Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 1
Prólogo




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Para Montgomery Briggs, a visão que teve ao dar um relance pelo espelho retrovisor não era mais tão estrangeira. A menina de dez anos que havia entrado no carro com um bater da porta estava com o cabelo castanho despenteado, o seu rosto redondo e pálido tinha arranhões, os olhos azuis estavam estreitos, o cenho franzido e a boca rosada e em forma de coração tinha um corte no lábio inferior. O uniforme da cara escola particular que frequentava estava amarrotado, a gravata desamarrada e o blazer torto sobre os ombros estreitos. Ela abraçava os livros contra o peito e os dedos apertavam tanto as bordas deste que o capa de papel duro e couro falso estalava sob os seus dígitos. 

Montgomery queria tecer um comentário, mas sabia que a sua opinião sobre a situação entraria por um ouvido e sairia pelo outro. O cenário era rotineiro desde o dia em que Dallas aprendeu que um gancho de esquerda bem dado fazia o trabalho de forma mais espetacular que uma discussão bem elaborada. 

Montgomery suspirou e girou a chave na ignição. O motor do Bentley roncou, o painel do carro acendeu e ele acelerou e guiou o veículo para fora do estacionamento cheio da escola. Hoje era o último dia de aula e em uma rara exceção, os pais ricos e atarefados vieram buscar os seus herdeiros igualmente ricos e mimados, ao invés dos usuais chauffeurs

— Ao menos me diga que você só tirou A. — o sorriso de Dallas ficou largo e com um toque de presunção, uma expressão que Monty ainda considerava anormal em uma menina tão nova. 

— Sempre. — a voz rouca ecoou pelo carro e pelo retrovisor Monty a viu largar os livros sobre o banco de couro, relaxar os ombros e acomodar-se contra o encosto. O olhar azulado, em um tom escuro como o de uma pedra de cobalto, perdeu-se na paisagem e chuva de Londres e Montgomery suspirou. Sentiria falta de Dallas, dessa garotinha tinhosa que pegou no colo e a quem serviu e protegeu desde o momento em que ela passou pelas portas duplas da grandiosa Mansão Winford. No próximo semestre ela iria para um internato só para meninas, na França, como todas as mulheres Winford antes dela, como todas as que viriam depois, e ele temia que a distância apenas fizesse piorar algo que já crepitava no cerne dela. 

Dallas sempre foi um bebê arredio, uma criança rebelde e estava tornando-se uma pré-adolescente de moral duvidosa. Os seus atos e atitudes eram encorajados por Amélia, que via na neta bastarda a verdadeira herdeira dos Winford, mas Clarisse e Montgomery sabiam que ainda havia doçura e compaixão ali naquele corpo miúdo, emoções que eles queriam preservar a todo custo e temiam perder a sua chance com a partida dela. 

— Animada para as férias? — Montgomery perguntou e os olhos de Dallas desviaram da rua para mirarem os dele pelo reflexo do retrovisor. 

— Dois meses aturando Samantha e Nicholas. Urra! — ela disse com deboche e um rolar de olhos e Monty riu. Esta era a única parte que ele não queria que Dallas perdesse, porque era a melhor arma de ataque e defesa dela: o sarcasmo. 

 


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