Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 42
As ramificações começam a aprodrecer


Notas iniciais do capítulo

Ai, gente... tô numa bad tão grande! Não sei se vocês conhecem um desenho chamado Steven Universe. Eu adoro esse desenho de paixão e hoje foi o último episódio. Cara, eu quase chorei no final! Não porque foi triste e sim pela angústia de saber que não vai mais ter episódios de SU. Vou ficar de ressaca com essa série por muito tempo.



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Isso aconteceu há muito tempo, quando ele ainda tinha cabelos pretos e era capaz de caminhar ereto sem ajuda de bengala.

O mundo estava um caos completo. Ameaça comunista, guerra fria, duas Alemanhas separadas pelo muro de Berlim e ditadura militar chegando ao fim com o povo clamando pelas diretas já. E isso era só o começo do horror. A Câmara dos Deputados do Brasil tinha aprovado o Projeto de Lei criando o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, alguns ambientalistas malucos estavam falando em buraco na camada de ozônio e vários países estavam descriminalizando a homossexualidade.

Tudo parecia estar desmoronando, os valores antigos estavam caindo por terra dando lugar à todo tipo de aberração. Toda a sociedade estava caminhando para o abismo e ele precisava fazer algo para detê-los, por isso reuniu os membros mais importantes da Casa de Asclépio para tomarem uma decisão.

— Senhores, as coisas não podem mais continuar do jeito que estão. – ele disse ao iniciar a reunião e eles passaram várias semanas discutindo como resolver aquela crise mundial.

Por fim a decisão foi tomada e Sr. Malacai já sabia o que fazer. Se o mundo estava um caos, cabia a eles restabelecer a ordem e só havia uma maneira de fazer isso.

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Os membros do conselho foram chegando aos poucos. Todos levavam o envelope com a carta que tinham recebido alguns dias antes. Também estavam ali pessoas influentes que viviam em outros estados e apoiavam a organização. Prefeitos, senadores, juízes, dois governadores e outras autoridades influentes. Todos que estavam ali eram responsáveis pelo destino e funcionamento da Vinha.

O velho de barba grisalha foi um dos primeiros a chegar. Era um lugar que ficava debaixo da organização, uma espécie de sala de conferências onde todos se reuniam em segredo quando precisavam discutir algum assunto muito importante. E aquele era de extrema importância.

Ele releu a carta onde Sr. Malacai tinha falado sobre um grave perigo que rondava a organização. Todos os membros do conselho estavam correndo risco de vida, ele mesmo tinha sofrido um atentado e eles precisavam se reunir para tomar providências.

— Estou muito preocupado. – ele falou em voz baixa para seu colega, o que parecia um duende.

— Eu também estou. Que perigo é esse que estamos correndo? Isso é muito grave!

— Sr. Malacai saberá o que fazer. – outro membro falou entrando na conversa. – Ele sempre soube nos guiar.

— Espero que sim. – o barba grisalha guardou o envelope no bolso do paletó e olhou para os lados. – A Srta. Duister não apareceu até agora. Mulher tem sempre que se atrasar!

— Ou então ela não foi chamada. Esse tipo de assunto não é para mulheres. – o barrigudo respondeu.

— Espero que seja isso. A presença dela me incomoda demais! O lugar dela não é entre nós, nunca foi!

Quem estava perto dele concordou. Era um absurdo tolerar a presença de uma mulher entre eles, dando palpites e influenciando as decisões. Isso era papel dos homens e somente deles.

Três inspetores também entraram na sala, para espanto geral. Aquelas reuniões eram restritas somente às pessoas mais influentes da organização.

— O que estão fazendo aqui? – perguntaram com voz autoritária. Os três abaixaram as cabeças e um deles mostrou os envelopes que tinham seus nomes.

— Nós fomos convocados para essa reunião, senhores. Não sabemos por quê.

Como a assinatura era mesmo do Sr. Malacai, com o selo e tudo, eles não puderam falar mais nada. Só lhes restava esperar que o presidente desse boas explicações.

O antigo relógio pendurado na parede da grande sala tocou anunciando seis da tarde, hora marcada para o início da reunião. Havia um pequeno palco com um púlpito. Do lado esquerdo, tinha uma porta que foi aberta. Três pessoas subiram no palco fazendo com que um “ohh” espantado espalhasse por toda a platéia, depois resmungos indignados que aos poucos foram aumentando de volume.

— O que você faz aqui? E com essas roupas indecentes? – o velho de barba grisalha perguntou quase a beira de um ataque psicótico.

Agnes usava um vestido tomara que caia curto, saia rodada e estampa florida e uma bonita sandália com salto plataforma. Seus cabelos estavam soltos, bem loiros, ela também usava maquiagem e acessórios. Ao lado dela, estava Penha com suas roupas habituais e longos cabelos. Junto com elas, estava uma mulher esquisita que ninguém ali conhecia. Ela os olhava de um jeito muito desagradável, como se estivesse se segurando para não estripá-los. 

— Boa noite, cavalheiros. Obrigada por terem comparecido a essa reunião. – ela falou com sua voz macia num tom de puro cinismo.

— Quem você pensa que é, sua desavergonhada?

— Messalina!

— Devassa!

— Fora daqui!

Elas deram risadas de todos aqueles insultos e Agnes voltou a falar.

— Fui eu quem mandou essas cartas carta. Sr. Malacai está inconsciente no hospital e talvez eu acabe com ele amanhã ou depois.

Os homens se levantaram e pareciam prontos para agredi-la. Ela desceu do púlpito e foi para a beira do palco, se concentrou, respirou fundo e levantou levemente os braços. Todos da platéia caíram sobre seus joelhos.

— O que você fez conosco? – o barrigudo falou com um fio de voz. Os outros nem conseguiam falar nada.

— Não se preocupem, eu apenas estou garantindo que vocês não tentem ir a lugar algum. Mas vocês poderão ver e, melhor, sentir tudo. Muito bem, Penha. Quem foi?

Penha apontou o velho de barba grisalha e os três inspetores que não estavam muito longe dali.

— Certo. Sofia, traga-os para cá. – a moça saiu do seu canto e pegou os homens pelas golas das camisas, arrastando os quatro de uma vez até para perto do palco. - Foram eles? – Agnes quis saber.

Oui. Forram eles quem fizerram aquilo comigo. Mas não adiantou nada, eu estou ótima! – ela puxou seus cabelos para mostrar que eram reais.

— E eu? Me chamaram aqui só para ficar olhando? – Berenice reclamou.

— Claro que não, imagina. Sofia!

Sem precisar de nenhuma ordem, Sofia correu para a porta de entrada, trancou bem e ficou parada na frente dela com o rosto sombrio, punhos cerrados e os pés bem plantados no chão. Praticamente nada no mundo era capaz de tirá-la de lá à força.

Com a saída fechada, Agnes virou para Berenice e falou.

— Aí estão eles. Divirta-se.

A mulher bateu palmas e deu uma risada tétrica. Finalmente um pouco de diversão! Antes que ela fizesse qualquer coisa, Penha jogou uma sacola no chão em frente aos seus algozes de onde saíram várias facas bem afiadas.

Berrenice, você pode fazer o que quiser com os outros. – ela falou olhando para os quatro com muito ódio e finalizou entre dentes – Mas esses aqui são MEUS!

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Ela estava muito sem jeito depois do incidente do outro dia, mas precisava ter notícias de Toni e não tinha mais ninguém a quem perguntar. O rapaz não ia mais ao colégio e ficar de plantão em frente à Vinha não estava dando resultado nenhum. Por isso criou coragem para ir à casa do Cebola.

A boa notícia era que Mônica não se voltou contra ela, o que foi um alívio. Se isso tivesse acontecido, ela teria perdido a amizade de todas as garotas. Ainda assim Cascão estava meio de lado, embora não falasse nada. Já Magali parecia não ter guardado rancor.

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Cebola estava tentando decifrar os escritos do Sr. Malacai quando a campainha tocou.

— Eu vim trazer o caderno que você me emprestou. – Ele deparou-se com Denise lhe estendendo um caderno e falando em voz alta e entendeu que aquilo era para o caso de alguém estar de olho neles.

— O que tá pegando? – ele perguntou após convidá-la para sentar.

— Eu vim saber se você tem notícias do Toni. Ele não aparece mais lá na escola.

— Toni? Ah, o Tonhão. Eu meio que vi ele outro dia, mas a gente não falou muito. Ele parecia bem. – Cebola relutava em contar para aquela fofoqueira sobre sua invasão à sede da Vinha.

— Também queria saber do Manezinho. A família dele não para de perguntar e uma hora vão acabar fazendo uma bobagem.

Aquele era outro assunto que ele não conseguia resolver. Por um lado ele tinha medo de levar o rapaz de volta para sua família, por outro sabia que não podia mantê-lo ali para sempre.

— Eles não podem fazer nada por enquanto, aquele pessoal da Vinha é barra pesada e pode até dar um sumiço nele.

— É por isso que eu tô preocupada com o Toni! Ai que uó! Meu boy magia tá com problema e eu não posso fazer nada! – o rapaz levantou uma sobrancelha.

— “Seu boy magia”? - Denise ficou com o rosto vermelho e procurou desconversar.

— Er, não é nada não. Vou ver se ligo pra família do Manezinho e falo pra eles que...

— Você falou com a minha família?

Os dois levaram um susto quando um rapaz entrou na sala afobado. Cebola o repreendeu com o olhar por ter agido de forma tão impulsiva, mas ele pareceu não se importar.

— Você sabe da minha família? Como eles estão? Dá pra eu falar com eles?

Denise olhou para o Cebola, para o Manezinho e para o Cebola de novo. Quando entendeu o que estava acontecendo, levantou-se e pôs as mãos na cintura.

— Bonito, hein? Ele tava aqui o tempo inteiro e você nem fala nada?

— Ele fugiu da organização e tá escondido. Não é algo que a gente sai espalhando por aí.

Ela ficou bem desconfortável. Era óbvio que o Cebola não ia confiar nela. Não depois do que tinha acontecido antes.

— Fica tranqüilo que essa fofoca eu não passo pra frente. Poderia prejudicar o Toni e não quero isso. Ele te ajudou a fugir? – perguntou dirigindo-se ao Manezinho.

— Sim. A gente... – ele fez uma pausa diante do olhar do Cebola e continuou. – a gente bolou um plano e ele me ajudou a fugir quando surgiu uma oportunidade.

— Sério? Como fizeram?

— Ele me deu um uniforme de inspetor e pude sair sem que ninguém incomodasse. Foi tranqüilo.

— Mas como você veio parar aqui?

— O importante é que ele tá seguro. – Cebola cortou mostrando claramente que não queria continuar aquela conversa e Denise pareceu entender, embora não tivesse gostado nem um pouco. Seu espírito fofoqueiro sempre queria mais e mais informações. – Só que não dá pra levar ele pra casa agora porque eles podem estar vigiando.

— Ah, tá. Então eu posso pelo menos falar pro Toni que ele tá bem? Ele deve estar preocupado.

— Se você tomar muito cuidado pra não dar bandeira, pode até ser. Mas ó: boca fechada viu?

— Claro, seu bobo! Não vou falar nada pra ninguém, palavra de Denise!

Ela saiu feliz da casa do Cebola muito feliz em ter algo para falar com o Toni e decidiu dobrar o seu plantão em frente a Vinha. Uma hora ele ia acabar aparecendo.

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No dia seguinte, o despertador tocou e Agnes se levantou de má vontade. Ela tinha que continuar trabalhando mesmo sabendo que o conselho não ia aparecer nunca mais. O trabalho que ela, Penha e Berenice fez foi completo e não havia mais nenhum membro importante da Vinha para atormentar ninguém. Ainda tinha o Sr. Malacai que estava inconsciente e ela decidiu não se preocupar com ele por enquanto.

Ao passar perto do quarto da Berenice, ela ouviu um ronco alto e desagradável daquela criatura porca que era obrigada a tolerar dentro da sua casa. Pelo menos todo aquele esforço a deixou exausta e ela ia ficar de cama durante dias. Antes isso do que aturar aquela mulher andando pela casa e emporcalhando tudo.

Agnes não gostava dela nem um pouco. Desagradável, cínica e sem um pingo de civilidade. Passar tantos anos morando nas ruas fez com que ela desaprendesse a viver numa casa e muitas vezes ela sujava tudo, não gostava de tomar banho e por causa dela Rosália pediu demissão umas três vezes. Foi com muito custo que Agnes a convenceu que ficasse mais um tempo, pois não queria ter o trabalho de procurar outra empregada.

Enquanto preparava o café da manhã para si mesma, o telefone tocou.

— Agnes? Você já está de pé? – Boris perguntou do outro lado da linha.

— Sim. O que houve? – não era normal o irmão ligar para ela tão cedo. Normalmente ele não ligava quase nunca.

— Estamos com problemas na Vinha. Os membros do conselho desapareceram e ninguém aqui parece saber o que fazer. Você precisa vir o mais rápido possível.

— Está certo, não demoro.

Ela desligou o telefone e voltou a preparar o café. Claro que mais cedo ou mais tarde todos iam notar o sumiço daqueles velhos chatos. Aquilo não importava porque dentro de pouco tempo eles iam ter razões para se preocupar de verdade.

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Boris desligou o telefone com uma sensação ruim. Não era para ela ter perguntado mais detalhes sobre o desaparecimento daqueles senhores? Ou pelo menos mostrado alguma surpresa?

— Não... eu estou imaginando coisas. – falou consigo mesmo tentando afastar aquela sensação ruim.

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Cebola notou que havia algo diferente nos inspetores. Eles estavam mais preocupados em cochichar entre si do que em vigiar os alunos. Como queria mesmo saber o que estava acontecendo, ele teve uma idéia e foi logo procurar pela Denise.

— Eu também notei isso. Será que é algo importante?

— Eles nem notaram que você tá de maria-chiquinha, então deve ser importante mesmo. Acha que consegue descobrir?

— Seria uma vergonha se eu não conseguisse!

Ela saiu atrás dos inspetores e Cebola foi encontrar com os amigos. Magali estava conversando com Mônica e algumas garotas, o que era bom. Até Cascuda participava da conversa embora parecesse relutante. Cascão estava escrevendo no caderno tentando terminar o exercício que precisava ser entregue na primeira aula e ele resolveu não atrapalhar o amigo.

Pouco antes do professor entrar na sala, Denise veio com aquela cara de que tinha uma fofoca muito quente e ele deduziu que ela tinha descoberto alguma coisa, mas teve que esperar até o fim da aula para saber.

— E aí, conseguiu pegar alguma coisa? – ele perguntou assim que o professor botou o pé para fora da sala.

— Ai, gente! É o maior bafão! – ela disse em voz alta atraindo a atenção dos outros alunos, que logo se juntaram para ouvir a fofoca do dia.

A moça fez questão de ressaltar como foi difícil seguir dois inspetores que conversavam entre si e ouvir o que tinham falado. Quando terminou, Cebola ficou coçando o queixo.

— Todos os membros sumiram de uma vez?

— E também outros caras importantes da organização, prefeitos, gente influente, coisas assim. Sumiu tudo!

Outro professor chegou e eles não puderam conversar mais. Cebola foi para seu lugar bastante intrigado. Como era possível tantas pessoas sumirem de uma vez? O mais estranho foi tudo ter acontecido dias depois de ele ter invadido a sede da Vinha. Será que estavam tramando uma forma de encontrá-lo? Ele não teve mais notícias do Sr. Malacai e temia ser pego pela polícia a qualquer momento. Se isso acontecesse, seu plano de consertar a barreira ia ser muito prejudicado.

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Agnes chegou à organização e um secretário a encaminhou para uma sala onde Toni estava sendo interrogado. O rapaz parecia calmo, mas ela viu o quanto ele estava nervoso e com razão.

— E foi isso, senhores. Eu apenas entreguei as cartas, não sei de mais nada porque Sr. Malacai nunca me falou dessas reuniões secretas.

— O que está acontecendo? – ela perguntou entrando na sala.

— Só estamos interrogando o rapaz, Srta. Duister. Ele foi uma das últimas pessoas a ter contato com alguns dos membros do conselho.

— O rapaz só cumpriu ordens do Sr. Malacai. Foi ele quem convocou essa reunião.

Boris, que também estava dentro da sala, perguntou.

— Ele não está inconsciente no hospital? – ela raciocinou depressa e respondeu.

— Na verdade ele só estava fingindo por medo de uma possível retaliação daquele invasor.

— Mas...

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Claro que Toni achou aquilo muito estranho. Mesmo não sabendo a razão do Cebola ter invadido a Vinha, ele não acreditava que aquele bobalhão magricela tivesse alguma intenção de atacar o Sr. Malacai. Certamente aquele velho caduco deve ter exagerado tanto a ponto de ver perigo onde não existia.

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Ignorando a surpresa de todos, ela continuou.

— Sr. Malacai acreditava estar correndo um grande perigo, então fingiu estar inconsciente durante todo esse tempo acreditando ser capaz de tomar providências sem que o invasor descobrisse. Por isso mandou convocar aquela reunião.

— Isso pode até ser. – Boris interrompeu. – Mas por que você não foi nessa reunião? Era importante!

Ela fez uma expressão que pareceu triste.

— Infelizmente, na última hora, Sr. Malacai passou muito mal e não pode ir. Eu fiquei com ele para ajudá-lo. Queria ter ido ao local da reunião para falar com os membros, mas vocês sabem como eles me odeiam. Sr. Malacai achou melhor eu não encará-los sozinha.

As explicações eram boas e até convenceram os outros, mas Boris estava bastante desconfiado. Ele tinha ido visitar o presidente da organização várias vezes e nunca viu nele o menor sinal de consciência. 

— Bem, se ele está mesmo consciente, acho que devemos lhe falar o que está acontecendo. Precisamos da orientação dele! – um dos inspetores sugeriu e Boris concordou.

— Irei falar com ele agora mesmo. Toda essa situação está muito estranha e precisamos descobrir o que aconteceu com o conselho.

— Não sei se seria bom ele se preocupar com o sumiço dos membros do conselho. Não deveríamos saber primeiro o que aconteceu com eles?

— A única forma de sabermos o que aconteceu é indo até o local da reunião.

Quando Boris falou aquilo, Agnes teve que se segurar para não tombar para o lado.

— Eu não tenho permissão para falar sobre esse local para quem não é do conselho. Só o Sr. Malacai pode fazer isso.

— Mais uma razão para falarmos com ele. Isso é importante. Com Sr. Malacai hospitalizado e os membros do conselho desaparecidos, a organização poderá ruir dentro de poucas semanas sem nenhuma direção.

Boris saiu da sala levando Toni junto, pois não via mais necessidade em interrogar o rapaz. Agnes procurou se manter calma, mas viu que estava com um grande problema nas mãos. Sr. Malacai estava mesmo inconsciente e não ia responder a nenhuma pergunta. Eles iam descobrir sua mentira rapidamente. E se por acaso ela desse o azar de ele acabar acordando, tudo ia ficar dez vezes pior.

Nesse momento ela quase lamentou Berenice estar de cama e não poder nem sair de casa, pois era preciso dar um jeito naquele velho para que ele não trouxesse mais problemas.

“Acho que vou ter que fazer isso eu mesma.” Pensou antes de sair da sala e começar seu trabalho.

—_________________________________________________________

Como estava com pressa para tirar aquilo a limpo, Boris resolveu ir ao hospital e levou Toni consigo.

— Ele não acordou hora nenhuma? – perguntou ao rapaz.

— Em momento algum, senhor. Mas eu não fico ao lado dele o tempo inteiro...

— Sei...

Após estacionar o carro, Boris entrou no hospital e foi direto para o quarto do Sr. Malacai junto com Toni. O velho continuava inconsciente e alheio a tudo ao seu redor.

— Sr. Malacai? Pode me ouvir? Não se preocupe, está seguro aqui. – o homem sussurrou várias vezes e não obteve resposta alguma.

— Ele pode estar dormindo. Ainda é cedo.

— Ainda estou achando isso muito estranho.

— O senhor acha que a Srta. Duister pode ter... hã...

— Mentido? Sim, estou ficando desconfiado.

— Com que objetivo?

— Ainda não sei, mas pretendo descobrir. Até lá, vou te pedir um favor. Fique ao lado do Sr. Malacai e não saia por nada. Sei que é desagradável, mas ele é a única pessoa que pode esclarecer essa situação.

— Sim senhor, eu entendo.

— Mandarei trazer comida e roupas limpas para você. Também darei o nome das enfermeiras e dos médicos que poderão entrar no quarto. Não deixe mais ninguém entrar, nem mesmo a minha irmã.

Toni ficou surpreso e o mais velho esclareceu.

— Não quero me precipitar, mas prefiro que ela ainda não tenha contato nenhum com Sr. Malacai. Mandarei seguranças para vigiar a porta também, só por precaução.

Boris deixou o rapaz com o presidente e foi embora providenciar tudo para que ele ficasse seguro. Havia algo de estranho na sua irmã e ele tinha certeza de que ela estava aprontando alguma coisa. Durante a vida inteira, Agnes sempre respeitou a organização e a autoridade dos membros. Nas últimas semanas, no entanto, ela parecia não se preocupar mais com eles e fazia o que tinha vontade, muitas vezes quebrando várias regras sem medo de retaliação. Ela não agiria dessa forma se acreditasse que poderia ser punida. Ele precisava ficar de olho nela.

—_________________________________________________________

Depois da aula, Denise foi direto para a sede da Vinha e ficou de plantão por mais de uma hora e meia na esperança de ver Toni. O rapaz não apareceu. Ela até pensou em tentar entrar e logo desistiu ao ver a quantidade de seguranças ao redor do prédio. Normalmente havia seguranças, mas não naquela quantidade e contrariando o bom senso, ela decidiu chegar mais perto para ver se descobria alguma coisa. E teve sucesso.

Pelo que ela tinha entendido ouvindo conversas aqui e ali, a sede foi invadida por alguém que atentou contra a vida do Sr. Malacai. Outros diziam ser apenas um ladrão e que ele passou mal por causa do susto. Cada um falava uma coisa diferente, mas todas as conversas tinham um ponto em comum: o Sr. Malacai estava no hospital.

Foi pensando nisso que ela teve uma idéia. Se o velho estava hospitalizado, era de se esperar que Toni estivesse com ele, pois era seu secretário e o seguia por toda parte. Entrar no hospital poderia ser mais simples e Denise correu para lá rapidamente.

O hospital do bairro das Pitangueiras era um dos melhores da cidade. Ambiente limpo, tubo bem equipado. Só faltava saber o quarto certo e ela foi até a recepção fazendo cara de preocupada.

— Pois não? – a atendente falou.

— Oi, eu vim visitar meu namorado. Me falaram que ele tá aqui e eu tô com o coração na mão!

— Certo. Qual é o nome dele?

Ela deu o nome completo do Toni e a recepcionista procurou no computador. 

— Estranho, não há ninguém com esse nome. Será que ele foi internado aqui mesmo?

— Me disseram que ele veio pra cá, mas não explicaram nada direito. Ai, o que eu faço? Estou preocupada demais com ele! – ela começou um choro bem encenado que fez a recepcionista ficar com pena dela. Ah, tão jovens e apaixonados!

— Espere um pouco que eu vou procurar saber.

A atendente saiu do balcão e voltou uns cinco minutos depois.

— Ele está aqui sim, mas como acompanhante de outro paciente.

— Ah, que bom! Será que dá pra falar com ele? Faz dias que a gente não se vê... – a mulher balançou a cabeça.

— Sinto muito. Ele recebeu ordens para não sair de perto do paciente. Eu também não posso dizer o número do quarto, parece que é confidencial.

Denise agradeceu e saiu de perto do balcão tentando pensar em outra coisa. Algum tempo depois, ela viu um homem com roupa de inspetor se aproximando do balcão e a atendente lhe deu um cartão magnético que permitia a pessoa passar por uma roleta e ter acesso ao andar superior. Antes de o homem entrar no elevador, ela percebeu que ele colocou o cartão no bolso de trás da calça e ficou ali esperando.

Felizmente não foi preciso esperar muito e logo o homem apareceu novamente. Ela foi se esgueirando aqui e ali e se escondeu atrás de uma grande planta de plástico imitando uma palmeira. Quando o homem passou perto, a moça agiu rapidamente e suas mãos leves fizeram um excelente trabalho.

Assim ela pode passar na roleta e foi até o andar e o quarto indicado no cartão. Para sua sorte, não havia ninguém vigiando a porta e ela entrou rapidamente apesar do risco que estava correndo.

Dentro do quarto tinha um velho pálido deitado numa cama e um rapaz alto, forte e loiro vigiando seu sono.

— Quê? Como você entrou aqui? – o rapaz perguntou levando as mãos à cabeça.


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Notas finais do capítulo

Sobre o que aconteceu com os membros do conselho... bem... vou deixar para a imaginação de vcs. Se eu fosse colocar aqui o que tinha planejado, ia ter que aumentar a classificação da fanfic porque a cena é perturbadora demais. E como não quero causar muito desconforto aos leitores, resolvi não colocar nenhum detalhe. Mas acho que vcs já podem ter uma idéia do quanto foi horrível, né?



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