Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 6
Talvez haja uma luz no fim do túnel




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— Aqui estão os papéis, Srta. Duiser.

— Pode deixar sobre a mesa, Mônica. Os relatórios estão prontos?

— Sim, estão prontos.

— Você está dispensada por hoje.

O relógio deu uma badalada anunciando seis da tarde. Era hora de ir embora. Ela foi para a sala e sentou-se no sofá para esperar sua mãe, que sempre a buscava todos os dias. Que lugar triste aquele! Escuro, frio, desolado, com uma decoração sem graça e praticamente nenhuma cor. A empregada limpava tudo e ela sentia pena daquela pobre mulher que precisava aturar os patrões chatos todos os dias. Aquele casal de velhos não dava folga nenhuma.

E falando neles, a dona da casa entrou na sala apoiada em sua bengala. Era uma mulher com pouco mais de sessenta anos, mas parecia ter oitenta. Cabelos bem brancos amarrados num coque, cara toda enrugada, usava um xale e estava vestida de preto como se guardasse luto.

— Você terminou o serviço? Minha filha precisa ser bem servida. – a moça levantou-se e falou educadamente.

— Sim senhora, eu terminei todo o serviço e a Srta. Duister me dispensou. Daqui a pouco minha mãe vem me buscar.

A mulher se retirou sem falar mais nada e Mônica voltou a se sentar suspirando de alívio. Todos os dias o diálogo entre elas era basicamente esse. Bastava ser bem educada e tomar cuidado com suas roupas que não teria problemas.

Mônica estava usando um vestido preto no mesmo estilo vitoriano que a Srta. Duister e tinha um lenço sobre a cabeça, pois o velho casal dono da casa abominava o estilo do seu cabelo.

Era difícil não sentir certa mágoa por seus pais a terem colocado naquela situação. Devido ao incidente com os traficantes no ano anterior, Luísa decidiu que sua filha tinha que aprender a ser uma garota mais delicada e dócil. Alguns amigos lhe recomendaram a Srta. Duister. Dizendo que ela era especialista em colocar adolescentes rebeldes na linha.

Já na primeira consulta a psicóloga achou melhor que ela trabalhasse como sua assistente por um tempo, assim aprenderia a ser mais dócil e obediente. E de certa forma estava funcionando, pois a moça nunca mais agiu de forma rebelde com seus pais novamente. E nem tinha energia para isso, já que com o tempo foi ficando doente e estava sempre fraca e desanimada. Será que seus pais estavam finalmente satisfeitos com sua docilidade?

O celular vibrou em seu bolso, pois ela o colocou no silencioso para não incomodar a mãe da Srta. Duister que odiava aparelhos eletrônicos. Ela saiu da casa e encontrou a mãe lhe esperando com o carro ligado. Elas se cumprimentaram como sempre e Luísa deu partida no carro levando-as para casa enquanto falava sobre amenidades.

Será que ela não percebia o quanto sua filha estava infeliz? Pensar que sua mãe dava mais importância a imagem de filha perfeita do que a sua felicidade lhe fez sentir vontade de chorar. Ela sentia que sua vida estava sendo sugada aos poucos e não havia nada que pudesse fazer.

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— Tia, o que houve com o pé de jabuticaba?

— Eu não sei. Parece que ele tá morrendo.

— Que dó! Não dá pra fazer nada?

— Acho que não tem mais jeito.

Magali olhou triste para o pé de jabuticaba onde costumava se esbaldar na infância. Era uma árvore grande e dava muitos quilos todos os anos. Tanto que tia Nena precisava fazer licor e geléia para não desperdiçar. Nos últimos dois anos, no entanto, a árvore parecia doente e os galhos secavam e caíam aos poucos.

Nena também estava preocupada porque a mesma coisa estava acontecendo na região. Árvores secavam e morriam, plantações estavam com problemas e muitos poços secaram. Ela mesma se sentia fraca e desanimada às vezes.

Ela voltou para dentro de casa tentando esquecer aquele assunto desagradável e pegou Mingau no colo para mimá-lo um pouco.

— O que foi? Tá desanimado? Aposto que quer comida! - Ela foi até a cozinha e voltou com um prato de ração que o gato ignorou. - Não quer comer? Ah, faz isso não! Come um pouquinho aí, vai! - O gato só mordiscou um pouco e voltou a ficar apático. Céus, será que seu querido gatinho ia ficar doente? Seu coração doeu como não doía há muito tempo. Aquilo era demais para ela aguentar.

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Era hora do recreio e Cebola tinha se escondido no estacionamento do mesmo jeito que seu duplo fazia para fugir da gangue da Magali. Só que daquela vez ele fugia do maldito contrariado que sempre pegava no seu pé quando a Mônica não estava olhando.

“Droga, tô ficando sem idéias! Ninguém vai acreditar em mim e eu não sei mais pra quem apelar!”. Ele até tentou chamar seu tio Berinjela para pedir ajuda, mas foi totalmente inútil e só piorou a situação. Quando foi confrontada, Rosália chorou o pranto mais sentido do mundo como se tivesse perdido o filho numa tragédia e seu tio acabou sendo convencido pela sua encenação.

— Cebola, pare de desrespeitar sua tia dessa forma!

— Mas tio...

— Não tem “mas”! Se você continuar desse jeito, vamos te internar num colégio militar. É minha palavra final!

Com isso ele achou melhor desistir de pedir ajuda para a família e tentar pensar em qualquer outra coisa. Uma boa idéia surgiu quando ele soube que Franja ia voltar lá pelo dia vinte e cinco de julho para passar uns dias com a família. Sentado atrás do carro ele escrevia em seu caderno e estava muito concentrado. Era um e-mail que ele pretendia enviar ao Franja contando todos os detalhes da nave Hoshi que só alguém que esteve ali poderia saber.

Ele dava detalhes, informações e várias coisas que podiam ser confirmadas depois. Ele até falou das ruínas em marte e do robô superpoderoso que estava escondido. Quando todas as informações fossem confirmadas, Franja com certeza ia dizer tudo ao Astronauta que talvez pudesse ajudá-lo a voltar para a Terra original. Ou pelo menos tirá-lo daquela vida de escravo.

Paradoxo sabia o que o rapaz estava planejando e resolveu interferir. Havia informações ali que as pessoas daquele planeta não podiam ter acesso, nem mesmo o próprio Astronauta.

— Você está escrevendo demais, rapaz. - Uma voz falou fazendo-o saltar de susto.

— Agora você aparece? Cara, o que tá acontecendo aqui? Aquele duplo idiota me passou a perna e...

— Acho que tenho algumas explicações a dar. Venha comigo.

Os dois apareceram na lua onde podiam conversar sossegados. Por que aquele sujeito sempre tinha que ter aquelas conversas ali? Paradoxo explicou a ele sobre seu plano de trocar os dois de lugar, deixando o rapaz espumando de raiva e gritando como louco. Pensando bem, a lua foi sim boa idéia.

— Eu não concordei com isso!

— Mas veio por livre e espontânea vontade.

— Nada disso! Eu só vim aqui porque aquele babaca me levou na conversa! Eu jamais teria concordado com isso!

— Seja como for, você atravessou o portal porque quis. Agora eu preciso da sua colaboração para...

— Não vou colaborar com porcaria nenhuma, valeu? - Ele gritou com o rosto vermelho de raiva. - Eu não tenho obrigação de ficar morando aqui servindo de criado praqueles dois imbecis!

O cientista respirou fundo ao ver que o rapaz estava muito resistente e não podia culpá-lo. Mas ele também não podia voltar atrás porque a situação era muito grave.

— Ouça, rapaz, eu trouxe você aqui porque essa realidade é, digamos, muito problemática. Há um grave desequilíbrio que eu não consigo reparar de forma alguma e preciso da sua ajuda para resolver esse problema.

— Por que não pediu pro meu duplo? Ele já sabe dos mundos paralelos.

Ele balançou a cabeça negativamente.

— Não posso lhe dar muitos detalhes, mas de certa forma seu duplo pode agravar esse desequilíbrio, por isso precisei tirá-lo desse planeta.

— Agravar como?

— Alguns eventos envolvendo seu duplo trarão graves problemas a esse mundo. Para evitar que tais eventos ocorram, troquei os dois na esperança de que você pudesse fazer parte da solução e não do problema.

O rapaz nem quis saber de ouvir o resto.

— Isso aqui não é problema meu! Me leva de volta senão eu mando essa carta pro Franja!

— Garoto, há um bem maior envolvido!

— Eu tô com cara de quem se importa? Eu quero ir pra casa AGORA!

— Você não vai me ajudar?

— De jeito nenhum! Por nada nesse mundo! Força nenhuma nesse universo vai me convencer a entrar nessa roubada, pode esquecer!

Ele cruzou os braços e ficou de costas para o cientista a fim de mostrar que estava falando sério. Paradoxo não se abalou e disse com tranqüilidade.

— Não há nada que possa convencê-lo?

— Absolutamente nada! – o mais velho deu um sorrisinho.

— Nem mesmo ter de volta a garota dos seus sonhos?

Cebola virou-se lentamente e descruzou os braços.

— É... de repente dá pra negociar. Ta mesmo falando sério? Vai me ajudar a ter a Monica de volta? – Seu tom de voz saiu mais afável.

— Sim. Eu sou capaz de conduzir vários acontecimentos que irão ajudar na reconciliação de vocês, mas só farei isso se puder contar com a sua ajuda para resolver essa crise.

Ele não teria aceitado aquilo por dinheiro nenhum, nem mesmo sob a promessa de virar imperador mundial. Mas reconquisar o amor da Monica era outro nível e ele não era louco de deixar aquela oportunidade escapar. Por fim ele decidiu.

— Fechou então. Eu ajudo a resolver esse pepino e você me ajuda com a Monica. Temos um trato? – e estendeu a mão esperando com isso selar o acordo. Paradoxo retribuiu o gesto.

— Sim, rapaz. Você tem a minha palavra. Me ajude a restaurar o equilíbrio deste mundo e eu o ajudarei a reconquisar a jovem que você ama.

Os dois voltaram para o estacionamento e o rapaz ficou ali quebrando a cabeça tentando descobrir como resolver o tal desequilíbrio. Aquele cientista maluco não lhe deu muitos detalhes do que estava acontecendo, deixando em suas mãos a grande responsabilidade de resolver o problema daquela realidade complicada. Aquilo era grande demais e ele percebeu que seu cérebro teria que funcionar como nunca funcionou em sua vida. Pelo menos ele tinha uma luz no fim do túnel para seguir.

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À medida que caminhava, as pessoas iam se sentindo mal assim que cruzavam seu caminho. Um senhor levou a mão ao peito num principio de infarto. Uma mulher começou a tossir descontroladamente. Um homem passou mal e outro teve um derrame.

— Miséria, peste, decadência. Trarei tudo isso e muito mais para todos! – murmurou baixo para que ninguém ouvisse.

E continuou seu caminho, segundo instruções que tinha recebido. Todo o trajeto deveria ser feito a pé, mesmo que levassem semanas ou meses. E devia ser feito de tal forma que o maior número de pessoas fossem afetadas.

As ordens estavam sendo cumpridas a risca. E com muito prazer. 

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“Procurar a tal fonte do desequilíbrio. Pindarolas, como eu vou descobrir uma coisa dessas?” Cebola perguntou a si mesmo sem prestar atenção à aula de geografia. Havia coisas mais importantes para ocupar seu cérebro.

“Se aquele maluco ao menos tivesse falado qual desequilíbrio é esse, mas não! Ele precisa de ajuda e não explica as coisas direito!” aquilo sim era complicado. Ele sequer sabia qual era o problema, como poderia encontrar a solução?

Quando a Mônica esteve naquele mundo ele não tinha prestado atenção em nada, o que foi um erro. Bem, como ele ia saber que seria mandado para aquela realidade complicada?

“Eu preciso conhecer melhor esse mundo. É isso! Tenho que ver notícias e de repente estudar um pouco de história. Aposto que vou achar alguma dica aí!”

Mesmo tendo computador em casa, ele não tinha internet porque foi cortada por falta de pagamento. Mas ainda tinha o laboratório da escola e ele decidiu fazer algumas pesquisas na hora do recreio. Isso, claro, se sobrasse um lugar vazio. Ele estava disposto a tentar.

Na capa do seu caderno sobre a carteira ele viu aquele mesmo brasão. Aquilo estava em todos os lugares e atraiu sua curiosidade.

“Hum... deixa eu ver isso...” na contracapa do caderno estava um pequeno texto falando da Organização Vinha, dedicada a melhorar a educação de todos os colégios da cidade. Pelo que ele tinha ouvido falar, eles assumiram a direção do colégio e Licurgo foi afastado porque não concordou com a nova política. Tirando isso, não havia nada de extraordinário.

Cebola estava tão concentrado que sequer percebeu que o sinal indicando o fim da aula tocou. Os alunos conversavam ao seu redor aproveitando o pequeno intervalo entre uma aula e outra enquanto ele continuava isolado como sempre.

Um sentimento de tristeza invadiu seu peito. Era muito ruim ser ignorado por pessoas que conhecia desde a infância e era preciso repetir para si mesmo a todo instante que eles tinham antipatia pelo seu duplo, não por ele. Ainda assim, era muito difícil.

— Agora prestem atenção que esse truque vai ser muito legal! – Nimbus falou embaralhando algumas cartas enquanto os outros rapazes assistiam entre risos.

— Qualé, seus truques são muito orokana (bobos)! – Tikara falou com pouco caso.

— Não tira minha concentração. Agora vai! Pegue uma carta, olhe bem e coloque de volta.

Xaveco fez como indicado e Nimbus embaralhou as cartas novamente. Em seguida, tirou uma das cartas e mostrou ao amigo.

— Sua carta é essa aqui?

— Pffff! Nem de longe! Cara, você é ruim demais nessas coisas! – todos deram risadas deixando o pobre Nimbus com cara de tacho.

Cebola acompanhava tudo fazendo um muxoxo. O Nimbus original fazia muito melhor porque era um mágico de verdade. Aquele duplo de araque mal conseguia fazer um truque simples de cartas.

— Ih, coitado do Nimbus, ele não consegue fazer nenhum truque direito. – uma voz de garota falou fazendo seu rosto corar.

— O-oi M-Mônica...

— Oi. Como você tem passado? Faz um tempão que a gente nem conversa.

— É que o DC...

— Ah, liga não, ele é muito ciumento mas não faz mal a ninguém.

— Ele faltou hoje, né? É por isso que você tá falando comigo?

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Não, eu tô falando com você porque quero, ele não manda em mim.

— Mas dá peteleco na minha cabeça.

— Vou conversar com ele pra parar com isso. – O corpo dela sacudiu com algumas tosses, deixando Cebola preocupado.

— Você tá gripada?

— Não sei, o médico fala que é gripe mas isso não passa nunca! Ah, preocupa não que não deve ser nada.

O rapaz ficou meio preocupado. Ela estava ainda mais magra que o normal e muito abatida, embora tentasse disfarçar com maquiagem.

— Você tá bem mesmo? Tô te achando meio pálida...

— Eu vou ficar bem.

Os dois conversaram mais um pouco, deixando o rapaz encantado. Aquela Mônica era doce, meiga e tão charmosa! Era como estar diante de uma Mônica melhorada e sem aqueles defeitos irritantes. Como aquele idiota foi deixá-la escapar?

"Aposto que ele deve ter pisado na bola, só pode! Caramba, ela é perfeita demais! Tô quase ficando com ela pra mim!"

—_________________________________________________________

Seus patrões tinham ido viajar, o que era uma sorte porque assim ela não precisou trabalhar naquele dia. De qualquer forma, ela não ia conseguir trabalhar com aquele problema lhe atormentando. Sua aflição estava quase no auge quando finalmente Rômulo chegou, mas o semblante do filho a deixou muito preocupada.

— E então? Entregou o dinheiro?

— Entreguei, mãe. Só que ainda não é o suficiente, eles querem dez mil por mês de qualquer jeito.

— Não se preocupe, filhinho. Já sei o que fazer e a partir do mês que vem vamos poder pagar os dez mil que eles querem.

— Eu não quero que você fique se sacrificando, acho que eu devia vender minha moto e... – ela levantou uma mão fazendo-o parar. 

— Essa dívida não é culpa sua e você não tem que sofrer por causa disso. Ah, se aquele miserável ainda estivesse vivo, eu mesma acabaria com a raça dele!

Ela respirou fundo e deu um abraço no filho.

— Você já me ajuda muito e fico feliz que não seja igual aquele cretino do seu pai. Não se preocupe, meu docinho, já tenho um plano que vai funcionar.

— Tem certeza?

— Tenho sim. Agora volta para o seu trabalho senão seu chefe vai zangar.

Rômulo bajulou a mãe por algum tempo e depois foi para a garagem pegar sua moto para sair. Eram duas motos. Uma Honda simples e uma lindíssima Harley Davidson que ele cuidava com todo carinho como se fosse um filho amado e só usava para alguns passeios e ocasiões especiais. O tanque de gasolina era dourado e levava o logo da marca, banco de couro e a moto era tão bem cuidada que reluzia como se fosse nova. Nem em um milhão de anos ele pensaria em vender aquela preciosidade, só fez a oferta porque sabia que sua mãe, velha boba de coração mole, ia recusar.

Quando Rômulo saiu, Rosália resolveu colocar seu plano em ação.

O quarto do Cebola já teve tranca uma vez, uma engenhoca eletrônica complicada que exigia senha para entrar. Após muita insistência da parte dela, os familiares o pressionaram para tirar aquela coisa da porta. Melhor assim, agora ela podia entrar e sair quando quisesse, já que ele não tinha mais autorização para trancar a porta.

Ela deu uma boa olhada ao redor. O quarto era de bom tamanho e maior que o do Rômulo. O melhor de tudo era que tinha um banheiro, sendo uma suíte júnior. No início ela tentou fazer com que Cebola trocasse de quarto com o filho e não arrumou meios de fazer isso. Ainda bem, pois agora o quarto estava livre.

Havia algumas caixas e tranqueiras espalhadas pelo chão e Cebola teria que dar um jeito naquilo. Rosália abriu a cortina para que a luz entrasse e analisou bem. A cama estava boa, assim como a mesa do computador e o armário embutido. As divisões do armário eram boas e tudo estava muito bem conservado. As paredes estavam limpas, o piso em ótimo estado e o banheiro era muito bom. Tinha chuveiro, vaso e pia com armário.

Era uma casa muito boa apesar de ela detestar aquele bairro. Casa de dois andares, quatro quartos, duas suítes, cozinha, lavanderia, quarto de despejo, porão, sala para três ambientes, garagem espaçosa e um bom quintal. O quarto de casal, o melhor da casa, era dela. O que era de Maria Cebolinha ficou para Rômulo. O último fora transformado em quarto de costura. Era um quarto pequeno de qualquer forma e ela não queria abrir mão do seu espaço. Restava o quarto do Cebola, o segundo melhor da casa.

— Deixa eu ver... – ela murmurou com as mãos na cintura. – Tem que trocar essas cortinas, colocar roupa de cama nova, acho que dá para colocar televisão também. Ah, tem uma lá no porão que está muito boa!

Ela foi planejando como redecorar aquele quarto, que em breve ia lhe dar muito lucro. Tudo o que ela precisava já tinha em casa, então o investimento era pequeno. Com certeza ia valer a pena.

Uma das caixas estava no meio do caminho e ela abriu por curiosidade. Eram fotos da família do Cebola e isso lhe deu uma idéia tão boa que fez um sorriso perverso surgir em seu rosto. Era perfeito!

—_________________________________________________________

Ela estava quase conseguindo resolver aquele problema de matemática quando o celular tocou tirando sua concentração. O nome do DC apareceu no identificador de chamadas e Mônica não teve outra opção a não ser atender.

— Alô. – falou tentando ocultar a impaciência.

— Oi, Moniquinha. – Ele sabia que ela não gostava daquele apelido, mas adorava contrariar.

— Oi.

— Não deu pra ir a escola hoje, aconteceu alguma coisa diferente?

— Você sabe que nunca acontece nada de diferente no colégio.

— Nada mesmo?

A moça estranhou a pergunta.

— Nada, ué! O que poderia ter acontecido?

— Eu fiquei sabendo que você andou de papo com aquele cobaia.– o rosto dela queimou de vergonha como se tivesse sido pega fazendo algo errado. Mas conversar com um amigo não era errado.

— Eu só conversei um pouco com ele, e daí?

— Daí que eu não gosto dele e você sabe disso! Lembra do que ele me fez no ano passado?

— Ah, DC! Nem vem porque foi você quem se encrencou todo falando aquele monte de mentiras! Pra mim ele não fez nada, viu?

— Mas devia ficar longe dele por consideração a mim, poxa! Eu sou seu namorado! Vai ficar contra mim por causa daquele manezão?

— Eu não tô contra você, apenas bati um pouco de papo com ele e...

A conversa foi longa e desgastante. Mônica argumentava com toda paciência e DC insistia em dar voltas repetindo sempre as mesmas coisas até que por fim conseguiu vencê-la pelo cansaço.

Quando finalmente pode desligar o telefone, ela sentiu-se mentalmente esgotada e nem teve mais ânimo para continuar estudando.

— O que foi? Passou mal de novo? – Durvalina perguntou quando ela foi até a cozinha beber um copo d’água.

— Foi o DC. – ela contou resumidamente a conversa desagradável que tiveram ao telefone.

— E você vai mesmo deixar de conversar com seu amigo por causa dele?

— Não prometi nada, só enrolei um pouco pra ele me deixar em paz.

— Tipo quando a gente finge concordar com gente chata só pra calarem aboca?

A moça acabou rindo.

— É, mais ou menos isso.

— Pois eu acho que você não devia deixar esse rapaz mandar em você. Onde já se viu? Ele paga suas contas por acaso?

— Não, mas...

— Mas nada. O tempo em que homem mandava em mulher já passou! Nem minha avó aceitava isso, por que você vai aceitar?

— Minha mãe fala que as mulheres devem ser delicadas, meigas e...

— Ser delicada não é ser boba, viu? Por acaso você vê sua mãe abaixando a cabeça pro seu pai? Claro que não, né?

Ela voltou para o quarto pensando que Durvalina tinha razão. Sua mãe jamais falou que uma mulher tinha que ser submissa e obedecer ao homem. Mas por que ela não conseguia confrontar o namorado e fazer valer sua vontade? Por que era tão difícil se posicionar? Quando pensava nisso, toda sua força parecia desaparecer na hora.

Aquilo seria mesmo uma gripe ou teria algo mais ali?

—_________________________________________________________

No chão da cozinha, Mingau comia seu prato de ração sob o olhar satisfeito da Magali.

— Pronto, olha como ele está comendo! - Nena falou.

— Ufa, que alívio! Aquelas vitaminas que o veterinário receitou são boas mesmo!

— Sim. Agora ele vai ficar bem.

A mulher foi cuidar dos seus afazeres, mas aquela preocupação não saia da sua cabeça. Outros animais também estavam com o mesmo problema e nem sempre remédios e vitaminas funcionavam. Ela foi dar uma olhada na horta e ficou decepcionada ao ver as plantas murchando e secando mesmo tendo aguado várias vezes naquele dia. Era como se a terra não tivesse mais nutrientes para alimentar as plantas.

"Céus... está ficando cada vez pior e eu não sei o que fazer!"


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