Solteiros Parasitas escrita por HinataSol


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

É... nem sei o que dizer. Essa fic é uma comediazinha romântica e eu não sei se sou boa com essas coisas engraçadas.
A fic baseada em fatos reais. ;-;
Riam comigo e não esqueçam de marcar o favorito e comentarem caso gostem!

Nota:
Musuko = filho
Hi no Ishi = vontade fogo
Asagohan = café da manhã
Anata = você (geralmente as esposas usam quando se referem diretamente ao marido)



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I

Com seus 31 anos de idade, solteira e morando com o pai, Hinata sabia que Hyūga Hiashi-sama não aguentava mais ver sua cara todos os dias pela manhã.

“Arrume um marido”, ele lhe dizia, “Você será mais feliz se tiver alguém”.

E ela pensava em resposta: Besteira!

Onde que um marido faria dela uma mulher mais feliz? E, também, onde ela acharia alguém com um bom emprego, uma renda e nível educacional maior que o seu?

Em lugar algum, ela pensava.

Mesmo assim, Hinata ignorava aquilo. Ela balançava a cabeça e não discutia, apenas sorria afável para o pai.

“Claro, claro” — o tom era displicente, a fala era superficial e, da parte dela, sem a vontade de que se realizasse. Ela o sabia bem e o pai também.

Mas acontece que a situação já se mostrava crítica. O senhor Hiashi, a cada dia mais, fazia visível sua insatisfação em ver a filha mais velha, aos 31 (quase trinta e dois), solteira, sempre enfurnada dentro de casa, com a cara entre os livros, mofando sobre o sofá, indo da casa para o trabalho e do trabalho para casa outra vez.

Ele bufava contrariado toda a vez que a encontrava pela casa.

Naquela manhã de sábado, antes de Hinata sair para trabalhar, viu a tevê ligada e o pai e a irmã mais nova, Hanabi Hyūga, assentados juntos para o desjejum e assistindo o telejornal matinal.

Ela estreitou os olhos.

— Hanabi! Não sabia que viria nos visitar hoje... por que não me avisou? — os olhos de Hinata seguiram da irmã para o pai, e ela reprimiu um suspiro.

Hanabi era casada há três anos. Casou-se aos 23 com um rapaz chamado Sarutobi Konohamaru, que conhecera no primeiro emprego após terminar a faculdade.

— Estava com saudades. Já faz uns dois meses que não vejo vocês... e nem moramos tão longe. Como o otou-sama está de folga, resolvi passar por aqui um pouco.

Hyūga Hinata estreitou os olhos outra vez. Hanabi não costumava os visitar. E, lembrando-se da discussão sobre casamentos que teve na noite anterior com Hiashi, Hinata considerou que não podia ser uma coincidência a irmã mais nova estar ali.

— O que vocês estão tramando? — Ela quis saber.

Os dois a olharam fingindo indignação. Hiashi a olhou com uma careta de lábios enrugados e Hanabi até mesmo colocou a mão sobre o peito enquanto abria a boca.

Hinata quis rir das expressões de ultraje forçadas.

— Bom, não importa! Estou indo trabalhar. É uma pena que não possamos conversar agora, Hanabi, mas eu me atrasaria. Gomen ne.

— Não tem problema, onee-sama — disse Hanabi. — Vou passar o dia aqui... otou-sama e eu estávamos marcando de nos reunirmos e jantar hoje em família. Konohamaru também, é claro. Já faz algum tempo que, nós todos, não passamos um tempo juntos.

— Ah, sim... — Hinata resmungou, não acreditando realmente naquelas palavras, mas não disposta a insistir — Claro. Claro.

 

II

Quando chegou em casa, ela estava exausta.

Jogou-se sobre o sofá e largou a bolsa ao lado, no chão. Colocou os dedos indicadores sobre as têmporas e as massageou com lentidão e pressão, suspirando profundamente.

Só mais cinco minutos e eu vou tomar um belo e relaxante banho. Depois... vou dormir até amanhã, ela pensou com os olhos fechados, quase cochilando sobre o estofado macio e confortabilíssimo.

— Onee-sama, o que está fazendo aí? Quase dormindo sobre esse sofá — Hanabi resmungou ao entrar na sala e ver a irmã estatelada como uma panqueca sobre o assento.

Hinata abriu fracamente os olhos, deixando-os apenas estreitos, abertos o suficiente para ver a irmã mais nova completamente arrumada como se fosse sair para algum lugar importante e elegante. Arregalou as vistas.

— Ah, é mesmo! Otou-sama e você combinaram de acabar com meu tempo de descanso — ela recordou e resmungou, lamentando-se. Remexeu-se sobre o sofá, ajeitando-se minimamente — Hanabi, não podemos deixar para fazer isso um outro dia? Um dia em que eu não esteja tão cansada?

Hanabi revirou os olhos e, categoricamente, aditou que não.

— Já fizemos uma reserva caríssima em um restaurante super caro no centro — ela exprimiu.

Hanabi poderia ser muitas coisas, mas mão-de-vaca, pão-duro ou economista não era alguma dessas. Se ela disse duas vezes que a reserva foi cara, Hinata podia imaginar que foi muito cara mesmo.

Ela anuiu com a cabeça, culpada por pensar que sugeriu falir a irmã em vão.

— Ettoo... certo! — exclamou por fim e levantou-se — Vou me arrumar e a gente vai.

— Tem um vestido em cima da sua cama. Vista ele. É um presente — ela avisou.

Hinata apertou a vista.

Hanabi virou-se de costas para a irmã e, escondendo o rosto, sorriu satisfeita e travessa.

Ao chegar em seu quarto, Hinata pegou sobre a cama o vestido. Era uma peça social com um toque sofisticado na cor azul anil. Combinava com seus cabelos.

Olhou para a porta do quarto, desconfiada.

 

III

Com seus recém-completados 32 anos, Uzumaki Naruto orgulhar-se-ia de dizer que era promotor de justiça em um país em que as profissões mais difíceis de se exercer estavam atreladas ao estudo do direito, se não fosse sua mãe; Uzumaki Kushina-san.

A mulher com os mais longos e belos cabelos vermelhos de toda a Terra do Sol Nascente não admitia que seu único filho, lindo de morrer (nas palavras dela, obviamente), com um elevado nível de estudo e uma bela conta bancária, ainda não havia se casado e estava solteiro desde... sempre.

Naruto passou a mão pelos cabelos loiro-vibrantes que, sempre rebeldes, ele precisou cortar mais rente à cabeça devido a sua imagem profissional no cargo em que exercia na Promotoria Regional da Capital.

Ele havia chegado em casa ainda cedo, após um plantão na promotoria quando avistou Kushina-san ajeitando a mesa do desjejum enquanto a água para o chá fervia.

— Tadaima! — disse ele e bocejou.

— Okaeri! — respondeu a mãe com a voz vibrante.

— Onde está o otou-san? — Naruto perguntou enquanto afrouxava o nó da gravata com uma mão e ainda segurava sua pasta de couro negro na outra.

— Está no escritório desde que acordou. Está lendo um acórdão ou algo do tipo. Algo sobre uma decisão em um caso antigo.

Ele meneou a cabeça. Namikaze Minato-san, pai de Uzumaki Naruto-kun e marido de Uzumaki Kushina-san era promotor também e consultor jurídico pessoal do filho nos tempos de universidade e pós-formatura.

O rapaz admirava muito sua família. A mãe extremamente amorosa e rigorosa, que cuidava dele e o colocava na linha. Seu pai, seu herói. Um dos promotores mais conhecidos da Grande Tóquio, esse era Minato, que estava de folga dupla naquela semana, uma raridade, diga-se de passagem.

— Então não vou atrapalhar ele. Vou guardar essas coisas e já volto.

Kushina anuiu.

O plano de Naruto era seguir sua rotina comum. Ele tomaria um banho, comeria seu asagohan e depois dormiria profundamente. Acordaria só a tarde e trabalharia mais no dia seguinte.

Todavia, enquanto comia, sua mãe frustrou seus planos quando tocou no assunto proibido.

Casamento.

Palavra infeliz! Naruto xingou este vocábulo, malgrado.

— Sabe, filho... seu pai e eu estávamos pensando... Você deveria sair mais um pouquinho, né?! Seu pai foi levar o lixo para fora esses dias e, conversando com o vizinho, descobriu que a vizinhança nem sabe que temos um filho. Admiro muito sua força de vontade e sua dedicação ao trabalho, mas, hm... como posso dizer isso? Você já está meio velhinho para ainda estar solteiro e morando com os pais... Por que não arruma uma namorada, casa e tem um filho? Eu gostaria muito de ter um netinho.

Kushina-sama, sempre sutil. Se precisasse definir os diálogos com a mãe em uma palavra, “direta” seria a escolhida. Ela nunca dizia nada que não acreditasse e era sempre verdadeira. Às vezes falava mais que o necessário, mas tentava ter empatia e não machucar os outros ao dizer as duras verdades da vida.

Exceto com ele.

Naruto riu-se ao pensar nisso.

Não poderia dizer nada. Ele era completamente a personificação da personalidade da mãe. Diferente do calmo e comedido Minato, que era gentil e reservado, amável com a família, mas disciplinado e que impunha as regras, Naruto era hiperativo e falante. Lembrava-se da dificuldade que teve em manter-se elegantemente comportado nas primeiras audiências que participou, ainda durante o curso de direito na Tōdai.

— Kaa-san, não fique pensando nessas coisas. Ainda está cedo. Ninguém se casa aos 32 hoje em dia — ele lançava a mesma desculpa desde os 25, a idade mais alta dentre os casamentos dos seus amigos.

— Hã?! Acha que me engana com essa? Já faz o que! Sete anos desde que o Sai-kun se casou com a Ino-chan? Shikamaru e Temari se casaram já tem uns dez anos e já têm um filho de oito. Até o Kiba está namorando e você aí, mofando. Seu pai e eu não vamos durar para sempre. Vai ficar velho e sozinho, é? Nem pensar! Se você tiver uma velhice triste e deprimente, eu juro que volto e te arrasto pelos pés quando estiver dormindo!

Nessa hora, ela já havia deixado de lado qualquer tentativa de soar sutil. Naruto apenas ouvia tudo com os olhos baixos, pois se ele demonstrasse qualquer sinal de resistência ou contrariedade às palavras dela, Kushina certamente o esganaria.

— Kushina, fique calma. Os vizinhos vão começar a reclamar do barulho... — Minato interveio.

O patriarca olhou para o filho único. Ele tentava entender Naruto, mas era mais fácil compreender Kushina. Com trinta e dois anos, o filho não podia mais ser considerado um garoto nem alguém que está “iniciando a vida”. Naruto não era velho, mas Namikaze-san vinha concordando com Kushina-san. Talvez o filho devesse realmente encontrar alguém para abrilhantar seus dias.

O ponto de luz em volta dele parecia estar cada vez mais apagado pelo trabalho e rotina de ficar sempre escondido dentro de casa. Era deprimente e frustrante para um pai ver aquilo.

— Acho que a sua kaa-san tem razão, musuko.

O olhar de triunfo e satisfação da mãe era visível da lua.

— Até o otou-san... — ele resmungou.

— Comporte-se como um homem, você não é mais um garoto! — Kushina ralhou.

Ele rebateria, se não fosse lúcido, claro.

— Por que não jantamos fora em família? — o pai levantou a possibilidade, intentando amenizar o clima.

— Isso parece ótimo! — a mãe comemorou, entusiasmada e satisfeita.

Naruto franziu o sobrecenho.

— O certo não seria sair apenas o casal e o filho ficar em casa? — ele quis saber, com suspeita e esquivando-se.

Kushina o lançou um olhar severo e ele aquietou-se.

Eram nesses momentos que achava que a mãe tinha razão ao sugerir que ele estava velho demais para ainda morar com os pais.

 

IV

Hinata não acreditava naquilo.

Ela se encontrou profundamente decepcionada com a armação da sua família.

Eles estavam assentados em uma mesa reservada no restaurante Hi no Ishi. Na verdade, todo o restaurante foi reservado por uma agência que organizava encontros, e o seu pai e a sua irmã compraram as “entradas” deles.

O lugar tinha um toque italiano e servia comidas que tinham um mesmo ingrediente como base de todos os pratos: massa.

Considerou que sairia dali um pouco mais gorda do que chegou, mas balançou a cabeça espantando seus devaneios.

Ao lado de Hanabi, ela podia ver que Konohamaru estava quase tão constrangido quanto ela. Os olhos do cunhado pediam desculpas pela atitude da esposa e Hinata o fitou com empatia, sabendo que devia ter sido chato para ele ser arrastado até ali também.

Ela perscrutou o local.

Cada mesa do restaurante possuía uma família com um jovem solteiro que ainda morava com os pais. De 20 até 49 anos de idade, devia haver ali umas quatro dezenas de solteiros. 20 homens e 20 mulheres com familiares desesperados em se livrar deles.

Constrangeu-se ainda mais profundamente e encolheu-se na cadeira.

À música de fundo, logo um garçom chegou e serviu o prato de entrada. Hinata bebeu um gole de água e considerou que o ar da noite remetia um pouco ao ocidente.

Depois de todo o momento de silêncio entre eles, ela finalmente resmungou.

— Não acredito que estão fazendo isso comigo — o som da sua voz suave soou baixinho e triste, o que incomodou Hiashi e Hanabi. — E ainda arrastaram o Konohamaru-kun junto com vocês. Que vergonha! Que vergonha! Otou-sama, não imaginava que estivesse tão desesperado assim para se livrar de mim.

Hiashi quase se engasgou. Ele sorveu um gole de água para limpar a garganta. Com o olhar desviado do de sua filha primogênita, laconicamente respondeu:

— Um pai deseja apenas o bem de seus filhos. — E aditou — Você não deve passar tanto tempo trabalhando. Deve encontrar alguém para compartilhar seus momentos. Não pode viver para sempre na casa de um pai velho como eu.

Hiashi disse apenas aquilo, mas Hinata entendeu além do que o orgulho dele o deixaria dizer.

Ele achava que a estava atrapalhando.

Mas o pai estava enganado. Hinata não se sentia obrigada a estar ao lado dele. Simplesmente gostava de continuar em casa. O Hyūga-san, apesar de rígido, não era de difícil convivência. Desde que houvesse respeito às regras daquela casa, ele não encrencaria. E aquilo era simplesmente fácil demais para alguém como Hinata. Podia-se achar que era comodismo, e talvez fosse um pouco mesmo, mas Hinata era uma mulher simples e que entendia que não se precisa de muito para ser feliz. Apenas o necessário.

— Otou-sama, entendo que estão pensando em mim, mas... eu estou bem do jeito que estou. Não deviam ficar se preocupando tanto com coisas assim.

— Como não me preocupar, Hinata? Você não faz nada além de trabalhar! — ele reclamou, mas sem erguer o tom de voz. E acrescentou, sem querer admitir — Nem eu me esforço tanto assim.

Ela riu.

— Então... por que não vamos para casa? Podemos dizer que mudamos de ideia e ir descansar...

Hanabi a olhou e sorriu com descrença.

— Nem pense que isso funcionará comigo, onee-sama.

Hinata corou fortemente e levantou-se de supetão.

— Aonde está indo, Hinata? — Hiashi inquiriu.

— Vou tomar um pouco de ar — disse e saiu andando.

Konohamaru virou-se para a esposa e, após comer um pedaço do pão no cestinho, inquiriu:

— Sua irmã é muito tímida... Isso vai dar certo mesmo?

— É claro que vai! Tem que dar!

 

V

Nunca ele poderia imaginar que seu pai colaboraria com uma ideia infundada daquela.

Nunca!

Toda a conversa da manhã havia saído consoante Kushina esperava, ele finalmente notou. Conhecendo-o, como somente uma mãe é capaz de conhecer um filho (e, sabendo que o marido não lhe negaria nada), ela conduzira todo o diálogo durante o desjejum de modo a Minato intervir e sugerir que saíssem um pouco em família.

Claro que a ideia era absurda e deixou Naruto ressabiado.

Em que lugar você veria um casal sair para jantar arrastando um filho de trinta e dois anos de idade à tiracolo por aí?

Em lugar algum, obviamente!

Não fazia sentido, a menos que fosse uma armação dos pais desesperados. E era isso mesmo, desgraçadamente.

Ele olhou ao redor. As vistas atentando-se à decoração refinada do Hi no Ishi, um restaurante com toque italiano que ele soube, pouquíssimos instantes atrás, vinha servindo de local para uma conferência de encontros para pessoas solteiras entre 20 e 49 anos.

Algo sobre como os jovens japoneses não estavam mais se relacionando como antigamente, que estavam priorizando tanto a vida profissional e acadêmica que não dispunham tempo para conhecer pessoas e entrar em um relacionamento e blá, blá, blá!

Ora! Como se um casamento deixasse as pessoas mais felizes! Besteira!

A justificativa era meio ridícula ou talvez cheia do desespero de abastados pais de solteiros velhos. Não que ele fosse um (velho). De maneira alguma! Estava na flor da idade!

Bufou.

Mas, enquanto passeava os olhos pela câmara, viu seus pais e sorriu de maneira inconsciente. Bom, talvez um casamento não fosse uma besteira completa. Entretanto, duvidava que conhecer alguém em um local como aquele seria útil ou agradável.

Interesseiras!

Seria apenas alguém querendo juntar as contas bancárias e parecer um pouco mais rica.

Prestes a pedir licença para sair e tomar um pouco de ar, Naruto empurrou a cadeira para se levantar. Nesse pequeno movimento, sentiu alguém tropeçar na perna do assento e o derrubar.

Caíram ele e a pessoa, ambos com o rosto voltado ao chão, atravessados um sobre o outro, formando um x.

— Itai! — ele resmungou e massageou o nariz.

Quem caiu sobre si se levantou e nervosamente pediu várias desculpas, uma atrás da outra. Ele estava prestes a lançar um olhar estreito e agir secamente, dizendo que as pessoas devem olhar para a frente enquanto andam, atentarem-se ao mobiliário e aos demais seres ao redor quando avistou uma figura pequena, a qual curvava-se, desculpando-se com o rosto inteiramente quente e a ajeitar a cadeira.

Ele desviou o olhar momentaneamente, aturdido diante da beleza jovial da mulher miúda que ali estava. Ele passou as mãos no terno, como se estivesse o desamarrotando. Limpou a garganta e então falou:

— Não precisa se desculpar. Eu deveria ter me atentado mais. Você não poderia prever que eu empurraria a cadeira naquela hora.

— Ah, arigatô! — o rosto dela permanecia vermelho, a expressão facial era agradável como uma gota de orvalho.

Logo ouviu-se uma agitação atrás deles e a jovem mulher escondeu a face entre as mãos após olhar para trás e, aparentemente, haver reconhecido as pessoas que se aproximavam.

Naruto sentiu vontade de desaparecer quando identificou um dos que vinham naquela direção. Arqueou uma sobrancelha e Konohamaru devolveu o gesto em resposta.

— Onee-sama!

— Hinata!

Ele observou em segundo plano uma jovem moça de cabelos castanhos juntamente a um senhor se aproximar da moça que ele havia derrubado.

Eram a família dela, obviamente. A irmã mais nova e, muito provavelmente, o pai. Desviou as vistas para o conhecido.

— O que faz aqui, Konohamaru? Você já não é casado? — ele gracejou.

— Hm, é a Hanabi que está ali, nii-chan... Mas me surpreende te ver num lugar desses... Kushina-sama finalmente começou a pressionar o filhinho dela para se casar?

O sorriso de Naruto morreu e deu lugar a uma carranca.

— Não me teste, garoto!

Konohamaru revirou os olhos com graça.

— Está bem! Está bem! E, respondendo a sua pergunta, estamos aqui para acompanhar a Hinata, a onee-sama da Hanabi — disse e explicou — Ela não sabia que lugar era esse até chegar e receber o folhetinho. Eu sabia que não seria uma boa ideia.

Naruto interessou-se por aquilo. Então mais alguém estava ali na mesma condição que ele?

Ótimo! Ninguém queria estar aqui. Não poderia ser mais agradável — até seus pensamentos vinham carregados de azedume.

— Sei — murmurou. Voltou sua atenção para a moça que ainda se desculpava, agora para os seus pais e por chamar a atenção do resto do restaurante para eles.

Uma mulher bonita, muito bonita, ele considerou. Dificilmente se encontrava tanta beleza quanto havia nela. O jeito dela também era bonito. Parecia muito educada e incrivelmente tímida, pois o rosto permanecia vermelho.

— Ah, por que não se senta conosco? Estamos entediados já. Nós podemos conversar um pouco. Aliás, como posso chamá-la? — Kushina bombardeou-a de perguntas e circundou-a, colocando a mão sobre seus ombros e a guiando até um assento disponível à mesa deles.

O jovem promotor se pôs em alerta. A mãe queria tornar a tal Hinata em uma pretendente.

Conhecendo Uzumaki Kushina, com certeza ela considerou o trágico encontro um recado do céu.

Já Hinata pareceu ainda mais constrangida. Provavelmente também notara o intento da mulher de cabelos vermelhos.

— Eto, sou Hyūga Hinata, mas pode me chamar de Hinata... Hm, gomen ne, não quero atrapalhar...

— Oh, não se preocupe, Hinata. Tenho certeza de que vamos nos dar muito bem — Kushina assegurou. — Ei, Naruto, venha aqui e fale direito com a Hinata. Veja como ela é bonita.

Naruto envergonhou-se com aquilo. Como sua mãe era direta.

Quanto constrangimento!

Próximo a ele, Konohamaru fingiu tossir para poder esconder um riso. O rapaz estava debochando dele.

Ótimo! Passando vergonha na frente de um subordinado.

— Okaa-san, você está deixando a Hinata-san envergonhada — ele tentou despistar seu próprio acanhamento.

— Hã? — Kushina arqueou as sobrancelhas como se dissesse “você só pode estar brincando” e voltou seu olhar para Hinata, notando as bochechas vermelhas da mulher — Mesmo? Gomen ne, Hinata. Hm, se não incomodar, posso pedir que juntem as nossas mesas? Assim sua família senta aqui conosco. Pode ser?

Hinata desviou o olhar.

— Ah, sim. Claro.

Naruto resmungou. Como a mãe poderia ser tão inconveniente? Quer dizer, Hinata estava claramente incomodada.

 

VI

As mesas logo foram postas juntas.

Kushina guiou Hinata de modo a colocá-la na cadeira que ficava em frente ao assento do Uzumaki. Ela sorriu satisfeita ao ver que o filho pareceu tão constrangido quanto a Hyūga. Era tão raro ver Naruto acanhado ou corado.

As duas famílias conversaram com cordialidade à mesa, enquanto degustavam uma recheada lasanha verdadeiramente italiana.

— Konohamaru-kun, não esperava encontrá-lo aqui — fora Minato quem comentara, irrompendo o silêncio.

— Minato-sama, também me surpreendi ao vê-los aqui — respondeu o rapaz após deglutir sua porção. — Mas, como podem ver, minha esposa, Hyūga Hanabi, é irmã mais nova da Hinata-san. Estou as acompanhando junto ao otou-san.

Namikaze-san acenou com a cabeça, concordando. As duas moças eram bastante parecidas. A mais nova delas, aliás, assemelhava-se muito mais ao pai do que a irmã mais velha. Provavelmente, Hinata devia ter mais da aparência da mãe.

O assunto logo cessou. Silêncio lhes tomaria a mesa novamente se Kushina assim o permitisse, o que não era sua intenção, obviamente.

— Hinata-san, sabia que o Naruto é promotor de justiça? — Ela fez a propaganda. — Desde os 27. Ele é super dedicado ao trabalho. Apesar de ser bom que ele não seja um preguiçoso, às vezes acho que ele trabalha demais. Acredito que Naruto deveria se casar. Talvez se encontrar alguém, ele se distraia um pouco e se torne mais moderado... Mas e você? Não é uma dessas pessoas que passam o dia inteiro trabalhando, não é mesmo?

Hinata estava prestes a negar, quando Hanabi se intrometeu, balançando a cabeça em uma negativa falsamente frustrada.

— Ah, Kushina-sama. É de dar pena. Hinata-onee-sama é igualzinha ao Naruto-san. Passa o dia inteiro trabalhando. E quando não está trabalhando está em casa lendo um livro ou dormindo. Estou quase perdendo as esperanças. Nunca namorou... É tão tímida que até eu me constranjo.

Kushina voltou a atenção para Hanabi e sorriu com cumplicidade.

— Que tragédia! É uma mulher tão bonita — Kushina expôs um lamento, era de certo modo verdadeiro. Lamentava que aquela ocasião não houvesse chegado antes. Ela sorriu e questionou — Mas, onde trabalha, Hinata?

Hinata desviou as vistas quando murmurejou a reposta:

— Em um estúdio de animação.

Naruto entreabriu os lábios ao ter seu interesse capturado.

— Sério? — ele não conseguiu se conter.

A Hyūga o olhou e acenou com hesitação. Ele riria dela?

— Uau — ele respondeu. Considerou um momento e largou o garfo, era tão estranho comer sem hashis. Questionou — Qual o seu animê preferido?

Hinata o olhou estranho e ponderou. Com uma profissão tão séria, ele estava interessado em animações?

— Não sei dizer. Gosto de tantos...

Dragon Ball? Sant Seya? Yu Yu Hakusho? Pokemon? Yu-Gi-Oh? Konjiki no Gash Bell? ... Sailor Moon? — ele arriscou esse último.

O rosto dela se iluminou.

— Ah, sim! Esses são incríveis! Gosto de todos!

Naruto passou a mão pela cabeça, num gesto descontraído. Alegre até.

— Estou meio desatualizado, mas acha que Hunter x Hunter terá um final algum dia?

Hinata riu, cobrindo os lábios com a mão.

— Ora, eu não sei dizer. Mas gostaria muito também. É um belo mangá.

— É sim. Mas o autor não para de entrar em hiato desde 2006. É constrangedor dizer isso na minha idade — ele sussurrou —, mas ainda estou na espera pelo final da obra. Quero muito saber como as coisas vão seguir. Ele bem que poderia pedir ajuda à esposa para terminar a história... Hm, mas como é trabalhar com animações? Deve ser incrível! Você assiste antes de todo mundo. É meio injusto até! — apontou, numa acusação infantil.

Hinata riu outra vez.

— É incrível! — confessou. — É algo que gosto muito, então é fantástico. Sempre foi o meu sonho, afinal. É maravilhoso poder animar histórias tão maravilhosas e que marcaram a vida de tantas pessoas como eu.

Suge! Sempre quis conhecer um estúdio e ver os episódios antes dos outros — brincou, mas foi sincero. — Deve ser incrível mesmo.

— É sim.

Naruto acenou com a cabeça. Ele reparou no silêncio dos outros à mesa, mas fingiu que não viu. Deixou seus pensamentos viajarem. Por um momento, sentiu-se jovem outra vez. Sem se importar, apoiou o cotovelo sobre a mesa e o queixo na mão.

— Estava aqui me lembrando de alguns momentos clássicos — ele sorriu com nostalgia. — Era praticamente um ritual cantar a opening quando o animê começava — ele disse e sussurrou — dakishimeta...

Kokoro no kosumo — Hinata completou com um tom agradável. A voz dela era suave e incrivelmente afinada. Combinava perfeitamente.

Atsuku moyase.

Kiseki wo okose.

Naruto ergueu as sobrancelhas e sorriu mais largamente.

— Tenho certeza de que ainda me lembro da maioria, okay? Não vou passar vergonha se você puxar alguma.

Hikaru kumo tsukinuke fly away... — ela iniciou.

Karada-juu ni hirogaru panorama — e ele completou.

Ela entreabriu os lábios.

— Admito. Você é bom! Anda vendo animês antes dormir?

Ele corou e sorriu amarelo. Hinata arregalou os olhos, surpresa.

— Eu... acertei? — ela estava constrangida com aquilo, mas não se conteve e riu. — Ora, então o promotor-san revive os momentos da infância.

— Quando sobra tempo, assisto os da temporada e revejo os clássicos. Não ria. É constrangedor confessar algo assim.

— Não tem nada demais nisso. Se te deixa melhor, eu também faço isso.

Ele revirou os olhos com graça.

— Você não conta.

— Ué?! Por quê?

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Você trabalha com isso. Faz parte da sua profissão. Ninguém vai rir de você. Comigo é diferente.

Ela encolheu os ombros.

— Não há nada de errado em assistir animês.

— Na minha idade e com o meu emprego deve ser praticamente um crime.

Kushina os observou embasbacada, assim como Hanabi. Nunca imaginariam que aqueles dois se dariam tão bem logo de cara.

Hiashi até tentou. Mas foi difícil manter a expressão neutra em seu rosto. Olhou de canto para Kushina-san e Minato-san e quase riu ao vê-los tão surpreso quanto ele mesmo.

A filha e o Uzumaki-san pareciam ter encontrado um belo assunto em comum e estavam se dando muito bem com ele.

Em um dado momento, eles começaram a discutir sobre a animação de uma luta aparentemente clássica. A conversa parecia tão empolgante que Konohamaru intentou participar também, animado, porém Hanabi o conteve com um inclinar de cabeça e olhar descrente.

O genro de Hyūga Hiashi-sama sorriu amarelo e emburrou o bico.

Hiashi suspirou. Mais um havia voltado a ser criança de novo?

— Eles estão se dando bem — o pai de Hinata comentou por fim, baixinho. Não queria distrair os dois solteiros.

Minato e Kushina se entreolharam.

— Estou realmente surpresa com isso — a mãe de Naruto admitiu, admirada. — Não imaginei que seriam tão compatíveis. Naruto é incrivelmente firme e irredutível em uma audiência, mas sempre foi muito tímido com mulheres... Hinata-san o deixou bastante confortável...

— E pensar que estavam tão perto um do outro e nem se conheciam.

Minato balançou a cabeça.

Já eram vizinhos há uns dois anos. Era incrivelmente absurdo que Naruto e Hinata houvessem se desencontrado tanto ao longo desse período tão grande de tempo.

— Talvez tenha sido melhor assim, anata. Eles poderiam não ter se dado bem se houvessem se conhecido antes.

Minato e Hiashi concordaram, assim como Hanabi, que assistia a tudo aquilo cheia de incredulidade.

A conversa entre os dois (até então) solteiros estava rendendo. Haviam passeado sobre assuntos diversos: comidas, lugares, livros, hobbies etc.

Aparentemente os dois também gostavam de plantas. Hinata de flores prensadas e Naruto de regá-las e conversar com elas.

Céus! Como os dois podiam ser tão compatíveis e não terem se encontrado antes vivendo tão próximos?

Hanabi olhou para Kushina e sorriu.

Uma mãe é uma mãe.

Perspicaz como só a Uzumaki-san poderia ser, ela idealizou o encontro entre eles naquele evento após ver a filha de Hiashi-san sair de casa a pé e pegar um ônibus alguns meses atrás.

Hiashi disse à filha mais nova que Kushina-san mandou Minato ver com o vizinho (o Hyūga-san) quem era aquela moça. Descobrindo sobre Hinata, não foi difícil para Kushina somar: 1+1=4.

Sim. 4! Naruto, Hinata e os dois netos que ela ganharia.

A irmã mais nova de Hinata podia imaginar o sorriso da mãe de Naruto quando bolou o plano após ver uma matéria sobre os solteiros parasitas.

Hiashi havia citado a ela o que Kushina falou. Algo como: ¼ dos japoneses entre 20 e 49 anos de idade estão solteiros.

Entre os índices responsáveis por isso estava o fato de as mulheres nipônicas não quererem se casar com homens de renda inferior à delas.

Não que fosse um problema para Hinata. Como promotor, Naruto ganhava bem, com certeza. Mas como membro sênior e supervisora da equipe de animação principal do estúdio, Hinata ganhava muito bem também. Provavelmente os dois deviam ter um salário parecido. De qualquer forma, a Hyūga mais velha não era interesseira e nem parasita. Era tímida mesmo. Assim como Kushina disse que Naruto o era com relação às mulheres.

O evento seria apenas uma desculpa. Um pretexto para fazê-los se encontrar.

Incrível! Os dois são perfeitos um para o outro.

Hanabi franziu o cenho. Assim como os outros, a moça esboçou surpresa ao ver Naruto se levantar e estender uma mão para Hinata, convidando-a a levantar-se também.

Kushina chocou-se.

— Aonde estão indo? O evento ainda está na metade.

— À Akihabara. Hinata e eu vamos dar uma volta por lá — ele explicou displicente, como se nada fosse.

Konohamaru inclinou-se sobre a mesa com os olhos brilhantes e interessados. A esposa o segurou pelo braço e negou com a cabeça. Ele embicou os lábios, pirracento.

— O quê? — A mãe dele balbuciou. — Isso fica a uns quarenta minutos daqui. Você não veio dirigindo.

— Hai. Hm, mas não precisam esperar a gente aqui. Podem ir para casa se quiserem.

Ao vê-los indo embora, Hanabi ainda resmungou:

— Esses otakus!

 

VII

Quando decidiram seguir até Akihabara, o intuito de Naruto e Hinata era mergulhar no mundo dos animês e mangás, mas também despistar a família.

Nem um dos dois imaginou que seria tão divertido reviver aquele sentimento da infância e juventude no paraíso dos otakus. Os jogos eletrônicos, grandes lançamentos, mangás amadores (doujinshi), karaokês.

Naruto não cogitou que se sentiria tão nostálgico como se sentiu. Mas ele sabia que grande parte daquela sensação se devia à companhia de Hinata.

E Hinata não considerou que algo que estava tão presente no seu dia a dia pudesse a surpreender daquela forma. Estar ao lado de Naruto em Akihabara fora uma experiência única. Ela foi capaz de ver tudo o que já conhecia por uma ótica diferente e foi fantástico.

Depois daquele dia, ainda marcaram alguns encontros, justificando que era uma maneira de despreocupar a família, fazendo-os acreditar que a ideia do jantar na conferência dera certo e os deixando menos aflitos com suas solteirices.

Mas a quem queriam enganar senão a si mesmos?

Antes mesmo do inverno chegar eles estavam namorando e na primavera se casaram.

Naruto e Hinata perceberam o sentido do conselho dos pais. Ter alguém para dividir os seus momentos, sejam bons ou ruins, tristes ou alegres, era algo indescritível.

E quem acreditaria que a conta ilógica de Kushina estava certa?

Em três anos, o resultado: 1+1=4.

Naruto, Hinata, Boruto e Himawari. A família estava completa.

Alguns poderiam considerar o início tardio para algo que se desenvolveu rápido, mas o Sr. e a Sra. Uzumaki sabiam que tudo aconteceu no tempo certo para eles.


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Notas finais do capítulo

OBS.: os mangás citados foram animados em estúdios diferentes. Ok?! Por isso não nomeei um estúdio para a Hinata.
O autor de Hunter x Hunter (e de Yu Yu Hakusho) é casado com a autora de Sailor Moon.

É, gente. Tem tempo para tudo. Não fiquem comparando a vida de vocês com a dos outros.

Gostaria de pedir que marcassem o favorito e deixassem um comentário caso tenham gostado. É muito importante e eu respondo todos com muita alegria! ♥
Até uma próxima vez!