Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 32
Entrando no castelo do Vampiro


Notas iniciais do capítulo

E aí? Vocês teriam coragem?



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— E é isso. A gente precisa de ajuda para embalar o restante das coisas e ela não encontra mais ninguém para ajudar. Estranho como todo mundo parece fugir daquela casa! Até eu fugiria se pudesse!

Cebola sabia muito bem por que ninguém queria trabalhar naquela casa, então a proposta não era assim tão estranha já que era um dos poucos que conseguia ficar perto de Agnes sem ser sugado por ela. Ainda assim ele estava com a pulga atrás da orelha. Ela só queria ajuda extra para arrumar as coisas ou teria algo mais planejado para ele? E se fosse uma armadilha?

Rosália esperava por uma resposta e por fim ele acabou aceitando. Armadilha ou não, era preciso examinar o que fosse possível naquela casa. Bastava tomar muito cuidado. Depois de falar com sua tia e combinar tudo, ele correu para a casa do Cascão para lhe contar a novidade.

— Véi, você vai mesmo trabalhar na casa da Srta. Drácula?

— É uma chance de examinar as coisas dela pra ver se acho alguma pista.

— Mas a Mônica achou um mapa muito bom dos esgotos, dá pra chegar debaixo da Vinha tranqüilo.

— Isso é, mas seria bom vasculhar aquela casa, de repente acho outra pista. Não custa tentar e vou ganhar uma graninha extra

— Só que ela também vai ficar o dia inteiro em casa.

— Ela tem que ir trabalhar e vai levar a Rosália junto pra embalar as coisas dos pais dela que ficaram na tal instituição. Eu vou ficar sozinho durante a parte da manhã.

— Mesmo assim vai dar muito trabalho pra olhar tudo.

Cascão estava certo. Ele não podia perder tempo xeretando a casa, pois ia ter problemas caso elas chegassem e encontrassem o serviço por fazer. Uma idéia louca e arriscada surgiu.

— Olha, sozinho eu não vou dar conta mesmo, mas se você me ajudar, a gente consegue fazer tudo até a hora do almoço.

A idéia de entrar na casa da Agnes não lhe agradou nem um pouco, mas Cascão decidiu não reclamar porque sabia que tinha entrado naquela trama por vontade própria.

— E as meninas? Se a gente deixar elas de fora, elas limpam o chão com a nossa cara.

— Hum... é bem arriscado nós quatro dentro daquela casa. Se bem que a gente pode ouvir o barulho do carro da Agnes. Se ela chegar mais cedo, vocês vazam pela porta dos fundos e vão embora quando ela entrar. É... acho que não vai dar galho.

Eles ligaram para Mônica e Magali, que aceitaram muito empolgadas a proposta, pois finalmente iam ter um pouco de ação.

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Depois que Cebola saiu da casa do Cascão, Denise resolveu aproveitar a chance. Foi uma surpresa muito grande para o rapaz abrir a porta e dar de cara com a ex-ruiva.

— O que você tá fazendo aqui? – ele perguntou muito surpreso.

— É que eu queria te falar uma coisa. Não vai demorar.

Ele a deixou entrar, bastante curioso.

— O que tá pegando?

— Er... bem... é que a Cascuda andou falando de você, sabe?

O coração dele bateu mais depressa.

— De mim? O que ela falou?

— Ela tá notando o quanto você melhorou e até disse que você é muito gatinho.

Seu rosto ficou vermelho.

— Ela falou isso mesmo?

— Falou. Acho que ela ainda gosta de você. – O rapaz fechou um pouco a cara.

— Ela tá namorando aquele babaca.

— O namoro dela não tá lá essas coisas. Ele é muito parado, sem graça e beija mal pra caramba!

O rapaz deu um sobressalto.

— Peraí, como você sabe que ele beija mal???

— Ela falou pra gente. O que foi? Pensou que eu peguei ele? Claro que não, amore! Namorado de amiga minha pra mim é mulher!

— Ahhh, bom!

— De qualquer forma, ela não tá muito feliz no namoro dela não. Porque você não tenta chegar junto?

Aquilo o pegou de surpresa. Ter alguma chance com a Cascuda? De ter de volta sua namorada de infância?

— É... sei lá... é que eu tô também gosto da Magali.

— Ela nunca te deu bola, nem antes, nem agora. Já a Cascuda parece bem interessada.

Estava ficando difícil decidir. Com qual das duas ele deveria tentar ficar? Com a Magali, de quem ele gostava, mas não parecia corresponder seus sentimentos, ou com a Cascuda, antiga namorada que parecia gostar dele ainda?

— Pensa bem, viu? O que a Magali fez de bom pra você esses anos todos? Ela só te fez mal!

Ele não gostou de ouvir aquilo.

— Ela se arrependeu e já pediu desculpa.

— Grande coisa ela virar Madalena arrependida. Esqueceu dos sopapos que ela te dava?

— Tá, tá, eu não esqueci essas coisas, só achei melhor seguir em frente. Acho que você devia fazer isso.

— Depois de tudo o que ela me fez?

— Já pensou se as meninas resolvessem te tratar da mesma forma? Você ia gostar?

— Mas eu nunca encostei a mão nelas!

O rapaz olhou bem para ela, estreitou os olhos e disse.

— Denise, na boa, não vem querer se vingar da Magali não, valeu? Isso não vai te levar a lugar nenhum.

— Vingar? Mas como...

— Nem vem que eu te conheço não é de ontem! Você tá querendo me empurrar pra cima da Cascuda achando que eu vou me afastar da Magali com isso, só que não vai rolar. Ela é minha amiga e pronto.

Ela saiu de lá muito contrariada ao ver seu plano dando errado. O pior era que Cascão tinha percebido suas intenções e depois dessa ia ficar mais difícil convencê-lo. Bem... ela não ia desistir assim tão fácil. Havia outras cartas na manga.

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Na casa da Penha, ela e Agnes assistiam televisão. Agnes sempre ia dormir na casa da amiga quando os pais dela viajavam. Assim elas podiam conversar até tarde, cuidar da pele, dos cabelos e das unhas embora não pudessem passar esmalte. E comer muitas coisas gostosas.

“A manifestação de hoje terminou em confronto com a polícia. A organização Vinha publicou uma nota dizendo que não teve nada a ver com a violência dos policiais...” a repórter falou diante o tumultuo entre os manifestantes e os policiais.

As pessoas tentavam reagir contra a onda de conservadorismo que a Organização Vinha espalhava por toda cidade. Mas a reação do povo era muito tímida, pois grande parte estava com medo por causa dos inúmeros problemas pelos quais o planeta estava passando. Guerra, doenças, fome. Estava começando a faltar comida nos supermercados, todo dia aparecia uma epidemia nova e de tempos em tempos, um surto de violência inexplicável varria toda a cidade. Todos queriam uma solução e no momento a Vinha aparecia como única salvadora.

— Está cada vez mais insuportável. – Penha disse. – Agorra eu tenho que usar lenço na cabeça parra esconder meus cabelos. Vi uma moça levar um tapa porque sorriu parra um rapaz.

— Estão usando de violência na sua escola?

Oui. Eles até falam em palmatórria parra as crianças.

— Malditos... Alguém tentou te bater?

Nón. Eu procurro me comportar o melhor possível. Mas está difícil porque eles gostam de nos punir.

O medo da Penha era justificável. A Vinha estava apertando o cerco e as escolas eram o ponto de partida.

— Você não pode fazer nada parra convencer o conselho?

— Eles não me escutam porque sou a mais nova de todos e sou mulher. Se eles decidem algo e Sr. Malacai apóia, não há como voltar atrás. Não sei o que eu faço naquelas reuniões porque nem falar posso!

— Bando de atrasados! Mal vejo a hora disso tudo terminar!

— Eu também. Até lá, aguente firme. Prometo que valerá apena.

D'accord (está bem). Agorra vamos cuidar da nossa pele! Minha mãe trouxe uma máscarra marravilhosa de Parris!

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Ele nem sabia de onde tirou coragem para fazer aquilo. Fugir do alojamento no meio da noite? E correndo o risco de ser pego pelos seguranças? Não havia outra alternativa. Durante o dia ele era muito vigiado, então o jeito foi agir na calada da noite.

Antônio foi até a casa da Denise de bicicleta e quando chegou, pulou o muro e rodeou a casa tentando adivinhar qual seria o quarto dela. A luz de um dos quartos estava acesa e alguns enfeites na janela denunciaram a presença da moça. Ele pegou algumas pedrinhas no chão e foi atirando.

Levou um tempo até Denise aparecer e quase cair de susto quando o viu no seu quintal naquela hora da noite. Ela fez um sinal para que ele esperasse e saiu da janela, aparecendo no quintal momentos depois.

— O que você tá fazendo aqui? Ficou doido? – ela o repreendeu em voz baixa.

— Precisava falar com você de qualquer jeito, mas eu estou sendo vigiado.

— Credo. Bom, eu consegui falar com a família do Manezinho.

— Como? O telefone deles está grampeado.

— Sei disso, mas a gente deu um jeito.

— “A gente”?

Ela contou sobre a ajuda que teve do Cebola, fazendo-o fechar a cara.

— Por que você tinha que ir contar tudo pro cobaia?

— Porque sozinha eu não ia conseguir nada. Se não fosse por ele, a família do Manezinho ia continuar sem ter notícia nenhuma.

— Eles acreditaram em você?

— Sim, mas eu falei pra não fazerem nada por enquanto, senão pode complicar as coisas. Já pensou se eles dão um sumiço no coitado?

— Nem fale uma coisa dessas. Ainda assim não confio no cobaia.

— Por quê? Ah, sei. Por causa do lance na casa da Carmem você foi preso e levado praquele colégio militar.

Ele ficou surpreso na facilidade com que ela teve para entender seu pensamento.

— Você não precisa ficar amigo dele. Mas o Cebola é muito inteligente e sei que anda investigando sobre a Vinha.

— Ele te falou?

— Não, Toni. Eu é que sei mesmo. Só não sei o que ele descobriu.

— “Toni”? – ela deu aquele sorrisinho malandro.

— Você tem mais cara de Toni do que de Antonio ou Tonhão.

— Tá, que seja. - o rosto dele ficou vermelho por causa do apelido, mas não havia nenhuma objeção. - Duvido que ele possa fazer algo.

— Ele não derrotou a maior valentona do colégio?

— Eles são muito mais fortes e poderosos que um exército de Magalis.

— De qualquer forma, a gente precisa confiar. A Mônica, o Cascão e a Magali também estão ajudando. Se não quiser falar com ele, não fale. Eu mesma falo.

— Engraçado você não tentar me convencer a fazer as pazes com ele...

— Eu também não quero saber de ser amiguinha da Magali, então te entendo. É muito chato quando forçam uma amizade que a gente não quer.

Ele ficou aliviado por ela ser capaz de entendê-lo sem julgar.

— Agora eu preciso ir, senão posso me encrencar.

— Tá bom. Vê se toma cuidado, viu? Eles são perigosos e você tá num ninho de cobras!

— Já levei muitas picadas e ainda estou aqui. – ele deu um sorrisinho que ela achou charmoso. – Não se preocupe, vou ficar bem.

Ele esperou até que ela entrasse em casa e foi embora dali sorrindo ao se lembrar do seu rosto alegre e descontraído. Tingir os cabelos não apagou sua personalidade. E pensando bem, ele gostava muito mais de Toni do que Antônio ou Tonhão da Rua de Baixo.

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Uma mulher colocou uns trocados em sua mão. Em troca, ganhou um lindo fungo que ia comer seus pulmões em poucos dias. Troca justa e limpa.

— Dá para comprar pão com manteiga e um café. – falou após contar o dinheiro e somar com o que tinha. Que saudades de um pão bem quentinho com manteiga e uma boa xícara de café! O problema era entrar na padaria e ser atendida.

Seu aspecto estava cada vez pior por causa de tantos anos sem tomar banho. As bandagens tinham uma cor parda, encardida e algumas partes estavam esverdeadas. Seus cabelos pareciam um ninho de rato e suas roupas eram trapos. Era o preço da sua peregrinação pelo país afora espalhando doenças. Seu estômago roncou pedindo comida e o jeito foi se arriscar entrando numa lanchonete de aparência bem simples.

— Pão com manteiga e café. – a voz rouca pediu colocando os trocados no balcão.

Como aquela criatura repulsiva estava pagando, o atendente deu um jeito de trazer logo seu pedido e ficou feliz quando aquele trapo humano foi comer fora da lanchonete. Céus, aquele cheiro ia levar dias para sair do seu nariz!

Ao sair da lanchonete, um sorriso de satisfação foi dado ao saber que todos ali dentro iam perecer em poucos dias.

— Hum... esse pão está gostoso!

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Como Rosália planejava ir embora, Cebola teve que lhe ajudar a embalar suas coisas para a mudança. Eram muitos enfeites, bibelôs e quinquilharias que ela tinha acumulado ao longo do tempo. Tudo tinha que ser embrulhado com jornal e guardado cuidadosamente em caixas de papelão para não quebrar. Mesmo assim ele ajudava de boa vontade porque sabia que o dia da sua libertação estava chegando.

Claro que seus parentes não estavam aceitando nem um pouco que ele morasse sozinho, mas Afonso estava dando um jeito para conseguir sua emancipação. Assim não teriam mais nenhum poder sobre ele.

Com isso também vinha uma responsabilidade muito grande e ele estava consciente disso. Cebola não ia ter mais ninguém para cuidar dele e da casa, teria que fazer tudo sozinho, desde a limpeza até as compras, pagamentos e quaisquer outros assuntos que fossem necessários. Ele também ia ter que dar um jeito de conseguir o próprio sustento, pois sabia que ninguém da família pretendia ajudá-lo.

Tudo bem, era o preço a se pagar para ficar livre de adultos chatos lhe dizendo o que fazer. A pensão da mãe alternativa era suficiente para sustentá-lo e se fosse preciso, ele podia continuar alugando seu quarto, já que com a mudança da tia ele ia ocupar o quarto principal da casa. Rosália também tinha lhe sugerido alugar o porão e ele pretendia estudar essa idéia com cuidado.

“Poxa, vai ser muito legal morar sozinho, caramba! Posso chegar a hora que eu quiser, receber quem eu quiser e...” ele parou de embrulhar um grande peixe de porcelana e ficou olhando vazio. Céus, o que ele estava pensando? Tudo aquilo não era para ele e sim para convencer seu duplo a voltar. De jeito nenhum Cebola pretendia morar naquele mundo para sempre, mesmo tendo sua própria casa e independência.

Para espantar aqueles pensamentos, ele voltou a pensar na sua família e na Mônica. Como seus pais estavam lidando com o seu duplo? Já teriam percebido alguma coisa? Será que ele estava indo bem na escola? Ou teria brigado com seus amigos e arruinado sua vida social?

“Eu espero que ele não esteja avacalhando a minha vida por lá, senão arrebento a cara dele!”

O rapaz continuou pensando no mundo original, nos bons tempos que teve com a turma e suas aventuras. Tantas aventuras!

“Droga, parece que não consigo lembrar direito das coisas... peraí, a Mônica quase morreu na nave dos aliens do planeta Tomba ou foi na da Cabeleira Negra? Ah, teve aquele dia que a gente trocou de corpo... peraí, a gente trocou mesmo de corpo? Não tô lembrando direito...” suas lembranças pareciam um tanto embaralhadas, deixando-o confuso e com medo.

Para dissipar a sensação ruim, ele tentou se lembrar do primeiro beijo e isso o fez sorrir. Ele estava usando seu disfarce de herói mascarado. Foi do lado de fora do salão de festas da Carmem, depois de desmascarar o DC. Ele a envolveu em seus braços e...

Por pouco ele não deixa um vaso de vidro cair no chão.

— M-mas nosso primeiro beijo não foi assim! – ele murmurou em voz baixa sentindo o corpo tremer. Aquele foi o primeiro beijo do seu duplo, não dele!

Outras lembranças desconhecidas foram aparecendo em sua mente enquanto as lembranças reais pareciam se apagar pouco a pouco, deixando o rapaz apavorado. Então era isso! Ele estava perdendo sua memória para ficar com as memórias do seu duplo! Não, isso não podia acontecer!

Cebola voltou ao trabalho fazendo um esforço gigantesco para relembrar sua vida no mundo original, cada lembrança, detalhe, tudo importava. De jeito nenhum ele pretendia se deixar absorver por aquele universo alternativo.

—_________________________________________________________

— Ele foi mesmo pra sua casa no meio da noite? – Mônica perguntou incrédula.

— Eu nunca pensei que ele fosse fazer isso! Esse pessoal da Vinha é tão certinho! Ah, ele se arriscou porque eu sou linda demais, não sou?

Denise estava na casa da Mônica, sob pretexto de estudar sendo que na verdade só queria fofocar.

— E você ta falando com a família do Manezinho?

— Tô sim. Ainda bem que eles não sabem onde moro, senão teriam vindo atrás de mim. Eles querem o filho de volta de qualquer jeito.

— Você tem que ter cuidado, senão aquele pessoal da Vinha descobre e pode acabar sobrando pra ele e pro Antônio.

— Ai, eu não quero isso não!

As duas conversaram mais um pouco e em certo ponto da conversa, Mônica hesitou um pouco pensando se devia ou não fazer aquilo. Por fim, se decidiu.

— Aqui, a gente vai dar um jeito de ajudar o Cebola a revistar a casa da Agnes.

— Sério? Pra quê?

— O Cebola acha que pode ter alguma pista lá, qualquer coisa.

— Ai Jesus me Abana! Eu também quero ir!

Naquele momento ela se arrependeu por ter aberto a boca.

— Olha, quanto mais gente pior! Se a Agnes chega de surpresa e pega todo mundo, estamos encrencados.

— Comigo não tem grilo não fófis! Ah, vai! Eu posso ajudar, sou boa em achar pistas!

— Então ta, só que você também vai ter que ajudar a embalar as coisas, senão o serviço não rende.

Denise fez um muxoxo e acabou concordando. Era o preço a se pagar.

— Tá bom, quando vai ser?

— Amanha mesmo. Só tome cuidado pra ninguém te seguir, viu?

A oura bateu palmas super empolgada com aquela aventura. Era tudo o que seu espírito curioso e fofoqueiro queria.

No sábado, Denise, Cascão, Mônica e Magali se reuniram no horário combinado e todos foram para a casa da Agnes se espremendo no taxi. Cebola tinha ido com Rosália e ia abrir a porta para eles quando as duas fossem embora.

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Dentro da casa, Agnes dava instruções ao rapaz, que mal continha a ansiedade.

— Você pode começar por aqui. Apenas tome cuidado porque são objetos antigos de porcelana. – disse lhe mostrando a cristaleira. – Depois embale a prataria e as roupas de mesa e cama.

Enquanto Agnes lhe dava as instruções, Cebola ficou com certa dúvida. Será que ela só o queria para ajudar na arrumação? As tarefas que ela lhe dava não tinham nada de mais. Ele só precisava embalar as coisas que tinham sido deixadas na sala e pronto. E era muito trabalho a ser feito, não ia dar tempo para vasculhar a casa.

— Quando terminar, embale os livros da biblioteca também. É só tirar da estante e colocar dentro das caixas de papelão. Embale apenas os livros, depois eu vejo o que faço com o restante.

— Tranqüilo.

— Eu preciso trabalhar e sua tia virá comigo para embalar as coisas no escritório da sede. Voltaremos na hora do almoço e terminaremos tudo na parte da tarde.

Sem mais nenhuma ordem ou instrução, Agnes saiu dali de carro levando Rosália enquanto ele ia embalando algumas coisas para disfarçar. Quando viu que ela tinha ido embora, correu até a porta dos fundos e chamou os amigos que o esperavam escondidos entre a vegetação ressecada.

— Tudo limpo, galera! Vamos que tem muita coisa pra olhar!

Os quatro entraram rapidamente e se puseram a ajudá-lo a guardar os objetos, embalando os mais frágeis em folhas de jornal e colocando em caixas. Por mais que tivesse ficado resistente, ele acabou vendo que a ajuda da Denise era valiosa. Ela sabia xeretar como ninguém, olhando em locais que ele nem pensaria em olhar.

— Olha essa caixa aqui! – ela falou abrindo uma tirando cuidadosamente a fita crepe que prendia a tampa.

— Parecem objetos pessoais.

— Os melhores, amore! Só que não. Credo, que roupinha mais feia! – Denise riu ao folhear um álbum de fotos e logo perdeu o interesse.

Cebola resolveu dar uma olhada e arregalou os olhos quando viu uma garotinha com cerca de sete anos, cabelos loiros presos em trancinhas e uma expressão um tanto cruel para uma criança dessa idade. Era exatamente a menina que ele tinha visto nas lembranças do Feio.

— Essa aqui é mesmo a Agnes? – ele perguntou mostrando a foto para os amigos. Mônica confirmou.

— É sim.

— O cabelo dela tá loiro nessa foto...

— Ela tinge de preto há bastante tempo, mas já vi dar um pouco de raiz loira algumas vezes.

— Ah, tá...

Aquilo só confirmou sua suspeita de que Agnes era a mesma menina que tinha visto nas memórias do Capitão Feio.

Quando o rapaz virou algumas páginas, no entanto, sua boca abriu, seus olhos arregalaram e seu rosto ficou branco. Aquilo não podia ser!


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