criaturas Mágicas. — A Grifinória não pode perder mais pontos do que já está perdendo. — finalizou e partiu sem nem ao menos dar tempo a Dallas para respirar e registrar o que a colega tinha dito. De alguma forma, havia caído sobre os ombros dela a responsabilidade de tirar Potter desta fase de lua virada, mas foi em mais um encontro da Armada Dumbledore que o caldo quente e borbulhando finalmente entornou da panela. 

— O que é isto? — Dallas puxou a mão de Potter para mais perto de seu corpo, sem pedir nenhuma licença. Como sempre, tocá-lo fazia um comichão gostoso percorrer todo o seu corpo e como sempre ela ignorou esta sensação, mais preocupada com o fato de que nas costas da mão de Potter havia uma marca vermelha, inflamada e que formava claramente a frase “ eu não devo contar mentiras”. Alguém tinha entalhado na carne de Potter letras de forma cruel e bárbara.

— Não te interessa! — Potter respondeu avesso, puxando a mão de volta e soltando-a dos dedos dela. — Não temos este tipo de relacionamento para você sentir-se no direito de me cobrar satisfações. — ele completou com azedume e em um tom mais alto que o necessário. Ao redor deles, a Armada Dumbledore congelou em seus movimentos, prendeu a respiração e esperou pelo próximo passo. 

— Qual é o seu problema, Potter? — porque Dallas queria realmente saber. Eles tinham um acordo, então não havia razão para Potter ficar agindo como um namorado traído. 

— Você não pode ser assim tão obtusa! Você sabe exatamente qual é o meu problema! — Dallas ponderou, olhou bem dentro dos olhos verdes que pareciam brilhar com ainda mais intensidade sob as luzes mágicas da sala. Se prestasse atenção, Dallas quase podia ver a magia estalando por detrás das íris, o que mostrava o quão poderoso o garoto era, que ele não sobreviveu ao ataque de Voldemort por sorte e por causa da proteção da mãe. 

— Você está dando este chilique todo porque eu rejeitei o seu beijo? — alguém ofegou às costas dela, de rabo de olho viu colegas alargarem os olhos e sentiu um prazer mórbido ao ver a expressão sofrida e derrotada no rosto de Chang. Potter pareceu perceber que eles tinham plateia, porque segurou no braço de Dallas e a puxou para um canto da sala que prontamente fez paredes brotarem ao redor deles, criando uma ante sala com lareira e cadeiras de couro, porta devidamente fechada, proporcionando a privacidade da qual eles precisavam.

— Sim, eu estou dando este chilique todo porque você recusou o meu beijo, recusa reconhecer o que há entre nós, arruma desculpa atrás de desculpas para ficarmos afastados e eu concordo porque logicamente é o certo, logicamente eu sei que a nossa proximidade a coloca em perigo, mas toda a minha lógica vai pelo ralo no segundo em que você me olha e então eu pensei: "quer saber? Dane-se! O amanhã é incerto, então eu vou aproveitar o agora". E eu decido dar uma chance a nós e eu pensei que você estava no mesmo barco que eu, e então você diz não aos meus avanços e mal me explica o por quê. Porque você não me rejeitou porque não está interessada em mim, porque não gosta de mim, mas por razões que somente você sabe e aí eu abro o jornal na manhã de Natal e tem uma foto gigantesca sua na coluna de fofocas beijando outro cara! Então sim, eu estou em todo o meu direito de dar um chilique! — ele praticamente berrou a última parte e o fogo da lareira crepitou com mais força, como se refletisse a frustração de Potter em suas chamas. — Quem era aquele cara?! — exigiu saber. 

Dallas abriu a boca, fechou, olhou bem para o rosto dele, viu a angústia estampada ali, um desespero que ela viu Potter demonstrar em poucas vezes, e somente em situações extremas, e pensou se realmente era uma boa ideia dizer a verdade. Mas não sabe-la era pior do que sabe-la, não? E Dallas não era cruel desta maneira. 

— Amélia, a minha avó, ela fez um acordo com a família Halliwell, um acordo que garantisse um futuro estável para mim. 

— O quê?

— Veja bem Potter, eu sou uma filha bastarda e as chances de eu herdar alguma coisa como uma Winford é mínima. Meredith, a minha madrasta, fará questão de tornar a minha vida um inferno quando eu não tiver mais a proteção da minha avó, mesmo que eu ganhe alguma coisa referente a fortuna da família, ela tentará de todas as maneiras mudar isto, não por ambição, não porque precisa do dinheiro, mas somente por despeito, somente para descontar a amargura dela sobre mim, então Amélia fez um acordo com os Halliwell que beneficiará ambas as famílias.

— Que acordo?

— O mais tradicional e mais antigo acordo que duas famílias de dinheiro, com herdeiros de idades semelhantes e de gêneros opostos podem chegar. — Potter ponderou um pouco, antes de arregalar os olhos. 

— Um casamento arranjado?! — ele praticamente cuspiu as palavras diante de tamanho ultraje. — Isto daqui não é mais a idade média! E eu suponho que aquele era o seu noivo. — o “ noivo” saiu da boca dele como se fosse um xingamento. 

— Allen e eu não somos próximos, mas também fizemos o nosso acordo, o que nos será proveitoso. 

— E o quê? Selaram o acordo com um beijo? — Dallas deu de ombros.

— Aconteceu. — e uma das poltronas de couro explodiu como se tivesse recebido um reducto em cheio. Dallas pulou de susto diante disto e mirou Potter, que arfava e cujos olhos estavam absurdamente verdes. 

— Você não pode me convencer que está conformada com isto! Com este futuro!

— É o futuro que eu sempre soube que iria ter. É algo que nem mesmo Meredith poderá contestar.

— Isto era antes de você descobrir ser uma bruxa! Você é a bruxa mais brilhante e mais poderosa que eu já conheci! A garota mais brilhante que eu já conheci! Você não pode querer me convencer que vai contentar-se com isto, que não consegue ser nada além disto, você não pode ser tão fútil assim!

— Como é?! — fútil? Como assim ele ousava chamá-la de fútil?

— Sim, fútil! Você não tem razão alguma para aceitar este casamento, o faz porque é a saída mais fácil, porque por mais que você se faça de durona e diga que as pedras atiradas não te machucam, a verdade é que elas machucam sim, você só se acostumou com a dor. Você se conformou e aceitou o que as pessoas dizem sobre você. A filha bastarda, sem chance alguma de futuro, então contenta-se com as migalhas que te arremessam e as aceita porque não quer perder o conforto na qual cresceu, não quer lutar as suas próprias batalhas, conquistar o seu próprio espaço do zero!

Um tapa na cara teria doído menos, não teria sido tão verdadeiramente doloroso, não é mesmo? Não é como se Dallas nunca tivesse pensado nisto. Ela era inteligente, era uma bruxa poderosa, ela poderia ser o que quisesse, então porque conformar-se com tão pouco? Com um casamento arranjado que lhe daria algum status social e proteção contra a amargura de Meredith? Meredith não era uma deusa e se Dallas sumisse no mundo, quem era a mulher para machucá-la? Mas largar uma vida que sempre conheceu não era fácil. Dallas viveu maus bocados dentro da mansão Winford, mas nem tudo foi tristeza, nem tudo foi desavença, ela tinha algumas lembranças boas nas quais era extremamente apegada e largar isto tudo, largar o certo pelo duvidoso era assustador porque a verdade era que Dallas não saberia nem por onde começar. 

— E o quê? Você está oferecendo ajuda para eu me libertar dessas convenções? “ Largue tudo o que você conhece e sabe para trás por mim, Dallas”, é isso?

— Não! Largue tudo o que você conhece e sabe para trás por você ! Eu não me importo que você nunca fique comigo, desde que você seja feliz sendo você. — Dallas estava sem palavras, e isto era uma raridade. Ela não sabia o que dizer, o que responder àquela proposta tão estupidamente despretensiosa, portanto ela somente deixou o seu corpo responder por ela e, pela primeira vez em sua vida, o seu coração. 

As suas mãos reagiram antes que ela pudesse se parar e Dallas fechou os punhos na frente da camisa de Potter, o puxou com força o suficiente para fazer os seus corpos chocarem-se e moldarem-se um contra o outro, e então ela estava o beijando com força o suficiente para deixar marca. O único beijo que Dallas tinha dado na vida foi em Allen, algo sem graça e sem emoção. O beijo que deu em Allen não fez o seu coração acelerar, não tirou-lhe o ar, não fez um comichão gostoso correr por todo o seu corpo, não fez o sangue borbulhar sob a sua pele, os seus joelhos enfraqueceram e estrelas entrarem em supernova atrás de suas pálpebras fechadas. 

Potter a abraçou com força, colou ainda mais os seus corpos a ponto de nem mesmo uma fina folha de papel conseguir passar entre eles, as mãos dele grandes e calejadas pelo Quadribol apertavam-lhe a cintura, quase a erguiam do chão, enquanto as suas mãos menores e bem cuidadas ancoravam-se nos cabelos negros. Os lábios? Esses eram outra história. Eles disputavam por dominância enquanto mapeavam-se e exploravam-se e marcavam território na boca alheia, com língua, dentes, chocando-se de forma quase desajeitada mas não era como se eles realmente se importassem com isto, não é mesmo? 

O beijo durou um minuto, e foi encerrado porque em algum momento ambos precisaram respirar. Dallas soltou-se de Potter e recuou aos tropeços, o seu rosto estava rubro, o seu peito arfava, e ela não sabia o que dizer, o que fazer. O seu corpo tremia e ao olhar Potter ele parecia estar em um estado tão deplorável quanto ela. 

— Eu… — ela ainda tentou balbuciar alguma coisa, mas considerou o gesto inútil e simplesmente fugiu da sala de forma covarde. 

Dois minutos após a partida de Dallas, as paredes desfizeram-se e a ante sala desapareceu tão rápido quanto foi criada pela Sala Precisa. A reunião da Armada Dumbledore já tinha acabado e somente Hermione e Ron encontravam-se na sala, esperando pacientemente em sofás perto de uma lareira. Ron sorriu sacana ao ver o estado de Harry: descabelado, com o rosto vermelho e a roupa amarrotada. O sorriso de Hermione foi mais sábio e mais amigável. 

— E então? Como foi? — ela perguntou pela terceira vez naquele ano. A primeira vez foi antes do Natal e a resposta de Harry foi uma carranca e um " não quero falar sobre isto ". A segunda vez foi após o encontro do garoto com Cho em Hogsmeade, no Dia dos Namorados, algo que Hermione desaprovou imensamente, e a resposta dele foi " molhado ". Agora? Agora ela tinha a sensação de que teria algo bem diferente como resposta. 

Harry suspirou, largou o corpo sobre o sofá e mirou o fogo crepitando na lareira por dois segundos antes de responder:

— Foi perfeito.


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